Past Vs Future escrita por letycia


Capítulo 43
Capítulo 43 - William




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Capitulo 43

William

O que mais me prendia àquela ilha do Canadá?

Era um lugar igual a muitos outros por onde tinha passado, nada de novo havia para ver e, no entanto, não queria partir.

Por isso, não fiquei surpreendida quando dei por mim, depois de ter andado a deambular, perdida nos meus pensamentos, no mesmo sítio que no dia anterior. O tempo não estava tão agreste, depois da tempestade da noite passada a temperatura tinha amenizado, embora houvesse muita humidade no ar e o sol se escondesse preguiçoso atrás das nuvens. Uma leve brisa soprava os meus cabelos e fazia com que estes dançassem, não revoltos como anteriormente, mas como que embalados por uma suave melodia.

Descalcei as All Star que trazia nos pés, tirei as meias e enterrei-os desnudos na areia. Adorava sentir o toque granuloso que me arranhava ligeiramente na planta do pé. Dobrei um pouco as minhas calças de ganga para que não se molhassem com a humidade da areia. Tirei a minha máquina fotográfica Nikon que sempre me acompanhava a cada viagem que fazia e comecei a fazer algumas fotografias, calibrando e voltando a calibrar até as fotos ficarem ao meu gosto.

– Ora viva! – O cumprimento caloroso soou mais alto e perto do que estava à espera. O vento soprava na direcção contrária da chegada de William e por isso não o consegui ouvir. Estremeci um pouco com o susto e felizmente o meu cérebro demorou apenas um milésimo de segundo para identificar o autor da voz, senão teria saltado para cima de William. – Desculpa, assustei-te. – Ele soltou uma gargalhada divertida.

– Olha que assustar as pessoas pode tornar-se perigoso. – Adverti-o com um misto de seriedade e humor na voz enquanto me virava na sua direcção.

– Uh. Terei isso em conta para a próxima. – Piscou-me um olho. – Como ontem não respondeste à minha pergunta pensei que não te encontrasse por aqui hoje.

– A resposta tinha 50/50 de probabilidades, porque pensaste logo que não vinha?

– Chama-me negativo se quiseres mas prefiro não contar com as coisas boas e quando elas acontecem eu fico muito contente, do que estar à espera que elas aconteçam e vir a desiludir-me! – Encolheu os ombros.

– É uma boa maneira de pensar. Nunca sais desiludido.

– Era bom que assim fosse. Na verdade, eu podia estar a contar que não estivesses aqui, mas se não te visse mesmo iria embora triste…e desiludido.

– Desiludido por uma desconhecida? Não deverias deixar que estranhos te influenciassem dessa maneira. – Brinquei.

– Pensei que tivéssemos passado essa fase depois do banho de ontem. – Apontou com o queixo para o mar e sorriu. Um sorriso inocente e brincalhão que me encheu o peito com uma calmaria desconhecida e me aqueceu a barriga. – Neste momento estamos na fase do “tenho pena se não te encontrar novamente no dia seguinte”.

Decidi ignorar esta última frase e permanecer em silêncio. Não queria que William me interpretasse mal. Eu não estava interessada nele, não tinha sequer cabeça para pensar em ter um relacionamento com alguém, fosse ele humano ou vampiro, neste momento. Havia imensa coisa a acontecer na minha vida e mais um “trabalho” era algo que dispensava.

– Também gostas de fotografias? – Perguntou William quando confrontado com o meu silêncio.

Como é que ele fazia com que aquelas mudanças de conversa soassem tão naturais quando normalmente se notava a tensão nas palavras das pessoas quando viam que eu não queria responder a certo assunto ou continuar uma conversa? Uma sensação de familiaridade assombrou-me.

– Sim. Viajo imenso em trabalho e por isso ando sempre com ela. Adoro documentar os lugares por onde passo. – Falei, por fim.

– E qual é o teu trabalho? – O seu olhar era interessado e atento.

