O Leão, o Cordeiro e a Livraria escrita por Débora Falcão
Fiz a única coisa que eu pensei ser possível. Bella, apesar dos tropeções, ainda estava mais à frente. Eu tinha que tentar deter a mim mesma, sem aparecer. E isso, convenhamos, é difícil e desesperador.
Passei por entre velhos e crianças, mulheres e homens, sempre com muita dificuldade, para tentar chegar mais perto de mim mesma. O zunido recomeçou em meus ouvidos e a dor de cabeça se tornou mais intença. Me aproximei pelo outro lado, dando a volta, para ficar entre Bella e meu outro eu.
Então, comecei a empurrar.
Ouvi murmúrios, reclamações, mas era a única coisa que eu podia fazer. Empurrar a multidão para tentar conter meu outro eu e atrasá-lo o máximo que eu pudesse. Empurrava e saía, para não ser descoberta. Depois, de outro lado, empurrava de novo. Procurava empurrar pessoas que estivessem em grupo, para causar um efeito dominó: um empurra o outro. No fim, as proporções de um pequeno empurrãozinho acabaria por serem maiores.
Tinha que funcionar.
Eu via a distância entre Bella e nós aumentar. Meu outro eu estava desesperado, achando que Bella iria perder tempo e não conseguiria salvar Edward. O relógio continuava a soar. Até que a última badalada tocou.
Eu olhei por cima dos ombros antes de dar mais uma empurrada. Edward estava lá, parado feito uma estátua. E Bella, naquele instante, se chocava contra ele, e ele a abraçava. Uma senhora puxou meu braço, reclamando, em italiano. Eu a havia empurrado duas vezes.
Fiz cara de desculpas, e tentei explicá-la em inglês que outra pessoa havia me empurrado.
Senti um zumbido forte agora. Meu outro eu havia escutado minha voz e estava me procurando, intrigado.
Me abaixei, para despistar. Meu coração palpitava forte. Parecia querer pular do peito. Meu eu me procurava, ele sabia que havia ouvido uma voz como a sua. De alguma forma, se sentia atraído.
O chão abaixo dos meus pés começou a tremer. Olhei em volta, parecia que ninguém havia notado, apenas eu. Respirei fundo. Meus olhos estavam incandeados pela luz. Olhei na direção onde Edward e Bella estavam.
O beco estava vazio.
Às minhas costas, ouvi quando meu outro eu me chamava.
"Ei! Você!"
Nós estávamos vestidas identicamente. O cabelo, lógico, eu reconheceria como sendo o meu próprio. E a voz...
Ouvir minha voz, assim, me fez perder o ar. Eu estava morrendo? Olhei à minha volta. Ninguém parecia notar. Mas eu percebi que alguma coisa estava mudando. Um som estranho percorria todo o local. Era como se algo fosse acontecer, mas só eu escutava.
"Ei!"
Eu não podia me virar e ficar cara a cara comigo mesma. Isso seria o fim.
"Você!"
Segurei meu camafeu. Respirei fundo. Me abaixei para me esconder no meio de um grupo de pessoas.
"Pirécolis".
Estava acabado.
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