3ª Pessoa 

Assim que o corpo de Gevanni tocou o chão, os guardiães formaram um círculo a sua volta para o proteger de Desdemona. 

— Queridos, não percam o seu tempo com esse rato, ele é só um escravo e já não tem mais serventia – Falou Desdemona do alto de um lobo negro de aproximadamente três metros que ofegava e babava muito, seus olhos mostravam a sede por sangue, sede essa que ela estava disposta a saciar. 

— Errado! — Berrou Évora indignada com essa visão ridícula de Desdemona e tomando o seu lugar de líder do grupo. — Ele é uma vida e toda vida é preciosa, não que você saiba o que é a dor de perder alguém, ou qual é a importância de uma vida. 

— Cala a boca velha maldita, você é quem não sabe de nada, você acha que sabe de alguma coisa, mas eu posso te dizer de sabia você não tem nada, seus cabelos brancos, sua pele enrugada e sua mão encarquilhada não te dá o dom de anciã, você é apenas uma velha ...  Fica com esse bastardo para você, ele não vale metade da ladainha que eu estou ouvindo, mas vocês vão se arrepender, depois não venham reclamar. Vamos bando de idiota.... Não quero mais respirar esse ar infectado de aberrações. — Berrou virando seu lobo rumo ao castelo e sendo seguida por sua legião de assassinos. 

Vérnie 

O garoto deitado no meu colo estava tendo um sono conturbado, sabe-se lá o inferno que ele passou nas mãos de Desdemona. Depois de soltar mil e uma palavras desconexas ele começou a murmurar algo que no começo eu não entendi, mas que tinha sempre a mesma musicalidade. 

— Ravenna, Évora venham até aqui, o garoto está murmurando alguma coisa que eu não estou entendo. 

Ao chamá-las, foi como se tivesse aberto as compotas de sua mente e ele falou com um desespero, as palavras brotaram de sua boca alto o suficiente para ser ouvido e entendido por todos, leigos ou não no caminho da magia: 

— Dos dias mais escuros e das noites mais claras nascerá a besta que levará a luz e as trevas em seu sangue, unindo pelo medo as almas pelo ódio separadas... O que o amor e a vida não uniram apenas o ódio e a morte poderão... Pelo Sangue da luz e pelo sangue das trevas assinamos o pacto de pelo amor gerar o ódio. Que assim seja e assim se faça. 

— Esse... esse é O feitiço? — Murmurou Ravenna pálida e tremendo junto a porta. Devo confessar que aquilo me gelou a espinha, Ravenna era de longe a mulher mais forte que eu já tinha conhecido. 

— Sim, essa é a maldição que deu origem ao feitiço que uniu Liris e Liris. Essa foi a Maldição que Kristal e Avalon criaram quando descobriram que iam ter duas filhas e que a guerra ainda ia durar muito.Mas fiquem tranquilas, esse feitiço é poderoso demais para ter efeito lançado assim... Sem intenção, sem sacrifícios, ele tem que ser entoado em puro desespero, com dor, medo … Sentimentos puros e viscerais, o que não aconteceu agora, então deixem o garoto descansar. - Falou saindo do quarto e levando Ravenna consigo, Elisabeth, Rarwey e Brandon entraram assim que elas saíram. 

Assim que Brandon viu o garoto deitado no meu colo seus olhos faiscaram, ele estava morto de ciúmes. 

— Ele devia ser aprendiz dela. Esse tipo de conhecimento não é passado na cozinha. Eu não confio um grama nele. — Resmungou Brandon saindo de perto de nós. 

Rarwey se aproximou dele e eu tive que me concentrar um pouco para ouvir a conversa deles, mas eu consegui, se foi usando algum poder eu não sei apenas que eu consegui ouvir a conversa deles: 

— Brandon, o fato de ele ser ou não aprendiz dela não anula o fato de que ela o estava caçando, ele dever ter passado o diabo nas mãos dela. Isso você não pode negar. 

— Você também não pode negar que tudo pode ser uma encenação. O meu sexto sentido está me avisando que esse garoto não é flor que se cheire. 

— Não vou me posicionar nesse caso, mas fique tranquilo, que eu vou ficar de olhar de olho, afinal já temos inimigos demais pra vacilar. 

{…} 

O garoto acordou, seu nome era Gevanni, de acordo com o que ele nos contou, Desdemona o havia encontrado e o criado o como filho, o ensinado a ser um feiticeiro acima da média, mas a sua personalidade sádica a fazia o maltratar sem motivos aparentes, esses maus-tratos iam de jejuns forçados, ser exposto a nevascas, surras, afogamentos entre outras coisas. 

— Desculpe se eu pareço um pouco rude e até um pouco insensível, mas isso é motivo para fugir? O treinamento de sacerdotes costuma ser bem mais cruel, nesse ponto acho que ela realmente o considerava um filho. — Indagou Évora sentada em sua cadeira tecendo a sua manta de algodão. 

— Passar pelo treinamento foi fácil, isso só me deixou mais insensível, mas ela começou a notar o meu desempenho e começou a ter ciúmes dele, foi por isso que ela decidiu acabar comigo. Essa caçada é o jogo macabro favorito dela para acabar com os seus inimigos.Ainda bem que eu encontrei vocês, eu não aguentava mais correr. 

— Interessante essa sua história! Eu vou te dar um voto de confiança e espero não me decepcionar. 

Você recebeu um treinamento de elite e eu preciso que passe parte desse conhecimento para eles, pois estamos entrando em guerra com os maiores magos desse tempo e não podemos em hipótese alguma perder. 

Eu sei que Desdemona o treinou bem e eu confio na sua sabedoria. 

— É claro que eu os treinarei com o maior prazer. Serei o seu eterno servo. Minha gratidão há de durar mais de mil vidas. 

— Não te quero como um servo e sim como um amigo leal. 

— Então eu serei o amigo mais leal que vocês puderam um dia sonhar. 

Eu juro pela minha vida e por minha alma imortal proteger e treinar os guardiães dos pilares da terra, hoje amanhã e sempre. Que assim seja... 

— Não precisa pactuar conosco, sua palavra me basta. 

— Não basta não. Desdemona pode muito bem ter me enfeitiçado, o que pode me fazer seguir suas ordens e eu preciso de algo que me impeça de os trair. 

— Não, eu não aceito que use magia para manter a sua palavra. Se quiser se mantenha fiel por si só e contra isso não há magia que vá contra. A fé e a força de vontade são as nossas inesgotáveis fontes de magia. 

— Farei isso.... Serei fiel a vocês por minha própria vontade e nada mais. 

— Obrigada querido. Agora coma alguma coisa para poder ficar de pé e poder começar o treinamento o quanto antes.