A day before tomorrow escrita por Gabrielle Reis


Capítulo 24
Tom


Notas iniciais do capítulo

Trilha sonora do capítulo 24: Apologize - Timbaland
http://www.youtube.com/watch?v=fm0T7_SGee4



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A neblina estava densa, era quase impossível enxergar. A neve cobria tudo envolta, com uma camada generosamente grossa, como se Los Angeles usasse um casaco macio e felpudo. Ben trocara as correntes do carro para apropriadas para a neve, a ponta de meu nariz e minhas bochechas assumiam um tom avermelhado devido ao frio. Adorava o frio, adorava a neve e a chuva. Traziam-me boas memórias que passara com meu pai.

Desci as escadas relutantemente, meu corpo se sedentarizava. Bocejei, atraindo todos os pares de olhos que a casa guardava, o cheiro de ovos com bacon invadia minhas narinas fazendo com que meu estômago fizesse ruídos estrondosos. Apesar do clima meu corpo implorava por ar fresco, sentei-me na varanda sentindo o ar cortante invadir minha garganta em cada arfada, pelas rajadas de vento que vinham impiedosamente.

Encarava distraidamente o vazio quando uma bola de neve atingira minha cabeça, fazendo-me tombar para o lado. Virei-me furiosamente procurando pelo responsável, as duas pareciam inocentes quando as fitei, Mallory conversava com Alice entretidamente. Agachei-me formando uma bola pesadamente gigantesca, quando conseguira o impulso exato, lancei-a atingindo Alice que me olhava raivosamente. Gargalhava de suas expressões que variavam entre ódio e tristeza por ter estragado seu cabelo. Depois de também atingir Mals, corríamos envolta de casa, parecendo crianças. Em breve o gelo que se recusava a sair de nossas cabeças, derreteria e ficaríamos completamente encharcadas.

Depois de construir um boneco de neve deformadamente bonito, estávamos em frente a lareira tentando nos aquecer, enquanto o fogo consumia a lenha sedentemente. Por alguns instantes meus olhos não desgrudaram da chama amareladamente azulada, que por algum motivo causava-me certo fascínio, uma onda de tristeza atravessou meu coração. Faria tudo para ter meu pai de volta, se pudesse ao menos voltar ao passado... Ter aproveitado cada minuto que passamos juntos.

– Alice? Alice? - Não percebi meu nome sendo chamado, era como se estivesse em algum tipo de transe, dispersei-me apenas quando senti meu ombro sendo bruscamente balançado.

– Sim? - Minha voz estava rouca, massageei meu globo ocular, estava cansada. As vezes sentia falta da faculdade – que estava interditada para melhorias – ou, do emprego que arranjara – onde meu supervisor me dera folgas, por ter a impressão de eu ser uma suicida – onde Ben ainda trabalhava. Minha vida se resumia ao tédio.

– Que tal irmos ao cinema? - Alice se dirigia a mim empolgadamente. Ela só podia estar brincando. Ir ao cinema era a última coisa que gostaria de fazer naquele momento. Incrivelmente com seu poder de persuasão me convencera a acompanhá-la. Prendi meu cabelo com um elástico, cobrindo-o com um gorro, agasalhei-me rigorosamente e saí porta a fora com a imensa vontade de voltar para casa e dormir, o dia todo.

A fila do cinema antigo estava curta, então não demoramos muito para nos acomodar. Assistiríamos: ''O Exorcismo de Emily Rose''. Por escolha minha, não estava com paciência para assistir romance. O que poderia até ser divertido pelo fato de Mallory detestar filmes de terror e se assustar facilmente.

– Vou comprar pipoca. - Sussurrei, observando-a apertar a lateral do banco nervosamente. Saí silenciosamente agachada para não atrapalhar o restante de pessoas, que apesar de poucas, pareciam estar atentas.

Andava rapidamente não queria perder o filme, me posicionei atrás de quatro pessoas impacientes que reclamavam pela lentidão da vendedora. Comprara um saco suficientemente grande para as três, refrigerantes e M&M's. Desligava meu celular para não ter o desprazer de ser incomodada, até impactar-me com algo.

– Atenção, por favor. - Murmurei arrogantemente, sem olhar para cima.

– Tecnicamente foi você que bateu em mim. - Ah, faça-me um favor. Por quê? Por quê?

– Dane-se. - Continuei andando, esbarrando em seu ombro. Meu coração se acelerara e meu cérebro enviava-me várias informações. Os passos atrás de mim, logo estavam ao meu lado, ele não desistia mesmo, não é?

– Mallory me disse que estaria aqui. É muito bom vê-la. - Parecia soar sincero, mas quem garantia-me de ser mais uma brincadeira sua?!

– Depois me entenderei com ela. O que você quer? - Parei em sua frente, mantendo minha expressão inalterada, enquanto minha voz era fria e seca. - Me admira sua ousadia vir falar comigo depois de semanas.

