Crônicas Vampíricas - Lâmina De Prata escrita por Ryduzaki


Capítulo 9
Capítulo 9 - Céu Caído


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Leonardo vivia com sua mulher, Vera e eles tinham uma menina de cinco anos chamada Isabela. Por mais incrível que pareça, Vera me aceitou bem, mas ainda era possível sentir um pouco de receio. Já Isabela parecia ter medo de mim, dificilmente eu consegui cativar essa criança.

A família morava em um lugar mais afastado da cidade, ficando perto das colinas onde quase abracei a morte. Era uma casa de madeira pintada de branco, dois andares, simples e confortável. O porão ‘’semi-necrotério’’ ficava mais afastado, tendo sua entrada em um armazém antigo próximo a um bosque.

Pela manhã, os testes se iniciaram.

–Muito bem, Rafael, para os primeiros testes, eu vou medir sua força. Você vai pegar uma tora daquelas e mantê-la no ar até não conseguir mais. Entendido?

Aceno com a cabeça e vou até as toras. Eram cerca de nove toras empilhadas, fui até o topo e ergui a primeira. Eu estava abastecido de sangue e com o poder ao máximo na manha.

–8... 9... 10... 11... 12... 13... 14... 15 segundos... – contava o velho e ia arregalando os olhos conforme os números iam subindo.

Minha resistência se rompeu e arremessei a árvore cortada para trás, perdi o equilíbrio e caí para frente, rolando e caindo no chão com violência.

–Foram 18.7 segundos! Segurando uma tora de quase uma tonelada! – exclamava o homem.

–De nada adianta levantar pedaços de madeira gigante se não se pode derrubar seu inimigo – falo, me levantando – Força e velocidade combinados com habilidade, lhe da o poder para qualquer coisa.

Passo a mão atrás da cabeça e retiro pedaços de madeira, pequenas farpas incomodam.

–Recupere-se, vou descobrir do que você é capaz... – falou Leonardo, sorrindo.

E assim foi feito, passamos a manhã todo tipo de teste imaginável. Chegava perto do meio dia e eu já me esgotava.

–Almoço rapazes! Entrem! – gritou Vera.

Fomos à mesa, todos nós. No meu prato havia duas bolsas de sangue enquanto os humanos se deliciavam com arroz e camarões. Naquele momento senti algo, nunca estive em uma mesa comendo de igual para igual, em uma paz tão nova. O ar era leve, e não aquele clima pesado de sempre, tudo parecia estar se desfazendo aos poucos, parecia aliviar toda a pressão das responsabilidades.

Saboreei o sangue bem devagar, degustando como se fosse um apreciador de vinhos, sentindo todo o gosto, aroma, sentindo o prazer de provar.


* * *

Já eram 3 da tarde e estávamos todo na varanda que dava para o quintal. O casal estava em uma cadeira de balanço conversando baixinho. Eu estava empoleirado no guarda-corpo observando Isabela brincar. Era uma menina de cabelos loiros e olhos castanhos, olhos curiosos típico de criança. Ela corria de um lado para outro, brincava com um cachorro que tinha quase o tamanho dela.

Olhando a cena, tive uma nostalgia. Com cinco anos eu lutava para sobreviver, um predador oportunista em busca de sangue, nunca tive a chance de parar apenas para rir ou deixar de se importar com o mundo ao redor, meu objetivo era claro: sobreviver a qualquer custo. Vê-la era algo distante da minha realidade, era simplesmente fora do meu mundo.

–É legal, não é? – perguntou Leo, trazendo-me de volta a realidade.

– O que?

–Ver a infância, brincar sem preocupação, toda beleza da inocência, bonito? Com certeza. É muito bom saber que hoje podemos presenciar isso...

–O que quer dizer?

–Isa nasceu com insuficiência cardíaca e respiratória. Os riscos de morte aumentaram com a prematuridade. Foram meses na UTI. Meses de sofrimento. Rafael, creio que você não tenha noção do que seja ver um bebê se deteriorando, literalmente, em uma cama de hospital.

–É... como ela sobreviveu?

–Os médicos falaram que foi a medicação nas doses certas e várias outras coisas apenas para se vangloriarem. Hunf, conversa fiada. Prefiro acreditar em um milagre.

–Milagre...? Como foi?

–Em um dia de visita fomos vê-la. Os exames recentes mostraram normalidade, tudo repentino. Deus nos surpreende, nos da presentes que apenas precisamos agradecer. – ele encerra a frase com um riso de satisfação.

–Deus é penitente com os mortais... já conosco, estamos à própria sorte sem poder crer que a fé nos salve. Corpos sem alma, frios e que ceifam a vida humana. Somos apenas os predadores caçando que está abaixo na cadeia alimentar. Modo arrogante de pensar, mas é a realidade, ou se aceita ou se aceita forçadamente.

A varanda fica em silêncio, dando lugar aos risos de criança vindos do quintal.

–Me desculpe se falei o que não devia, mas sinto que preciso dar uma volta.

Começo meu caminhar em direção ao bosque.

O singelo bosque tinha um ar frio e as árvores eram densas, dando certa escuridão ao dia. Apenas o canto de poucos pássaros, animais dando voltas.

