Mon Amour Mon Ami escrita por Strauss


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

boa leitura! ♥



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Eu gostaria de começar isso desde o início realmente mas ando meio ocupado com o meu trabalho na empresa. A verdade é que ando ocupado pra tudo e todos, exceto para aquele garoto de cabelos negros.

Meu nome é Cecile Dieudoneé, hoje estou fazendo 24 anos e sou agora o principal cartunista da cidade. Procuram-me para desenhar e vender para canecas, estampas de camisa, customizar carros, cartazes e esse ramo realmente dá dinheiro se você for realmente talentoso. Bem, eu tenho que lidar mais com adolescentes, ou seja, lidar com os meus amigos.

Sou o mais velho de um grupo de cinco amigos que estudaram juntos no mesmo colégio. Três deles na mesma sala. Eu sempre fui três anos adiantado e isso dificultava eu ser mais próximo deles. Mas, tudo bem, eu sempre fui o mais maduro, apesar de estar constantemente fazendo piadas, eu mantinha o controle da situação e os ajudava com problemas amorosos, na família, de dinheiro e diversão. Eu sou o irmão mais velhos deles.

Acontece que eu também costumava ter os meus problemas íntimos, conflitos comigo mesmo e a vontade de não viver. Eu esperava que isso fosse apenas parte da adolescência e realmente era. Agora estou saindo do trabalho para minha casa, pois me liberaram cedo apenas por ser o meu aniversário de 24 anos. Eu nunca gostei de fazer aniversários, eu nunca gostei de festas, mas ele, ah, ele adorava.

Éramos iguais, de fato, mas diferente em muitas coisas. Ele gostava de festa porque tinha comida e eu nem pela comida ia. Se bem que, fui arrastado muitas vezes para esses aniversários só porque ele pediu. Sim, eu fazia tudo que um garoto mais novo que eu pedia.

O tempo estava frio e nublado, ainda era dia, mas parecia já estar anoitecendo. Essas nuvens pesadas que avisavam que iria cair uma tempestade a qualquer momento me deixaram tenso por um instante, pois eu segurava meus materiais debaixo do braço e estou sem guarda chuva.

– Cecile! - Opa, alguém me chama - Cecile!

– Remi? - olho para trás e um sorriso se abre na minha gélida face

Remi é o garoto pelo qual sou apaixonado desde o começo, mas o que ele está fazendo por essas bandas?

– O que está fazendo aqui? - perguntei enquanto deixava minhas coisas no banco do carro - Não devia estar com os outros se divertindo?

– E por que iríamos fazer isso sem você? - perguntou sorrateiro com um belo sorriso no rosto branco de lábios naturalmente avermelhados. Seus olhos cor de mel, de tão brilhantes que estavam, pareciam querer soltar das orbitas.

– Estou ocupado - menti

– O que? - ele olhou para dentro do meu carro - Você não está trabalhando agora!

– Eu... - comecei a tossir levemente - estou ficando doente, não posso ficar muito tempo fora.

Remi colocou o indicador sobre os lábios e fez como quem pensava. E aí, seu rosto iluminou-se com outro sorriso de orelha a orelha.

– Então vou a sua casa cuidar de você!

Fiquei surpreso, é claro. Senti minhas bochechas esquentarem e então voltei a ajeitar minhas coisas, colocando-as na parte de trás do carro.


– Não.


O silêncio predominou naquele lugar por alguns instantes. Sinal de que vou receber bronca...


– Não quer ficar comigo, Cecile? Tá né, vou saindo então - disse ele, totalmente ofendido e bufando.


Ele deu as costas pra mim e começou a andar, então sorri levemente. Andei até ele e o abracei por trás, o apertei e respirei fundo, sentindo seu cheiro.


– Besta, eu nunca trocaria você - disse eu, sussurrando em seu ouvido.


– E por que não deixa eu ir na sua casa cuidar de você... É seu aniversário, Cecile. A gente poderia ir ver os meninos, sei lá. Você tá tão afastado da gente...


Remi é mais alto que eu, mas eu sou o mais robusto. Aquela cena era meio diferente, quando que Remi deveria estar me abraçando por trás. Suspirei fundo e me coloquei a pensar. Era verdade, esses tempos eu estou afastado das amizades, estou apenas trabalhando e não consigo arranjar algum tempo para me divertir.


– Você vai ficar magoado se eu não deixar?


– Você sabe que eu vou.


– Tudo bem - soltei ele - Você dirige tá? E avisa pros outros também.


– Eu poderia chamar eles?


