Perfect Enemy escrita por penelope_bloom


Capítulo 1
Meu capricho. Meu bolo.


Notas iniciais do capítulo

Nho, pro OriharaIzaya, meu bolo lindo e comestível, uke de todos *u*
-OneShot.



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Eu estava sentado no terraço mais alto daquela cidade. Qual era mesmo o nome? Não que me importe.

- Illumi. – alguém disse atrás de mim.

Eu estava sinceramente sem vontade de falar com ninguém, meu humor não estava lá muito bom. Não me dei ao trabalho de me virar para ver quem era. Logo o  rapaz de ombros largos e cabelos vermelhos estava se sentando do meu lado. Encostou seu ombro no meu e passou sua bochecha na minha.

- Hisoka. – eu fui para o lado mantendo entre nós a distancia de dois palmos. – o que quer?

Ele gemeu baixo, como se fosse chorar e voltou a se encostar em mim.

- Quanta frieza, Illumi-chan... – ele disse encostando sua boca na minha orelha. – estava entediado, pensei que pudéssemos fazer, alguma coisa...

É. Enquanto meu Killua não crescia, eu passava o tempo com Hisoka. Ele é alguém interessante para se relacionar. Mas hoje meu dia não tinha sido bom. Meu trabalho tinha sido cancelado. Odeio quando meus trabalhos são cancelados.

- Ah, fiquei sabendo que a Viuva não vai mais matar o cunhado. Sinto muito. – ele disse me olhando de canto com aqueles seus olhos longos e felinos.

- É. – eu disse simplesmente. Apoiei-me em minha mão para me levantar, mas senti um puxão na minha bochecha. Hisoka e aquela gosma rosa irritante. Ele fez com que eu ficasse com o rosto de frente para ele.

- Illumi... Não seja chato, se você for legal, eu posso te contar uma coisa... Sobre o seu Killua.

Meus dedos estavam fechados, e eu já tinha três agulhas prontas para cravar nele, mas aquilo me interessou. Prendi as agulhas novamente na tira de couro em volta do meu pulso. Apenas por diversão fiquei rodando uma delas entre os dedos. E para o caso de Hisoka tentar novamente algo indecente.

- As vezes eu tenho ciúmes desse Killua, já pensei em matar ele e roubar você só para mim... Certo não precisa fazer essa cara de maníaco, eu já sei, ele é seu... – O rapaz de cabelos ruivos ergueu os braços em rendição.

- Você também não gostou quando eu falei do Godo. – foi a vez de Hisoka ser tomado por uma aura sombria e seus olhos assassinos tomarem um tom desvairado.

- É Gon. – ele sibilou.

Pessoalmente eu gostava mais dele assim, me atraia. Inclinei-me em sua direção e beijei seu pescoço, só de brincadeira arranhando seu braço com a agulha.

- O que você faria? – eu disse.

Ele de dentes trincados passou sua mão pela minha nuca, firme e agressivo. Ele me inclinou sobre o terraço e passou a morder meu ombro.

- Ah vocês dois, por favor... – outra voz chegou até nós.

Hisoka bufou. Eu não queria olhar, por mim simplesmente ignorava e continuava meus assuntos com o ruivo. Ele tentou ver quem era, mas eu segurei seus cabelos ruivos e mordisquei seu lábio.

- Hey... Chega vocês dois.

Hisoka apoiou as mãos no chão ao meu lado e se afastou para poder ver quem estava ali. Aquilo me irritou mais ainda. Saquei três agulhas e arremessei na direção da voz. Hisoka, propositalmente, esbarrou no meu braço de modo que duas agulhas minhas fossem desviadas e uma acertasse o ombro do ser inconveniente, vulgo Kuroro.

- Hisoka... – eu disse observando Kuroro retirar minha agulha do ombro – você me fez errar.

- Desculpa, não queria que você assumisse o controle das Aranhas. – ele disse sorrindo e saindo de cima de mim.

Obviamente estava mentindo, por alguma razão não era interessante para Hisoka que Kuroro morresse. Bem, eu não me metia nos negócios dele.

- Isso foi hostil Illumi. – Kuroro andou até nós.

Hisoka se levantou e me ajudou a ficar de pé.

- Nada pessoal. – eu dei de ombros.

