– Se divertindo? – John meu amigo da revista perguntou enquanto se encaminhava até a copiadora que ficava logo ao lado do grande arquivo no qual eu estava trabalhando.

– Você não faz idéia do quanto. – Eu meio que resmunguei enquanto pegava mais uma grande pilha de papeis e me encaminhava até o arquivo. John riu e logo depois eu ouvi o barulho da copiadora trabalhando e suspirei, eu odiava aquela sala. Naquele dia depois que Harry havia me deixado na revista eu tinha ido até a sala de Heather com as mãos vazias e pensei em todas as desculpas possíveis por não ter trago o macchiato dela, porém eu logo optei pela verdade, o que no fundo não adianto muito porque ela pirou do mesmo jeito e é claro que eu deixei o Styles de fora. Quem acreditaria que aquilo podia acontecer? Desde então, a mais de uma semana estou trancada todos os dias no arquivo bagunçado, tentando o deixar em ordem. E só pra constar, Harry não havia me ligado.

– Pelo menos você não foi despedida, querida. – John sorriu pra mim e pareceu solidário. Balancei a cabeça e o encarei.

– Talvez isso não fosse tão ruim assim, afinal eu estou com poeira até na alma. Acho que eu conseguiria isso indo até o porão de alguém. Quero dizer, eu não sou paga pra isso. – Eu estava revoltada por Heather ter novamente me punido por um capricho dela.

– Ai, dear! Olha só, dê graças a Deus que o dragão não te mandou pro segundo andar! – John balançou sua mão um tanto quanto gay na minha frente e logo depois a colocou sobre meu ombro. Eu o abracei e afundei minha cabeça no peito dele. Ele era meu melhor amigo ali e agora eu agradecia silenciosamente por ele ter vindo me ver. Ele até que tinha razão. O segundo andar era pior que o arquivo, lá as pessoas ficavam loucas, pois Heather vivia por lá, inspecionando qualquer erro e punindo todos por qualquer coisa.

– Eu tenho que terminar essa matéria antes que eu acabe indo parar no matadouro. – John me largou e pegou as folhas que ele havia copiado, logo depois se virou pra mim e soltou um beijo no ar e saiu da sala. Suspirei novamente e continuei com o meu “trabalho”. As pilhas de papeis desorganizados pareciam que iriam me engolir, além da poeira que me fazia espirar de cinco em cinco segundos. Enquanto arrumava e separava todos os papeis daquela bagunça me peguei pensando em um par brilhante de olhos verdes e um sorriso com covinhas. Eu tinha sido idiota por achar que ele poderia me ligar afinal, quem eu era? Ah é, a garota que ele havia derrubado café. Resmunguei mais uma vez mal humorada.

Quando finalmente o final do expediente chegou eu estava com os cabelos presos em um coque alto, as mãos ásperas pela poeira e aquelas pilhas de papeis pesadas tinham me rendido um dor nas costas. Eu estava totalmente destruída. Sai da sala me arrastando.

– Acho que alguém vai precisar de uma carona. – A voz de Leah me fez olhar pro lado a encontrando na sua mesa desligando o computador. John estava do seu lado e sorriu pra mim.

– Bom, seria ótimo. – Eu ri e logo depois de ter pegado a minha bolsa e meu casaco me encaminhei para fora da empresa junto com um John que tagarelava com Leah sobre seu novo amor alto, forte e moreno. Leah também era minha amiga, nós dividíamos o apartamento, o que era ótimo, porque eu acho que nunca conseguiria bancar ele sozinha. Nos fomos até o fusca laranja de Leah que se chamava ladybug.

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É, o carro tinha um nome. Leah era tão cuidadosa com ele que as vezes parecia que o carro era uma pessoa e que tinha sentimentos. Ela destrancou o carro e fomos para casa, John resolveu passar a noite com a gente, isso era bem freqüente, tanto que havia roupas dele espalhadas pela casa.

Chegamos em casa e eles foram pedir pizza, sugerindo uma noite de meninas. Sim, John era gay. Eu não queria saber de nada naquele momento, portanto somente subi para o meu quarto e tomei um banho relaxante pra logo depois me tacar na minha cama, sem nem me dar o trabalho de arrumá-la antes. Logo depois, sem nem sentir, eu havia caído no sono.

