- V-você conhece... Ela?

- Na verdade não, só sei quem é porque Jessica parece estar apaixonada por ela, esqueci de te contar sobre isso, aliás. – Yoona permanecia com a mesma expressão. – Por que?  Você a conhece, Yoongie?

Yoona finalmente desviou seus olhos de Yuri, olhou para o chão procurando palavras para explicar sua reação à amiga. Olhou para Sooyoung, a mesma aparentava estar confusa e curiosa.

- Sim, eu a conheço. – Baixou a cabeça.

- De onde, Yoon? Ah não, vai me dizer que vocês já – Foi interrompida por Yoona.

- Você também a conhece, Soo. – A mais alta se calou. Então ela realmente a conhecia como tinha pensado desde o início?

- Eu... Eu não me lembro de onde, Yoongie.  – Coçou a cabeça. Olhou para frente e o carro de Yuri continuava lá, com os dois conversando alegremente em frente a ele. Começou a reparar na expressão dela, em seus traços. De fato lhe era familiar.

- Lembra da Pearl? – E num piscar de olhos tudo fazia sentido. Sooyoung a conhecia, e muito bem. Yuri percebeu que estava sendo observada, olhou para as duas meninas ao longe. Pela sua expressão de espanto ela também se lembrava delas.

- Vem, falamos disso no caminho. – Yoona puxou Sooyoung que ainda parecia encaixar as peças no lugar. Ela não gostou nada de ter sido vista por Yuri, as lembranças que tinha dela em sua adolescência ainda a espantavam.

Flashback on

- Ela não gosta de mim, claro que não gosta! Eu sou tão burra, Soo, tão burra. Como alguém iria gostar de mim desse jeito? Eu sou feia. Feia e idiota. – Yoona chorava enquanto abraçava seus joelhos, a mais velha secava suas lágrimas, ajoelhada ao seu lado.

- Não, Yoong. Você não é feia, pare com isso!

- Por que ela fugiu então?  Porque sou feia, oras! – Yoona esfregava seus olhos vermelhos.

- Ela deve ter ficado confusa. – Olhou pra baixo, queria encontrar um jeito de confortar a amiga, pois achava que fazia isso muito mal.

- Eu não fiz nada, Sooyoung. Nada! Foi ela que me beijou. Você sabe que foi. – Começou a chorar de novo.

- Olha, isso tudo deve ser muito novo pra ela. Ela deve ter achado que você não gostou.

- Como?! Como eu poderia não ter gostado? – Gritava em meio aos soluços.

- Que cara você fez? – Sooyoung arqueou uma sobrancelha, sabia que a mais nova tinha dificuldade em expressar o que sentia.

- Eu não sei bem. Quer dizer, eu fiquei surpresa. Quando eu disse que gostava dela ela disse que me responderia hoje. Como eu ia saber que a resposta seria desse jeito?! – Sooyoung riu internamente.

- E o que ela fez depois?

- Ela só fugiu, Soo. Ela não devia ter fugido, eu me senti uma idiota lá parada.

- Tinha alguém por perto? – Yoona agora parecia ter se acalmado, mexia no cabelo enquanto se deixava ser abraçada por Sooyoung.

- Quando ela me chamou não tinha ninguém. Mas quando eu abri os olhos de novo tinha umas cinco pessoas, eu acho. – A mais alta gargalhou.

- Foi isso, Yoona. Ela ficou com vergonha.

- M-mas, Soo! Ela devia ter ficado lá comigo. – Yoona corava enquanto escondia o rosto no pescoço de Sooyoung.

- Vai falar com ela amanhã? – Acariciava os cabelos da mais nova.

- Eu preciso?

- Só se quiser. Não posso te obrigar.

- Tá, eu falo. Se ela quiser olhar na minha cara depois dessa, é claro. – Sooyoung riu, apertando o abraço.

Flashback off

- Lembra agora? – Caminhavam juntas até o apartamento de Sooyoung.

- Então... Ela era aquela garotinha? – Seu braço direito repousava nos ombros da mais nova.

- Sim, era. Minha primeira e única decepção amorosa.

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Seohyun’s POV

- Oh, aí está você. – Desviei meus olhos do livro que estava lendo. Olhei pra cima, era ele de novo.

- Como disse que estaria. – Dei um meio sorriso e fechei o livro. Droga, nem marquei a página.

- Então, vamos? – Passava os dedos pela franja, parecia nervoso. Era sempre assim.

- Sim, vamos. – Guardei o livro em minha bolsa e a coloquei em meu ombro. Sai andando em sua frente, olhei pra trás quando percebi que ele não tinha saído do lugar.

- Algum problema?

- É que... Bem... – Coçava a nuca enquanto sacudia a mão direita em sua frente. Ri internamente.

- Sabe que não temos que fazer isso agora, não é?

