Destino escrita por Eve


Capítulo 4
Capítulo Quatro




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IV

 

 

Tudo estava no mais completo rebuliço. Há mais de uma hora, Atena havia se sentado em uma das mais confortáveis poltronas da sala para ler um livro, mas é claro que não conseguira. Não com suas irmãs correndo pela casa carregando sapatos, colares, e todo tipo de quinquilharias. Não com os criados tratando de limpar e arrumar tudo que estivesse um centímetro sequer fora do lugar. Não com os resmungos de Ares enquanto Hera tentava deixá-lo apresentável. E tudo isso porque há aproximadamente duas horas havia chegado um mensageiro de Ótris comunicando que os três irmãos Valence fariam uma visita ainda hoje, e consequentemente passariam a noite ali.

Atena estava absolutamente detestando tudo aquilo. Ela não havia tido tempo sequer para familiarizar-se com a ideia de que iria fazer parte de um casamento, e mesmo assim de alguma maneira fora decidido que seria uma boa ideia receber seu futuro noivo ali para uma visita. Trazendo os irmãos, ainda por cima! Ela conseguia pensar em poucas coisas de que precisava menos no momento do que uma comitiva inteira de rebentos Valence batendo à sua porta. Antes que ela se desse conta, o mensageiro do seu pai chegou esbaforido à porta da casa e disse:

— Os Valence acabam de chegar à entrada do feudo.

Atena dispensou-o, e levantou-se. Colocou o livro sobre uma das mesas de canto da sala e subiu as escadas rapidamente. Encontrou o seu pai no gabinete, como era de costume, e o informou da chegada tão aguardada. Imediatamente ele mandou chamar Ares e Apolo e os três partiram para receber os visitantes nos portões do castelo. Hera então ordenou uma reunião feminina nos jardins, enviando a contra-gosto criadas para convocar Atena e Ártemis. Elas obedeceram, se dirigindo para fora do castelo e misturando-se à movimentação de servos que corriam para cumprir ordens de Lady Hera e aproximando-se de sua tia Deméter, que junto com Perséfone já aguardava a chegada dos convidados junto à Hera e Hebe. A outra irmã de Atena, Ilitia, não estava ali. Ela havia decidido permanecer em clausura em um convento afastado e se preparava para fazer os próprios votos.

Sua tia Deméter havia retornado junto com ela da capital, e ficaria ali com sua filha até o dia da celebração do casamento de Atena. Perséfone tinha a sua idade, e desde que se entendia por gente Atena ouvira comentários maldosos da boca de criados ou mesmo de camponeses que sussurravam como não se sabia quem era o pai da menina, que não havia provas do matrimônio que Deméter afirmava ter contraído em uma de suas viagens ao exterior nem do suposto marido que havia morrido pouco tempo antes de voltarem à sua terra natal. Zeus, após o acontecimento fatídico, usara da influência de seu nome e da persuasão do seu ouro em tentativas de casá-la diversas vezes, mas Deméter nunca havia aceitado as propostas e deliberadamente permitira que os rumores sobre sua honra manchada continuassem a fim de evitar novos pretendentes.

De repente, interrompendo seus pensamentos, os trompetes indicando a chegada do seu pai soaram, e todas rapidamente se alinharam em frente à entrada do castelo. Atena estava mais distante, então quando chegou ao seu lugar seu pai já desmontava do seu cavalo e o entregava ao rapaz responsável, sendo seguido pelos seus irmãos. Atrás deles vinham três cavalos. No da direita, estava Hades Valence. Atena sabia que aquele só podia ser o irmão mais novo, julgando pelo porte jovial e atitude despojada. Ele era alto, com a pele muito branca e cabelos e olhos completamente negros, num contraste impactante, para dizer o mínimo. No cavalo do meio, vinha um criado trazendo as bagagens. E no da esquerda, havia um rapaz que Atena presumiu que seria seu futuro noivo. Ela não podia ver o rosto dele, pois à sua frente estava sentada uma menina de aproximadamente nove anos com cabelos castanhos arruivados, olhos verdes e pele pálida como a do outro irmão, que ela supôs ser a Valence mais nova.

Então Hades também desmontou, e seguiu para o cavalo dos irmãos a fim de ajudar a menininha a desmontar. Foi aí que Atena viu Poseidon pela primeira vez.

Ela tinha que admitir que seu coração deu uma batida desregular quando ela o avistou. Ele era mesmo incrivelmente bonito, como prometiam os rumores afoitos das colegas de Ártemis. Alto como Hades, porém com ombros mais largos e aparência mais robusta. Tinha também os mesmos cabelos pretos do irmão caçula, mas as semelhanças paravam por aí. Sua pele era cor de oliva, e fazia um contraste surpreendente com os olhos verdes intensos. Em seus lábios brincava a sugestão de um sorriso.

Atena interrompeu sua apreciação do convidado quando ouviu a voz de seu pai chamando-a.

— Atena. – Disse ele. – Venha até aqui, por favor.

Ela puxou delicadamente a barra do vestido cor de cereja que usava, para que não sujasse, e desceu hesitantemente os degraus que a separavam de onde estava seu pai. Parou à frente dele, fazendo uma leve reverência em sinal de respeito. Zeus então pegou sua mão e a conduziu até o local onde estava Poseidon.

— Este é seu futuro noivo. – Ele o apresentou. – Poseidon Valence, do feudo Ótris.

Como que na deixa, Poseidon cruzou o pouco espaço existente entre eles, pegou a mão livre de Atena e curvando-se em uma reverência a beijou, dizendo:

— É um prazer conhecê-la.

Atena, como ensinam as boas maneiras, também fez uma pequena mesura.

— Posso dizer o mesmo. – Ela falou, não sem notar que ele ainda não havia soltado sua mão. Seu toque era confortável. Ela permitiu-se encará-lo por alguns momentos. Os olhos dele eram ainda mais brilhantes de perto, e o sorriso agora era visível em seu rosto. Ele também a encarava, parecendo... Curioso? Surpreso? Não, era uma impressão que ela não conseguia definir. Mas então seus devaneios foram interrompidos novamente, dessa vez por Hera, que falou:

— Zeus, traga os hóspedes para dentro. Eles devem estar exaustos. – Zeus anuiu, e indicou com a mão o caminho para Poseidon, que soltou a mão de Atena apenas para lhe oferecer o braço. Atena olhou para o pai em busca de aprovação, e ele deu um discreto aceno afirmativo, então ela enlaçou seu braço direito no esquerdo de Poseidon e os dois caminharam até a entrada do castelo juntos.

Chegando lá, eles se separaram, pois Hera sugeriu – na verdade, praticamente ordenou – que os hóspedes fossem levados aos seus aposentos para que descansassem, pois mais tarde todos se reuniriam novamente nos jardins para um chá. Poseidon então os separou delicadamente, e seguiu escada acima atrás de seus irmãos.

Atena, suas irmãs e prima foram então para a biblioteca, onde poderiam conversar sem serem incomodadas. Logo Ártemis e Hebe escutavam avidamente cada palavra que Perséfone dizia sobre os vestidos, os bailes, e os garotos da capital, mas Atena não prestava muita atenção nelas.

Não quando sua mente estava muito ocupada pensando em certo par de olhos verdes.


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