Destino escrita por Eve


Capítulo 33
Capítulo Trinta e Três




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/266516/chapter/33

XXXIII



 

 

Atena estava, com o auxílio de alguns criados, arrumando sua última mala para a viagem até o Olimpo que faria naquela tarde. Todo seu corpo palpitava de animação com a perspectiva de reencontrar sua família, que havia visto pela última vez no seu casamento, há alguns meses.

A notícia do casamento de Hebe foi recebida com surpresa de sua parte. Sua irmã mais nova nunca havia mostrado interesse em nenhum dos pretendentes que Lady Hera tentara lhe arranjar, e até onde ela sabia não havia negociações formais de nenhum noivado envolvendo a mais jovem dos Norwood, o que poderia indicar que aquela fosse uma união desejada por ambas as partes envolvidas, Hebe e seu noivo Héracles. Neste caso, Atena estava feliz pela irmã.

Além disso, muito provavelmente sua tia Deméter estaria presente na celebração, junto com a filha Perséfone, de quem Atena sentia muita falta apesar da constante comunicação através de cartas. A mera ideia de poder conversar pessoalmente com seus irmãos e prima a enchia de felicidade.

Sem demora, ela concluiu os preparativos e passou à Bia as últimas instruções sobre tudo que deveria ser realizado durante sua ausência. Seu tempo fora seria curto, pois em meio aos arranjos para receber as famílias vassalas ela não poderia se ausentar muito, mas confiava em sua equipe de servos e intendentes para segurar as pontas até o seu retorno, assim como na supervisão de Poseidon.

Seu marido havia decidido não acompanhá-la nessa viagem, devido ao grande número de afazeres que tinha a cumprir como senhor de Atlântida nesse momento crítico de negociações. Além disso, ela supunha que seria arriscado deixar o castelo sozinho com a ameaça de Cronos pairando sobre suas cabeças. Portanto, Atena iria sozinha, acompanhada apenas por algumas criadas pessoais, além de guardas para a sua proteção.

Após checar os últimos itens de sua lista mental de afazeres, ela desceu as escadas até o pátio do castelo, onde sua pequena comitiva já a esperava a postos para a partida. Boa parte da equipe de servos do castelo estava ali para despedir-se de sua senhora, assim como Ulisses e Poseidon.

Seu amigo de infância fora convidado para ir junto dela prestigiar esse momento tão importante em sua família, mas por algum motivo, havia declinado. Atena já tinha notado como Ulisses estava agindo de maneira estranha nesses últimos dias, mas entre seus diversos afazeres e as longas ausências do cavaleiro ela não tivera tempo para uma conversa séria sobre os motivos que o levavam à essa súbita mudança. Uma parte dela suspeitava que Ulisses percebia como o seu relacionamento com Poseidon estava mudando e se tornando cada vez mais íntimo e significativo para ambos, e naturalmente, se sentia enciumado por isso. Afinal, ele fora o mais próximo que Atena tivera de um flerte antes do seu noivado, e ela sabia que Ulisses a teria pedido em casamento se fosse lhe dado um pouco mais de tempo para estabilizar-se naquela terra que para ele era forasteira.

De qualquer maneira, isso não mais importava. Quaisquer sentimentos que ela possivelmente pudesse ter nutrido por Sir Ulisses Visconti estavam há muito enterrados, se é que um dia chegaram a existir. Agora, o que a atormentava era o seu massivo conjunto de não tão bem-resolvidos sentimentos em relação a seu marido, mas este era também um assunto que por agora ela preferia ignorar em favor de pensamentos mais produtivos.

Despediu-se de seus funcionários e de Ulisses, em seguida descendo até o fim da escadaria onde Poseidon a esperava junto à sua montaria. Ele estivera diferente durante esses últimos dias, mais distante e circunspecto, mas Atena preferira não apontar nada a fim de não coibí-lo. Quando ainda vivia no Olimpo, ela se lembrava de ter vivenciado pequenos conflitos entre seu feudo e os territórios vizinhos, e nessas ocasiões seu pai sempre estivera mais rígido e preocupado. Uma responsabilidade ainda maior, em um Lorde jovem e inexperiente como Poseidon, certamente causaria impactos um tanto quanto negativos em sua personalidade antes jovial e expansiva. Se algo mais sério o incomodasse, com certeza ele diria a ela qual era o problema. Ou pelo menos era isso que Atena imaginava.

— Tem certeza de que não se importa que eu vá? - Ela perguntou assim que chegou ao seu lado, embora já soubesse a resposta. Ainda assim, buscava uma confirmação, mesmo que apenas para aplacar a sensação ruim na boca de seu estômago causada pelo quanto soava errado deixá-lo sozinho quando ele aparentava estar tão desamparado.

Poseidon sorriu como sempre fazia para apaziguá-la, embora o gesto não alcançasse seus olhos.

— Sim, meu bem. - Ele respondeu, segurando-a pelos ombros enquanto se aproximava para plantar um leve beijo no topo de sua testa. - Tenho certeza que sobreviveremos a uma semana sem seus cuidados por aqui.

Atena conseguiu deixar escapar um riso nervoso. Apesar das tentativas de reconfortá-la, ela ainda viajaria com o coração pesado de preocupação com a segurança de Poseidon e Atlântida. Tentou afastar esses pensamentos, argumentando consigo mesma que a sua presença dificilmente seria uma fator decisivo em um possível ataque de Cronos, mas ainda assim uma fração de si permanecia irracionalmente temerosa.

Ela não havia percebido que involuntariamente enlaçara seus braços ao redor de Poseidon em busca de algum conforto ou ilusão de segurança até que ele gentilmente a afastou e disse:

— Agora você deve ir, ou viajarão a maior parte da estrada à noite.

Atena aproveitou esses últimos momentos em seus braços para olhar no fundo das orbes verdes de Poseidon e tentar extrair de lá quaisquer que fossem as questões que o atormentavam, fracassando outra vez. Finalmente, ela afastou-se, segurando apenas uma das mãos dele nas suas e a trazendo até seus lábios.

— Eu estarei de volta antes que você perceba. - Ela falou, enquanto aceitava sua ajuda para montar no cavalo que a esperava. E então, com todos já a esperando, foi uma questão de segundos até que estivessem fora dos muros do castelo, em seguida atravessando os campos e a cidade onde os camponeses e outros moradores paravam seus afazeres para cumprimentá-la animadamente.

Ainda era uma sensação estranha ser tão querida.

As muralhas do feudo logo também foram deixadas para trás, e do topo da colina ela virou-se para admirar Atlântida em todo seu esplendor, o mar ao longe atingindo repetidamente as rochas onde o imponente castelo erguia-se orgulhoso. Em um momento de pura surpresa, veio a realização de que em algum momento daqueles últimos meses, ela realmente passara a considerar aquele seu lar.

E aquela era uma consideração que não mais a assustava, pelo contrário: a consolava, por garantir que finalmente tinha um lugar para o qual ansiava voltar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.