Quatro anos depois.

— Rose, Rose, venha, Liss conseguiu ficar em pé sozinha. – Christian me chamava animadamente pela porta do quarto.

Me levantei da cama em um pulo, colocando a camiseta de Christian de qualquer jeito antes de correr para a sala.

Lissa, nossa filha de 11 meses estava em pé no meio do tapete, com seus pequenos braços abertos para lhe dar equilíbrio. Seus brinquedos todos espalhados pelo chão e um pequeno sorriso travesso em seu rosto.

— Vem com o papai. Vem Liss, ande até o papai. – Christian a chamava com a voz melosa enquanto segurava a filmadora, para não perder nenhum movimento.

— Vem com a mamãe pequena. – Eu me ajoelhei quase ao lado de Christian e Lissa se virou para mim.

Seus olhos verdes, herdados por Janine, brilhavam em contraste de sua pele clara. Seus cabelos negros como o do pai formavam pequenos cachos abaixo da orelha. Mas ela tinha o meu sorriso e o formato do meu rosto. Além das curvas que já mostravam que seriam como as minhas, graças a suas coxas grossas e sua bunda empinadinha.

Ela deu um pequeno e hesitante passo para frente, os braços ainda abertos, e depois outro, até que caiu de bunda no chão.

— Issooo! – Christian e eu falamos juntos, em êxtase. Lissa bateu palminhas de alegria, sua nova descoberta.

Christian desligou a câmera e a colocou em cima do rack, sentou atrás de mim e passou suas pernas pela lateral do meu corpo, me puxando contra seu peito. Me aconcheguei ali, segurando uma de suas mãos enquanto observávamos Lissa brincar.

— Ela está cada dia mais linda. – Ele disse em meu ouvido, sua voz puro orgulho e amor.

— E geniosa. Acredita que ontem ela conseguiu tirar sua blusa e foi engatinhando até o banheiro? – Contei empolgada.

— Ela tem a que puxar. – Christian riu apertando de leve a ponta do meu nariz.

— E como foi o movimento ontem? – Perguntei me virando para ele.

Há um ano Christian abriu um restaurante com a ajuda de Abe aqui mesmo na Turquia, já que nos mudamos para cá depois que descobrimos a gravidez, realizando seu sonho de ser um verdadeiro chefe de cozinha.

— Foi ótimo, tive que deixar Lavon encarregado de tudo para que eu não chegasse tão tarde.

Lavon era o ajudante de Christian, cozinhava tão bem quanto ele e era de extrema confiança, mesmo sendo um humano.

— Vou preparar o nosso café. – Ele anunciou dando um beijo no topo da minha cabeça e se levantando.

— Deixe que eu vou, aproveite para passar um tempo com a Liss.

Nem precisei falar duas vezes, Christian já estava deitando ao seu lado fazendo caretas que tiravam gargalhadas gostosas dela. Como ele passava a maior parte do dia no restaurante, era bom que nos momentos que tinha passasse com ela.

Eu também havia me tornado uma ótima cozinheira. Também depois de acompanhar Christian em tantos cursos e ajuda-lo em algumas experiências acabei pegando alguma prática, mas nada comparado a ele.

Preparei algumas panquecas e fiz um suco de laranja e café. Arrumei a mesa e cortei uma maça para Lissa. Christian a sentou em seu cadeirão e sentou na ponta da mesa, seu lugar de sempre.

— Olha o aviãozinho. – Disse em tom infantil chamando a atenção da minha filha para a comida.

Comemos com calma, Lissa brincando com sua colher depois que terminou e Christian me enchendo de panqueca. Como Lissa ainda mamava, eu já tinha recuperado meu peso e estava até um pouco mais magra, fazendo com que ele me forçasse a comer ainda mais do que eu já comia.

— Que horas eles chegam? – Perguntou Christian tirando a mesa enquanto eu colocava Lissa no chiqueirinho para ajudá-lo com a louça.

— Sydney disse que até a 13hrs estariam aqui. – Avisei.

Depois do pequeno desentendimento com Adrian quando descobriu sobre nós, ficamos um bom tempo sem nunca mais nos faláramos, até que nos encontramos no casamento de Mia e Frederico há quase quatro anos.

Naquela época Christian e eu ainda éramos discretos e não gostávamos de demonstrar que estávamos juntos, principalmente na Corte. Então Adrian se desculpou, falando que o espírito e o ciúme haviam tomado conta dele e que ele sabia que tinha passado dos limites.

