O Príncipe Edward escrita por Débora Falcão


Capítulo 9
Leve Brisa




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Ficamos mais que três dias em Forks: ficamos uma semana inteira. Observamos o curso da história, vimos Edward cuidar de Bella. Soubemos da ida deles à clareira (claro, pelos nossos cálculos). E eu fiquei louca porque não poderia ir. Era a cena que eu  mais queria ver.

"É claro que você não pode ir, criança", falou Sra. Poppins. "Você estando lá, Edward sentirá seu cheiro e saberá da presença de um humano ali. Ele lerá seus pensamentos e, ainda que você pense em outra coisa, ele vai achar no mínimo estranho uma humana estar num lugar de difícil acesso, não freqüentado por ninguém além dele e justo no momento em que ele estaria lá com Bella. Definitivamente, não, e você já sabe as razões."

A única coisa que eu tinha que fazer era aceitar. Poppins tinha razão. Onde eu estava com minha cabeça?

Eu havia feito algumas amizades na escola, inclusive com Bella, mas sempre de maneira reservada, para não interferir. Até que a Sra. Poppins precisou de mais dinheiro.

"Gastamos muito com a compra do carro. O restante, gastamos em roupas e mantimentos. Precisamos voltar."

Bem, como poderíamos só voltar e em seguida vir a Forks no minuto em que partimos, como tempo naquele momento não era o problema, então voltamos ao mundo real.

Mary Poppins pegou o livro de Jeffrey Archer para ir ao banco.

"Você quer vir?"

"Não, eu fico aqui te esperando."

"Está bem, querida. Só vai levar um segundo."

E foi assim, literalmente. No segundo em que Mary Poppins desapareceu, ela reapareceu, no mesmo lugar, com bastante dinheiro nas mãos, e fechando cuidadosamente seu guarda-chuva.

"Puxa, isso foi rápido..."

Mary Poppins sorriu. "É, para quem fica aqui, é exatamente assim que acontece. Veja, passamos uma semana em Forks, mas olhe o calendário e as horas. Não ficamos fora da Livraria por mais que um minuto."

Nossa. Era verdade. "Isso mexe com minha cabeça."

Mary Poppins sorriu. "Pois é."

Então, algo me veio à mente.

"Sra. Poppins, posso te perguntar uma coisa, antes de voltarmos?"

"Sim, claro, menina. Diga."

"Bem, eu gostaria de saber se, quando vamos e voltamos, digamos que fiquemos um ano em Forks. E então voltamos para Londres, no mesmo minuto que saímos. Então, em um minuto envelhecemos um ano, não é?"

Mary Poppins sorriu. Ela simplesmente caminhou até uma das prateleiras e pegou, novamente, o seu livro, o livro de onde ela havia saído. Veio até mim e me entregou.

"Olhe para este livro, pequena." Eu obedeci. Na capa, havia um desenho do que parecia ser ela mesma. Eu já o havia visto meses atrás, quando nos conhecemos e ela me contou seu segredo. Desta vez, não entendi o que ela queria dizer.

"Eu pareço mais velha?"

"Não."

"Então dê uma olhada nisto." Ela abriu a página de rosto do livro. No verso, mandou que eu lesse a data da edição.

"1934?" Olhei para ela novamente.

"Querida, vivi muito tempo neste livro, em outros e mais outros, fiz amizade com diversos personagens de diversos livros, utilizei os serviços de diversos profissionais, como por exemplo o Sr. Kane, dono do banco do livro 'Kane and Abel'; Jenniffer Parker, advogada de sucesso do livro 'A Ira dos Anjos', de Sidney Sheldon; me consultei com o casal de médicos do livro 'A Cura', de Robin Cook; e são todas histórias que eu gosto de ler e acabei por conhecê-la pessoalmente. Passei anos de livros em livros, e estou aqui, como sempre estive."

"Mas, e dentro dos livros? Nós envelhecemos? Digo, se voltarmos para o mundo atual, seríamos da mesma forma que saímos. Mas dentro do livro, nós envelhecemos?"

"Bem, querida, isso é uma coisa que eu não entendo bem. Vivi durante anos dentro do meu próprio livro, e envelheci nele. Mas, como eu era uma criatura mágica, esse envelhecimento era mínimo. Mas o tempo passou para mim lá. Mas, em outros livros, como 'Kane and Abel', onde passei alguns anos de minha vida de viagens em livros, eu não senti este envelhecimento em mim. E em nenhum outro livro eu envelheci. Estou sempre assim, da mesma forma que sempre fui."

Olhei para ela. Ela continuou.

"Fico pensando se isso ocorre comigo simplesmente porque sou um personagem de um livro, e portanto, não posso envelhecer; ou também porque na realidade não pertenço àquela história, portanto não sigo o curso normal das coisas; ou simplesmente ninguém pode envelhecer saindo deste mundo para o mundo dos livros. Eu não sei te responder isso, pois, que eu saiba, isto só acontecia comigo. Você é a primeira pessoa que eu conheço que viaja em livros, como eu, e ainda assim, porque eu a convidei."

Fiquei pensando e repensando no que Mary Poppins havia dito. Eram teorias que deveriam ser pensadas e testadas. Só eu poderia saber o que acontecia. Eu tinha que observar a mim mesma. Será que eu envelheceria, estando dentro de Forks durante muito tempo? Será que a influência dos livros me manteria sem envelhecimento fora deles, se os visitasse com muita freqüência?

Eram perguntas para as quais eu não tinha resposta.

"Vamos, Lisa? Está pronta para voltar à Forks?"

Mais do que pronta. Sempre. Escolhemos a página do livro que correspondia ao momento em que saímos e nos preparamos para entrar. Mary Poppins girou seu guarda-chuva e começamos a nos desintegrar deste mundo para aparecermos em Forks.

Mas, subitamente, uma leve brisa invadiu a saleta, por uma janela aberta nos fundos esquecida. E, no momento em que partíamos, num pequeno segundo, algumas páginas do livro foram viradas. Foi o bastante.

O que se passou foi terrível. Estávamos sendo levadas para o desconhecido. O mundo em torno de nós girava e girava, não conseguíamos ver nada além de um borrão, e nossos corpos estavam soltos no ar, sumindo, esperando que uma página parasse para que fôssemos transportadas a ela. Enquanto isso não acontecia, nossos corpos desintegrados e nossas mentes experimentavam um turbilhão, girando e girando.

Até que o vento finalmente parou e uma página ficou aberta no livro. E então, chegamos ao local descrito, ao momento que lá estava sendo narrado.

E não foi nada bom o que vimos.


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