– Agora? Me desculpar. Não sabia se ainda estaria brava. Na verdade não entendi muito bem, mas sei que fiz algo que contribuísse com tudo aquilo. Não sou muito bom com palavras. - Ele deu de ombros, tentava farejar algum vestígio de mentira, o que eu não era muito boa, preferi não arriscar.

– É só isso? Por que é a segunda vez que atrapalha um filme que quero muito ver. - Relaxei meus músculos que até agora estavam tensos. - Preciso ir. - Falei por fim.

– Claro. Não se importa se eu lhe acompanhar... Não é? - Arqueei minhas sobrancelhas, pondo minha mão na cintura. Como é que é?

– Me importo. Não sei fingir que não aconteceu algo entre nós. - Lutava para que as palavras saíssem. - Você desapareceu, me acostumei com sua ausência. Eu sei que, não deveria levar a sério o que acontecera, mas eu levei. E seria muito mais fácil para mim me manter distante de você. - Minha boca estava grudenta, não podia oscilar agora.

– Por acaso, está assumindo estar apaixonada de mim? - O canto de seus lábios se repuxavam dando-me um sorriso satisfatório. Olhei feio para ele.

– Quer saber? Porque você não volta para Hollywood e para as suas namoradas famosas. - Minha voz se alterou levemente. - Já que não sou digna de sua presença.

– Mas que diabos...? - Disse ele, confuso.

– Tom, por favor vá embora e me esqueça. - Havia uma seriedade assustadora em meu olhar. Então de repente fui empurrada para trás e imprensada contra parede, deixando tudo que segurava cair no chão.

– Será que pode parar de falar por um segundo? Minha cabeça latejava pelo esforço que fazia em tentar entender do que falava. - Opa. Todas as sensações prazerosas que ele fazia-me sentir voltaram subitamente. Estava irritada. Suas mãos agarraram meu pulso levando-me para o banheiro feminino nos trancando lá. Desvencilhei-me e encarei-o.

Mallory! Ela era a culpada. Alice provavelmente fora sua cúmplice, agora tudo fazia sentido, eu podia sentir a raiva me consumir, muita raiva. Tom fitava-me com os braços cruzados, apoiando-se na porta, a expressão de serenidade. A blusa que usava permitia que seu corpo esguio ser tornasse mais sensual que o normal.

– Se não deixar que eu saia agora, vou gritar. - Ameacei, meu corpo vibrava.

– Vá em frente, podemos ficar aqui o dia todo. - Perdia a paciência, suspirei irregularmente.

– Tudo bem, podemos conversar. - Sorri sagazmente, bolando um plano infalível que me fizesse poder sair. Tom sorriu maliciosamente se aproximando. - Farei o que quiser.

– O que eu quiser? - Disse, em tom de escárnio. - Posso ser bom ou mal, depende de você. - Me preparei para correr em um salto, quando seus braços me envolveram fortemente ainda no ar, podia sentir sua respiração em meu pescoço, nossos corpos se encaixavam perfeitamente. Talvez meu plano não seja tão infalível. - Que seja o mal.

– Me solte, seu cretino! Me solte! - Então rapidamente, ele girou-me para que eu o encarasse, seus lábios pressionaram os meus à força. No início ainda continuara a empurrá-lo, mas logo cedi, entrelaçando minhas mãos em seu cabelo puxando-o para perto, Tom segurava-me em seu colo. Naquele momento pude perceber o quanto meu corpo ansiara por aquilo. Nos separamos quando o telefone dele tocara.

Enquanto ele falava, percebi o que havia feito, não deveria. Não mesmo! Agora todo meu esforço e tentativas foram em vão. O pedaço de metal que se prendia em seu lábio inferior parecia reluzir sobre a lâmpada que piscava ameaçando apagar.

– Agora me escute bem. - Suas mãos seguravam meu rosto, seu olhar era intenso. Toda vez que meus olhos se encontravam aos dele, pareciam sempre ser a primeira vez. - Não me importo se é rica ou famosa. Gosto de você dessa forma, acostume-se com isso. - Suas palavras finais bastaram para voltarmos a nos beijar ardentemente.


E eu estou ouvindo o que você diz, mas simplesmente não consigo emitir um som.

Você diz que precisa de mim...

Depois você me derruba, mas espera.

Você diz que sente muito.

Não imaginava que eu me viraria e diria...

Que é tarde demais para se desculpar, é tarde demais.

Eu me arriscaria outra vez, levaria a culpa [...]

E eu preciso de você como um coração precisa de uma batida,

Mas não é novidade.

[...] e você diz...

"Eu sinto muito" como um anjo,

O céu me fez pensar que era você,

Mas eu receio...



















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Notas finais do capítulo

Reviews??? ;) ;) ;)