Past Vs Future escrita por letycia


Capítulo 3
Capítulo 3 - Expulso




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Capitulo 3

Expulso

Lutava ferozmente contra os meus instintos. Todos eles me diziam para atacar o próximo humano que visse, mas não o podia fazer, não o conseguia. A minha garganta ardia mais a cada minuto que passava. Angel andava um pouco mais à minha frente com passos rápidos e ritmados. De vez em quando ouvia-o expirar o ar com força por entre os dentes, depois, um breve olhar por cima do ombro. Para deixar de pensar no fogo que se instalara na minha garganta comecei a contar os passos. Quando cheguei aos cento e vinte e três passos, cruzamos uma esquina e avistei um edifício grande com a palavra “Hospital”.

- Angel, tive uma ideia. – Disse enquanto abria ligeiramente o passo para o conseguir agarra pelo braço e fazê-lo parar. Ele olhou para mim sem qualquer expressão na sua cara simétrica e perfeita. – E que tal se “assaltarmos” o hospital?

Os seus olhos negros atravessaram-me e de seguida olhou para o edifício à nossa frente. Franziu o sobrolho por breves segundos e depois voltou a encarar-me.

- Em que pensa exactamente? – Parecia estar a debater-se com algumas ideias.

- Podíamos ir ao banco de sangue e tirar alguns sacos. – Sorri com a ideia. Assim não teria que matar nenhum humano e poderia na mesma alimentar-me.

Após alguns minutos a encarar essa possibilidade Angel agarrou-me na mão e puxou-me para o hospital. Não tinha nenhum plano pensado, nem sequer sabia onde poderia encontrar o banco de sangue, mas ele parecia ter tudo planeado. Na entrada chocou com um médico e depois percebi que lhe tinha tirado o cartão do bolso. Ao passar pelo segurança mostrou o cartão tapando a foto com o dedo, não paramos nem abrandamos o suficiente para este ver que o cartão não lhe pertencia. Enquanto entravamos na zona restrita a pessoas que não pertencem ao serviço Angel atirou por cima do ombro um: “É uma emergência. A senhora está comigo.” para o segurança. Uma vez já lá dentro pareceu-me finalmente um pouco desorientado.

- Espere aqui só um pouco. – Deixou-me e entrou numa porta. Pouco tempo depois apareceu com uma bata branca vestida e outra para mim. Vesti-a assim que ma passou para as mãos. – Agora é a sua vez. O sangue está guardado em arcas frigoríficas por isso terá que encontrar o cheiro a gelo.

- Mas como é que se cheira o gelo? – Perguntei atrapalhada.

- Siga o seu instinto. – Pegou-me nos ombros e rodou-me de maneira a que ficasse à sua frente. – Feche os olhos e inspire profundamente. O que cheira?

Assim que o fiz arrependi-me logo, fui atacada por um forte cheiro a desinfectante, comprimidos, corpos mal lavados e sangue humano. Enruguei o nariz e baixei a cabeça. Angel apertou-me os ombros e abanou-me suavemente incitando-me a continuar. Preparei-me para mais um ardor no nariz e na garganta. Outra fungadela. Soro, metais, corpos putrefactos e um cheiro refrescante.

- Por aqui. – Abri os olhos e comecei a andar instantaneamente. Seguia aquele cheiro fresco pelos corredores sem me preocupar com quem estivesse a olhar. Passamos por umas portas grandes que tinham escrito Morgue e mais à frente a sala de onde provinha todo aquele cheiro que seguia. Abri a porta e sorri ao ver as arcas frigoríficas. Não se encontrava ninguém na sala pelo que nos foi muito fácil pegar em alguns sacos, metê-los dentro da carteira que alguém ali tinha deixado e sair do hospital.

Já no exterior entramos numa rua escura e sem casas de habitação. À nossa volta apenas havia fábricas abandonadas e algum lixo nas ruas. Abri a carteira e comecei a beber o primeiro saco de sangue fresco. Angel olhava para mim de nariz enrugado e uma expressão de nojo na cara.

- Quer um bocadinho? - Estendi o sangue na sua direcção.

