Acho que é um tanto quanto óbvio dizer que nenhum dos dois dormiu de verdade. Nós analisávamos a sala com os olhos, procurando algum tipo de saída.

Era inútil, apesar de Tony e Vicent serem burros o suficiente pra deixarem que a gente descobrisse tudo sobre o homicídio, não iam dar o mole de dar alguma escapatória para a gente. Tinha mais coisa em jogo dessa vez, tinha a inocência final deles.

Pensávamos que ao menos iria ter uma janela no banheiro, pra ventilação, mas era totalmente fechado e claustrofóbico. Sei que os costumes de um século atrás eram bem diferentes dos nossos atuais, mas quem, em sã consciência, construiria um banheiro sem janelas?

Depois de olharmos tudo minuciosamente, tanto sentados quanto em pé e vasculhando, nos demos por derrotados e nos sentamos de novo.

Não tinha o que fazer, será que devíamos falar banalidades mesmo naquela situação um tanto quanto… perigosa? Afinal, não dava para entender o que Tony e Vicent queriam, eles poderiam ter nos matado há muito tempo e se livrado do principal problema. Será que nossa morte seria um problema pra eles? Ou havia algum dilema moral no meio? Ah, deuses, isso é muito complicado!

Mas enfim, acho que a essa altura do campeonato, Sherlock e Watson devem ter entendido que tinha alguma coisa errada, e, bem, eu tinha fé de que eles resolveriam tudo, eu e Will já tínhamos feito o suficiente.

– Ei - Will chamou. - Sabe o porquê dos meus amigos te chamarem de Hollyson?

– Hm, não, desembucha… - Falei, realmente, esse era um mistério bem misterioso, apesar de eu não ter dado muita bola pra ele.

– É tosco, quer saber mesmo assim? - Will corou. Ainda não me acostumei com o fato de um garoto de 1,90 m ficar corado igual uma princesa apaixonada, mas… Como dizer… Não era feio. É, com certeza não era feio, era muito fofo.

– Se você tá tão hesitante pra contar isso, não precisa, não. Calma. - Ri da cara do moreno.

– É que eu quero contar, não sei se você vai querer ouvir…

– Sou toda ouvidos, querido.

– Toda ouvidos? Isso que você falou parece tão errado. - Will começou a gargalhar.

– Então não quero mais ouvir!!! - Tampei meus ouvidos com os dedos e, como toda pessoa madura, comecei a cantarolar “lalalalalalalalala”;

Will gesticulou e tentou falar alguma coisa que, obviamente, não entendi. Depois de um bom tempo falando sozinho ele bufou e segurou meus pulsos com força, afastando minhas mãos das orelhas.

– Meu nome é Will Ericson. E eu sempre tive uma quedinha por você… E meio que eu deixei de sair para um monte de festas com meus amigos por desinteresse, aí eles te apelidaram de Hollyson, son de Ericson, porque, pelo que eles disseram, eu já era casado com você…

Bem. Gente, eu não aprendi como lidar com essas coisas na escola, então, bem. Fiquei quieta.

– Eles são bem idiotas, né? Inventaram um apelido bem tosco… - Riu nervoso. - Desculpa. Você não precisa falar nada, não. Só acho melhor falar de uma vez. Eu sei que a gente nem nunca tinha conversado direito, mas você era tão implicante com todo mundo que achei fofo… E achei que você era bem livre, do jeito que eu queria ser, você era o que é e ponto.

Sim, eu sei que eu devia responder, afinal, ele estava sendo completamente sincero comigo e eu só estava machucando-o com essa demora toda, antes eu já falasse que não ia rolar. Mas era mais fácil falar do que fazer.

– Olha, Will… - Comecei e falar, e pude ver que, só de ouvir meu tom de voz, Will murchou. Ah, eu me sentia horrível. Sério, meu coração batia feito louco, que situaçãozinha pra altas confissões, hein! Não basta eu me preocupar no que vai dar todo o caso do assassinato do dono da mansão, tenho que me preocupar sentimentalmente com quem deveria estar me ajudando também? Deus me livre!

Sim… Deus me livre de mim! Realmente, sou uma covarde, tentando encobrir meus erros tentando jogar a culpa pro Will, coitado… Sinceramente, o que ele viu em mim?

– Cara… Você é um cara muito legal… Muito mesmo, mas… - As palavras entalaram na minha boca e não consegui mais falar.

Eu sentia que estava prestes a fazer algo muito, muito ruim. Algo irreversível.

Sabe aquilo que dizem que quando você vai morrer, meio que passa um flashback da sua vida pela sua cabeça? Não sei se um meteoro está prestes a cair em cima de nós, mas eu tive um. Um flashback dos últimos doces dias… E, bem, Will estava em todos eles, e toda vez que ele aparecia, meu coração batia mais rápido, tanto na lembrança quanto no momento em que eu estava. E aquele beijo? Sim, tudo aquilo significou alguma coisa, não sei quem eu estou tentando enganar… Acho que a mim mesma. Vou parar de besteirol, porque já tá irritando até a mim… Chega de monólogo chato.

Pigarreei.

– HotWILLson, faça o favor de esquecer tudo o que eu disse. Depois de uma profundíssima revisão mental, percebi que sou uma idiota covarde, fazendo c* doce e que quer, sim, corresponder seus sentimentos e virar, oficialmente, a Hollyson.

Will me encarou por uns momentos, como se estivesse processando a informação e sorriu. Mas o sorriso se desvaneceu depois de algum tempo.

– Ahn… Holly? O que eu faço agora?

– Hm… - Tamborilei meus dedos no rosto. - A gente pode fazer isso.

Pulei em cima dele e o beijei. Realmente espero que tenha sido um beijo que nem aqueles de filme, porque eu sempre quis dar um beijo daqueles. Mas enfim, mesmo que, no final das contas não tenha sido parecido visualmente, acho que minhas emoções eram bem parecidas com a daqueles personagens perdidamente apaixonados.

O beijo foi interrompido porque nós dois sorrimos feitos patetas por causa da situação.

– Você está vermelha que nem um pimentão, Holly… - Will riu.

– É porque você não consegue ver o seu próprio rosto, Sr. Tomate. Ah, e a propósito, é Hollyson pra você!!

– Então… Será que os hamsters já terminaram seu ritual de acasalamento, ou eu largo vocês aqui por mais algumas horinhas? - Perguntou uma voz sarcástica atrás de nós.