- Ah, sim. Claro. – Sorriu nervoso.

Saímos da biblioteca e fomos caminhando lado a lado até minha casa. Passamos grande parte do caminho em silêncio. Não tinha muito assunto com YongHwa, mas não o culpava por isso. Falávamos muito sobre música, parecia ser uma das poucas coisas que nos “unia”, mas logo o assunto morria e o silêncio se instalava por longos minutos. Por isso agradeço o fato de minha casa não ser muito longe da faculdade. Aliás, nossas casas. Ele era meu vizinho.
 
- Yong. – O chamei quando percebi que faltava menos de uma quadra para chegarmos.

- Hã, o que foi? – Olhou para todos os cantos, visivelmente espantado. Suspirei. Será que é tão difícil pra ele quanto é pra mim?

- Agora. – Sorri levemente. Apesar do nervosismo ele conseguiu me entender. Pegou em minha mão direita, entrelaçando nossos dedos. Por sorte minha mãe estava cuidando do pequeno jardim que havia na frente de casa.

- Oh, já chegaram? Como foram as aulas? – Nos abraçou com um sorriso largo no rosto.

- Foram ótimas, Umma. – YongHwa tremia, arranhei sua mão de leve para que se desse conta disso.

- Que ótimo, minha filha. Vai passar o resto da tarde conosco, YongHwa? – Deu tapinhas em seu ombro, confortando-o. Ele me olhou como se pedisse uma resposta. O encarei também. Ele sabia o que dizer, oras. Por que precisava da minha ajuda?

- Oh, Srta Seo, seria um prazer. Mas eu tenho uma reunião com o meu grupo de estudos, não posso ficar. Mesmo assim obrigado! – Sorriu para minha mãe. Ele até que se saía bem com ela.

- Ah, é uma pena, meu filho. Não se atrase para seus estudos por minha causa, ok? – Umma me olhava como se estivesse me agradecendo. Aquilo realmente lhe deixava muito feliz. – Bom, eu vou entrar porque ainda tenho muito o que fazer até seu pai chegar. – Entrou na casa deixando a porta aberta.

- Bom, então é isso. – Disse soltando nossas mãos. Antes de entrar me virei e acenei – Até amanhã.

- Ah, Seo. – Estava quase fechando a porta. Coloquei a cabeça para fora, ele ainda estava parado no mesmo lugar.

- Sim? – Coçou a nuca e olhou pra baixo. Olhou pra mim e abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu dela. Parecia que tinha esquecido o que ia falar. Sacudiu a cabeça como se estivesse espantando algum pensamento ruim.

- N-não é nada não. – Disse olhando pro chão. Achei aquilo estranho, mas não quis comentar.

- Ok. Até amanhã então. – Fechei a porta antes que ele demorasse mais dois séculos para me responder.

POV off

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Sunny’s POV

Mal me joguei na cama e o computador já apitava. Levantei a cabeça e apertei os olhos tentando ver o que seria. Skype. Já imaginava quem fosse. Enterrei a cabeça no travesseiro, estava cansada demais pra responder. Os barulhos começaram a ficar repetitivos. Insistência era o sobrenome de Kyuhyun. Levantei-me, me rendendo. Liguei o microfone e a webcam.

- O que você quer, sua praga? – Sua imagem se fez presente, sorriu ao ouvir minha voz. 

- Preciso que me ajude. – Seus olhos estavam vidrados, o único barulho que podia se ouvir era o de seus dedos batendo nas teclas.

- Como se você precisasse muito da minha ajuda. – Me observei enquanto ajeitava meu cabelo.

- Sunny, eu gosto de sua companhia. – Olhou pra câmera fazendo biquinho, seus dedos ainda teclavam. Eu sempre admirei a capacidade que ele tinha pra fazer duas coisas ao mesmo.

- Quanta meiguice, Minnie andou te ensinando algumas coisinhas? – Ri vendo sua expressão fofa morrer enquanto revirava os olhos. Não posso perder a oportunidade de provocá-lo.

- Haha, muito engraçado, Sunny. Morri de rir. E, aliás, sou eu que ensino coisas praquele paspalho.

- Fala como se você não gostasse disso. – Ele bufava. Eu me divirto tanto fazendo isso, sério.

- Não vejo problema em ajudar ele, só seria muito mais feliz se ele tivesse feito um maldito curso técnico antes de entrar pra maldita faculdade. – Sungmin, diferente de nós dois, não fez o curso técnico até o fim. Talvez por isso ele sinta muita dificuldade pra aprender a maioria das coisas. Kyuhyun não tem muita paciência pra ensiná-lo, mas sempre acaba cedendo. Acho que se ele não sentisse algo a mais pelo Sungmin já teria o matado.