- Não, obrigado. Eu não bebo sangue. – Disse enquanto levantava uma mão para afastar o saco do seu nariz.

- Não bebe sangue? Mas, não é um vampiro?

- Não. Sou uma outra espécie de coisa que nunca julgou que pudesse existir. – Um sorriso amargo apareceu nos seus lábios.

- Então é o quê? – Agarrei noutro saco de sangue e comecei a bebê-lo com sofreguidão.

Ele suspirou lentamente como se já tivesse respondido àquela pergunta centenas de vezes. Apertou as fontes e voltou a olhar para mim.

- Sou um anjo.

- Um anjo? – Perguntei um pouco chocada enquanto parava de beber abruptamente. – Mas, mas… - O meu cérebro começou a funcionar com toda a força. Se eu era um vampiro, o que significava uma coisa má, tirava vidas alimentando-me dos humanos e ele era um anjo, uma coisa boa, que leva as pessoas para o céu, provavelmente depois de os da minha raça se alimentarem delas, então, o que significava isto?

- Mas eu sou diferente. Agora, já não sou nada. – O seu olhar caiu para o passeio imundo e começou a chutar alguns papéis que ali se amontoavam.

- Não estou a perceber. Pode-me explicar melhor? – Parei de beber o sangue, queria ter toda a minha atenção concentrada nele.

Angel encostou-se ao meu lado contra a fábrica velha e olhou para o céu.

- Já fui um anjo. Exactamente como os humanos imaginam, brilhante, perfeito, com longas asas de penas brancas a voar por cima das nuvens. Vinha algumas vezes à terra e vagueava entre os humanos sem que me vissem.

- E o que vinha cá a abaixo fazer? – Interrompi-o. A minha voz não passava de um sussurro.

- Às vezes, em algumas situações de crise ou tensão eu era mandado para estabelecer a calma e a paz. Se um ladrão estivesse a assaltar uma loja eu podia fazer com que tudo decorresse sem que ele tivesse de disparar a arma, para não haver feridos ou mortes. Essa era a minha função. – Parou de falar, apenas encarava o céu.

- Disse que agora já não era nada… - Sussurrei com medo que ele parasse de contar a sua história.

- E não sou. Já não sou o que era. Já não sou um anjo. – Suspirou.

- O que aconteceu?

- Fui castigado. – Voltou-se de costas para mim e começou a tirar a camisa das calças, baixou os suspensórios e subiu a camisa até ao pescoço expondo as costas. Duas enormes cicatrizes em forma de V invertido eram visíveis. Tinha sido isso que reparara mais cedo nessa noite, quando ainda nos encontrávamos na cave e a luz das velas incidiu nas suas costas. – Arrancaram-me as asas!

- Oh céus. – Exclamei tapando a boca com uma mão. – Deve ter sido horrível.

- Numa noite em que vim até à terra encontrei dois vampiros recém-nascidos. Não passavam de adolescentes e quem os criara tinha-os deixado sozinhos. Estavam confusos e sem saber o que fazer. Ajudei-os. Mantive-me junto deles durante uns anos e cooperei nas suas matanças. – Ao ouvir a expressão “durante uns anos” franzi o sobrolho e Angel reparou. – Lá em cima o tempo não tem qualquer significado. Anos passados na terra são como minutos no céu. O tempo não importa quando se tem a eternidade. – Sorriu, um sorriso que não lhe chegou aos olhos.

- Foi por isso que te expulsaram? Por teres colaborado com vampiros?

- Não. Essa não foi a principal razão. É claro que seria severamente castigado por ter colaborado nas mortes de alguns humanos, mas…eu estava apaixonado. – Sustive a respiração nessa parte. – Apaixonei-me e esse é o pior crime que um Anjo pode cometer. Quando souberam que o meu amor pertencia a uma vampira não pensaram duas vezes em excluir-me. Arrancaram-me as asas e atiraram-me cá para baixo.

Aproximei-me dele e coloquei uma mão no seu ombro.

- Tenho muita pena Angel. – Ele colocou a sua por cima da minha mão.

- Já se passou muito tempo. Não se preocupe. – Sorriu na minha direcção. – Já encheu a barriga?