– Costumava trabalhar para uma empresa, mas recentemente decidi lançar-me como freelancer. Faço pequenos documentários fotográficos que depois tento vender a revistas de turismo. – Bem, não era totalmente mentira. Sempre tivera este hobby e a minha capacidade de chegar a lugares que normalmente os humanos não conseguiam fazia com que se tornasse fácil vender alguns trabalhos e arranjar um dinheiro extra. Não que me fizesse falta, mas de algum modo gostava de pensar que estava a contribuir para o mundo humano. A parte da empresa, referia-me aos Volturi.

– Uau! Que emprego genial. Quando for grande quero um assim. – Mais uma vez o seu sorriso com covinhas fez a sensação inundar-me o peito.

– Então e tu? Estás em artes mas não sei bem o quê. – Retribui o sorriso, embora um pouco mais resguardado por causa das presas.

– Estou a estudar artes plásticas mas ao mesmo tempo estou a conjugar algumas cadeiras de arquitectura e cenografia. Quero criar coisas novas, coisas que as pessoas possam olhar e dizer “como é que ele se foi lembrar disto? Nunca me passou pela cabeça uma ideia destas”. Quero conjugar muitas artes numa só.

– Isso é fantástico, mas deve dar imenso trabalho. – Comentei estupefacta mas ao mesmo tempo contagiada pela sua energia.

– Sim, dá. Ás vezes mal tenho tempo para dormir ou comer. Fecho-me no atelier durante um dia inteiro e ninguém me vê. Mas quando se faz as coisas com gosto e vontade não cansa tanto e, ver o projecto finalizado compensa todas as horas de lazer perdidas. – William deixou-se cair na areia, à beira das minhas sapatilhas e pegou numa delas. – Posso fazer da tua sapatilha o que quiser?

– Desde que ela sirva o mesmo propósito quando acabares, sim.

Ele retirou da sua mochila uma caneta de bico fino e começou a sarrabiscar no tecido vermelho. Eu continuei a tirar fotografias a tudo o que me envolvia. Ao mar, às rochas, ao sol encoberto pelas nuvens, ao William. Ao fim de algum tempo sentei-me ao seu lado e observei o seu trabalho. Na lateral das minhas sapatilhas estava a nascer o esboço de uma cidade inteira. Com prédios altos rodeados de outros mais pequenos. Por fim, William devolveu-me a sapatilha.

– Agora tens uma cidade aos teus pés!

A analogia fez-me sorrir. Agarrei na sapatilha como se fosse algo precioso. Naquele momento aquele objecto ganhou um novo significado para mim. O vento começou a soprar mais forte e mais fresco, anunciando o fim de mais um dia.

Tínhamos chegado a um acordo sobre planos para aquela noite. "Jantaria" com William, na sua casa, se fosse eu a cozinhar. Passamos por uma mercearia antes e comprei algumas coisas de que precisaria para fazer uns bifinhos de peru com molho de cogumelos. A refeição foi preparada e acompanhada por um vinho tinto doce e frutado.

Ele falou-me da sua família em Inglaterra e dos seus amigos. Contou-me alguns episódios de quando era criança e eu inventei muitos. Falou-me dos seus sonhos, de projectos. Falamos de gostos, peculiaridades e teorias. Falamos de tudo e de nada. Como era fácil manter uma conversa com ele. O vinho ia desaparecendo da garrafa sem que William desse conta e este estava a ficar bastante alegre.

A conversa continuou já no chão da sala, onde juntamos muitas almofadas e nos aconchegamos, lado a lado, com uma manta. Nunca em momento algum William tentou avançar para algo mais. A conversa mantinha-se fluida, descontraída e alegre. Aos poucos, ele foi falando cada vez menos, as palavras começavam a baixar de tom no final das frases e a enrolar-se nas mais complicadas. Por fim, ele silenciou-se por completo e um ressonar baixinho deu lugar ao som da sua voz.

Observei-o por momento enquanto dormia profundamente. Não parecia o mesmo rapaz de 23 anos, tagarela e quase hiperactivo. Ele estava sossegado e parecia apenas um rapazinho. Passei-lhe a mão pelo cabelo penteando-o.

– Tu fazes-me tanto lembrar alguém. Mas quem?


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Notas finais do capítulo

Hoje veio um pouco mais tarde o capitulo, peço desculpa!!
Feliz halloween para todos!!



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