Crônicas Vampíricas - Lâmina De Prata escrita por Ryduzaki


Capítulo 13
Capítulo 13 - Morte.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Anotação: nunca entre em um templo sinistro feito de pedra erguido no meio de uma densa floresta, mesmo que seja para recuperar um pedaço de uma arma que pode lhe dar o poder de um deus. Dentre as armadilhas, esqueletos com foices e presas enormes podem se levantar e tentar dilacerá-lo, chão que se abre fazendo você despencar para o nada (literalmente),e todo tipo de armadilha mortal imaginável.

-Eu disse para entrarmos com cuidado! – gritou Bianca, enquanto esmagava um crânio e atirava em outro.

Ignorei. Meus problemas eram bem maiores. Um esqueleto de 2 metros de altura, 4 braços armados com foices bem afiadas. A criatura tinha longos chifres e dentes serrilhados.

Com meu braço já na forma de lâmina aparo boa parte dos golpes, porém me distraio, e em segundos, estou de costas no chão, preso pelos braços e pernas com uma boca ossuda pronta para esmagar minha cabeça.

Dentre desespero e calma, canalizo toda minha energia e lanço uma torrente flamejante através de minha boca. O monstro entra em uma agonia e cai para trás. Imediatamente, me recomponho e o ataco, desferindo infinitos golpes contra ele. Em minutos, restava apenas pó de ossos na minha jaqueta e no chão. Minha face queimava por causa dos cortes e minha camiseta, carregada do meu sangue negro.

Olhei a minha volta procurando Bianca, mas não a vi e nem a escutei. Apenas o barulho dos insetos chegava aos meus ouvidos. O local era uma espécie de torre, uma escada de pedra espiralava em volta de um poço e, suspenso no ar por cordas, estava um reluzente pedaço de metal.

Disparei pelas escadas, oscilando entre a velocidade normal e a vampírica. Mais mortos-vivos dilacerados espalhados por todo canto. Alguns ainda em decomposição.

Chego a certa altura e vejo que, com um salto, é possível alcançar o Pedaço.  Grudo contra a parede e olho o lugar novamente, a luz da lua entrava por um buraco no teto em forma de abóboda. Mais esqueletos corriam pela escada, prontos para uma nova investida. Desespero e medo eram o que corria por todo meu corpo, era a primeira vez que eu sentia isso com tanta intensidade.

Inspirei coragem e saí da inércia.

-Não pula seu estúpido! – era Bianca, gritando de algum ponto acima de mim.

Paro na borda, atônito. Mais um pouco, seria morte certa.

Escuto passos e ela surge do outro lado da escada. Atirava em um e logo em seguida mata outro, seus cabelos balançavam de forma graciosa no momento do golpe de misericórdia, sua calma para atirar era tão linda quando assustadora.

-Corra aqui! Vampiro idiota! Preciso de ajuda! – ela berrava e amaldiçoava.

Em mais uma longa corrida, alcanço-a. A caçadora passava a manga do seu sobretudo em suas têmporas para limpar o suor que escorria.  

-Como subiu tão rápido? – perguntei, impressionado.

-Acha que são só vampiros que possuem velocidade sobrenatural? – ela faz uma pausa e vai recuperando o fôlego antes de continuar – Não se pode pular e pegar o Pedaço. Há um campo de energia mística que o protege, por isso, precisamos cortar o cabo mestre. Aí, todos os cabos se rompem e o campo enérgico se desfaz. O único problema – sua respiração estava ofegante e ela se senta – Bom, depois, é só se jogar atrás daquele bagulho.

-Qual as chances de sobreviver?

-Para ser otimista... uma em um milhão. Boa sorte.

-Você não está sugerindo que eu faça isso, está?

-Estou sim, eu limpei sozinha todo o caminho até aqui. Agora é sua vez. Vou descansar, foi bem exaustivo.

Pela firmeza em sua voz, ela falava sério. Aproximo a minha cabeça da dela, para um possível e provável ultimo beijo.

-Nada disso... chega pra lá – ela me segura -  Sem beijo, estou toda suja.

-Mas só para boa sorte e...

-Nem venha, faz lá seu serviço e faz rápido. Preciso de um banho.

Apenas suspiro, tão indignado quanto nervoso.

Pela altura em que eu estava, se eu pulasse, conseguiria pegar com facilidade o Pedaço. Mas correr o risco de entrar em combustão por causa do campo de força, não, isso não. Seria arriscado de qualquer modo, o primeiro problema era como cortar o cabo central.

Concentro-me e disparo uma bola de fogo-escarlate contra a corda, mas nada acontece. E assim foi, tentativa após tentativa, mas todas terminaram no mesmo resultado: fracasso.