Kuroro veio até mim e me estendeu a agulha que estava suja de sangue. Achei aquilo fofo, mas não demonstrei. Até que ele não era tão mau.

- Pode ficar com você. – eu disse piscando.

Hisoka não gostou de eu não ter tentado acabar o que tinha começado e matado o baixinho. Não podia fazer nada, ele era delicado e não tive vontade de matá-lo. Hisoka deslizou até meu lado e colocou seu braço sobre meu ombro. Possessivamente. Sem mudar minha expresssão cravei uma agulha na mão do ruivo, para que ele tirasse o braço dali. O ruivo bradou, irritado e recolheu o braço, fingindo estar magoado.

- Certo, eu quero saber se vocês aceitam o trabalho. Aquele sobre o qual eu falei mais cedo com Hisoka. – Kuroro disse guardando minha agulha em algum lugar do seu casaco.

- Bem, como eu fui interrompido, não consegui conversar com Illumi sobre isso.

- Qual o trabalho? – eu disse, uma sentelha de esperança de acendeu. Talvez eu fosse matar alguém afinal.

- Sem morte. – Hisoka disse, apagando essa sentelha.

- Eu quero conversar com um garoto, mas ele tem amigos que mais parecem cães de guarda. – Kuroro escorou-se na parede.

- Por que não pede a alguém do seu grupo? – eu me referi à Genei Ryodan. Afinal ele era a cabeça da aranha, o número um do clã.

- Não... É algo especial, só confio a Hisoka uma tarefa assim, mas ele me convenceu que você seria ideal para o trabalho...

 Acho que tinha ideia de quem Kuroro estava falando, se não me engano Hisoka já tinha molestado o garoto. Não que me interessasse.

Era um garoto da Especialização, provavelmente tinha alguma habilidade que Kuroro queria roubar, se não me engano já o tinha visto, mas não lembrava onde. Chato. Entediante. Desanimador.

- Não. – eu disse dando as costas. Não me interessava minimamente.

- Hey. – Hisoka segurou meu ombro – um dos amigos do garoto é o Killua. Vocês estão sem se falar, talvez essa seja uma boa oportunidade. E você tem que controlar seu irmão, se ele quiser lutar comigo, me impedir, as coisas podem não acabar bem para ele.

Dei meia volta. Não gostava da ideia de Hisoka encostando no meu irmão. A simples ideia me deixava doente.

- Fique longe dele. – sibilei.

- Sim eu vou ficar. – Hisoka sorriu divertido – mas ele pode vir até mim.

- Fechado. – eu disse inexpressivo, mas sentindo-me profundamente irritado.

- Certo – Kuroro espalmou suas mãos uma nas outras, sorrindo cinicamente.

Ele passou os detalhes do trabalho. É. Aquele não estava sendo um bom dia.

***

Prendi meus cabelos com duas agulhas em um coque mal feito. Estava em cima de uma árvore. Esse garoto, Kurapika, estava com Killua, o garoto insuportável do Hisoka e um adulto estranho que sempre estava de óculos. Leôncio se não me engano.

Ia usar minhas habilidades de manipulação. Era o tipo de trabalho que eu detestava, fácil, sem emoção e sem matança.

- Não posso matar nem o Leôncio? – eu disse apoiado no tronco, fincando agulhas nos sulcos dos galhos.

- Leôncio? – Hisoka franziu a testa.

Eu suspirei entediado. Prendi a dobra do meu joelho no galho que estava e me joguei para trás, ficando de ponta cabeça. Gostava de fazer aquilo, dava um frio na barriga.

- O adulto. – eu disse sentindo a sangue escoar para a cabeça. Ao longe era possível escutar as risadas escandalosas de Godo. – Como esse seu Godo é escandaloso. – eu reclamei.

- Primeiro: escandaloso ou não ele é lindo, e o nome é Gon, não Godo. Segundo o nome do adulto é Leório – ele disse pausadamente o nome – e terceiro: não, você não pode matá-lo.

Eu levei os dedos até as fitas de couro amarradas uma em cada braço, saquei seis agulhas que eu havia trabalhado. Só precisava acertar a garganta de cada um e o trabalho estaria acabado, cairiam dormindo e não acordariam tão cedo.

