Com o olhar perdido, alisou os lençóis da cama de casal. Aquela cama fora feita sob encomenda e era grande demais para alguém que dormia sozinha a maior parte do tempo. Todo aquele tempo... Não eram poucas as vezes em que pensava se havia sido marcada para esperar. Paciência. Feito a boa mulher ateniense esperando seu bravo Odisseu voltar de Tróia. Mas já fora o tempo de aborrecer-se com isso. Entendeu ser externa à luta.

Ela era casa, repouso. Mulher na concepção mais ultrapassada da palavra. Uma dama das novelas cavalheirescas. Tinha que ser corajosa para defendê-lo dos danos da mente aflita de um guerreiro e forte para manter acesa a chama indicadora junto à porta, até que ele viesse descansar em seus braços. Bela e conformada. Uma rainha confinada, a pequena dama de Grinffindor.

Mas ela era Ginerva – a rainha Gunivere. Era "força e coragem", a sétima filha e todos esses símbolos e nomes dos de nobre ascendência. Altivez de guerreira que marchava ao lado do herói. Sua dama na paz, sua parceira de campanha na guerra. Quem entenderia que não necessitava ser guardada? Que mesmo pequenas, as leoas são ágeis caçadoras. Precisava fazer-se entender como detentora de magia ativa, e não aceitar-se como mero repouso. Mas os estereótipos diluíam pouco a pouco a dama-amazona.

Ginny sentava-se na varanda, apertando o pequeno James contra o colo. Quase, quase podia ver as grades daquela gaiola. Grades da espera. Grades do hábito consumindo a vontade. Amor que não era amor. Era só Ginny perguntando-se sobre Harry.