Destino escrita por Eve


Capítulo 41
Capítulo Quarenta e Um


Notas iniciais do capítulo

Isso não é uma miragem!! Estamos mesmo de volta. Os capítulos de hoje são dedicados (com algum atraso, mas o que vale é a intenção) à moça que chegou aqui quando tudo ainda era mato e desbravou o terreno para esse fandom; que é uma das almas mais gentis que já tive o prazer de conhecer; que é uma leitora maravilhosa e escritora sublime e que fez aniversário no último dia nove: Cecília, você merece o mundo. Obrigada pelo apoio que concedeu a essa fic e espero que ela seja sempre um presente à sua altura.



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XLI

 

Atena continuou no mesmo lugar e Poseidon ainda permaneceu aos mesmos três passos de distância de onde ela estava por vários minutos até que um de seus novos intendentes veio solicitar a presença dele em outra área do castelo e seu marido deixou o aposento mantendo o silêncio que imperara desde que havia falado pela última vez.

Correu os dedos mais uma vez pelo pergaminho amassado à sua frente, relendo as frases agora familiares. Quando Poseidon mencionara a carta, ela sequer se lembrava de ter escrito algo do tipo, mas depois de ter lido a curta extensão de sua letra floreada naquele pedaço de papel as palavras estavam agora bem frescas na sua memória.

Era uma resposta inacabada a sua prima Perséfone. Em algumas frases ela havia explanado o suplício que era viver sozinha longe de sua família, o quanto detestava seu novo e sombrio lar, e em expressões bem contundentes demonstrado todo o desprezo que sentia pelo seu marido, com menção ao quanto lhe era repugnante a ideia de criar qualquer tipo de intimidade com ele além do que fosse estritamente necessário e como desejava que tivesse qualquer oportunidade de desfazer aquele acordo.

A parte mais espinhosa era a que ela usava para discorrer sobre a sugestão que Perséfone lhe dera na correspondência anterior. Sua prima havia - provavelmente seguindo os conselhos da mãe - aconselhado Atena a tentar pelo menos fingir algum tipo de conivência com qualquer que fosse a ideia que Poseidon tivesse para aquela união. Lhe parecera insultante anular-se daquela maneira, e portanto declarou com todas as letras que jamais se deixaria subverter de tal modo. Mencionou alguma espécie de plano para se proteger: poderia até interpretar seu papel adequadamente a fim de manter as aparências, mas estava determinada a não prosseguir em qualquer tipo de envolvimento emocional com seu marido. Poderia experimentar corresponder minimamente seu aparente afeto apenas para manipulá-lo a seu favor.

Atena amassou o pergaminho entre as suas mãos e o jogou na lareira depois de ler novamente pela última vez aquelas palavras. Era tudo desnecessariamente exagerado. Provavelmente estivera tendo um dia particularmente ruim quando sentou-se para redigir aquela carta; ou talvez em meio à súbita vulnerabilidade e solidão dos primeiros dias após a cerimônia de casamento houvesse aproveitado a oportunidade de escrever como um meio de descarregar suas frustrações; talvez tivesse sido excessiva em seu orgulho ferido como de costume. Ou, o que era ainda mais provável: todas aquelas possibilidades juntas.

Ela bem sabia que mesmo na remota hipótese de que pudesse levar aquele tipo de  plano mirabolante e cruelmente requintado adiante, uma série de erros teria colocado tudo a perder: não havia sido capaz de manter-se distante e imparcial; havia se engajado nas questões políticas e administrativas de Atlântida, havia se afeiçoado ao povo que ocupava aquelas terras, e como se tudo aquilo ainda não fosse o bastante, havia irremediavelmente permitido-se envolver com Poseidon. Tinha que admitir, contudo, que não era de se espantar que seu marido tivesse tirado todas as conclusões erradas ao ler a carta. O início daquela relação havia sido confuso o suficiente para que a margem para dúvida surgisse ao ler tais afirmações.

— Consegui os nomes que você me pediu. - A voz de Ulisses interrompeu seus pensamentos. Ela sequer tinha ouvido o cavaleiro entrar na biblioteca. Levantou-se para encontrá-lo na parte central do cômodo, e recebeu os pergaminhos que ele trazia.

— São todas as comitivas? - Ela perguntou enquanto corria o olhar superficialmente pelas listas.

— Sim. - O cavaleiro respondeu com os olhos os seus. - Está tudo bem? Parece agitada.

Atena demorou um pouco mais do que de costume para responder. Não se sentia compelida a ser totalmente sincera com o amigo naquele momento.

— Estou bem. E você, como está o rosto? - Fez uma tentativa de tirar o foco da conversa de si mesma.

Ulisses levou a mão até o queixo e flexionou a mandíbula.

— Nada mal. - Ele respondeu, mas o machucado nos seus lábios ainda estava feio e a face um pouco inchada. Atena preferiu não comentar sobre isso. Deu as costas a Ulisses para colocar as folhas sobre a escrivaninha.

— Encontrei Lorde Valence enquanto vinha para cá. - Ele comentou, e Atena permaneceu de costas para não ter de encará-lo. Suspeitava do rumo que ele queria tomar com aquela conversa e não estava ansiosa para isso. - Ele veio importuná-la novamente?

Ela fingiu mexer em qualquer coisa numa das gavetas enquanto formulava uma resposta.

— Poseidon veio tentar fazer as pazes.

Ulisses deixou escapar um som descontente.

— Sinceramente, Atena, não entendo o porquê de permanecer aqui. O que ainda pode acontecer para que você considere deixá-lo de vez?

