– Ah... Vamos dar uma espiadinha! – Pediu Sirius, pela décima vez.

– Não dá Almofadinhas, esqueceu-se da escada? Não podemos passar!

– Mas quem sabe a gente vai pulando os degraus? Ou corremos até nossos pés cansarem!

– Acha que os fundadores de Hogwarts não pensaram nisso? Esquece. – Disse Tiago, chateado.

– Mas...

– Isso tudo é por causa da Emily? Por que você namorou dois dias com ela e levou fora?

– Achou que eu estava furando a Lily é? Claro que é a Emily! E eu namorei três meses com ela, Pontas! Elas devem estar lá, de camisola, rindo com os cabelos soltos. – Falou, sonhador.

Estavam no salão comunal, a lareira acesa e os dois garotos sentados nas melhores poltronas. Pedro já tinha ido dormir e Remo havia saído. Eles já tinham aberto os livros e colocado os pergaminhos, as penas e o tinteiro em cima da mesinha, mas estavam com tanta preguiça que começaram a conversar e não pararam mais.

– Pontas – Sussurrou Sirius, devido à quantidade de alunos -, está sabendo não é, semana que vem é lua cheia.

– Ah, estou lembrado... Deve ser por isso que Aluado está assim, coitado.

Sirius concordou com a cabeça e olhou em volta, seu rosto demorou-se na escada das meninas.

– Mas quem sabe...

– Ah, de novo não, cara! É impossível entendeu? – Falou Tiago, impaciente, se curvando para o dever. Mas o amigo já estava no terceiro degrau, na ponta dos pés. Tentou subir no corrimão, mas foi impedido pela balaustrada em cima. Então, correu escada acima. Nesse instante, ela se dissolveu e um escorrega apareceu. Sirius correu mais rápido, sem sair do lugar. Uma porta se abriu e uma garota loira de olhos semicerrados apareceu na frente da escada.

– Pode tratando de descer, mocinho, nunca vai conseguir.

– Mas – estou – quase – lá – Ofegou Sirius, as pernas doendo.

A menina então se apoiou na ponta do escorrega e empurrou Sirius, que caiu de costas e escorregou até bater a cabeça no chão. Guinchou de dor.

– Pra que isso? Não era assunto seu – Exclamou, se levantando e esfregando a mão no alto da cabeça. A garota loira soltou uma risadinha.

– Regras, querido... Tiago!

O garoto se virou depressa, estava tentando achar uma explicação para fazer o dever de poções enquanto os outros riam de Sirius.

– Sim?

– Me perdi agora, as meninas me chamaram para um tipo de brincadeira... Mas esqueci onde é o dormitório delas!

Sem emoção, Tiago lhe deu as instruções e a garota saiu cantarolando escada – que já havia surgido novamente – acima.

– Ah, achei que você não viria! – Disse Louize.

O dormitório estava bastante diferente. As cinco camas estavam encostadas nas paredes e um número enorme de almofadas cobriam o chão. Várias velas davam um ar alegre e ao mesmo tempo melancólico. Havia pouquíssimas pessoas sentadas nas almofadas. Louize, Emily Mormash e Meggie Dutton já eram as suas parceiras de dormitório. Cataline Humpson era do quarto ano. Algumas usavam pijamas e outras, camisolas e pantufas.
Louize sorriu.

– Anda – Disse, pegando um conjunto de roupas em cima de uma cama e jogando para Lilian – Vista suas roupas de dormir, é o traje.

Com um pouco de remorso, Lilian o fez e sentou em uma das almofadas, o sorriso falso no rosto.

– Só falta a Scar. Acho que devemos esperá-la... – Anunciou Louize, e pegando uma garrafa de cima da mesinha, disse – Pegue uma cerveja amanteigada, Lily!

Bebendo só para ocupar as mãos com algo, Lilian permaneceu um bom tempo em silêncio, ouvindo as meninas conversarem.

– Vamos combinar que ele é bonito – Declarou Meggie – Mas não sei se seria uma combinação sutil, iríamos brigar feito louco.

– Mas eu já ouvi os boatos, Meg – Sorriu Cataline – Que vocês estão com medo de dizer para o povo da escola e perder a graça.

– Exato, não é? Bo-a-tos. Desde que ele me chamou para sair não tivemos mais nada.

Louize e Emily riram.

– E o Sirius, Em? – Perguntou Louize, mudando completamente o assunto.

Emily corou, mas permaneceu firme.

– O que tem ele?

Lilian grudou a boca na tampa da garrafa, tendo certeza que o assunto ia mudar o rumo e ela seria o centro das atenções.

– Ora, como assim, o que tem ele? – Falou Cataline, alto – Vocês já namoraram, não é?

– Ora, é claro, ele fez questão de espalhar para cada ser vivo e morto de Hogwarts e fora de Hogwarts!

– Então conte! – Pediu Louize – Fale como ele é! Fofo, divertido...

– Ah, gente, para com isso né? Não quero nada com o Sirius, vocês estão me pressionando!

– Só queremos saber como ele é! De onde você tirou isso?

