Destino escrita por Eve


Capítulo 17
Capítulo Dezessete




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XVII

 

 

A capela do castelo era de tamanho mediano, mas possuía espaço mais do que o bastante para as duas famílias. Não havia convidados, uma vez que o casamento fora adiantado e o tempo tinha sido suficiente apenas para que eles chegassem a Atlântida, não permitindo a entrega de convites ou qualquer comunicação com outros feudos.

Todos já estavam posicionados em seus devidos lugares, e o padre da cidade iria celebrar o casamento. Alguns músicos locais também tinham sido convocados; Hades e Reia seriam os padrinhos do noivo e Apolo e Perséfone os da noiva, e isso era tudo. Poseidon estava no altar aguardando Atena e o pai dela, andando impacientemente de um lado a outro do estrado. Após um longo tempo de espera as conversas cessaram e a música iniciou. Dois guardas abriram as portas e a primeira a adentrar o recinto foi Héstia, derramando pétalas de flores pela passagem até o altar. Em seguida os padrinhos e finalmente a noiva.

Atena caminhava lentamente, um braço enlaçado no de Zeus. Há três dias, Poseidon a encontrara com Hades no corredor de seu quarto, e sua aparência era quase displicente. Agora, ela estava o extremo oposto: usava um vestido de seda e veludo, vermelho vivo com debrum azul. Era bem ajustado no corpete, e Poseidon achou quase indecente a forma como seu busto estava exposto pelo decote quadrado. As mangas eram longas e justas, e havia bordados dourados nos punhos, assim como no decote e na barra do vestido. Ela usava também um cinto dourado com pedrarias, e a saia volumosa arrastava-se com um farfalhar agradável enquanto ela caminhava confiante e com a cabeça erguida. Seus longos cabelos dourados estavam soltos e ela usava um véu branco e comprido encimado por uma grinalda de ouro e joias azuis. Nas mãos, um buquê de flores de laranjeira. Foram necessários apenas alguns passos para que Zeus chegasse até onde Poseidon estava e o entregasse a mão de Atena. Ela posicionou-se à sua esquerda sem olhar em sua direção nenhuma vez e o sacerdote deu início à cerimônia. Poseidon mal escutou as palavras que ele proferia. Repetia o que tinha de repetir e Atena fazia o mesmo. Sua atenção só voltou-se para a celebração quando o padre perguntou:

— Lorde Poseidon Valence, legítimo senhor de Atlântida, aceita a senhorita Palas Atena Norwood como sua legítima esposa, prometendo-a fidelidade e respeito, em riqueza ou pobreza, saúde ou enfermidade, até que a morte os separe?

Ele respondeu rapidamente e sem hesitar.

— Sim.

O sacerdote repetiu a pergunta, dessa vez dirigida à Atena. Ela ficou calada a princípio. Poseidon virou-se para olhá-la, e viu que ela parecia em um conflito interno. Poderia dizer não e supostamente a Igreja não a casaria contra a sua vontade, mas bastava uma palavra de Zeus ou Cronos – ou de ambos – e tudo prosseguiria como se ela houvesse consentido. Poseidon viu em seu olhar que ela considerava seriamente negar. A incredulidade definitivamente o alcançava naquele momento. Poderia ter imaginado que ela fizesse qualquer coisa, mas isso... Atena percebeu que ele a encarava e passou a fazer o mesmo, numa mistura de afronta e irritação. Ergueu uma sobrancelha desafiadoramente e Poseidon teve certeza de que ela estava prestes a declarar um sonoro "não" quando a ouviu dizer:

