Os 10 Mandamentos Da Máfia escrita por Danixml


Capítulo 1
Prólogo




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- Ele -

Olhou para o céu e inspirou suavemente, ainda que estivesse claro, seus companheiros não teriam percebido o discreto sorriso que brincou em seus lábios, foi apenas um singelo flexionar de músculos faciais.

Ele gostava da noite, de seu ar frio, sua penumbra e, sobre tudo, de sua calmaria misteriosa, eram como irmãos afinal.

- Andem com esse carregamento, não podemos perder tempo. – falou mordaz.

Nenhum dos homens no local ousou dirigir-lhe um olhar que fosse, mas nem de longe sua ordem fora descumprida, como se já não estivessem trabalhando rápido, foram ainda mais rápido.

Olhou para a embarcação que pouco a pouco era preenchida com caixas de madeira lacrada.

- Senhor Edward! – uma voz arrastada pronunciou-se enquanto ouviu passos aproximar-se de si.

- Sim Benedito? – Continuou acompanhar o movimentar dos homens.

- Está vindo agora a ultima remessa, com as que faltam dessa, são treze no total. – olhou para a prancheta que tinha em mãos – calculo mais cinco minutos para fecharmos.

Edward virou-se finalmente para encarar seu servo, Benedito, ele estava concentrado em sua prancheta imerso nos cálculos.

- Eu quero em três – bateu na prancheta fazendo o outro desviar os olhos dos papeis e o encará-lo.

- Mas Senhor...

- Sem mais – interrompeu mordaz, fazendo o outro calar-se - não acho que tenhamos muito mais tempo. Olhou para a embarcação novamente.

- O que quer dizer? – encarou-o confuso.

- Senhor Edward!

Ouviu ao longe e virou-se para ver um de seus homens, correndo desajeitado em sua direção. Não respondeu, apenas encarava o homem esperando ele chegar perto o suficiente conseguir falar.

- Há canas, na zona... Portuária.

Edward deu um leve rosnado.

- Benedito em cinco minutos quero este barco fora do atracadouro – o servo arregalou os olhos, bem sabia que as probabilidades não eram favoráveis, mas não iria questioná-lo nesse momento – Você, volta comigo, vamos distraí-los.

Edward ajeitou seu terno de linho e todos sabiam bem de que tipo de distração ele falava.

Ao chegar aos Armazéns, que era o início da Zona Portuária Edward avistou algumas carruagens da policia com seus corcéis negros alinhados.

Com agilidade subiu em um telhado de um pequeno armazém. Olhava a roda de policiais de cima. Eles pareciam decidir o que fazer enquanto olhavam atentos de um lado ao outro, como se a qualquer momento fossem ser atacados.

"Tolos!" Edward pensou ao constatar que nenhum deles olhava pra cima. Antes que a satisfação de estar um passo a frente lhe contemplasse ouviu um barulho atrás de si.

Olhou para trás a tempo de ver o homem que fora com ele afundar uma perna em um buraco que o próprio deve ter feito ao pisar em falso na telha.

Revirou os olhos, mas como era possível que não soubesse andar em telhados quando qualquer criança sabia?

- O que foi isso? – ouviu um policial amedrontado perguntar lá debaixo. Provavelmente era tão inexperiente quanto o idiota atrás de si.

Poderia dizer que estavam em pé de igualdade em incompetência afinal.

- Fale baixo soldado! – uma voz mais firme esbravejou, tão ou até mais alto que a primeira.

- Deve ter sido um gato! – uma terceira voz se pronunciou.

Edward tinha de agir rápido, logo estariam ali em cima e chegariam ao atracadouro e toda a mercadoria seria apreendida.

- Melhor averiguar – a segunda voz pronunciou-se novamente – Vocês três, subam lá.

Rosnou levemente e olhou para seu comparsa amedrontado. Mas até que aquela situação lhe dera uma ideia.

- Ângelo, volte pelos telhados naquela direção e se pisar em uma telha mais uma vez, torça para que a policia lhe prenda, por que se não será muito pior. – a voz de Edward era apenas um sussurro, mas ainda sim era mordaz.

Ângelo engoliu a seco e com medo de falar apenas assentiu com uma pequena reverência e tirou o pé que estava preso nas telhas e foi por onde Edward ordenou.

Vendo distanciar-se pulando pelos telhados Edward acomodou-se atrás de um telhado maior.

Olhou para a lua e ao ouvir as telhas remexer constatou que eles estavam subindo.

- Veja por ali, que eu e ele cobriremos aquela parte – ouviu um deles falar.

