Carta para Sherlock Holmes escrita por Srta Lilian Tiff


Capítulo 1
Primeira carta para Sherlock Holmes


Notas iniciais do capítulo

Deixando bem claro que eu não li O problema final - Conan Doyle (Só assisti o filme) por algum motivo meu coração se parte em mil só quando começo a ler. Então qualquer data aqui é fictícia e qualquer semelhança é mera coincidência.



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3 de setembro de 1891

Baker Street esta fria hoje, ainda mais fria como de costume. Um dia propicio para seus raros sorrisos. Londres esta mergulhada em nuvens negras, carregadas de água e eletricidade, prontas para desabar a qualquer momento.
Criei coragem de visitar nosso antigo apartamento nessa manhã, juntar os cacos e organizar as idéias. Passei pela Sra. Hudson, cumprimentei-a cabisbaixo e pude perceber que ela também estava em descontentamento.

Minha mão tremia quando girei a maçaneta da porta de entrada.

Me senti atacado pelo vazio da sala principal, aquele cheiro de fumo que ainda tomava conta dos cômodos, suas frases sem sentindo e precisas, seus experimentos químicos, tudo de VOCÊ havia acabado.

Não há mais você!

Toda a bagunça está em seu devido lugar, sua poltrona próxima a lareira apagada, sendo tudo iluminado pelas janelas sujas de pó.
Vazio, tudo sem vida, sem movimento, tudo está morto. Imagine você Holmes, como meu coração está dolorido, como dói entrar aqui e não ver a sua figura a me encher com suas maluquices?

Nunca desejei tanto ser aborrecido novamente!

Sentei-me com vertigens na sua poltrona, uma fina camada de poeira subiu e formou desenhos contra a luz. Fechei meus olhos e apertei os punhos contra o tecido, minha pele se arrepiou. Seu cheiro entrou por minhas narinas, queimando-as por dentro com seu maravilhoso perfume amadeirado, o aroma de fumo nobre, tudo ainda preso ao tecido esquecido do seu leito pessoal. Talvez, tudo preso em mim também. Quantas vezes o fitei sentado aqui, muitas vezes pensativo, horas quieto, em outras descansando, lendo, tocando. Ah, tocando. Olhei pela extensão do cômodo e em um canto escuro estava ele, seu precioso violino, empoeirado, tive a impressão de que ouvi suas músicas novamente. Como era lindo quando fechava os olhos quando tocava, concentrado, firme. Sua postura e habilidade ao tocar... incomparáveis. Meus olhos começaram a estremecer, então levantei-me e segui analisando as mesas, criados-mudos, aparadores... seus objetos, recortes, sujeiras, drogas, tudo como sempre, na mais extrema desorganização. Sra. Hudson não teve ter tido coragem para voltar aqui e que assim seja.

Até que cheguei em seu quarto, seu perfume esta ainda mais forte, sua cama impecável, do jeito que você provavelmente deixou. O seu guarda roupas está cheio de roupas minhas, mas nem me atrevi em pega-las de volta.

Por curiosidade vi um bilhete mal acabado sobre sua escrivaninha. A caligrafia linda e apressada mostravam o carinho e a falta de tempo com que foi escrita.

Mesmo com a deselegância da curiosidade peguei o pedaço de papel e corri meus olhos pelas linhas, onde meu coração pareceu parar logo no inicio.

'24 de abril de 1891

Caro Watson

Sei que esta carta já deve estar em data passada. Porém eu já sabia que você ia se demorar a vir aqui depois de minha morte. Conheço bem meu amigo e seus sentimentos não permitiram sua passagem por aqui por um bom tempo e que sua curiosidade faria com que lesse isso.
Escrevo por meio desta para que saiba o quanto estou preocupado com seu bem estar. Quero que se tranquilize, poís meu óbito não foi em vão, você deve ficar em paz agora.
Tudo foi preciso para o sucesso do meu último caso, então, gostaria de me desculpar por ter lhe abandonado e pelo sofrimento que lhe causo.
Tenho um ultimo pedido, se não se importa. Quero que escreva uma carta, descrevendo como foi todo esse dia em que está aqui. Adoraria ler sobre o nosso ultimo contato, seja este, por simples palavras escritas.

Nunca se esqueça de mim. E pode parecer clichê, vulgar, ou tarde de mais... mas eu amo você!

De seu caro amigo

Sherlock Holmes'


Tortura! Isso é o que você me causou com essa carta. Você deve imaginar o quanto eu estou aos prantos. Porque Holmes? Porque você fez tudo isso? Sua inteligência poderia ter pensado em outra forma, poderia estar aqui agora. Vivo, fumando, me tirando do sério com seu jeito sistemático. Confesso que estou confuso. Como assim "adoraria ler"? Como assim "eu amo você"? Holmes, percebe em que caos o senhor colocou minha mente?

Chega de perguntas, afinal, não obterei respostas suas. Nunca mais.

Meu corpo dói muito, choro aos soluços e com a vista turva me joguei sobre sua cama. Como você sabe, meus sentimentos são fortes e abraçando-me ao seu travesseiro desfaleci em lágrimas. Seu maldito e maravilhoso cheiro ainda preso nas linhas da roupa de cama. Aquela vontade de abraça-lo, de ter por perto novamente, pelo menos uma ultima vez, só para poder dizer "eu também amo você". Sempre amei, sempre. Mas escondi, por você e pelo mundo. E agora é tarde de mais, tarde de mais para nós dois.


– Sinto sua falta Holmes - cheguei a sussurrar.

Posso dizer que passei horas deitado. Chorei até adormecer de exaustão. Desejando a morte mais do que qualquer outras coisa. Nem pensei em minha esposa, ela esta cuidando de mim, mas eu não a amo afinal, e infelizmente, percebi isso muito tarde.

Perdi a noção do tempo, das horas. Mas com as forças que me restaram eu fechei a porta do apartamento, era quase noite e o tempo estava cada vez pior. Me despedi de Sra. Hudson, tão mal quanto antes. A sua morte está instalada em meu peito. Voltei para casa, voltei para Mary, vazio e tão seu como nunca. Minha esposa se tornou uma estranha para mim.

Preciso de você meu caro detetive.

Seu ultimo pedido, acredito, foi realizado. Dos meus sentimentos aos pormenores. Tudo está aqui. Nesta carta arquivada em meu velho baú, junto a todos os meus relatos sobre nossas aventuras. Agora, tenho minha aventura sozinho e minha vida completamente em ruínas.

De seu amigo, médico e companheiro fiel.

Dr. John Watson



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Notas finais do capítulo

Eu choro ta?! ='/
Snif snif snif
Comenta para me fazer sorrir?