Chato, entediante, desanimador, irritante, frsutrante...

Tudo correu bem, eles chegaram, nós os surpreendemos. Kil coitado quase desmaiou quando me viu, Gon tentou lutar com Hisoka, mas antes que conseguisse usar aquela sua vara de pescar eu o acertei com duas agulhas. Definitivamente não gostava daquele garoto, mataria-o se pudesse. Leório tentou proteger o tal garoto, colocando-se na frente dele. Não adiantou, acertei-lhe e no fim só sobrou eu, Hisoka e o garoto. Hisoka nem se mexeu, apenas ficou ali de braços cruzados.

Nem perdi tempo com ele, andei até meu irmão e retirei a agulha de seu lindo pescoço.

- A-aniki... – ele disse ainda acordado. Ele era resistente, e eu me orgulhava dele.

Tirei uma das agulhas que prendiam meu cabelo e finquei-a em seu pescoço alvo, meus cabelos caíram até seu rosto. Mesmo sendo bem treinado, no fim ele também desmaiou. A outra agulha que estava em meu cabelo caiu ao seu lado, guardei-a na fita de couro amarrada em meu braço.

- Kuroro já vai chegar, fique com o garoto, vou levar meu irmão para...

- Não vai não! – uma voz que não era a de Hisoka protestou me interrompendo.

Levantei os olhos e parei para observar o tal garoto.

Na verdade, parecia uma garota. Cabelos lisos e loiros curtos e batiam na metade do pescoço, usava um traje engraçado, azul com detalhes amarelos, tinha os olhos azul-esverdeados e chorosos, sua boca era pequena e delicada sua pele tão bem cuidada que ele mais parecia uma boneca, daquelas que minha irmã Alluca costumava brincar.

- Você é uma garota? – eu indaguei pegando meu irmão no colo.

O(a)  loiro(a) ficou vermelho(a) e emburrado(a).

- Claro que não! Eu sou homem! – sua voz saiu aguda e desafinada.

Tive vontade de rir, mas não o fiz.  Apenas deixei o garoto falando sozinho e peguei meu irmão nos braços.

- Hey! Illumi, deixe Killua em paz! – ele disse bravo.

- Não se meta nos assuntos da família Zoldyck garota. – eu disse dando as costas e me impulsionando para cima de uma árvore.

- Eu sou um garoto! – ele ralhou irritado.

Ignorei-o e me desloquei pela floresta com Killua nas minhas costas. Ele tinha crescido, estava forte e bonito, era engraçado, desde que me lembro ele tem esse cheiro de maçã. Quando ele nasceu e largaram ele aos meus cuidados, na época que meu cabelo ainda batia nas orelhas. É verdade, tentei matá-lo algumas vezes, mas depois de um tempo, cada vez que ele sobrevivia, sentia orgulho dele. Passei a querer protegê-lo, no seu aniversário de seis anos, depois de ele quase morrer em um dos famosos treinamentos do meu avô, ele o desafiou e foi massacrado pelo dragão de Nen do vovô. Tive que ir tirá-lo do fundo do lago da nossa mansão e foi quando coloquei uma agulha onde costumava ser sua moleira enquanto ele estava desacordado e quase morto. Era uma agulha especial. Ainda é. Usei minha manipulação nela até quase desmaiar de cansaço. Killua jamais deveria fazer algo estúpido e lutar com alguém que ele não pudesse derrotar. Para evitar idiotices como sacrifícios e orgulho ferido.

Infelizmente ele é um Zoldyck atípico, muito afetuoso, tem essa mania estranha de querer amigos. Não entendo isso, por que ele precisa de amigos que só tem problemas pessoais a oferecer? Assassinos não precisam de amigos.

Killua costuma dizer que é como minha amizade com Hisoka, e eu por incontáveis vezes repito: não sou amigo dele. Mataria-o sem pestanejar.

Tenho uma parceria com ele, um acordo. É interessante para eu ter ele perto enquanto ele não interferir nos meus interesses. E enquanto Killua é muito novo, ele serve para intenções mais baixas.

Parei em uma clareira, ali perto passava um rio. Não pretendia fazer mau a meu irmão, acho que a única pessoa que conseguia aflorar minha humanidade era ele.

