À Francesa escrita por Nana San


Capítulo 26
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Um viva para os Backstreet Boys que persistiram contra o tempo, continuam bonitos, e ainda estão juntos. Pela amizade, pela música, pelo sonho *---*
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Seu pai fez as honras partindo o primeiro pedaço de peru, servindo a mãe. Depois dos devidos agradecimentos a família inteira aplaudiu, Pedro tinha os olhos vidrados na carne branca, se abrisse a boca mais um pouco daria para ver a pequena campainha.

Reluziam as luzes, a comida, os presentes, o sonho, a magia e todo aquele belo sentimento de Natal que se apaga durante o ano. Os primos e os tios que não cabiam na mesa acomodavam-se ao redor, no sofá, nos bancos da cozinha... Aquele ano ninguém inventou uma desculpa para se ausentar. Até a parte mineira tinha comparecido.

E dentre tantos rostos e pratos Lívia não encontrou o sorriso que queria. E mesmo perto de toda a família sentia parte do coração dormente, esperando por ser acalentada pelos braços de um homem teimoso.

Era loucura, mas antes que a mãe começasse a por seu prato ela se levantou da mesa pedindo licença.

– Preciso fazer uma coisa antes. – Disse afastando a cadeira.

– Não comece a inventar, Lívia. Sente-se, por favor. – Ordenou o pai.

– Deixe-a ir, Paulo. É Natal. Ela precisa se sentir completa. – Disse a mãe com toda a sabedoria.

O pai não contestou, Lívia levantou-se agarrando a carteira, correndo pela porta. Se tivesse sorte, Eduardo não passaria aquele Natal com Matias e o metrô ainda estaria aberto.

Passou a mão no cabideiro ao lado da porta e pegou o primeiro casaco que a mão tocou sem se preocupar com cor, tamanho – ou mesmo se a pertencia. Antes de dar o segundo giro na chave ouviu o irmãozinho gritar da cadeirinha:

– Não atrasa para os presentes!

– Pode deixar! – Disse mandando-lhe um beijinho voador.

No momento em que pôs os pés na rua ouviu o estrondo do trovão lá no céu. Contornou o quarteirão procurando as escadas do metrô. Equilibrava-se sobre os saltos brancos como podia. Não havia uma alma viva na rua, nem o cara da carrocinha de cachorro quente.

Fechado. E agora? Táxi! Teria que ter muita sorte para pegar um táxi às onze horas na véspera de Natal. Estava começando a ficar com medo de esperar sozinha na calçada deserta por um milagre.

– Era mais fácil ir andando pelo asfalto...

A chuva começou a cair grossa com força e velocidade. A típica chuva de verão. Daria mais algumas pancadas e logo cessaria, se desse sorte – mais uma vez.

– Ah, claro! TODO ANO CHOVE NO NATAL, POR QUE ESTE SERIA DIFERENTE? – Disse vestindo o casaco preto sobre o vestido de alcinha.

Nada de metrô, ônibus, táxi, nave de reconhecimento espacial. Nenhum tipo de instrumento locomotor disponível a ajudá-la. A menos...

– Claro! A bicicleta do porteiro! – Disse correndo de volta para o edifício, pisando em poças ora ou outra.

Bateu no portão de ferro implorando para que o rapaz acordasse. Aquele paraense não poderia ter caído no sono logo agora! Sacudiu as barras de ferro sentindo o vidro vibrar na mesma frequência das investidas.

– Ariovaldo! Ariovaldo! Ariovaldo, homem de Deus, ACORDE! – Berrou pelas brechas.

– Lívia! Desculpe! Acordei! A todo vapor. – Atendeu o interfone.

– Abre a porta da garagem. Preciso muito usar sua bicicleta, você deixa? Eu volto rápido, só vou resolver um... Visitar um amigo!

– Dona Lívia, tome conta dela. É a única coisa que eu tenho de lembrança do senhor meu pai. Ele ganhou cada centavo do pão que alimentou a mim e meus oito irmãos...

– ARIOVALDO, ABRE A PORTA. – Cortou Lívia.

Montou na bicicleta antiga e torceu para que aqueles pneus gastos e as cordas enferrujadas a levassem até seu destino sem maiores complicações, porque além de ficar encalhada na noite de natal deveria os rins ao porteiro apaixonado.

– Vamos lá, Formosa. – Disse pedalando para fora da garagem.

Pensou na rota que teria que seguir e onde tinha visto placas que indicavam Copacabana. Corria contra a chuva como uma desesperada, limpava os olhos embaçados de cinco em cinco minutos e desistiu de pensar na situação do cabelo quando começou a voar. Sorte, ou azar, que não tinha policiais para pará-la.Mas se a interrogassem, bem que poderiam dar uma carona...

A barra do vestido ameaçava prender nas correntes, mas ela não percebeu isso, até que prendeu de fato e rasgou a renda enroscando o pano molhado e fino nas correntes. Faltava pouco mais de um quarteirão para avistar a Casa de Repouso.

– Olha, você deve estar muito bravo comigo! – Gritou para o céu – Mas eu vou chegar lá! Você vai ver!

Desceu da bicicleta e prosseguiu andando, empurrando aquele traste pesado e enferrujado, que o dono insistia em chamar de Formosa. Largou-a no jardim do asilo e sentiu as pernas bambas. O joelho começava a reclamar do esforço e a mente da burrice.

Fechou a mão num soco e investiu-o contra a porta da recepção. A festa dos idosos já deveria estar chegando ao fim, mas alguém, alguém deveria de escutá-la!

– Por favor! Por favor! Alguém abre essa porta! – Pediu apertando o botãozinho do interfone.

Não viu o rosto de quem a ajudou só empurrou o portão quando ouviu o maravilhoso barulhinho da trava abrindo. Passou o mais longe possível do salão de festas, não queria cumprimentar ninguém, correu e escorregou pelos corredores, até chega a sua porta favorita.

Parou de repente. A porta estava entre aberta e apenas um feixe de luz amarelado saía de lá de dentro, muito fraco. Engoliu em seco, passou a mão nos cabelos molhados, tirou o casaco ensopado e segurou a maçaneta com a certeza de que ali era o único lugar que gostaria de estar naquele instante.

Empurrou a porta e o viu no último lugar que esperava ver, mas lá estava Ele.


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Notas finais do capítulo

HOHO' sou má. Que será que vai acontecer??