Eu tinha meus gritos sufocados pelo meu travesseiro. Eu estava surtando, meu mundo tinha desabado. O punk rock que enchia o chalé de Zeus não me acalmava nem um pouco, talvez ajudasse a abafar as rachaduras que estavam nascendo no meu coração, mas apenas isso. A minha mente insistia em pergunta o porquê da traição dele.

Era triste lembrar-se de quando sai da forma de árvore, a primeira pessoa que entrou na minha linha de visão foi um garoto de cabelos pretos, o garoto que mais tarde eu descobri se chamar Percy Jackson. Annabeth me abraçou, eu não lembrava nada após os monstros que nos atacaram na floresta há anos atrás, eu tinha voltado à vida (apesar de ter perdido anos dela, e consequentemente nem presenciei o meu amadurecimento). Eu tinha voltado para descobrir que Luke tinha ido para o lado do mal. Que ele tinha jogado todo o sacrifício que fizemos no lixo.

Eu não sabia o que fazer, só podia ficar com minha mascara de indiferença, até poder chegar ao meu chalé e desabar sem os outros a minha volta. Eu não podia ser fraca naquele momento, a grande profecia estava nas minhas costas novamente, mas agora eu não tinha mais Luke para me reconforta.

Olhei em volta do chalé de Zeus, aquele dia tinha se passado há muitos meses, E u nunca achei que o chalé do senhor dos céus poderia se parecer tão triste, solitário e apavorante como naquele dia, como eu estava enganada.

Quando entrei na caçada eu tinha certeza que tudo ia melhorar, eu não teria que cumprir a profecia, eu estaria dando as costas a muitos problemas, nenhum Deus ia querer me matar naquele momento, eu não era mais a prioridade. Eu senti pena de Percy, ele assumiu o meu conhecido fardo, mas eu sabia que aquela profecia não se designava a mim. Achei que o herói seria Percy, mas novamente estava errada.

Eu entrara na caçada pelos motivos errados, Lady Artemis sabia disso, mas também sabia que eu não iria ir contra o juramento que fiz a ela. Lealdade era algo que sempre prezei muito, ironicamente isso me lembra de Luke. Mas para falar a verdade, tudo me lembra dele.

Inteligente, amigável, confiável e leal. Esta foi a minha primeira impressão dele (e isso sem contar que ele era um ótimo espadachim). A dor no meu peito aumentou, como eu sentia falta do filho de Hermes.

Ele morreu. Eu nem ao menos pude dizer adeus. Nunca pude proferir as três palavras que estão sufocadas na minha garganta até hoje: ”Eu te amo”. Isto pode soar muito filha de Afrodite, mas eu desejava muito poder falar, pelo menos uma última vez com ele.

Uma única vez eu pude provar os lábios deles, exatos dois dias antes deu virar pinheiro. Como ansiava em sentir aquilo de novo, mas eu sabia que apenas com ele eu teria a sensação que tive. Era reconfortante, com ele eu me sentia feliz, me sentia completa. Nós éramos uma família, nos três, apenas nós.

O destino de salvar o mundo é o fardo que nós, Heróis, carregamos. Este foi o culpado pela nossa separação. Queria estar junto a Luke quando foi necessário que ele fosse forte, este era o nosso combinado, sempre seremos fortes para manter a nossa família unida. Sempre seriamos fortes para, principalmente, dar um lar estável a pequena Annabeth. Esta era a nossa promessa. Talvez se todos nós tivéssemos conseguido chegar ao Acampamento, não existiria a guerra contra Cronos. A música acabou e começou a tocar She's a Rebel, do Green Day. Meu choro aumentou. Esta era a música que Luke dizia que me descrevia, ele dizia que era a minha música. Por que razão tudo que eu fazia me lembrava dele?

Eu chorei por mais um tempo, não sei quantos minutos ou horas. A cama do chalé de Zeus estava fria, assim como a minha alma. Em meio do cansaço causado pelo final da guerra e o excesso de choro, eu adormeci.

~*~

Eu senti meu corpo deitado sobre a grama molhada pelo sereno. Eu olhei o céu e vi as estrelas brilharem intensamente. Deveria passar da meia noite, mas eu não conseguia me lembrar de como havia chegado aquele lugar tão familiar.

