Céu Sem Estrelas escrita por bolkan


Capítulo 1
Capítulo 1




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A noite estava sem estrelas e as nuvens escondiam a lua, mas isso passou despercebido pelas pessoas daquele local, que andavam apressadamente pela calçada, como se lutassem contra o tempo. Por isso, ninguém o percebeu ali, sentado na beira do mar, olhando o céu, como se procurasse algo. Ele nunca fora de reparar como estava o céu, nunca fora de reparar nesses pequenos detalhes, sempre esteve concentrado em viver o presente intensamente, até pouco tempo atrás. Pensava na vida, olhando o céu vazio. A amarga sensação de fim e de solidão invadira sua vida nos últimos meses, e, se saber o que fazer, ele pensava.

Lembrou-se do dia em que recebera a notícia informando-lhe que ele era HIV soropositivo. Ele tem AIDS. Naquele dia ele foi sozinho ao médico, mas não por que quis, e sim porque era sozinho. Não tinha amigos, só tinha os pais. O médico disse-lhe que estava doente e ele não acreditou, não quis acreditar. Não era muito cuidadoso com a saúde, mas também nunca se drogara, ou transara sem camisinha, ou fizera qualquer outra coisa que justificasse tal diagnóstico. Pensou que aquilo era um engano, certamente era um engano. Certamente...

Levantou-se e se pôs a andar pela praia, deixando a água vir molhar-lhe os pés. O médico explicara que ele contraíra o vírus no acidente que sofrera, o qual ele precisou de uma transfusão de sangue. Não tinha culpa, pensou, ou tinha? Talvez tivesse. No dia tinha saído para uma festa e voltou no carro de um colega. Sim, colega, pois não tinha amigos. Foi de surpresa, um motorista que dirigia embriagado bateu no carro em que estava, ferindo-o gravemente, o que o levou a precisar de uma transfusão de emergência.

Parou, fitando o céu. Ficou com raiva. As estrelas tinham não tinham o direito de fugir e as nuvens não tinham o direito de esconder alua, tirando o brilho do céu noturno. Sentiu-se igual ao céu sem luz, como se padecessem do mesmo mal. Eram sós e tinham uma existência escura, sem luz própria. Seus olhos umedeceram-se, ao lembrar-se dos pais. Não acreditaram quando disse que contraíra AIDS, mas que não tivera culpa, fora um acidente. O pai expulsou0o de casa, não aceitava ter um filho drogado, ou um filho homossexual. Não acreditaram na sua inocência.

Sentiu o chão sumir-lhe sob os pés, nada o prendia àquela vida. Há muito tempo nada o prendia ali. Olhou o mar, as ondas o chamavam, o chamavam com uma voz doce que prometia uma nova vida. Entrou no mar até desaparecer. No dia seguinte acordaria desse pesadelo, teria os pais ao seu lado, não estaria doente e, talvez, conseguisse fazer alguma amizade. As nuvens saíram da frente da lua, iluminando a noite, como se brindassem um final feliz.


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