Deitei-o na grama e cavei um buraco na terra fofa. Adorava o cheiro de terra. Entrei no buraco até os ombros e me tapei. Amava dormir na terra. Hisoka achava que eu devia me tratar.

Falou o palhaço maníaco tarado que fantasia sadicamente com um pirralho de shorts ridiculamente curtos.

Novamente, não que eu me importe.

***

Eu estava há horas ali. Acho que tinha carregado nas agulhas, Killua não ia acordar tão cedo. Mas esse estava sendo a melhor parte do meu dia. Era bom vê-lo dormir.

Estava cantarolando uma cantiga que costumava cantar para Killua e Alluka dormirem.  Kalluto também adorava essa música, embora tivesse feito uma paródia um tanto sombria. Acho que o que Killua tinha de sentimental meu caçula tinha de macabro.

Gostaria de passar mais tempo com Kalluto, mas como Killua resolveu ser um Hipster e arrumar amigos, alguém tinha que tentar colocar juízo na cabeça desse moleque.

Ouvi passos cambaleantes se aproximando pelo leste. Alguém machucado com certeza. Preocupado com meu irmão saí da terra e me espanei, peguei Kil no colo e subi em uma imensa árvore que tinha ali. Ele ainda dormia, então coloquei-o preso entre galhos retorcidos e apoiei a cabeça dele na minha blusa e nas minhas faixas, fiquei apenas com meu colete. Peguei algumas agulhas e acomodei entre meus dedos, sentindo-as como uma extensão letal do meu braço.

Desci alguns metros e fiquei de ponta cabeça, dependurado em um galho. Os passos vinham rápidos e uma respiração irregular os acompanhava. Fiquei a postos e assim que vi o vulto eu joguei as agulhas. Contudo, o vulto parecia ter bons reflexos de modo que ao invés de acertar sua testa, creio que cravei duas agulhas na sua bochecha.

- Illumi? – o vulto perguntou cambaleante. – Por favor...

Aquela voz...

O dia estava acabando, mas assim que o vulto cambaleou para a luz eu pude ver o(a) garoto(a) loiro(a) que Kuroro tinha planejado matar. Eu tinha ajudado a capturá-lo, o que o fazia pensar que eu não iria matá-lo?

Com um aceno singelo de dedos ampliei meu Nen ao seu redor e o trouxe até mim, como se ele fosse uma marionete. Deixei-o suspenso na minha frente, como se fosse um boneco de porcelana atirado no ar. Ele tinha na bochecha uma das minhas agulhas cravadas, a outra havia ficado presa no seu cabelo. Tinha suas roupas rasgadas estava muito machucado, os olhos vermelhos e lacrimosos.

Mais uma vez: não que eu me importasse.

Soltei-me do galho e feito um gato caí de pé, em um pouso perfeito. Desci o garoto até mim e observei-o por mais alguns segundos.

- Hm... Garota, Kuroro fez isso com você? – eu disse aos poucos recolhendo minha aura e acomodando-o no chão.

Ele riu mesmo estando naquele estado deplorável para um humano comum.

- Garoto... – ele disse fraco acariciando os pulsos que estavam marcados como se ele estivesse acorrentado. – e sim, foi Kuroro...

- Você deve saber o suficiente sobre mim, por que acha que eu o protegeria? – eu andei até ele e analisei sua bochecha.

- Killua conta sobre a infância dele... – eu puxei a agulha do seu rosto e o garoto se retraiu de dor. – bem, você não parece tão mau.

Não me contive e comecei a rir. Rir não, gargalhar como há muito eu não gargalhava. Esse garoto era divertido. Eu não parecia mau? Pergunto-me que tipo de mentiras Killua anda contando sobre nossa família.

- É, você não me conhece... Mas gostei de você, acho que não vou te matar.

O loiro me olhava duvidoso. Eu havia parado de rir e estava novamente inexpressivo. Ele me lembrava do Hisoka. Uma versão menos ácida e mais inocente que Hisoka. Ele parecia um bolo ambulante. Doce, meigo e comestível.

Na verdade eu acho que entendia agora por que Kuroro queria ‘conversar’ com ele sem envolver os outros membros da Aranha.

- Você parece um Bolo. Qual é mesmo seu nome? – eu disse ainda inexpressivo.