Sem nenhuma resposta Edward voltou ao ouvir o barulho das telhas remexerem-se. Pelo que podia ouvir, dois vinham em sua direção e o outro ia para o lado oposto, onde provavelmente Ângelo estaria. Como previra.

Sorriu ao ouvir o barulho bem próximo de si. Aquele era o momento. Virou-se cravando suas unhas no pescoço de um deles e jogando-o longe.

O outro meio tropeço virou-se e começou a correr. Edward olhou suas mãos com sangue e lambeu-a enquanto seus olhos ganhavam a mesma coloração de vermelho sangue.

Um sorriso demoníaco surgiu em seus lábios ao sentir aquele gosto descer por sua garganta. Ao passo que se sentia revigorado, mais sede tinha.

Com sua agilidade alcançou o outro em segundos que, de qualquer forma não estava longe já que com o nervoso suas pernas tremiam demais para andar em um telhado com precisão. Cravou seus caninos afiados no pescoço do mesmo que pareceu amolecer em suas mãos. Sugou-o sentindo o sangue quente do outro dar vida a si, quase sentia seu coração bater.Quase.

Largou o homem que caiu no chão inerte.

Aquele era um prazer viciante e indescritível. Seus olhos estavam ainda mais vermelhos, quase vinho, sua pele pálida parecia um pouco mais corada. Inspirou o ar da noite motivado.

Aquela era a vida que escolheram para si. E era ela que iria viver.

- o –

- Ela -

O espelho refletia uma bela jovem de vestido vermelho de bojo até os pés com uma fenda lateral que chegava quase dois palmos acima de sua coxa e esta pálida contrastava com o vestido. Em seus pés um escarpam vermelho de salto davam-na uma postura altiva e sensual. Seus cabelos castanhos estavam meio solto e meio preso com uma rosa vermelha sobre eles. A maquiagem preta nos olhos realçara o tom chocolate dos mesmos que estavam quase avelã em expectativa. Seus lábios carnudos estavam ainda mais convidativos por conta do batom vermelho. O blush em suas bochechas dava a impressão de que ela estava corada todo o tempo.

Sorriu com o resultado que obtivera. Nem mesmo parecia que não queria estar ali.

- Vamos querida, não temos a noite toda – ouviu uma voz impaciente atrás de si falar.

Olhou pelo reflexo a jovem senhora com a maquiagem forçada no rosto.

- Sim senhora. – fez uma leve reverência. E virou-se a encarando – estou pronta.

- Ótimo pequena, desça para o salão. Nossos convidados logo irão chegar e lembre-se de ser bastante solícita. Queremos que eles voltem – sorriu maliciosa.

A morena controlou a vontade de revirar os olhos. Limitou-se a sair do quarto emburrada e rumar para o salão.

Uma música ambiente tocava. Olhou em volta o bar espelhado com diversas bebidas coloridas, o chão de madeira, o palco de carpete preto e com ferros lustrosos ao centro e uma cortina de pedraria atrás. A parede revestida de veludo vermelho e espelhos. Conhecia bem aquele lugar, tudo já estava registrado em sua mente.

Rumou até o bar e preparou uma bebida estava apreciando-a quando ouviu uma voz atrás de si.

- Meus olhos devem estar me enganando, criatura tão bela não deve existir.

Um brilho felino passou por seu olhar. Virou-se a tempo de ver três homens sorrindo para si. O do meio que sorria mais provavelmente fora o que fizera o comentário. Eram lindos, com a pele pálida e acetinada, tinha a postura altiva e vigorosa. Seus ternos eram de linho fino puro. Provavelmente eram seus convidados ilustres.

Sorriu manhosa.

- Toque e comprove – sem nenhum receio esticou o braço livre e deixou-o exposto.

Os três sorriram e pareceram gostar da ousadia. O do meio deu um passo a frente, encarava-a profundamente, pegou o braço dela virou beijando a parte interna do mesmo. Aspirou o perfume.

Suspirou levemente, suas mãos eram firmes, frias e delicadas. Seus olhos eram vermelhos leitosos hipnotizantes.

Ele sorriu ao ouvir seu suspiro.

- Qual o nome de tamanha preciosidade?

- Bella, senhor- sorriu e reverenciou-o. Sabia que não devia perguntar o nome dos clientes.

- Mas que nome mais apropriado... – A malícia estava cravada em seus olhos.

Ele pegou o copo de sua outra mão e virou-o de uma vez só.

Aquela era a vida que escolhera para si. E era aquela que iria viver.

- Nós –

Inspirou novamente o ar gelado na noite. Seu relógio de bolso marcavam exatas 01:17hs. O que o condicionava a um atraso de mais de uma hora. Sabia que seus companheiros o esperavam, mas este não sentia a menor vontade de juntar-se a eles.