Eu o perdoei, é claro. Eu já tinha perdido pessoas demais para me dar ao luxo de guardar rancor por uma coisa que eu sabia que eu também tinha causado. Sydney e ele estavam juntos desde então, o que nos aproximou ainda mais. Sempre que podiam viajam conosco, levando Eddie e Jill junto.

— Vou preparar uma lasanha então. – Christian disse terminando de lavar a louça e me abraçando por trás.

Ele me virou pela cintura, me levantou e me sentou no balcão da pia. Seus lábios indo do meu pescoço até que chegaram aos meus, com delicadeza e fome. Mesmo depois de tanto tempo, seus beijos ainda me causavam arrepios ao mesmo tempo em que fazia com que um sentimento quente me percorresse.

— Liss está acordada. – Eu disse contra seus lábios, tentando afasta-lo de mim.

Ele voltou a beijar meu pescoço, suas mãos apertando meu quadril.

— Eu posso esperar até a noite. – Sua voz rouca e maliciosa, fazendo com que eu mordesse o lábio.

Desci do balcão e fui para a sala brincar com a minha princesa enquanto Christian começava os preparativos para o almoço. Nosso apartamento era aconchegante, nem grande demais ou pequeno demais. Tinha apenas dois quartos e uma grande sala de dois ambientes, com uma sacada que dava vista para o parque municipal de Istambul.

Estávamos terminando de assistir A Bela e a Fera, meu desenho favorito da Disney e de Lissa também, quando a campainha tocou.

— Amor, atende que eu e Lissa iremos nos trocar. – Gritei para ele pegando minha filha e correndo para seu quarto.

Dei um banho rápido em Liss, sequei seu cabelo e a coloquei em um lindo vestido rosa com flores brancas na saia rodada. Um sapatinho branco completou o visual.

— Olá. – Sydney chamou pelo vão da porta.

— Oi Syd, entre!

Sydney caminhou até nós com uma caixa em mãos, me abraçou com um braço e então se virou para Lissa.

— Eu trouxe um presente para minha pequenina. – Ela disse com a voz melosa agora.

— Obrigada Syd. – Disse pegando a caixa e abrindo, revelando um lindo mini biquíni rosa e um vestido verde de rendinha.

— Para próxima viagem, estamos querendo ir à Grécia. – Ela sorriu explicando o biquíni.

— Ótima escolha. Importa-se em ficar com ela enquanto me arrumo? – Perguntei.

— Claro que não, vá lá, vou leva-la para sala. Adrian está morto de saudades.

Nós saímos do quarto com Lissa no colo de Sydney que voltaram para sala e eu segui para meu quarto, tomando um banho rápido e me vestindo com uma calça jeans clara e uma camisa vinho rendada. Deixei meus cabelos soltos com alguns cachos nas pontas e passei um lápis preto e gloss transparente.

— Little Dhampir. Linda como sempre. – Adrian disse assim que me juntei a eles. – Já disse que a maternidade lhe fez muito bem? – Ele sorriu galanteador, como sempre.

Ele estava sentado no chão brincando com Lissa, seus cabelos levemente bagunçados. Agora Adrian não fumava ou bebia, tudo graças a Sydney, então tinha uma aparência muito melhor.

— Sim Adrian, perdi as contas de quantas vezes. – Respondi revirando os olhos. – E onde está Jill e Eddie?

— Foram passar um tempo com os Maestrano. – Sydney me respondeu.

— Oh, que ótimo. Fico feliz que aqueles dois estejam se dando tão bem.

Foi uma surpresa quando soube que Eddie e Jill estavam juntos, mas em todas as vezes que viajamos eles estavam sempre tão radiantes que era impossível negar que eram feitos um para o outro.

— E tem notícias de Mia? – Adrian perguntou.

— Ela e Conta se mudaram para Nova Iorque. – Christian disse vindo da cozinha. – O almoço está pronto. – Anunciou, fazendo todos se levantarem e irem para a mesa.

O almoço passou tranquilo, Sydney contando como foi conhecer Daniela Ivashkov, e eu segurei a língua para não soltar algo desnecessário, como o quanto Daniela era desagradável apesar de ser bem sincera. Depois começamos a fazer planos para a viagem à Grécia e logo o dia já estava acabando e eles se despedindo.

— Voltamos para o aniversário de Lissa. Faça algo digno. – Adrian avisou me dando um beijo parado na porta.

— Abe vai providenciar pode ficar tranquilo. – Rimos só de imaginar o que viraria a festa de um ano de minha filha.

— Lissa está dormindo agora. – Christian sussurrou em meu ouvido assim que a porta foi fechada atrás deles, enquanto começava a desabotoar minha camisa.