— Nada, aparentemente. - A resposta lhe escapou quase que num murmúrio sem um momento de reflexão prévia, e ela agradeceria pelo silêncio que se seguiu se ele não fosse tão incômodo. Esperou suas bochechas esfriarem antes de virar-se de volta para ele.

— Como estão os preparativos para a batalha? - Ela questionou antes que ele resolvesse continuar com aquele interrogatório. Havia se resguardado a cuidar apenas dos assuntos domésticos e do treinamento dos intendentes desde que voltara do Olimpo para evitar tanto quanto pudesse o desconforto de dividir o mesmo intervalo de tempo e espaço com Poseidon, e por isso acabara ficando de fora das últimas decisões.

— Estamos treinando e armando nosso exército, mas não será possível criar qualquer tática até que saibamos quantos vassalos irão ceder seus homens para o combate. - Ulisses respondeu prontamente.

— Quero que escolha um dos meus intendentes e o instrua para que vá disfarçado como comerciante ou artesão até Ótris a fim de fazer uma averiguação da área.

— Lorde Valence já deve conhecer bem o terreno de sua terra natal. - Ele contestou. - Acha mesmo necessário arriscar um jovem inexperiente nessa tarefa?

— Não quero deixar nenhum detalhe passar despercebido. - Atena permaneceu firme em sua decisão. Não havia se permitido esquecer o estranho evento da presença de Cronos no Olimpo; ainda tinha as marcas daquele encontro, literalmente. - Cronos é muito astuto e pode estar planejando algo inesperado; precisamos de alguém para sondar e nos trazer informações sobre a movimentação no feudo assim como sua topografia. Quero ter uma ideia tão clara quanto possível do que ele estiver armando.

Ulisses assentiu, e estava prestes a dar meia-volta e deixar o aposento quando pareceu se lembrar de algo.

— Penélope pediu que eu te entregasse isso. - Ele disse, estendendo um pequeno pergaminho firmemente enrolado que estivera anteriormente guardado no punho de suas vestes. A menção ao nome da garota a fez lembrar-se de algo.

— Qual o seu caso com Penélope? - Ela perguntou enquanto estendia a mão para receber a nota. Era provavelmente a lista de suprimentos que havia solicitado.

— Não há caso nenhum. - Ele respondeu franzindo as sobrancelhas, mas suas bochechas estavam levemente coradas. Atena reprimiu um sorriso.

— Há, sim. - Ela retorquiu, e a tentativa dele de manter a expressão neutra lhe arrancou uma contração no canto dos lábios. - Bia já havia me dito ter flagrado vocês dois sozinhos em mais de uma ocasião, e seus deveres como capitão da guarda do castelo não passam nem perto das cozinhas; tampouco seus aposentos ficam próximos aos dos servos. Pretende cortejá-la? Ou já está fazendo isso?

— Não estou e nem pretendo. - Ele a cortou, parecendo irritado.

— Pois deveria. - Ela comentou, divertindo-se com a ideia. - Deus sabe como gostaria de vê-la longe daquelas cozinhas.

— Tire-a de lá, então.

— Ela não aceita qualquer outro posto no castelo, e não a expulsarei daqui. Mas Penélope é jovem demais para desperdiçar seus dias em meio a caldeiras e trancada num cômodo à parte.

— E se ela fosse minha esposa, seria obrigada a viver conosco aqui em cima e largar seus serviços. - Ele completou. - Principalmente se assim eu ordenasse.

Atena deu de ombros.

— Quando foi que você virou uma apologista dos casamentos arranjados e por interesse? - Ele perguntou com alguma ironia na voz. - Desista dessa ideia, não vai acontecer.

— Vocês que sabem, é claro. - Ela o apaziguou enquanto recolhia seus papéis e seguia para fora da biblioteca, Ulisses em seu encalço. - Mas não entendo porque não a considera como pretendente. Ela é jovem, bela, inteligente, habilidosa…

— Mas não é você. - Ele a interrompeu novamente ao mesmo tempo em que abria a porta para que ela passasse. Atena ficou paralisada por um momento, encarando surpresa o rosto do amigo.

— Não comece. - Ela pediu, mas seu tom saiu baixo pelo constrangimento e não rígido como ela havia esperado. Cruzou o portal e não esperou que ele a acompanhasse, preservando a dianteira para que Ulisses não flagrasse sua expressão atribulada.

— Desculpe! - Sua voz soou alta pelos corredores junto de passos apressados antes que ele estivesse ao seu lado. - Não falarei sobre isso novamente. Você foi bem clara na primeira vez. Me desculpe.

Atena assentiu, mas permaneceu em silêncio. Desceram mais alguns lances de escada juntos até que encontraram Poseidon saindo do seu gabinete. Os dois homens congelaram a meio caminho e trocaram olhares hostis; ela podia sentir que logo iniciariam a costumeira troca de insultos velados em seu nome.

Analisou por um segundo a situação e decidiu que não valia o cansaço: com um suspiro resignado seguiu seu caminho os deixando para trás para que resolvessem aquele impasse como os adultos que eram. Se tudo continuasse daquela maneira, mais cedo ou mais tarde os dois a enlouqueceriam de vez.


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Notas finais do capítulo

Prometi uma atualização dupla mas resolvi postar um a mais para compensar a longa ausência; sei que o sistema do nyah às vezes pira na hora de notificar atualizações e coisas do tipo, então peço que tenham cuidado para não passar batido sem querer por algum dos capítulos.



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