- É uma maneira de dizer. – Encolhi os ombros e lancei-lhe um sorriso de volta.

- Óptimo. Então vamos. Temos um longo caminho pela frente. – Começou a recompor-se metendo de novo a camisa para dentro das calças e os suspensórios no sítio.

- Vamos onde?

- Vamos ter com a família que me acolheu. Vamos para Itália, ter com os Volturi.

A viagem para Itália foi muito longa. Atravessamos o Oceano a nado e corremos o resto dos continentes até lá chegar. Angel não era um vampiro mas tinha uma resistência enorme. Nunca me pareceu realmente cansado durante a viagem, apenas um pouco mais lento do que eu. Em algumas situações, principalmente quando tínhamos como vista uma enorme vastidão de oceano ele comentava muitas vezes: “É nestas alturas que sinto a falta das asas.”.

Por fim chegamos a Volterra. Aquela pequena cidade Italiana não me fazia pensar que albergava a mais força de vampiros de sempre, os Volturi. Angel tinha-me contado tudo acerca da sua guarda e o porquê de termos ido para lá. Aro, o chefe da guarda, soube da minha transformação e pediu a Angel que fosse ter comigo para me levar até ele. Pelos vistos eu tinha algo que ele desejava conhecer.

Assim que chegamos ao enorme castelo Angel dirigiu-me até á sala principal onde se encontravam Aro, Caio e Marcus e alguns vampiros principais da sua guarda. Alec e Jane, os gémeos de quem Angel tanto me tinha falado que continham os poderes mais magníficos de toda a guarda. Demetri, o vampiro capaz de localizar qualquer outro e que tinha sido quem me localizara, Felix, segundo Angel este não tinha qualquer poder, apenas era dotado de uma grande força, e por fim, Eleazar. Este último era muito utilizado por Aro e conseguia aperceber-se dos poderes de outro vampiro, avisando assim Aro para que este não o matasse e em vez disso lhe propusesse pertencer à guarda.

- Sejam muito bem-vindos caros amigos. Angel, espero que tenha corrido tudo bem com a tua viagem! – Disse Aro enquanto se levantava do seu cadeirão real que se encontrava entre os dos irmãos e um pouco mais à frente, indicando assim, que ele era o líder.

- Correu sim, senhor. Trago-lhe o que me pediu. – Angel fez uma pequena vénia e afastou-se para me deixar isolada.

- Muito bem. – Aro percorreu-me com o olhar e esfregou as mãos uma na outra. – Como se chama menina? – Começou a dar pequenos passos na minha direcção.

- Caroline. – Respondi com apreensão na voz. Olhei para Angel mas este não estava preocupado, estava até bastante relaxado, como se finalmente estivesse em casa.

- Um nome muito bonito. Já ouvimos falar de si. – Aro olhou para Eleazar que me olhava fixamente sem vacilar. – Posso ver a sua mão querida? – Ele estendeu a sua na minha direcção e abriu-a, com a palma para cima.

Mais uma vez, olhei de relance para a única pessoa que conhecia naquela e ele acenou-me com a cabeça. Coloquei a minha mão esquerda na palma da de Aro. Ele agarrou-me suavemente e sorriu na minha direcção.

- Interessante, bastante interessante. – Mais uns momentos a fitar-me sem me falar, o seu olhar estava levemente desfocado como se estivesse a ver algo que não estava naquela sala. Por fim, focou-se em mim. – Deve ter sido uma queda e peras para não se lembrar de nada da sua vida humana. Chega a ser aterrorizante, não?

Acenei com a cabeça em concordância.

- Por agora, acho que já chega. Porque não vais tomar um banho e mudar de roupa até um dos nossos quartos aqui no castelo e depois voltamos a falar? Angel, acompanhas a Caroline? - Sem esperar por uma resposta Aro virou-me as costas e caminhou novamente para a sua cadeira. Angel conduziu-me pelos corredores longos e espaçosos.

Não sabia bem porquê, mas todo aquele cenário metia-me medo. Mas segundo Angel, os Volturi eram os únicos que me podiam ajudar e por isso teria que ficar ali. Mas teria que ficar no castelo?


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