Eu me sentei e reparei que não estava sozinha, ao meu lado estava o dono do meu coração. Luke. Ele estava sentado ao meu lado e me dirigia o seu sorriso, o sorriso que eu não via desde o nosso beijo. Eu sorri de volta. Quando eu reparei nele, notei que ele não estava normal,digo,ele estava em sua forma fantasmagórica.

Eu olhei em volta, agora compreendia a razão de a campina ser tão familiar. Era onde eu e Luke havíamos nos conhecidos. Lágrimas ameaçaram a deixar meus olhos, mas eu as seguirei. Eu encarei Luke, ele agora me fitava, como se deseja-se memorizar cada traço do meu rosto.

–Desculpe – Luke quebrou o silencio – eu sei que é meio tarde para pedir perdão – ele riu sem humor – desculpe ter te decepcionado. Eu não queria te magoar, mas eu não conseguia sabe? – eu estava atônica, apenas conseguia ouvir – era uma tortura viver no acampamento, olhar para todos os rostos felizes que não se importavam se você estava aqui ou não – eu abanei a cabeça negativamente,e a abri a boca para falar,mas ele me continuou – eu via o sofrimento dos que não eram reclamados,eles eram pessoas esquecidos e amaldiçoados pelos própios pais.Tinham que lutar contra monstros e nem ao menos eram reconhecidos pelos causadores daquela maldição.

– Luke eu... –quando fui falar ele me cortou

–Foi errada a maneira como eu tentei mudar as coisas, queria mudar minha decisão antes, mas eu não posso me redimir mais que isso. Apenas posso falar palavras vazias e esquecidas – ele voltou a me fitar

– Luke – eu comecei a falar novamente – você é meu Herói - algumas lágrimas caiam, mas eu sorri para ele – não direi que o que você fez foi certo, mas você se redimiu. Eu o perdoei por trair o Acampamento.

– Thalia – ele colocou sua mão fantasmagórica em cima da minha – você não pode me falar nada sobre perdão –eu o fitei intrigada – você é quem deve me pedir perdão,afinal não se pode roubar o bem mais precioso de uma pessoa e depois dizer que não fez nada de errado.

– O que eu roubei? –eu perguntei confusa

– O meu coração – ele respondeu simplesmente – você o tirou de mim no dia em que nos conhecemos – ele tocou o meu rosto, eu apenas sentia o calor de sua mão, mas não sentia a sua pele macia – tem ideia de como foi difícil viver sabendo que eu nunca mais a veria, você não estava nem viva nem morta, eu não sabia como ou se algum dia poderia te encontrar e esta é a pior forma de tortura do mundo, eu morria lentamente Lia. Você tem ideia do que é viver sem um pedaço de si? – agora Luke chorava tanto quanto eu – eu...

– Luke eu te amo – eu o cortei – e viver sem você é a minha punição

– Você me ama? –ele sorriu bobamente, mas ainda chorava

– Meu único lamento é não poder te dizer isso antes, eu sempre te amei, não importa a caçada, a profecia ou até mesmo Cronos. Eu te amo mais do que a mim mesmo e isso nem a morte pode arruinar Luke.

Luke se aproximou de mim, ele encostou os seus lábios no meu, não foi como anos atrás, mas o sentimento era o mesmo.

–Thalia meu tempo está acabando – ele fitava meus olhos – me promete uma coisa?- eu balancei a cabeça em concordando, meus olhos já estavam úmidos por ter que velo partir – seja feliz?Promete-me que não vai deixar de viver a sua vida – ele sorriu – eu quero vela nos Elísios comigo, mas só daqui a muitos anos. Eu te amo e esperarei a eternidade, mas, por favor, seja feliz Thalia,seja feliz por nós dois – ele estava ficando cada vez mais branco, ele estava voltando para o Elísios.

– Luke eu prometo que serei feliz, apenas saiba que te amo – foi tudo que eu consegui falar, ele sorriu para mim. Ele sorriu pela última vez antes de desaparecer.

~*~

Eu acordei. A dor da perda tinha melhorado, mas eu sabia que ela sempre estaria lá, pelo menos um pouco dela.

Eu desliguei o som e fui em direção à porta do meu chalé, eu estava indo me juntar às caçadoras. Cumpriria a minha promessa, iria ser feliz, seria feliz por nós dois.