Croquet escrita por Sushi


Capítulo 1
One-Shot




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Frank Iero estava sentado na escadaria do pátio, comendo seu lanche calmamente.
Bom, estava tentando.

Ei, viado!”, gritavam os jogadores do time de baseball, sentados nas mesas com as líderes de torcida rindo histericamente.

Davam apelidos, xingavam, jogavam bolinhas de papel, comida e até algumas coisas realmente desagradáveis em Frank. Ele era o alvo favorito dos valentões – o por quê, nem ele mesmo sabia.

Talvez fosse porque era baixinho.
Ou porque usasse lápis de olho e pintasse as unhas de preto.

É, talvez ele soubesse.

Frank bufou quando um pedaço de pão lhe atingiu o rosto. Nunca revidava, apenas ignorava como podia e fingia que nada estava acontecendo, ficando com a raiva acumulada para si. Já havia apanhado algumas vezes, mas nenhuma surra muito séria.

Um ou dois olhos roxos, no máximo.

Continuou tomando sua coca-cola e rezando mentalmente para que o sinal tocasse logo. Besteira, o intervalo havia acabado de começar.

— Oi.

Frank levantou o rosto, imaginando se não seria coisa de sua cabeça que alguém estivesse falando com ele – e que não estivesse o xingando, wow.

E, em pé, olhando para ele, estava um garoto pálido, de cabelos compridos e pretos, na altura dos ombros. Seus olhos pareciam ser dourados, escondidos pelos cílios escuros.
Usava o uniforme padrão da escola – gravata, blazer azul, camisa – e girava um bastão de croquet nas mãos.

Estranho.

— Ahm... Oi. — Frank não estava acostumado a conversar com desconhecidos, então franziu a testa e seu tom era hesitante.

— Sabe jogar croquet? — O garoto sorriu; tinha dentes fininhos e pequenos. O jeito como sorria e girava o bastão era infantil e inocente, embora o objeto nas mãos dele pudesse fazer sérios danos se acertasse alguém.

— Uh, sei, um pouco. — Frank respondeu, embora não soubesse ao certo porque estava tratando aquela situação insólita com tanta naturalidade.

— Legal. — O outro alargou um pouco o sorriso e parou de girar o bastão, fincando-o na grama e apoiando-se nele. — Eu e alguns amigos estamos organizando um jogo, quer jogar?

Frank franziu a testa novamente, pensando no convite excêntrico do garoto.
Bem, sua mãe sempre dizia que ele deveria fazer amigos, se enturmar mais, participar de atividades ao ar livre...
Não que ele desse muita importância aos sermões de Linda.

— Tá.

Frank se levantou, limpando a grama que ficou presa nas calças e apertando a latinha vazia nas mãos.

Por que diabos estava aceitando?

— Okay. Ah, eu sou Gerard. — O outro estendeu uma mão, que Frank apertou.

— Frank.

— Eu já te vi antes. — Disse Gerard, enquanto os dois caminhavam e Frank jogava a latinha no lixo. — Você é do segundo ano, né?

— Sim. Você é do terceiro? — Gerard anuiu. — Ah.

O mais velho guiou Frank até um dos prédios da escola, parando no meio de um corredor de armários. Lá, alguns outros caras – alguns que Frank até conhecia, de vista – estavam equipados com bastões de croquet, girando-os como Gerard fazia e golpeando o ar com eles.
Não havia arcos no chão nem bolas, porém. Frank franziu o cenho, confuso.

— Ahm... Gerard?

Yea?

— Nós... — Frank fez uma careta. — Vamos jogar aqui?

Gerard deu uma risadinha infantil, como se estivesse numa situação muito divertida.

— Sim, vamos.

Gerard andou até os outros garotos, deixando um Frank confuso para trás. Falou com um menino alto e magro, de óculos, que deu outro bastão de croquet para ele.

— Aqui, é seu. — Disse Gerard ao voltar, entregando o bastão para o mais novo.

— Hm, obrigado. — Frank examinou o objeto, golpeando levemente o ar algumas vezes.

— Gerard! — Um garoto de cabelos cacheados e volumosos correu até ele, apoiando uma mão em seu ombro. — Eles já estão chegando, conseguiu o cara que faltava?

Gerard sorriu adoravelmente.

— Aham. — Apontou para Frank.

— Ah, oi. — O menino sorriu. — Obrigado por ajudar a gente e... É, boa sorte, cara. — Ele encolheu os ombros, rindo, e saiu correndo em direção aos outros.

— Gerard, posso perguntar uma coisa? — Disse Frank, franzindo a testa enquanto Gerard começava a girar seu bastão novamente.

— Claro.

— Nós vamos mesmo jogar croquet?

