Sabedoria Das Árvores escrita por Jereffer


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Só uma onezinha que eu senti vontade de fazer depois de ler pela segunda vez a Dança dos Dragões.



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Brandon Stark, príncipe do Norte, senhor legítimo de Winterfell, um warg, troca-peles e vidente verde, o lobo alado que foi predito... Mas todos aqueles títulos de nada lhe serviam em certas situações


Aquela caverna não deixava Bran aflito. Ele gostava do escuro sem tempo, como o das criptas de Winterfell, e os filhos-que-não-são-filhos eram vizinhos agradáveis. Seu professor podia ser um pouco horripilante, estando tão perto de ser apenas um cadáver, mas aquilo não devia assustar Bran, ele era quase um homem feito... ou será que o dia de seu nome já se passara mais de uma vez desde que ele chegara ali? Bran não podia dizer com certeza, ver pelos olhos das árvores adulterava a percepção de tempo de um ser humano.


Mas ultrapassando tudo aquilo, algo estava o incomodava profundamente, um nó em seu estomago que o perturbava durante suas sonolentas lições onde ele praticava sua visão. Meera Reed.


A filha guerreira do senhor da Água Cinzenta fora uma companheira alegre por todo o percurso desde Winterfell até o reduto do último vidente verde, mas ali, na escuridão. Aquilo começava a murchar. Ver seu irmão tão taciturno estava minando o otimismo dela.


Eles tem saudade de casa, o que eu posso fazer?” subitamente, seus olhos se abriram subitamente. Ele adormecera de forma consciente, proeza que aquele trono de represeiros vivos proporcionava facilmente.


Por quanto tempo eu dormi?” se indagou o garoto, e segundos depois ele via um garoto aparentemente adormecido pelos olhos afiados de um corvo. Alçando vôo, ele foi explorar a caverna.


Com os sentidos afiados de um corvo, ele logo encontrou todos os habitantes humanos da caverna: Hodor brincava com sua velha espada mortuária golpeando o musgo macio que cobria alguns dos espigões de pedra que brotavam do chão da caverna. Jojen, usando a ponta chamuscada de uma vareta rabiscar algo na parede, enquanto Meera tagarelava amigavelmente. Mas um corvo tinha sentidos aguçados o suficiente para ver através de uma aparência forçada, e o pescoço rígido de tensão, como apenas uma pessoa desgosta fica e os olhos mais úmidos que o normal indicavam que ela não estava tão descontraída quanto fazia parecer.


Bran queria ser um cavaleiro, antes de quebrar a coluna. Aquilo já estava fora de questão, mas ele ainda podia agir como um. Os cavaleiros deviam defender os fracos e oprimidos... Meera não era fraca, nem estava sendo oprimida, mas... oprimido e deprimido são coisas parecidas.


Aquela desculpa foi o suficiente para reprimir o sangue que circulava no rosto de seu corpo quebrado de garoto. Voltando para sua própria pele, Bran se colocou a pensar “Como é possível animar uma garota?”.


Bran pensou com muita concentração, tentando lembrar de alguma conversa ouvida sem interesse no tempo em que convivia com suas irmãs. Ele se lembrava vagamente de ouvir Sansa dizer que devia mostrar interesse delicado se uma garota lhe falasse algo pessoal, mas ele não sabia como isso podia ajudar.


Depois de tanta concentração ele não pode evitar divagar, e seus olhos caíram em Lorde Bryden, que parecia tão morto quanto uma das estátuas nas criptas de Winterfell, mas ainda sim, notou que estava sendo observado.


– Não consegue organizar seus pensamentos, Bradon? - perguntou ele com sua voz sussurante, a pele morta se esticando e contraindo de forma alarmante quando ele abriu seu único olho inteiro, vermelho como sangue.


– Eu... - Bran lambeu os lábios, tentando pensar no que responder. Ele não queria demonstrar que não estava praticando sua vidência por um assunto tão... pessoal - Estou tentando pensar na melhor forma de fazer algo.


Os lábios de Bryden se torceram em algo que poderia se passar por um sorriso, se ignorasse o crânio amarelado que aparecia na linha de seu maxilar.


– Mil olhos, centenas de peles, sabedoria tão profunda quanto as raízes das árvores - disse ele brandamente - Use alguns de seus olhos, Bran. Veja como as pessoas fazem esse “algo” e pese para ver qual é a forma mais sábia.


Bran assentiu, parecia uma idéia fabulosa, certamente alguns Starks do passado devem ter pensando sobre isso próximo a uma árvore-coração. Apanhando a tigela meio esquecida de pasta de seiva de represeiro que estava apoiada ao pé de seu trono, Bran deu uma longa colherada, e deixou sua pele, deixando que sua alma olhasse através dos represeiros.


Bran havia começado a dominar um pouco daquela arte e, pensando firmemente naquilo, começou a olhar. Um caledoscópio de anos parou subitamente, e ele olhava pelos olhos vermelhos de um represeiro, mas não era o de Winterfell. Ele podia, de alguma forma, sentir o ar salgado nas folhas da árvore. “Porto Branco!”


Um rei do inverno estava ajoelhado perante a uma árvore-coração, e só então Bran notou as entranhas penduradas nos galhos da árvore, e atrás do rei, escravos aparentemente agora livres, tanto westerosis quanto de outros lugares para lá do mar estreito também se ajoelhavam, proferindo uma prece de agradecimento.