O garoto se atrapalhava em tentar ajeitar a blusa rasgada. Pelo visto Kuroro não era nada delicado. Quem diria. Eu estava certo que se algum dia eu tivesse alguma coisa com ele, ele seria o passivo.

- Kurapika. – ele disse passando a mão pelos sedosos cabelos.

Descuidado espetou-se na minha agulha que ainda estava lá, emaranhada em seus cabelos. Ele levou o dedo até a boca, mas seu dedo sangrava pouco e continuamente.

- Ferimentos assim são diferentes. – eu disse pegando sua mão.

Canalizei e condensei meu Nen para o dedo do Garoto e passei na ferida como se fosse uma pomada de aura. Desfoquei meu olhar por um instante. Eu lembrava dele agora. Era o garoto que estivera no meu exame Hunter e defendera Kil para que ele tivesse outra chance de fazer o exame.

- O-obrigado. – ele disse sorrindo. – você é da Manipulação?

Acenti.

- Você é o garoto da Genei Ryodan. O último Kurata. Especialização, certo?

O garoto ficou tenso, seus olhos ficaram vermelho escarlate. Era lindo, raro, perigoso. Eu sabia o valor de olhos como aquele no mercado. Há não muito tive um trabalho de um colecionador para que eu arrumasse aqueles olhos. Como não há mais pessoas vivas – exceto Kurapika – com aqueles olhos eu tive que roubar de outros colecionadores.

Kurapika se levantou.

- Você está com Kuroro?

Não entendi sua repentina raiva. Dei de ombros, ele era meio lerdo, já devia ter percebido que eu estava trabalhando para Kuroro.

- Mais ou menos. Ele pode ser um aliado interessante.

O garoto olhou para os lados, raivoso e odioso. Balbuciava coisas que não entendi. Estava tão letal. Seus olhos escarlates tão lindos. Aquele garoto que parecia frágil era uma bomba atômica, contida e reprimida, pronta para explodir com um movimento um pouco mais brusco. Aquilo o deixava tão... Atraente.

Levantei-me e andei até ele, ergui meus dedos e toquei seus ombros, virando-o para que ele olhasse para mim.

Dei-me em conta de mais uma coisa. Kuroro provavelmente queria roubar as técnicas de Kurapika, roubar seus olhos e ter o prazer de acabar de uma vez por todas com o clã Kurata.

- Ele já roubou alguma habilidade? – eu indaguei pensativo.

Como resposta Kurapika tentou me desferir um soco. Errou por pouco. Passou a me xingar e a me atacar, como um animal acuado. Eu estava agora interessado naquela história deles. Peguei impulso em um giro e com um chute bem calculado acertei o rosto do garoto que foi arremessado até bater em um tronco.

- Bolos não deviam ser agressivos. – pensei alto.

O garoto tinha voltado ao normal, gemia com as mãos nas têmporas, tinha um olhar desnorteado como se não soubesse mais o que fazia.

- Hein, Kurapika... Ele roubou alguma técnica sua?

- Hãm... Não... Não tenho certeza. Me desculpe eu...

- Você tocou o livro dele? – eu disse ajudando o garoto a se levantar.

- N-não...

Espremi minha boca e comecei a pensar.

- Você tem que se esconder durante uma hora, depois de uma hora a habilidade dele perde efeito. – eu olhei para o garoto estropiado e mais ralado do que já estava. – vamos, vou te esconder.

Ele me olhou, surpreso e começou a gaguejar.

***

Eu carreguei Kil nas costas até a cidade. Kurapika foi ao meu lado, falando coisas que não faziam sentido e sendo aquele garoto estranhamente doce. Contou-me o que Kuroro tinha feito com ele, e como por pouco não fora estuprado. Ainda não conseguia imaginar Kuroro fazendo isso.

No centro da cidade aluguei um quarto em uma pousada confortável, coloquei Killua deitado em uma das camas e na outra cama fiquei jogando cartas com Kurapika. A uma hora se passou, mas estava divertido ficar com ele.

- Bati. – anunciei baixando a mão.

- De novo?! – o loiro baixou as cartas irritado.

- Consequência de passar as noites com Hisoka. – eu dei de ombros e voltei a embaralhar as cartas.