Frank já estava começando a desconfiar que Gerard era mais um daqueles valentões idiotas e que estava só pregando uma peça nele.

Gerard riu levemente.

— Frank, você gosta desses valentões da escola?

Frank desfez sua careta por um instante, só para refazê-la depois.

— O quê...? Ora, lógico que não! Eles são uns idiotas, m--

— Exatamente. — Gerard o interrompeu, chegando mais perto e olhando Frank nos olhos. — Nós vamos nos vingar desses idiotas hoje.

Frank piscou, levando alguns segundos para perceber a frase toda. Logo depois, imagens dos caras idiotas do time de baseball fazendo todas aquelas imbecilidades, não só com ele, mas com várias outras pessoas da escola. Correu o olhar pelo corredor, vendo todos aqueles garotos com sorrisos satisfeitos em seus rostos e bastões de croquet em mãos.

Inesperadamente, um sorriso brincou em seu rosto. Talvez um sorriso maldoso, mas ele não se importou.

Teria sua vingança e teria agora.

— Teremos vendetta hoje, Frank. — Disse Gerard, apoiando o bastão de croquet no ombro e levantando o queixo numa pose confiante. — Tenho seu apoio? — Um sorrisinho se formou nos lábios finos dele enquanto arqueava uma sobrancelha.

Frank sorriu.

Claro.

Gerard voltou a apoiar o bastão no chão, sorrindo e olhando Frank de cima a baixo.

— Gostei de você. — Disse ele, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Frank mal teve tempo de corar e ouviu um falatório atrás de si. Ao virar-se para olhar, viu o time de baseball, provavelmente voltando do treino, conversando.
Alguns tinham o olhar fixo neles, o que fez Frank perceber que aquela briga havia sido combinada.

— Então, os viadinhos apareceram mesmo. — Disse um loiro, girando um bastão de baseball nas mãos.

— Sim, aparecemos. — Disse Gerard, com um sorriso sarcástico no rosto. — Sabíamos que vocês iam querer brincar com a gente. — Disse, mandando um beijo estalado no ar.

O garoto loiro fez uma cara que parecia ser de nojo e raiva, e avançou alguns passos, ficando cara a cara com Gerard, que ainda mantinha o sorrisinho cínico no rosto.

— Vão se arrepender de serem tão retardados.

Vamos pintar as portas dos armários com seus cérebros. — Disse Frank, num tom mórbido. O garoto loiro olhou com raiva para Frank, e o sorriso de Gerard aumentou.

— Se é que vocês tem um. — Completou o garoto magro de óculos, sarcasmo puro, fazendo os outros com os tacos de croquet rirem.

— Idiotas. — Bufou o capitão do time de baseball, e os outros avançaram mais. — Vamos acabar logo com isso...

— Vamos! — Dito isto, Gerard golpeou o loiro no rosto com o bastão de croquet, quase o fazendo cair no chão.

— Filho da puta! — Berrou ele, com a mão no rosto, um filete de sangue escorrendo pela boca.

Depois disso, o time de baseball avançou nos outros e a briga estava instalada. Não eram cenas bonitas – havia uma quantidade razoável de sangue, e alguns com certeza perderam alguns dentes.

Frank se esquivava com facilidade dos golpes, por ser pequeno, e acertava os outros com facilidade também. Tinha levado uma tacada no rosto, mas estava tão envolvido naquilo tudo que mal sentia a dor.

Ao correr o olhar pelo corredor, procurando por Gerard, o encontrou sendo prensado contra um armário por um cara com quase o dobro da altura dele. Mas, depois de perdê-lo de vista mais uma vez, se esquivando de outro golpe de bastão, o encontrou novamente, desta vez solto, com o garoto que estava ameaçando-o xingando e praguejando, com uma mancha de sangue na testa.

O olhar de Frank se encontrou com o de Gerard, que piscou, ofegante. Ele sorriu, mas ficou confuso ao ver o rosto de Gerard tomar uma expressão alarmada.

Frank!

Tudo o que sentiu foi uma pancada na cabeça antes de apagar.



— Frank?

Piscou. Sua cabeça doía pra caralho; onde estava? Tentou abrir os olhos, e a claridade do lugar quase o cegou. Piscou de novo, desta vez conseguindo abrir os olhos e encontrando-se deitado em uma maca, numa sala branca e arejada, com um Gerard preocupado o fitando. Estava na enfermaria do colégio.

— Ah, acordou. — O mais velho suspirou de alívio. Seus cabelos pretos estavam mais emaranhados do que de costume, e seu uniforme estava amarrotado e até rasgado em alguns lugares. Tinha manchas de sangue seco no rosto, pescoço e mãos, um corte no supercílio, um olho roxo e filetes de sangue escorrendo no nariz e no canto da boca.

