Ele pegava fogo. Apenas por estar diante da mera visão deslumbrante de Bellatrix. Ela era detestável, a pior pessoa que já tivera o desprazer de conhecer. Ela riu quando ele disse isso. Ela ria sempre, muito. Às vezes ele tinha vontade de enfiar a mão no rosto dela, bater com força mesmo, talvez aí ela parasse com aquele maldito sorriso debochado. Ela era má. Os olhos dela o incendiavam. Eram negros, negros feito a noite mais terrível, negros como o mui nobre e antigo nome que carregavam, olhos iguais aos dele, em fim. Ele pegava fogo, enquanto ela, os olhos dela... Os dela tinham a propriedade de absorver todo o fogo dos candelabros, lamparinas e lareiras que a rodeassem. Pareciam um par de brasas vivas, não para aquecer, mas para queimar, ferir. Ela era insana. Rindo como sempre. Maldita. Dele como sempre. Ela provocava, próxima, perigo. Era perigo aproximar fogo dele, que se incinerava tão fácil. "Vulgar." ele disse a ela, causando mais risos. Ela era suja. Tudo que mais detestava, tudo que mais abominava... E desejava. Ele pegava fogo. A pele dela, cheiro, curva, seio, nuca, boca, cabelos negros, costas, coxas, tudo e nada – diante dele – Ela sabia dos desejos, do desejo adolescente, pela prima mais velha. Pela mais terrível e bela mulher que tivera sob suas vistas. Ela carregava fogo no colo, nos braços. Ele pegava fogo, muito fácil. Ela sempre ria. E ela quis marcar presença no dia em que ele quis partir, insuportavel que era aquela convivência. Rindo e incendiando, só para provocá-lo. Do mesmo modo, o assombrou tempos a fio, maldita! Fazendo bocas e caras para a exasperação dele, se ele ameaçasse – sufocar, cortar, matar – ela ria e desafiava. Faça o que quiser. Somente ela tinha capacidade de queimar com um mero olhar. E zombar sempre. Mas, ah...! Ela que tirasse, ela que tirasse aquele sorriso cruel dos lábios...! Sim, pois... ele, ele riria por último. Riria dela. Do vazio que tornaram-se os olhos dela.

Ele pegava fogo. Ela matava.