– Bradon Olhos de Gelo! - exclamou Bran, reconhecendo seu lendário antepassado, um guerreiro feroz.


O Rei franziu a testa, mas sacudiu a cabeça, como alguém que percebe ter sido lubridiado pelo vento.


– O vento está aumentando, e não importa do que falem sobre a Casa Stark, nós não gostamos de congelar vivos - disse ele para um de seus capitais - reúna os homens, escolha uma guarnição para ajudar os libertos a cuidar da Toca do Lobo, enquanto não escolhemos uma Casa mais forte para guardar o local. E trago a cabeça do rei pirata, eu levarei como sinal de apresso pela minha senhora, alguns de seus primos estavam aqui quando a fortaleza caiu e foram passados pela espada. Isso certamente a alegrará.



Bran Stark voltou para a sua própria pele para registrar o aprendido.


– Cabeças - murmurou ele - Não, a Meera não vai querer uma. Eu preciso me esforçar mais - comendo mais uma colherada, Bran se deixou levar pela torrente atemporal da memória das árvores.


Bran viu mais Starks oferecer cabeças, além de jóias, palácios, juramentos de vingança... e tudo aquilo era inútil! Depois de assistir cenas interpretadas por uma dúzia de Starks, ele finalmente viu algo útil: Brandon, o construtor naval, trazer um flor de uma ilhota solitária que ele encontrou durante uma de suas viagens para sua prometida “Pode servir, tirando pela parte de navegar e tudo mais, e... por que sempre tem que envolver noivas?!” indagou-se Bran com as bochechas ardendo.


Mas ignorando isso, ele achou que aquilo podia ter alguma serventia, então ele passou algum tempo(Bran não era capaz de calcular bem o tempo naquela caverna) se ocupando em assumir o corpo de corvos para explorar as grutas quentes e vales internos daquela habitação subterrânea.


Ele encontrou algumas plantas estranhas, mais cogumelos do que flores, mas ainda sim deveriam se passar por flores naquela terra congelada. Depois disso, foi apenas assumir a pele de Hodor para coletar as plantas. O cavalariço se acostumara á um bom nível com a presença de Bran, tornando-o apto para tarefas delicadas como pegar flores sem com que ele se assustasse e descontrolasse.


Bran lutava para tentar manter seu exótico e de aparência duvidosa buquê, mas ele não conseguia decidir em que ordem colocar aquilo.


– Eu devia ter prestado atenção quando a Sansa começava a falar sobre isso - resmungou ele, enquanto notou uma planta bulbosa roxa que se parecia surpreendentemente com uma flor de verdade. Ele a girou entre os dedos, E congelou ao ouvir passos se aproximando.


Meera saiu por um dos tuneis mais próximos dali em questão de instantes. Ela olhou curiosa para a pilha de plantas aos pés dele. Seus olhos se moveram para a mão dele.


– Bran... tome cuidado com... - ela ia dizendo, mas foi em vão. Bran, em uma tentativa de se livrar da flor antes que perguntas estranhas fossem feitas e seu elemento de surpresa agradável fosse perdido, a apertou com muita força e o bulbo expeliu um jato de pó verde.


– Isso - concluiu ela sorrindo divertida e apanhando um surrado lenço do bolso - Eu já tinha encontrado algumas enquanto explorava as grutas com o Jojen, parecem ser uma parente mais selvagem das plantas cuspidoras que nós temos no Gargalo.


– E isso é venenoso?


– Apenas causa coceiras, mas mata pequenos insetos - disse ela, se debruçando sobre ele por cima de suas pernas inúteis e passando o lenço em seu rosto - O que você pretendia fazer com elas?


Aquilo fez Bran desatar a gaguejar.


– Err... eu pensei em.... fazer... tipo... um ramo, buquê ou coisa do tipo... para...sabe...quem... animar...err...sabe...você - Bran abaixou os olhos, corando furiosamente - Esse pólen deve ser mais forte que o do Gargalo, sinto meu rosto arder.


Aquilo fez Meera sorrir.


– Como o meu príncipe é gentil - disse ela terminando de limpá-lo - Se essa era intenção, você não ficará magoado se eu rir da cara que você fez que quando eu entrei?


Bran tentou decidir se ela estava brincando. Aquilo a fez rir mais, o som cristalino que era pouco ouvido da escuridão gelada daquela caverna.


– Venha, vamos comer alguma coisa, e depois desse incidente, eu aposto que meu irmãozinho vai querer falar de forma sábia sobre como os deuses forneceram meio para certas plantas se defenderem - Ela envolveu ele com os braços e o tentou levantá-lo, sem sucesso.


– Bran, quando você cresceu tanto? - perguntou Meera esfregando os ombros - pode ser mais prático eu ir buscar o Hodor.


Com o orgulho cintilando, Bran observou a cranogmana se afastar novamente por um dos tuneis. Mil olhos, centenas de peles, sabedoria tão profunda quanto às raízes das árvores... e o  melhor que ele podia fazer era parecer um idiota coberto de pólen. Algo estava muito errado naquilo.





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Notas finais do capítulo

Não dá para chamar isso de romance, mas a paixão platônica do Bran é fofa. Comentários?



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