Andei sem rumo até encontrar um grande pinheiro, subi com agilidade, alcançando o topo rapidamente. Sentei-me em um galho seguro e observei a paisagem. As colinas eram cortadas por um lago, sendo seguido até a já conhecida floresta de pinheiros. Ainda mais distante, se podia ver uma pequena cidade e uma estrada.

–Não adianta observar a paisagem e ter uma nostalgia que você vai escapar das responsabilidades... – falou Ethel em um galho próximo.

–Depois de tudo que você me disse, esperava o que? Um assassino?

–Esperava alguém que compreendesse o que fiz.

–Agora não importa mais. Diga o que quer e vá embora, desisto do meu destino ou do quer que seja que você reserva para mim.

–Essa sua posse de herói caído não faz seu estilo. Ninguém muda da noite pro dia, nem mesmo com um choque de realidade.

–Faz alguma diferença? Vou permanecer aqui onde fui adotado, tentar uma vida mais comum. Afinal, não chamam a vida dos vampiros de vida maldita?

–Vou repetir: essa posse de herói caído não faz seu estilo. Para quem olhava para uma mulher e a matava antes que se desse conta, para alguém que teve o poder subindo a cabeça, para alguém que é muito importante para mim. Não é hoje nem amanha que isso fará seu tipo. Sei que a fera só dormiu aí dentro. Aos poucos, vai acordando. Eu sei...

–Chega desse discurso, já entendi. Fale logo o que quer.

–Resolvi agilizar seu renascimento. Um vampiro perfeito, além de poderoso, tem que entender como suas vitimas funcionam. Faça isso que te devolvo a Lâmina. Mas antes, recebi uma carta, mas mandaram para o endereço errado, pois está endereçada a você. – ele me arremessa um envelope branco e com um belo selo – Lhe recomendo ler durante a noite, apenas adianto que seu céu acabou de cair... até breve. – Ethel então some.


* * *

Já era cerca de 23h quando volto a casa. A porta havia sido deixada aberta e luzes vinham da sala. Vera dormia no ombro de Leonardo e Isabela estava adormecida no sofá do canto.

–Voltou tarde, filho... – ele fala.

–É, precisei de bastante tempo para refletir. Limpar a mente.

–As vezes, isso é bom. Pode me ajudar? Vou levar Vera para a cama e você arruma a Isa para dormir.

–Tudo bem.

O homem pega sua mulher no colo e leva-a para o quarto. Eu desligo a TV e pego a menina no colo que ainda dormia pesadamente.

Chegando ao quarto dela, deixo-a na cama e começo a me retirar.

–Espera... não vai ainda. – ela me chama, um pouco chorosa.

–Pensei que estivesse dormindo...

–Eu estava, mas agora acordei. E quero conversar com você. Venha cá. – ela senta na cama e liga o abajur, depois pede que eu me sente na cama, de frente para ela. – Papai disse que eu teria um irmão muito especial. Que seria forte como um super-herói, rápido como um animal e que seria único e era segredo. Você é tudo isso?

Aceno com a cabeça.

–Eu também queria ter poderes, fazer que nem os heróis da TV. Você é um herói?

Eu não sabia como responder, apenas baixei a cabeça e permaneci quieto.

–Eu só queria dizer que tive medo de você no começo. Essa pele branca, os olhos vermelhos... tive medo.

–Não se preocupe, seu pai disse que sou seu irmão, e irmãos se protegem.

–Então vamos ser amigos?

–Sim, melhores amigos se você quiser.

–Oba! Oba! Mas pra ser meu amigo, precisa saber do que eu gosto.

–È mesmo? Do que você gosta?

–Desse livro aqui. Meu pai lia pra mim, sempre foi meu preferido. Leia pra mim! Por favor!

–Tudo bem, vamos ver.

‘’Chapéuzinho Vermelho’’ era o título, eu nunca tinha ouvido falar. Abro e começo a ler, na metade, Isabela pega no sono.

Guardo o livro, apago a luz do abajur e a cubro. Saio do quarto e vou para o meu. Era um quarto no fim do corredor, uma cama de solteiro com uma ampla janela atrás, um armário e um banheiro sem chuveiro.

Sento-me na cama e abro a janela. Deixo a luz das estrelas inundar o pequeno cômodo. Puxo a carta do meu bolso e finalmente a examino com mais cuidado. Não tinha remetente. Era apenas um envelope de papel com um selo negro. Abro e começo a ler.


‘’Caro Rafael,

Apenas estou lhe enviando satisfações nessa carta.

Logo depois da sua partida, tomei a decisão de que não preciso mais desse mundo. Com seu abandono, as chances da minha sobrevivência diminuíram, a doença mágica está me corroendo, não há mais salvação.

Saiba que todo dia penso no porque de você ter ido embora, não entendo. Penso em como você pode estar, se está feliz, se ainda é aquele caçador implacável e frio. Cheguei à conclusão de que, sem você não posso mais me agarrar à esperança de viver. Mas sua decisão foi tomada, espero que não se arrependa. Te amo muito e siga bem sua vida, vampiro.

Assinado,

Bianca’’


–Desgraçada... ela não pode... não pode... – balbucio, incrédulo.

Ethel não mentiu, a garota dos olhos azuis como a lua e cabelos negros como a noite... o céu caiu.








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Notas finais do capítulo

Mereço reviews?



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