–HEY, I JUST MET YOU

AND THIS IS CRAZYY

BUT HERE’S MY NUMBER

SOO CALL ME, MAAYBEEE! – Sim, era sábado de manhã e John estava no meu quarto cantando a plenos pulmões Call Me Maybe. Mato agora ou depois? Ele se tacou em cima de mim e continuo a cantar. Eu puxei a coberta até me cobrir completamente e coloquei o travesseiro sobre o rosto, tentando em vão abafar a voz desafinada que atrapalhava meu sono. Não satisfeito, ele começou a pular na minha cama.

– Ok, ACORDEEEI!- Eu gritei e joguei o travesseiro nele que se desequilibrou e caiu sentado ao lado da cama soltando um gemido de “AÍ!”

– Bem feito! Quem mandou me acordar?- Eu disse levantando da cama e sorrindo sapeca pra ele enquanto me dirigia ao banheiro.

– Ahh Lê, é sábado! Temos que fazer alguma coisa!- Ele parecia totalmente animado. Será que ele comeu açúcar demais novamente?

– John você ta quicando no lugar, se acalma. Aliais, meu planos pra hoje são bem diferentes dos seus. Eu vou ficar em casa e me afundar no sofá e ver friends!- Eu encarava meu amigo através do espelho da minha pia do banheiro e falava meio enrolado também pois eu estava escovando os dentes enquanto falava. John franziu a testa pra mim e depois balançou a cabeça.

– Você está parecendo uma velha falando. – E eu estava mesmo, mas a culpa não era minha e sim da megera da minha chefe.

– Vá conversar com a Heather sobre isso então! – Eu me virei pra ele. - Aquele arquivo acabou comigo. – John me seguiu pra fora do quarto e nos fomos até a cozinha.

– Eu não acredito que a bruxa vai estragar seu final de semana! – Ele meio que estava histérico, eu ri da reação dele. – Acho que eu vou fazer uma macumba pra aquela mulher! – Ele parecia que a qualquer momento iria começar a bater os cabelos. Meu amigo era mesmo muito gay.

– Cadê a Leah? – Eu tinha chegado na cozinha e naquele momento ela já deveria estar aqui conosco revirando a geladeira como sempre fazia.

– Ela saiu com aquele cara novo que ela conheceu. Qual o nome dele mesmo? – John fez uma expressão confusa.

– Acho que é Mitchel ou alguma coisa assim. – Eu preparei cereal pra mim e para John, estava totalmente sem paciência para fazer alguma coisa mais elaborada.

– Bom, já que todos resolveram me deixar hoje, vou chamar aquele bofe escândalo pra sair! – Ele se levantou e nem terminou de tomar seu cereal, apenas correu escadas a cima, meio saltitante. Eu peguei a minha tigela e me joguei no sofá me enrolando em um cobertor que havia ali, provavelmente Leah deve ter pegado ele para John dormir.

Fiquei vendo tevê, aquilo era realmente confortável depois de um dia de trabalho duro como o de ontem.

– Estou saindo, viu? To bonita? – John chegou na sala meio esbaforido. Eu olhei pra ele risonha por ele ter usado a palavra no feminino para fazer a pergunta.

– Ta arrasando!Assim ninguém vai resistir a você, sua delicia! – Eu fiz cara de safada pra ele e depois arranhei o ar o que o fez cair na gargalhada.

– Obrigada e adeus! – Ele foi até a porta e saiu por ela tão rápido quanto havia chegado na sala, pelo visto ele estava mesmo animado com esse cara novo.

Continuei a ver tevê e estava quase dormindo quando a campainha tocou. Devia ser Leah, provavelmente ela esqueceu suas chaves novamente. John com toda certeza não era, havia apenas duas horas que ele havia saído e eu não o esperava até o dia seguinte. Levantei meio cambaleante e fui até a porta sem me importar em ainda estar de pijamas e com o cabelo bagunçado. Abri a porta me encostando a ela e então meu coração parou.

– O que você está fazendo aqui?- Eu estava tão espantada e envergonhada que nem me dei conta que a pergunta poderia ter saído meio rude.

– Desculpe aparecer assim, mas eu estava aqui perto e pensei em fazer uma visita. – E então ele sorriu, eu queria me jogar de uma ponte, pois quando olhei para o espelho que ficava bem ao lado da porta pude ver o estado no qual eu me encontrava. Droga! Essas coisas só acontecem comigo!