Mas se havia algo que Edward havia aprendido em sua pseudo-vida é que algumas circunstâncias estão acima de qualquer vontade latente. Fechou os olhos pro breves segundos enquanto a conformidade alojava-se em si.

Abriu-os novamente, estes estavam da cor de conhaque envelhecido em carvalho seco, quase castanhos com a sombra de aparente indiferença que tremeluzia em sua alma. Guardou seu relógio, com as mãos em seus bolsos rumou para onde não queria estar.

Após alguns minutos de caminhada lenta Edward constatou, com certa relutância, que chegara ao seu destino.

Subiu a pequena ladeira de paralelepípedo e ao virar em uma viela aparentemente abandonada havia uma porta que incidia uma breve claridade no breu que era aquele lugar. Haviam dois vultos na porta que ao verem a figura de Edward desfizeram as expressões fechadas e lhe sorriram.

- Senhor... – os dois murmuraram enquanto fizeram uma breve reverencia.

Edward apenas assentiu com a cabeça sem desviar o olhar dos dois.

- Meu Senhor Aro pessoalmente já veio aqui duas vezes a procura do senhor... – um deles falou com certo receio na voz.

- Ele parecia ansioso a sua chegada. – o outro completou.

- Que seja. – respondeu seco adverso ao tom de advertência dos outros dois.

Sem mais o que dizer os dois encararam-se por breves segundos atônitos com o descaso do outro e abriram espaço para que Edward passasse.

Cheiro de rosa, extenuante e extravagante, cheiro de rosa. Era sempre daquela forma. Definitivamente aquilo o enjoava.

- Pensei por breves e prazerosos segundos que não viria ter conosco – uma voz sussurrou atrás de si.

Edward enrijeceu por segundos. Conhecia aquela voz o que o fez relaxar os músculos mais ficar alerta a qualquer movimento.

- Caius é sempre tão espirituoso...

- Senhor. – sua voz intensificou-se assim como a mão que segurou seu braço, Edward tinha certeza que se fosse humano seu braço teria quebrado no aperto do outro. – Senhor Caius – a voz saiu amena, destoando completamente da tonalidade anterior.

- Claro – Edward respondeu entediado.

- Beba – Caius ofereceu quase como uma ordem o cálice que estava em suas mãos.

Edward pegou a taça a sua frente e virou-se para encarar o outro.

- Um brinde ao Senhor Caius – levantou o copo no ar e bebeu um gole sem desfazer o contato visual com o loiro a sua frente.

Se Edward houvesse piscado um segundo que fosse teria perdido os movimentos de Caius que estava a dois passos de si em um instante e no outro estava bem próximo. Com a mão cravada em seu pescoço e olhos assassinos a lhe encarar.

- Um dia Edward, vou lhe fazer pagar por sua soberba.

Edward sustentava aquele olhar com serenidade. Segurou o pulso do outro com ainda mais força retirando-o de seu pescoço.

- O que vês como uma punição, identifico como uma dádiva. – Havia uma amargura em sua voz.

Caius sorriu descrente.

- Será nesse mesmo dia que você vai entender que há muito mais que a morte. – pegou o cálice da mão de Edward passando a sua frente.

- Existem nós.

Falou e mesmo de costas, mesmo andando sabia que Caius ouvira o que falou.

Edward caminhou na direção contraria. Sentiu olhos sobre si. Olhou para trás nada viu além de alguns de seus comparsas bebendo e rindo escandalosamente com mulheres vulgares. Mas que sensação era aquela?

Parecia ter alguém a observar sua alma, aquela que ele sabia não mais existir em si. Quase pode sentir seu coração bater.

Roxanne (Roxanne)
You don't have to put on that red light 
(Você não tem que colocar essa luz vermelha)
Walk the streets for money 
(Caminhar pelas ruas por dinheiro)
You don't care if it's wrong or if it is righ 
(Você não se importa se isso é errado ou certo)

Não pode evitar o choque ao constatar que não era seu coração que batia, mas ele ouvia. E sentia. Como se fosse seu... Mas o que era aquilo agora? Olhava pelo salão procurando o que poderia causar-lhe aquela sensação.

Roxanne (Roxanne)
You don't have to wear that dress tonight 
(Você não tem que vestir este vestido esta noite)
Roxanne 
(Roxanne)
You don't have to sell your body to the night 
(Você não tem que vender seu corpo na noite)

Então ele a viu...

Seu coração podia parar novamente?

Era ela. Mas ela quem?

Ela encarava e ele podia ver, ao fundo de seus olhos castanho tinha uma surpresa. Ela parecia em transe, incapaz de encarar qualquer outra coisa que não fosse ele. Ele podia sentir o coração dela batendo descompassado.