Eu só consegui pensar em uma coisa e essa era justamente a mais perigosa quanto eficaz: pular e cortar usando o braço-lâmina, logo em seguida, despencar em queda livre até alcançar o item de prata.

Fecho os olhos e inspiro fundo, sinto meu braço transmutar-se, transformando-se em uma longa e afiada lâmina pálida com um Pentagrama entalhado. Olho para o abismo. Pulo.

 Minha queda aumenta de velocidade de forma violenta. Posiciono meu corpo e corto o fio, os outros cabos se soltam e uma onda de energia é liberada, mesmo assim continuo minha caçada frenética.

Alcanço o Pedaço e agora como parar a queda? Continuo em direção à parede e cravo a lâmina-braçal, deslizo por alguns momentos e paro. A parada é dolorosa, meu ombro se desloca e quebra, formando um ângulo e uma dor insuportável.

Outro problema começa a se formar: a prata está começando a corroer minha mão e logo vai escorregar.

Eu estava tão fundo que o templo era apenas um pequeno ponto luminoso bem no alto. Meu braço solta um rangido de ossos se deslocando e quebrando, sinto minha pele e músculos começarem a rasgar, eu não estava suportando meu próprio peso! E minha mão continuava a queimar até que...

O desespero e o horror de ver meu membro mutilado na parede, minha mão esquerda cede ao metal maldito. Uma queda de segundos que leva milênios. Essa é a morte.

Meu corpo é perfurado por várias estacas, uma perfura minha garganta e sai pela minha boca, é grotesco.

Aos poucos, vejo cenas em minha mente. São lembranças. As primeiras vítimas, a bruxa me resgatando, rapidamente Isabela ainda criança aparece brincando, Ethel sempre oscilando entre me ajudar e trair e por último, o beijo. O beijo mais quente e sincero que já recebi.

No fundo daquele abismo, meus olhos foram se fechando e a luz deixou de existir.

* * *

-Malditos demônios! – grita uma velha – Sempre aparecendo nos meus jardins!

Sou cutucado por algo e abro os olhos. Um céu azul e resplandecente se ergue acima de mim, estou deitado na grama.

-Vamos! Levante! – sou cutucado por uma bengala – Se você não levantar agora, vou bater com essa bengala em um lugar onde vai doer!

Sento-me e vou tentando levantar.

-Que lugar é esse? – pergunto com voz alterada para um gutural demoníaco – Paraíso?

A velha desata a rir. Ela parecia ter mais 70 anos de idade, era baixinha e tinha a pele do rosto muito enrugada. Usava roupas de camponesa.

-Chama esse lugar de Paraíso? Acha que demônios como você vão para um lugar tão bonito?

Mais risadas. Recebo uma bengalada na cabeça.

-Deixa de ser idiota – a idosa fala com seriedade – Está no Purgatório. Significa que você morreu, mas estão na dúvida se te mandam pro Fogo ou não.

-O que eu faço então?

-Primeiro pode tratar de sair de cima das minhas violetas. – obedeço e dou alguns passos pro lado – Se você veio parar aqui, quer dizer que ainda tem chance.

-Chance do que?

-Reencarnar e voltar com seu antigo corpo.

-Há como fazer isso?

Ela acena com a cabeça.

-Siga-me.

Começamos a andar pelos campos. Eram longos e tinham algumas grandes árvores, um rio de água cristalina serpenteava o lugar.

Eu me sentia diferente. Estava mais alto, os braços grandes e musculosos com mãos terminadas em garras. Meus pés eram como os de um animal. E agora, era muito mais confortável andar de quatro.

-Então... o que você era antes de vim pra cá?

-Como assim?

-Elfo, fada, vampiro, lobisomem...

-Vampiro.

-Mesmo assim, isso não explica o fato de você estar nessa forma. Fez algum pacto com algum demônio durante sua vida?

-Não... pelo menos não que eu saiba.

-Matou muitos inocentes? Conteve sua sede?

-Mais ou menos eu...

-Então matou muito gente.

Agora entramos em uma estrada de terra batida. Para uma idosa, ela tinha bastante energia.

Avisto uma muralha feita de pedra, estava demolida em várias partes. Enormes sentinelas de pedra estavam nas entradas. Em menos de minutos estamos lá.

-A Muralha Imperial. Sempre me impressiono... vamos, quanto antes trabalharmos na sua alma, melhor será.

Eu paro e olho as sentinelas gigantes. Eram tigres feito de pedra, mas possuíam grandes dentes e garras. Imagino se essa criatura viva seria tão bonita. Não havia portões, era apenas uma abertura. Não parecia muito protegida.

Hora de recomeçar minha vida pela morte.


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