O Fim.

Como é doce.

Parecia tão brilhante. A ilusão da faca perfurando meu peito era tão atraente. A segurei firme, apontando para meu coração partido.

As coisas sempre acontecem comigo. Por quê?

Eu não queria mais ser um peso na vida de ninguém. Não queria atrapalhar ninguém. E ninguém me queria por perto. Eu era somente mais um problema para as outras pessoas carregarem, como se já não tivessem os próprios.

Minha vida era dispensável, não sou útil para absolutamente nada. Eu era invisível, ninguém me olhava. Ninguém me queria.

Para que continuar vivendo nesse mundo cruel? Neste inferno!

Aquela faca pedindo por sangue. Pelo meu sangue. Já não agüentava mais segurá-la e não fazer nada. Minhas mãos estavam trêmulas, não conseguia mais segurar aquela faca.

Ela caiu.

Cai de joelhos no chão. Por mais que eu quisesse, não conseguia. Eu era fraca! Como sempre fui! Não conseguia nem se quer acabar com essa desgraça de vida! Eu era uma inútil, sempre fui.

Chutei a faca pra debaixo do armário. Não agüentava mais ver aquele brilho maldoso que ela refletia. Cegando meus olhos de ilusões bobas. As coisas, para mim, sempre vão contra a maré. Sempre dando errado. Sou humilhada todos os dias, por todos. Mesmo que não percebam.

Todos sempre são melhores que eu. Sempre fazendo piadinhas interiores. Eu sei, tenho certeza.

Ajoelhei-me diante ao armário e, com cuidado, segurei uma ponta da faca que havia ficado fora do armário. Seria mais fácil eu ir até a cozinha e apenas pegar outra faca, eu sei. Mas eu queria sofrer. Queria fazer com que o restante de minha vida fosse o pior momento de todos.

Consegui resgatar a faca e afundei dentro do meu coração que já não amava mais. Soltei um pequeno grito que foi abraçado pela dor e a paz. As coisas iam ficando mais distantes e obscuras na minha mente. O toque aveludado da morte pousou sobre o meu ser.

Eu me via indo embora junto com os berros desesperados de alguém ao fundo. Sim, agora eu já estava em paz.