Ele podia sentir sua respiração entrecortado, preenchendo seus pulmões com dificuldade e liberando ar com urgência. Ele podia sentir seu olhar avassalador.

Mas ele constatou que, incrivelmente não podia sentir seus pensamentos. O que nunca o acontecera.

- Edward... – pode ver os lábios dela mexerem , apesar de não ter ouvido sabia que era seu nome. Mas sentiu sua voz em seus ouvidos. De algum modo, ele sabia como era.

Estava andando em sua direção, quando viu uma mão no pescoço da jovem afastar seus cabelos e beijar-lhe a nuca. Ela fechou os olhos por um momento entregando-se aquela caricia.

His eyes upon your face (Os olhos dele em seu rosto)
His hand upon your hand 
(As mãos dele nas suas)
His lips caress your skin 
(Os lábios deles acariciando sua pele)
It's more than I can stand 
(É mais do que eu posso suportar)

Sem mais encará-lo ela virou-se para quem lhe tocou e sorriu. Parecia tão espontâneo e genuíno que Edward perguntou-se se foi realmente o coração dela que batera em seu peito há pouco.

Por que aquilo o incomodava? Quem era aquela mulher que Aro beijava?

Roxanne (Roxanne)
Why does my heart cry? 
(Por que meu coração chora?)
Roxanne 
(Roxanne)
Feelings I can't fight 
(Sentimentos com os quais não posso lutar)
You're free to leave me 
(Você é livre para me deixar)
But just don't deceive me 
(Mas apenas não me iluda)
And please believe me 
( E por favor, acredite em mim)
When I say, I love you 
(Quando eu digo, eu te amo)

Ela trajava um vestido vermelho e ousado, mas nela não ficava vulgar. Ele simplesmente parecia aderir não só a sua pele, mas a sua personalidade. Aquela postura confiante enquanto andava seguindo Aro mais parecia conduzi-la a onde queria estar. A luz de seu sorriso roubava a atenção de tudo para si. Perguntou-se como não a viu assim que colocou os pés naquele lugar.

Y yo que te quiero tanto (E eu te quero tanto)

¿Qué voy a hacer? (O que vou fazer?)

Me dejaste, me dejaste (Me deixou, me deixou)

Con un montón de dolor (Com um monte de dor)

El alma se me fué (A minha alma se foi)

Se me fué el corazón (Se foi o meu coração)

Ya no tengo ganas de vivir (Já não tenho vontade de viver)

Porque no te puedo convencer (Por que não posso te convencer)

Que no te vendas Roxanne (Que não se venda)

Ela parecia estar satisfeita com Aro. Ele a exibia como um troféu. Eles dançavam de uma maneira tão envolvente que pareciam parte da musica ao fundo. De algum modo aquela melodia tocava-lhe, mas ele sentia nela que aquela era sua musica. Ela era Roxanne aquela noite, mas quem lhe cantava aquela canção?

Roxanne (Roxanne)

Why does my heart cry? (Por que meu coração chora?)

Roxanne (Roxanne)

Feelings I can't fight (Sentimentos contra os quais não posso lutar)

Roxanne (Roxanne)

You don't have to put on the red light (Você não tem que colocar essa luz vermelha)

Roxanne (Roxanne)

Não podia ser Aro, ele não realmente sentia os acordes da musica em si. Ele apenas a sentia naquela melodia. A dor que ela emanava parecia agraciá-lo e ele apreciava. Eram sentimentos brutos e puros. Mas ele soube quem lhe cantava assim que Aro com as mãos as suas costas inclinou-a para trás de modo que seus cabelos quase tocaram o chão.

Enquanto Aro deliciava-se em cheirar seu decote e passar o dedo indicador de maneira ousada sobre as curvas do corpo preenchido pelo vestido vermelho ela encarava-o.

Havia magoa amor, rancor, tristeza, felicidade... Tudo em um só olhar. Sentimentos conturbados pareciam transbordar em sua alma, então uma lágrima solitária escorreu de seu olho esquerdo. Seus olhos fecharam sentindo tudo que lhe preenchia sair naquela pequena gota de si. Suas pálpebras tremeram levemente enquanto aquela lágrima caia no chão. Então seus olhos abriram-se determinados. Bem diferente de segundos atrás estavam vazios.

E quando os olhos daquela dama olharam-no uma ultima vez ele teve um vislumbre de uma vida que não era a sua. Nesse momento, em sua mente ela sorriu para ele e o beijou. Em sua realidade ela foi erguida e teve seus lábios capturados por Aro.

Ela era sua Roxanne.


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