Balancei a cabeça rindo de sua presa, ele ia nos guiando para o quarto enquanto beijava meu colo e rosto. Nos deitou na cama e logo estávamos sem roupas, apreciando o calor um do corpo do outro.

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Um choro de criança me vez levantar do colo de Christian, fui até o quarto de Lissa e a encontrei sentada no berço, com os braços estendidos para eu a pegasse.

— Vem bebê, vamos ficar com o papai. – Disse dando um beijo no topo de seus cabelos negros.

Voltamos para meu quarto e a sentei na cama entre Christian e eu, ele logo começou a fazer coceguinhas em sua barriga, fazendo ela rir desesperada.

— Você vai matar a criança. – Bati na mão dele, puxando Lissa para mim. – Papai mal, fala neném. Papai muito mal.

Christian riu e pulou para cima de nós, fazendo coceguinhas em mim agora, enquanto Lissa batia palmas e ria de mim.

— Tá bom, chega! – Gritei já com lágrimas em meus olhos.

— Mamãe pediu arrego. – Ele sussurrou no ouvido de Lissa, pegando ela no colo e a deitando em sua barriga.

— Vou ler meus e-mails. – Anunciei me levantando da cama enquanto Christian continuava conversando baixinho com Lissa.

Sentei em nossa escrivaninha e liguei o notebook. Desde que engravidei Abe mandou um dos seus guardiões fazerem a nossa guarda, o que me tornou um pouco inútil, e também porque Christian já lutava tão bem que nem precisava mais de mim para se proteger. Então para que eu não me sentisse tão mal, Abe me deixou ajuda-lo a cuidar dos negócios, eram coisas mais administrativas, mas pelo menos ocupavam um pouco do meu tempo.

Sorri vendo o único e-mail que tinha em minha caixa de mensagens.

"De: Dimitri Belikov

Para: Rose Hathaway.

Roza,

Finalmente marcaram o casamento? Fico feliz em saber.

Claro que irei antes para o aniversário da Lissa, porque já basta eu ser um padrinho desnaturado o suficiente por estar a quase sete meses sem vê-la. E como ela está? Já está andando?

Todas as Belikovas estão mandando beijos, já prometi a elas que as levarei no aniversário. Também tenho que ir conhecer o restaurante do Christian, porque você fala tanto da comida dele que preciso comprovar.

E ah, tenho novidades. Conheci alguém.... Nós estamos juntos há uns meses. Não contei antes porque não sabia exatamente como me sentia sobre isso, então não brigue comigo.

Eu ainda não sei mesmo como me sinto, mas ela me faz bem, faz com que eu me sinta vivo novamente. Acho que nunca conseguirei amar alguém como eu te amei Roza, mas Aleksandra está conseguindo me conquistar.

Ela me lembra muito você algumas vezes, é toda alegre e diz o que pensa, e tem uma vitalidade como a sua. Vocês se dariam muito bem, quem sabe não a leve para o aniversário de Lissa para se conhecerem.

Enfim, já vou indo. Mande lembranças a Christian.

D."

É, finalmente marcamos o casamento. Christian havia me pedido antes mesmo de eu engravidar, inclusive se as contas estão certas, engravidei na noite do pedido, mas adiamos as coisas para a chegada de Lissa e agora decidimos que iríamos nos casar em três meses.

Mas não era isso que importava agora. Dimitri tinha finalmente conhecido alguém e parecia feliz. Isso me deixava ainda mais feliz. Desde que nos reencontramos anos atrás na casa de Abe, nos falávamos pelo menos uma vez por semana, e ver que ele tinha conseguido se abrir para mais alguém tirava um peso do meu coração.

Apertei o botão para responder, mas um ronronar tirou minha concentração. Virei para cama e Christian dormia com Lissa deitada em seu peito nu.

‘A resposta ficará para depois’ – Pensei sorrindo e voltando para a cama.

Deitei ao lado de Christian, que instintivamente passou o braço por mim, me puxando para ele, e deitei no espaço que sobrava do seu peito. Fechei os olhos e senti um beijo em minha cabeça, abri novamente os olhos para beijar meu noivo quando percebi outra presença no quarto.

Lissa estava parada ao lado da cama com o mesmo vestido branco de quando sonhei com ela pela primeira vez. Seu sorriso iluminava o quarto e seus olhos brilhavam intensamente olhando para minha pequena família.

— Eu disse que vocês seriam felizes. – Ela disse antes de desaparecer.

E no fim ela não estava tão louca como um dia eu imaginei.