Mas quando Emily abriu a boca, a porta se abriu e Scarlet Stalin entrou, o rosto um pouco afogueado. Os cabelos loiros um pouco embaraçados e os olhos azuis um pouco cerrados devido ao sorriso. Ainda estava com as vestes da escola, mas tirou do bolso uma sacolinha e já foi dizendo.

– Oi meninas! Desculpem o atraso é que Sirius e...

– Meu Deus!

– Cruzes! Esse menino não morre mais! Estavamos falando dele agorinha! – Gritou Meggie, sorrindo. – A Emily estava a ponto de nos contar como foi seu namorico com o fofo.

– Nossa! Pois bem, é que ele estava tentando subir! E ficou lá no escorrega quase horas, tadinho, aposto que era pra ver a Em, né? – E fez um olhar cúmplice para Meggie.

Em seguida foi se trocar.

Scarlet era uma das meninas mais bonitas da Grifinória. Era do sexto ano e além de inteligente era muito simpática, falava com todos, desde os mais novos até os mais velhos.

– Finalmente, vamos poder começar! – Exclamou Emily, dando um último gole na sua garrafa de cerveja amanteigada, tapando-a com a rolha e abrindo um espaço entre as almofadas para colocar a garrafa vazia ali. Louize cochichava com Meggie, e as duas davam risada, enquanto Cataline estava trancando a porta. A única que não se mexia era Lilian, medrosa. Quando Scarlet se sentara em uma das almofadas, Emily se empertigou e perguntou:

– Todas sabem jogar não é?
Houve murmúrios de concordância pela sala. Exceto pela ruiva, que se mantera em silêncio.

– Lily? Você sabe? – Perguntou Emily.

A menina balançou a cabeça afirmando. Então Meggie pegou na garrafa e a girou. Parecia para Lilian que ela não ia parar nunca. A primeira pergunta seria para Cataline, que sorriu presunçosa. Louize se arrumou e pensou um pouco.

– Verdade que você beijou o Robert quando ele namorava com a Scar?

Todos ficaram em silêncio, o rosto de Cataline ficou vermelho de repente e ela disse:

– Não vou responder isso!

– Ora, é claro que vai! – Bradou Louize.

– É... – Disse Scarlet, ameaçadoramente, olhando fixo para Cataline – Você vai.

– Bom, vejam... Sim, mas...

Scarlet se levantara.

– O quê? Você... Cataline, você... BEIJOU O ROBERT?

Cataline se levantara também e parecia à beira de lágrimas.

– Ouça, Scar...

–NÃO VOU OUVIR – Esbravejou, apontando para o peito de Cataline. – Como pôde? SUA FALSA! TRAIDORA! VOCÊ causou o término do nosso namoro!

– PAREM!

Todas olharam assustadas. Lilian estava de pé, a garrafa vazia na mão.

– Façam-me o favor... – Disse, impaciente. – Sentem aí, agora!

Com insegurança, dois pares de pernas se cruzaram quando sentaram nas almofadas. Então Lilian se virou para Scarlet.

– Scarlet, você não pode gritar com a Tatá sem saber o que aconteceu!

Ela abriu a boca para retrucar, mas a ruiva continuou mais depressa.

– Em primeiro, Robert veio atrás dela e simplesmente pediu um beijo. A Cataline recusou, porque vocês estavam namorando. Então ele disse que já haviam terminado, e que acabara, sendo que ele terminara com você na semana seguinte! Não vá culpá-la, assim. Reclame com o Robert.

Scarlet parecia não ter acreditado, mas ao ver e ouvir tantos acenos de cabeça, desfranziu as sobrancelhas e olhou para o chão. Já Cataline, parecia mais aliviada. Meggie quebrou o silêncio:

– Vamos lá, Cataline, gire a garrafa.

A garota o fez. Durante um tempo, só se ouvia o barulhinho da garrafa raspando a chão, até que, com um último giro, ela parou. O fundo virado para Meggie, a boca para Lilian.

Ela engoliu em seco. Meggie deu um olhar cúmplice a todas as outras e por um momento, Lilian sentiu muita raiva, engoliu-a também.

– Lily... Verdade que o Snape pediu você em namoro? – Perguntou sem pensar.

A garota olhou desconfiada para elas. De onde tinham tirado isso?

– Não... – Respondeu, devagar.

Um murmúrio de chateação espalhou-se pelas outras.

– Veja bem – Começou Louize -, amiga, essa brincadeira se chama Jogo da Verdade, ou seja, a verdade.

– Louize, não me trate com esse tom ignorante, não sou burra! Sei como se joga, e não menti.

– Não?

– Não – Respondeu, firme.

Algumas delas ficaram de boca semi aberta, Lilian ficou um tanto chateada, mas deixou de lado. Antes que surgissem mais perguntas, pegou a garrafa e girou-a novamente. Ao parar...

– Qual foi a melhor coisa que Sirius fez para você ou com você quando estavam namorando? – Perguntou Cataline à Emily, segurando o riso.