— Gerard? — Foi tudo o que conseguiu dizer, ainda estava meio grogue.

— Cara, aquele filho da puta do McCracken te acertou na cabeça. Ele foi um bastardo covarde, te atacando por trás! Além disso, el--

— Gerard! — Frank o interrompeu, rindo um pouco por causa da raiva com qual o mais velho falava do tal McCracken, fazendo uma careta de dor logo depois. — O que aconteceu depois que eu desmaiei?

— Nah. — Gerard tirou alguns fios de cabelo do rosto, passando a mão pela testa e fazendo uma careta ao vê-la voltar suja de sangue, limpando-a no blazer azul logo depois. — A gente apanhou, mas bateu bastante neles também. Você desmaiou, aí eu e o Billie colocamos você numa escadaria num outro corredor lá. Depois a diretora apareceu, todo mundo levou mil detenções e o sinal bateu. — Ele deu um risinho, encolhendo os ombros. — E acho que o Ray quebrou um braço, sei lá.

Frank riu, mas parou logo depois porque sua cabeça doeu.

— Ahm... Desculpe por te colocar nisso, Frank. — Gerard fitou os pés. — É que eu já tinha te visto, como eu disse, e eu sempre via aqueles idiotas te zoando...

— Estava me observando? — Frank arqueou uma sobrancelha.

— Claro que não! — Frank riu ao ver o quanto as bochechas coradas de Gerard contradiziam suas palavras. — E não muda de assunto. Me desculpe.

— Nah. — O mais novo sorriu. — Que nada, foi o dia mais emocionante da minha vida escolar. — Levantou o braço num gesto comemorativo, sentindo uma dor no ombro na mesma hora.

— Ai, porra.

Os dois riram, e logo depois um silêncio pairou no ar.

— Ah, Gerard... Obrigado por... Me arrastar pra escadaria quando eu desmaiei, sei lá. — Riu. — Obrigado por, hum, me proteger. — Frank corou, se escondendo atrás da franja.

Gerard sorriu, suave.

— De nada. Já disse, eu gostei de você. — Colocou uma mão no colchão ao lado de Frank, hesitante. — Frank, será que nós podemos, sei lá, depois, ahm... Uh, sabe...

— Claro que nós podemos sair, Gerard. — Frank riu levemente, arrancando um sorriso do mais velho.

— Okay. Ah, espera um minuto. — Gerard correu o olhar pela sala, levantando e indo até uma mesinha que havia ali, pegando uma caneta de um potinho rosa florido e rasgando uma folha de um bloquinho, voltando a se sentar no colchão de Frank depois.

— Aqui, meu telefone. — Disse ele, depois de escrever na folha por alguns segundos. — Se eu fosse você, eu ligava. Ainda tenho aquele bastão de croquet, sabe, a diretora não confiscou o meu.

Frank riu, rolando os olhos e anuiu.

— Pode deixar.

Gerard sorriu, aproximando-se mais de Frank e olhando-o nos olhos por alguns instantes. Passou o olhar para o cabelo escuro, e logo depois para a boca avermelhada, voltando para os olhos verdes. Deu de ombros, e, num gesto inesperado, colou seus lábios aos de Frank, que mal teve tempo de fechar os olhos.

— Obrigado por ajudar a gente. Acho que você é tão estranho quanto nós, hm? — Sussurrou depois de se separar do mais novo.

Frank deu um riso rouco, concordando.

Way. — Chamou uma enfermeira, entrando na sala com uma careta mau humorada, saindo logo depois.

— Ah, acho que eu tenho que ir lá fazer uns curativos. — Gerard fez uma careta de dor. — Caralho, tomara que não tenham agulhas.

Frank riu.

— Boa sorte.

— Obrigado. Hey, não deseje meu mal, okay. Agulhas são filhas da puta.

Frank riu mais, e Gerard apenas o observou, com um sorriso suave no rosto.

— Posso fazer aquilo de novo?

— Aquilo o q--

Gerard o interrompeu, beijando Frank novamente, que desta vez teve tempo para corresponder.

— Ah, isso. — Frank ofegou levemente. — Pode.

Gerard sorriu, afastando algumas mechas de cabelo da testa de Frank.

Way! — A enfermeira chamou novamente, parecendo ainda mais mau humorada.

— Melhor eu ir. — Gerard rolou os olhos. — Até depois, Frankie.

Frank sorriu, observando o mais velho se levantar e sair pela porta.
Voltou a olhar para o pedaço de papel, com os números escritos em azul ali.

Tinha valido a pena, não?


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Notas finais do capítulo

Violência e frerard, estou feliz. -q