— Sim. - E virou-se imediatamente de volta para o padre. Poseidon estava tão desnorteado pelo alívio de ouvir aquela confirmação que não prestou atenção ao que o celebrante disse em seguida. Mas logo se deu conta que era a hora de trocar alianças. A primeira a receber a joia era ela, que o estendeu a mão esquerda hesitantemente. Ele, contudo, pegou a sua direita primeiro, retirando de lá a aliança de noivado incrustada de diamantes que tinha colocado há algumas semanas e transferindo-a junto com a aliança de casamento - um delicado anel de ouro puro - para o anelar esquerdo de Atena. As duas alianças reluziram juntas quando ela pegou a mão esquerda de Poseidon e rapidamente colocou em seu quarto dedo a aliança idêntica à dela. Tinha um peso considerável, de certo modo, aquele anel em seu dedo, talvez não somente pelo desconforto da joia em si, mas pelo compromisso que era carregá-la. Estava feito. Eram marido e mulher agora, e foi ainda processando essa informação que Poseidon pegou a mão de Atena na sua e a guiou para fora da capela assim que o padre concluiu a cerimônia. Apesar de só estarem ali as famílias para a celebração, um pequeno baile fora organizado em um dos menores salões do castelo. Ele a segurou no colo assim que chegaram ao pátio externo da capela, e Atena deu um grito de pura surpresa.

— O que está fazendo? – Ela exigiu saber, em um tom quase desesperado, e ele apenas sorriu.

— Não vou deixar que você ande daqui até o castelo, vai sujar o seu lindo vestido. E nesse escuro, pode cair também, o que não seria um bom presságio. Você sabia que os antigos romanos carregavam suas esposas nos braços até a câmara nupcial, porque se ela tropeçasse no caminho era considerado um sinal de má sorte?

Ela franziu as sobrancelhas.

— E como sabe disso?

— Li em algum lugar certa vez.

Ela ergueu as sobrancelhas bem delineadas, como se duvidasse. Poseidon revirou os olhos impacientemente.

— Ora, eu não sou um ogro, está bem?

Ela nada respondeu e por fim chegaram à porta do castelo, onde ele a colocou novamente no chão. Esperaram por suas famílias e então seguiram até o Pequeno Salão. Os mesmos músicos que estiveram na igreja já estavam a postos e começaram a tocar assim que os noivos entraram. Os dois receberam os cumprimentos e congratulações de todos, como era o costume, e então Perséfone anunciou alegremente:

— Está na hora do bolo!

Poseidon não via nenhum bolo por ali, e não entendeu o que ela queria dizer. Mas logo todos – todos, sem exceção – aproximavam-se da mesa central e colocavam um bolo sobre ela, empilhando uns sobre os outros de maneira praticamente impossível.

— Vocês só podem estar brincando! – Atena exclamou, assim que o último bolo, o de Héstia, foi colocado no topo da pilha. Os doze bolos formavam uma torre desengonçada que tinha da base ao topo mais ou menos a altura de sua irmã.

— É muito simples, na verdade. Vocês tem que se beijar por cima do bolo, para trazer boa sorte e prosperidade ao casamento. – Reia anunciou.

— M-Mas... – Atena parecia prestes a argumentar, porém ela e Poseidon foram simplesmente arrastados até à mesa antes que pudessem dizer qualquer coisa. Ele subiu com facilidade, mas Atena teve de erguer as saias – aquilo que ela estava usando era uma liga? – para subir num dos banco e por fim, na mesa. Ele inclinou-se por cima da torre de bolos para ajudá-la a se equilibrar e então se aproximou tanto quanto era possível. Ela se inclinou em sua direção, claramente insegura com toda aquela situação. 

Tentou não desviar a atenção para seu decote, e ainda segurando-a pelos braços, a beijou. Seus lábios encostaram-se brevemente e Poseidon ergueu uma das mãos para a nuca dela, aproximando-a de si tanto quanto podia. Mas logo o equilíbrio sobre a mesa se tornou precário e ela se livrou de seu aperto, aceitando a ajuda dos irmãos para descer do móvel. Eles partiram o bolo, o vinho foi servido e a comemoração seguiu noite adentro.


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Notas finais do capítulo

[Toda essa coisa do bolo era realmente uma tradição medieval, assim como o vestido de noiva em cores exuberantes, que representava o poder e riqueza da família da noiva. A cor vermelha simbolizava a capacidade da noiva de gerar sangue novo e produzir herdeiros, e o véu branco, sua castidade. (Eu realmente amo compartilhar essas pesquisas que faço na hora de escrever a história, me perdoem se pareço uma professora chata.)]