Louize soltou um gritinho e Scarlet se arrumou na almofada. Já a própria Emily tinha ficado vermelha, muito vermelha.

– Que é isso, gente! É íntimo!

– Fala sério! – Exclamou Scarlet, apontando a garrafa de cerveja amanteigada que estava tomando para Emily – Vocês tinham quatorze anos! Não tem muita coisa realmente íntima para se fazer com essa idade!

– Você que pensa. – Falou, cruzando os braços, debochada.

O queixo de Lilian caiu e todas as outras soltaram uma longa exclamação.

– Como assim? – Perguntou Meggie.

– Ora, é sim!

– Então diga!

– Claro que não!

– Mas eu perguntei, e você tem que responder! – Retrucou Cataline, as meninas concordaram.

Emily olhou com cara de culpada para todas.

– Está bem... Ér... Acho que foi quando eu estava passando pelo corredor e ele me puxou para uma sala vazia e me agarrou.

Meggie soltou um gritinho longo e todas riram.

– Mas, como assim? Foi um amasso, ou...

– Foi um grande amasso! Mas eu não vou contar o resto para vocês, se é o querem me fazer.

– Mas... – Disse, Louize, pensativa. – Vocês já eram assim quando tinham quatorze anos? A Lilian nem beijou ainda!

As meninas se viraram para Lilian, as sardas ficaram cor de cera e as orelhas vermelhas.

– Lily? Sério? – Perguntou, acanhada, Scarlet.

Ela estufou o peito e respondeu.

– Não, não é sério.

O clima ficara tenso.

– Ah, para de mentir! Sou sua melhor amiga, elas também, pode contar a verdade, não vamos brincar com você! – Falou Louize, tentando parecer distraída, mas preocupada.

– Não, Louize, é sério. Eu já beijei.

O dormitório explodiu em risadas, exceto por Scarlet, Cataline e Lilian.

– Então... – Soluçou Meggie, tentando parar de rir. – Com quem foi?

– Não vou contar.

– Sei com quem foi! – Gritou Louize, parando de rir também. – Foi com o Tiagooooo!!! Mas ela insiste em dizer que odeia ele, mas EU sei!

– NÃO! Não foi com ele! – Bradou Lilian, quando a risada cessara. – Foi... Foi com...

– Ta vendo? – Disse Louize, apontando para Lilian e olhando para as outras. – Mentindo. Não posso acreditar, amiga. Não mesmo.

– TÁ, TÁ! EU FALO! Foi com... Com o... O Snape.

A menina prendeu a respiração e tapou o rosto com as mãos, para não ver elas se acabando de rir. Mas ninguém riu. O silêncio era dominante e a única coisa que se ouvia nesse momento era o barulho dos soluços de Meggie, que também estava séria.

– Podem rir, parem com isso.

– Ah... Lily... É verdade? Mesmo?

– Sim...

E Lilian contou a história para elas. Ao fim, todas estavam comovidas, exceto Louize, que a olhava entediada.

– Lilian, vai ficar com esse joguinho? Sei que não beijou ninguém ainda! Teria me contado!

– Veja, Lou, eu estava tímida, Severo é muito acanhado, e você poderia contar para as meninas e esquecer que era segredo, eu preferia que ficasse só entre nós dois.

– Ah, então eu sou fofoqueira, Lilian?

– Não, claro que não! – A garota estava ficando aflita, como ela não podia entender sua situação? – É só que... Não é legal as pessoas ficarem sabendo, até porque não iria acontecer, não mesmo.

– Mas eu não iria contar para ninguém, Lilian! NINGUÉM! A não ser que me pedisse!

– Ouça, Lou...

– NADA DE LOU! VOCÊ NÃO CONFIA MAIS EM MIM? – O rosto de Louize estava vermelho de raiva, e ela estava de joelhos, os punhos tremendo.

– PARE DE GRITAR! – Esbravejou Lilian, os olhos cheios de lágrimas. – Meu Merlin... Escute, por favor...

– Não, Lilian, não quero saber.

Ela se levantara e saíra do dormitório, de camisola. Lilian caiu no chão e começou a chorar, enquanto as outras a olhavam, tristes.

Os garotos ainda estavam no dormitório, e Tiago já tinha feito metade da redação de Poções quando Louize chegara correndo pelo dormitório das garotas e se jogara numa poltrona, o rosto corroído de raiva. Sirius levantou o olhar, uma manchinha de tinta no queixo, onde se coçara com a pena.

– Louize? O que aconteceu?

Tiago percebera sua chegada e correra para a poltrona dela.

– Louize! Então, a Lily gosta de mim?

Com uma expressão vazia, a menina olhou para ele.

– Ah... Tiago... Desculpe-me, sério. Eu esqueci! Na verdade eu sabia, só que começamos a discutir e saiu da minha cabeça... Ah, sinto muito mesmo!

Ele suspirou e sentou no chão a frente dela.

– Então... Não descobriu nada lá?

A expressão triste sumiu e ocupara seu lugar a raiva novamente.

– Ah, sim! Tiago, Lilian beijou Snape.