– Claro né - falei, visivelmente chateado.


Bom, fiquei decepcionado quando ele falou isso. Eu queria passar meu aniversário só com ele, eu queria estar a sós com ele... Não que meus outros amigos fossem desnecessários, mas é só que... Vocês entendem.


Remi nunca se apaixonou por ninguém, sabe? Ele quer se apaixonar, mas não consegue. Ele é hétero, mas não se importaria em se apaixonar por um homem. E houve um tempo que ele sentia inveja de dois de nossos amigos, pois enfim, eles tinham alguém para amar. Ele tem 1,80 de altura, é bem branco, possui as bochechas e os lábios rosados e ele tem olhos de águia. Apesar de ser bem alto, ele é magro e esguio... Ele tem um corpo bonito. Um corpo que nunca será meu.


– Já pensou em fazer essa barba? - ele perguntou enquanto dirigia para minha casa, que ficava distante do barulho insuportável de Paris.


– Qual problema com ela?


– Você fica mais sério com ela, não gosto disso.


– Hm, não gosta da minha seriedade?


– Pra falar a verdade, eu gostava de quando você fazia piadinhas e de quando era mais carinhoso.


Fiquei calado por um tempo, raciocinando. Depois que me formei e viajei para cá por um tempo, eu esfriei, confesso.


– Se você me pedir para ser mais carinhoso, eu posso ser.


– Eu quero.


Fiquei observando ele dirigir. Olhos fixos na estrada, mãos levemente trêmulas por causa do frio. Ah, Remi...


– Ei, preciso te contar umas coisas. Não contei pra ninguém, você sabe que você é a pessoa que mais confio.


– Uhum, tudo bem!


– Quando a gente chegar na sua casa.


E aí, ele ligou o rádio e seguiu em silêncio até meu casarão afastado da cidade. Eu não faço questão de casas pequenas, sou espaçoso demais, gosto de andar por todos os cômodos da casa, gosto de mudar sempre a cor de uma parede, ou desenhar nelas. Ao entrar em casa, Remi tirou meu casaco e o deixou no sofá. Ficamos nos olhando por um tempo e ele sorriu.


– Agora, vou preparar alguma coisa pra você comer, vai pro seu quarto.


– O que? Você sabe cozinhar? - ri alto - Vai por fogo na minha casa. Deixa pra lá, vamos pedir alguma coisa.


– Não me provoque, Cecile! - ele se chateou mesmo - Vou ligar pros outros virem.


– Ah - lembrei desse fato - Tá, vou pro quarto. Vou pedir pizza! Quer o que?


- Hm, eu gosto de calabresa e gosto de quatro queijos!


- Então o de sempre - falei sorrindo e peguei meu celular. Ele piscou e foi atrás do telefone residencial.


Ao subir as escadas,  fui sentindo o peso da idade. Eu sei que é exagero, sempre fui um pouco exagerado, pra não dizer muito. Mas eu realmente estava com dores no corpo.


Sentei em minha cama e fui tirando os sapatos enquanto olhava meu enorme aquário e meus muitos peixes coloridos nadando pra lá e pra cá na imensidão da tela de ilusão. Eu tinha um espelho de teto. Era enorme. Eu sei o que você está pensando e está pensando errado. É meio desconfortável aquilo está sobre mim, mas era do antigo dono da casa que pediu para que eu não retirasse aquilo do meu quarto, porque um dia eu iria agradecer por tê-lo. Disquei o número da pizzaria e esperei me atenderem, o que foi quase de imediato. Fiz o pedido, e agradeci a atendente que tinha uma voz suave e bastante agradável. Em vez de ser atendente de pizzaria, era poderia ser dubladora ou algo assim.


Acho que devo falar um pouco sobre mim, não?


Bem, sou gay. Gay assumido e sou o ativo da relação, apesar das pessoas com que namoro serem mais altas que eu. Não digo baixinho, tenho 1,78 de altura. Não que isso dificulte alguma coisa na hora, não há problema nenhum.


– Cecile? Já pediu a pizza? - Remi apareceu de repente, escorando-se na porta.


– Hm?  - olhei para ele, saindo do meu transe - Ah pedi sim!


– Tem refrigerante ou cerveja?


– Na geladeira preta e maior tem refrigerante e cerveja sim - respondi, enquanto tirava minha camisa e deixava parte do meu peitoral a mostra. Remi ficou me olhando por uns instantes e soltou um riso baixo. E aí, saiu. Fiquei me olhando pra ver se tinha algo de errado, mas só o que vi foi minha barriga que não era tão definida quanto a daqueles modelo de catálogos, mas dava pra lavar uma roupa de boa ali. Risos.