Meu colete e minha bota estavam jogados no canto do quarto, Kurapika tinha tirado os trajes estraçalhados e vestia uma blusa que eu tinha roubado do quarto do lado.

- V-você e o Hisoka... – Kurapika interrompeu a frase.

Aquilo não fez sentido, pisquei sem entender.

- Vocês... bem... você sabe...

Não eu não sabia. Por algum motivo que eu não sabia ele começou a gaguejar e olhar para as cartas com um interesse incomum.

- Nós o que? – indaguei.

- Vocês são namorados...? – Kurapika disse vermelho.

- Ah, não. Eu amo o Killua. – eu disse dando de ombros.

- A-ama... O seu irmão... Desse jeito? – ele disse meio surpreso.

- Sim. – eu disse naturalmente sem entender seu espanto – eu e Hisoka transamos às vezes, ele tem algo possessivo comigo.

Kurapika franziu a testa e fez uma cara de dor como se eu estivesse falando em Tibetano.

- Eu amo Leório. – ele disse como se estivesse falando consigo mesmo.

- Bom para você. – eu disse cortando o baralho e entregando as cartas.

Kurapika ficou de quatro na cama e engatinhou na minha direção. Minha vez de ficar confuso. Hisoka costumava fazer isso. A diferença é que o loiro parecia um gato pedindo por comida enquanto Hisoka parecia um tigre rondando sua comida.

Kurapika dengosamente se desenrolou em mim, sentando no meu colo e escorregando as mãos peito a cima, emaranhando seus dedos nos meus cabelos. Seu olhar ora estava sedutor, ora estava ingênuo, como se não tivesse certeza do que estava fazendo. Mas estava sem dúvida embriagado de desejo.

- D-desculpa... – ele disse descolando seu tronco do meu. – e-eu não sei o que...

Ele tentou sair, mas eu segurei seu braço firmemente e puxei-o com força para mim. Era bom estar no comando para variar.

***

Eu não sei o que eu tinha visto nele, mas em um rompante de loucura eu tinha praticamente pulado nele. Illumi, irmão mais velho de Killua, eu o desejava como nunca desejei ninguém. Seu jeito alienado e desligado, seus cabelos longos e soltos, seu peitoral definido e suas costas largas me faziam ter pensamentos nada decentes.

Quando recobrei minha consciência e tentei me afastar ele segurou meu braço, firme e decidido. Sua expressão fora a mesma a noite inteira, e ainda agora ele estava inexpressivo, com olhos meio lunáticos e com aquele ar distante. Parecia uma criança autista, e mesmo sem tentar, ele fazia movimentos que despertavam em meu âmago uma luxúria que eu não sentia com mais ninguém.

Amava Leório, mas quando eu estava com ele era algo mais carinhoso, não tinha pensamentos baixos como os que eu tenho com Illumi. Essa é a segunda vez que o encontro, mas sempre mantive uma queda por ele, por saber que ele era um assassino, invejo Killua por ser dono dos olhos de Illumi.

Com um movimento brusco ele tirou com um tapa as cartas de cima da cama e me deitou, logo em seguida passando as mãos pelo meu corpo de um jeito diferente. Não era agressivo como Kuroro e não era romântico como Leório. Era firme e suave ao mesmo tempo, ele passava os dedos com um toque quase fantasmagórico sobre minha cintura, só para poder apertar com gana meu pescoço. Ele podia quebrá-lo a qualquer minuto.

Quando tirou minha camiseta, o fez com seu olhar desfocado, olhando cada pedaço da minha pele, um reflexo rápido de avidez passou no fundo dos seus olhos. Passou a morder meu ombro e acariciar meu baixo ventre fazendo com que eu me contorcesse de prazer. Até nisso ele era cruel, sádico, propiciava um prazer doloroso.

Quando eu tentava me movimentar, tocá-lo ou tocar-me, ele segurava meus pulsos firmemente trancando minha circulação e ainda assim, acariciava as costas da minha mão com o polegar sutilmente. Eu observava seu corpo malhado e trabalhado, músculos como os de um Guepardo. Ele era esguio e tinha muitas cicatrizes, algumas grandes e ameaçadoras, mas que mal eram visíveis, devido á pele alva do moreno. Seus cabelos escorregavam pelas suas costas e emolduravam seu rosto, caindo na cama ao redor da minha cabeça, seus olhos negros e profundos me atraiam e me sugavam como um buraco negro. Era intenso, era ele.

***

O loiro abaixo de mim parecia um animal sedento, embebido em luxúria. Observava-me com gana e seus olhos doces estavam urgindo, como uma súplica para que eu...

Soltei seus braços e ele me abraçou, passando os dedos finos e gelados por minhas cicatrizes. Beijou meu pescoço e desceu sua mão sorrateiramente para minhas calças, dando um jeito de livrar-se logo delas.

Fez então algo que eu não costumava fazer com Hisoka, enganchou meu pescoço e puxou-me para um beijo. Senti nossas línguas entrelaçaram em uma dança frenética e ele acariciar meu rosto. Normalmente as mulheres costumam fazer esse tipo de coisa.

Se eu não estivesse vendo ele nu na minha frente e sentindo sua ‘virilidade’ em minhas mãos, estaria convicto de que ele é uma mulher.

Eu voltei a me sentar e puxei-o comigo, encaixando-o no meu colo e observando cada linha do seu rosto. Ele ficou muito corado e fez uma expressão que era um misto de dor e de prazer. Não fui lá muito gentil, mas pelos gemidos dele acho que ele estava gostando.

- Illu-mi... – ele dizia com a voz rouca e baixa.

Nossos quadris estavam colados, e eu tinha minhas mãos nos quadris do loiro enquanto ele cravava as unhas nas minhas costas e gemia no meu ouvido, alternando entre morder meu pescoço e beijar meu ombro, brincando com meus cabelos e lambendo o suor de minha testa.

Veio rapidamente, e mais de uma vez. Acho que na terceira vez vim com ele.

Ele já estava quase desfalecido em meus braços eu sem mais forças para sustenta-lo, deixei-o cair e desabei ao seu lado, deixando meu braço na sua cintura e desenhando pequenos círculos no seu ventre com o indicador. Estava com sono e mortalmente cansado.

- Que bom que não o matei Sr. Bolo. – eu murmurei quase fechando os olhos.

Kurapika se revolveu na cama até ficar de frente para mim, abriu um sorriso lesado e encostou a cabeça no meu peito. Bocejou como uma criança e fechou os olhos.

- Obrigado por cuidar de mim. – ele disse de olhos fechados e respiração pesada.

Observei-o dormir. Estava com muito sono, mas mesmo assim me levantei, tomei uma ducha e me troquei. Fui ao quarto do lado e roubei roupas limpas para Kurapika. Vesti-o, para que ele não ficasse com vergonha ao acordar e joguei um lençol sobre ele e Killua. Beijei a testa do meu irmão e me deitei ao lado do loiro, fechando-o em um abraço, e decidindo que agora ele era meu. E a todo custo iria protegê-lo. Eu amava Killua e apenas ele, mas Kurapika era como se fosse minha mascote, um capricho meu. Eu iria protegê-lo e mataria qualquer um que tentasse lhe fazer mal.

***

- Foi assim que ele virou meu capricho. – eu disse me espreguiçando na cama, meus cabelos desgrenhados e minha respiração já normalizada.

- E o tal Leorio? – Hisoka disse deitado mexendo no meu cabelo. – aceitou isso?

E então eu senti minha inexpressividade se dissolvendo e um sorriso maldoso surgindo nos meus lábios. Hisoka estranhou meu sorriso;

- Quem disse que ele sabe? – eu girei uma agulha entre os dedos. – dei agulhas ao Kurapika, ele dopa o Leorio à noite e vem me encontrar.

- E se ele descobrir? E se os outros descobrirem?

Eu olhei no relógio, estava quase na hora de eu ir encontrar meu Loiro na pensão. Apoiei a esfera metálica na boca e arqueei uma sobrancelha para Hisoka.

- Não vão.

- Você sabe que, oficialmente, vocês são inimigos. – Hisoka me olhou gatunamente.

- Sim. Em último caso vou matá-lo.

Se ele morresse, seria pelas minhas mãos. Ele era um inimigo conveniente e agradável, o tipo de inimigo que eu não queria perder. Meu inimigo perfeito.


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Notas finais do capítulo

^-^



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