Tirei minhas calças e fui indo a salle de bain. Deixei a torneira ligada para encher a banheira enquanto sentei no vaso (com a tampa fechada, ok?) pra pensar na vida. Ah tantas coisas que imagino, coisas que não podem acontecer. E a maioria dos meus pensamentos estão direcionados a Remi.


Só saí daquele estado quando senti a água tocar meus pés. Estava escorrendo! Logo desliguei e entrei, fazendo com que a água em excesso caísse quase toda. Derramei alguns sais, esfreguei meu corpo com um sabonete caríssimo que minha mãe deu-me de presente. E fiquei lá, deitado. Relaxando.


– Não esqueça que eu tô aqui, ok, Cecile?


Remi estava parado na porta do banheiro de novo, de braços cruzados, me olhando tomar banho. Ele tem essa mania de aparecer de repente, embora seja um tanto inconveniente, isso me atiçava. Será que ele pensa que eu não tenho vontade de coloca-lo junto comigo?


– Oui – mergulhei um pouco mais, deixando só parte meu rosto do lado de fora. Eu ainda sentia a presença de Remi ali. O que ele queria?


– Os meninos não vêm, por causa da chuva e o único deles que tem carro, está pro conserto - ele falou num tom chateado - Pro seu aniversário, só vai ter nós dois.


– Que pena - respondi de olhos fechados - Muito triste mesmo...


Amigos, eu amo vocês, mas eu realmente quero ficar só com ele esse dia.


– Quanto tempo pretende ficar aí?


– Quer fazer uma massagem?


Ele riu.


– O que é engraçado?


– Não quero me molhar. E sinto que você vai me puxar pra essa banheira aí.


– Você sabe que eu nunca faria isso - ri - Nunquinha mesmo.


– Aham... Te conheço, Cecile.


Ele ficou sentado ali, conversando comigo e aí eu cansei de ficar na banheira e levantei, sem ficar preocupado por Remi estar olhando. Saí e me enrolei numa toalha, meu amigo ficou me olhando, meio acanhado. O que ele tem, eu tenho, então qual problema?


– Você é muito sem-vergonha! - ele disse - Eu ainda sou uma criança pra ver essas coisas de outros homens - falou ele, rindo


– Pra tudo tem uma primeira vez - eu disse, colocando as mãos na cintura - Não é mesmo?


– É...


Sorri. E saí do banheiro, fui pro meu quarto procurar algo fresco pra vestir. Já que eu não ia a lugar algum, optei por uma samba canção preta, uma camisa regata branca um pouco justa, mas bem confortável.


– Você consegue ficar bem até de pijama - Cecile começou a rir alto e eu me deliciava naquela risada - Que tal ser modelo fotográfico?


– Não, ninguém mais pode ver minha beleza - respondi rindo também - Faz quanto tempo desde que você perguntou se liguei pra pizzaria?


– Uma hora...


– Cara, e ainda não chegou? Que zoado - reclamei enquanto descia para a sala novamente.


- Deve ter roubado nossa pizza.


Ri do seu comentário. Ligamos a tevê e ficamos um tempo assistindo e falando sobre as coisas que víamos ali. Era tão bom ficar perto dele.


A sala estava escura, somente a luz da televisão e da cozinha iluminava parcialmente. Enquanto toda a atenção de Remi estava voltada para o filme que passava, eu o observava em todos os seus detalhes. O jeito que seu corpo balançava enquanto ele soltava suas risadas divertidas, e quando lhe faltava o ar de tanto rir, ele respirava fundo e me olhava, dando em seguida um sorriso. Eu só conseguia me alegrar com aquilo, mas ao mesmo tempo ficar triste...


Estávamos tão perto um do outro, tinha vezes que ele encostava sua bochecha na minha, quando me abraçava. Tínhamos uma relação bem carinhosa, embora vista com maus olhos por algumas pessoas, nós não nos importávamos. Agora eu o abraçava e distribuía beijos em seu rosto e apesar disso tudo, eu não estava satisfeito! Não queria ser apenas um amigo carinhoso, eu queria ser seu namorado...


A campainha tocou.


- Talvez seja o entregador - ele disse - Está com o dinheiro?


- Ahm, tô sim - suspiro e levanto dali, pego a carteira no meu casaco e vou até a porta.


Remi aparece para me ajudar a pegar as coisas, eu agradeço e pago o motoqueiro, logo ele vai embora e eu fecho a porta.


– Bem! Agora, é só comer. Onde está o guardanapo? E os copos?


– Ali e ali.


Logo estávamos sentado na mesa, devorando a pizza e ele propôs um brinde.


– Vida longa ao meu amado amigo, querido irmão e eterno chefão - ele riu - Não sei porque falei isso mas tá valendo. Bem, um brinde a pessoa incrível que você é, Cecile. Não agradeço pelo que aconteceu aqui, porque a gente só agradece no final, e ainda não estamos no final, ainda temos muita coisa pra viver juntos - ele dizia lindamente, com um tom de voz sério e sincero.


– Sim senhor - sorri - Obrigado por estar comigo hoje, Remi - respondi, depois de um gole do refrigerante de soda - Ah e o que tinha pra me contar?


– Ah sim! É segredo, não fale pros meninos ainda!


– Ui, me sinto especial - comentei dando um gole na soda.


– Eu estou gostando de uma pessoa.


Pronto. Deixei meu garfo escorregar da minha mão e no meu desespero pra pegar o garfo, o prato caiu junto.


– Que desastre! - ele disse rindo muito.


Desastre ele ter se apaixonado! Ai meu Deus, não!


– Calma, eu limpo pra você - ele sorriu - mas e aí, o que achou da notícia?


– Achei ótima! - alguns pigarros - Muito bom mesmo, fico feliz!


Por favor, hora de utilizar meus três anos de teatro. Segura a lágrima, Cecile, você é um homem formado.


– Mesmo? Eu estou tão contente por isso... A sensação é incrível - ele riu baixo - É como vocês falavam... Mas, nunca achei que fosse tão bom.


– É... - limpei minha boca com o guardanapo - E quem é? - mais um gole do vinho


– É uma garota da minha faculdade.


Mas é claro que Remi sempre foi hétero. Mas é claro que Remi nunca se apaixonaria por mim. Ou até mesmo por um homem. Depois de todos os meus esforços e de todas as vezes que deixei isso claro.


– É? E ela é bonita?


– Ela é linda! - sorriu maravilhado - Longos cabelos de um vermelho vivo, sabe? E ela tem olhos bem verde, de esmeralda. Cara, ela é perfeita!


– Parece ser linda mesmo! - eu disse, virando mais um copo do refrigerante. Cecile, seu idiota, ele vai perceber que tem algo de errado - Uma garota de cabelos vermelhos e você, que casal mais bonito - sorri - E você já falou com ela?


– Estamos fazendo um trabalho juntos - ele sorriu, terminando de comer - E eu chamei ela pra sair, mas como amigos. Acho que ela ainda não sacou que eu quero namorar com ela.

– Faz tempo que você gosta dela?


– Eu estava de olho nela há mais ou menos dois anos.


– Hm... E resolveu me contar agora, foi? - falei num tom chateado.


– Eu queria ter certeza antes de te contar alguma coisa...


– Ah sim.

– Mas, enfim, eu não sei se ela vai querer algo comigo - um sorriso triste surgiu em seu rosto.

– Por que não? Tu es belle...

– Não sei, acho que sozinho eu não consigo. Você pode me ajudar?

Meu coração apertou. Apertou até eu senti algo querendo sair da minha garganta e era aquela vontade de gritar e de chorar. E eu engoli isso.

– Claro que posso te ajudar, afinal de contas, sou seu irmão, né?

– Cara, obrigado, mesmo!

Meu Deus, o que eu faço com essa vontade de chorar? Já está caindo a lágrima, o que eu posso inventar?

– Remi, como eu estou doente, acho que vou deitar cedo, pelo menos ficar lá na cama. Eu estou cansado de tanto ficar desenhando e escrevendo, só sentado - dei uma risadinha.

– Mas, já? Nem falamos sobre como você pode me ajudar a conseguir aquela garota, nem conversamos direito e eu sinto falta de você - Remi fez bico.

– Você vai sair com ela, meio caminho andado - sorri, um sorriso doloroso - E eu só preciso de uma noite, a casa é sua, tenho videogames no quarto de visitas, tem comida, tem tudo, divirta-se, faça o que quiser!

Terminei de comer, levantei e fui pro meu quarto com o coração pesado. Fechei a porta e me joguei na cama, de cara pro travesseiro e desatei a chorar.

Por que, vida, você é assim?

Quem eu quero não me quer, quem me quer, mandei embora...




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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado >< até a proxima! E aguardo por reviews >



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