- Você não pode culpá-lo, ele nunca pareceu muito interessado em Ciência da Computação mesmo.

- Só acho que ele podia pelo menos tentar se interessar pelo curso, ao invés de se interessar por outras coisas... – Sussurrou a última parte, mas consegui entender. Ele vive dizendo que Sungmin tem uma paixonite por mim. Pra falar a verdade, nunca notei nada. Ele é sempre tão educado e gentil com todo mundo. Acho que é só o jeito dele.

- Enfim, no que precisa da minha ajuda?

- Abra uma pasta oculta no canto superior direito do seu desktop, eu coloquei um jogo indie nela. Clique nele. – Nota mental: Não deixar mais Kyuhyun me esperar no meu quarto enquanto me arrumo no banheiro.

- Quantas pastas ocultas você já criou no meu desktop, Kyu?

- Algumas.

- Isso é invasão de privacidade.

- Se não quisesse que eu mexesse no seu computador teria protegido ele com senha.

- Tá. Não entendi esse jogo, tá tudo preto. – Me surpreendi com os gráficos. Não era algo como Starcraft, era apenas um jogo de plataforma em tons de cinza e preto.

- Ele é assim. A única coisa clara nesse jogo são os olhos do menino.

- Me sinto num filme do Tim Burton.

- Achei que só eu tinha pensado nisso. – Era relativamente simples: Você controlava um menino que pulava por aí e carregava algumas coisas. Apesar de básico era um jogo bem bonitinho. E um pouco depressivo também.
- Não acredito que você empacou num jogo desses, Kyu. Que noobice!

- Quero ver você dizer que é noobice quando chegar no primeiro boss, Sunkyu. Só estou insistindo nesse jogo porque é vergonhoso empacar em uma coisa que não pesa nem um giga.

- Estranho você me chamar pra jogar com você que nem nos velhos tempos, Kyu. O que Sungmin anda fazendo? – Ele realmente parecia ter me “trocado” desde que entramos na faculdade, há dois anos atrás.

- Ah, ele só virou um babaca depois que comprou um Xbox. – Não vi sua expressão, mas posso jurar que ele revirou os olhos.

- Sério? Ele não te chamou mais por isso?

- Claro que chamou, várias vezes. Eu que parei de ir. Ele comprou milhares de jogos de dança com aquele maldito kinnect.  – Dei uma risada. Sungmin sempre se mostrou mais artístico. Ele fazia parte do grupo de teatro no ensino médio e organiza os shows de talentos.

- Tá, acho que cheguei no boss. O que faço agora? – Patas de aranha apareceram no canto do cenário, bloqueando a passagem.

- Pois é, descubra. A aranha já me matou 10 vezes. – Gargalhei. O mestre Kyuhyun sendo massacrado por um joguinho que parecia simples era algo épico. Ouvi um barulho abafado pelo som dos fones, olhei pro lado e vi meu celular piscando em cima da cama.

- O que é isso?

- Meu celular. Espera, vou atender.

- Posso escutar?

- Pode, não vai ser a primeira vez mesmo. – Peguei o celular e me sentei na cadeira de novo, olhei o visor. Taeyeon.

- Oi, Tae! – Disse animada, escutei sua risada ao fundo.

- Oi, Bunny. Tá ocupada? – Kyuhyun estava prestes a falar algo, coloquei o dedo nos lábios pedindo que ficasse quieto. Ele assentiu fazendo cara feia.

- Não tô não. Por que, aconteceu alguma coisa? – Lembrei da conversa no banheiro de hoje mais cedo.

- Não, não aconteceu nada. A coordenação me procurou hoje na saída, eles estão pensando em reabrir os clubes de atividades diversas na faculdade. Liguei pra saber se você vai querer me ajudar nisso. – Taeyeon além de ser uma aluna exemplar também era presidente do grêmio estudantil.

- Oh, clubes de atividades diversas? – Repeti chamando a atenção de Kyuhyun que até parou de digitar.

- Sim, eles estão pensando em colocar algumas oficinas novas. Você pode chamar o Kyu também pra dar algumas ideias, se quiser.

- Chamar o Kyu? – Olhei pra tela e ele estava com aquele sorriso maléfico no rosto. – Claro que vou convidar ele. Amanhã, depois do intervalo, então? Ótimo, vamos sim. Beijos, Tae!

- Eu ouvi direito?

- Sim, meu caro. Eles vão abrir os clubes de novo! – Kyuhyun comemorava levantando os punhos.

- Sabe o que isso significa?

- Clube de xadrez? – Kyuhyun riu da minha expressão animada.

- Sim, sim. E clube de RPG também! – Sempre ficávamos muito animados com os clubes. Era uma maneira fácil e divertida de encontrar pessoas que gostassem das mesmas coisas que nós gostamos.

- Kyu, acho que matei o boss.

- O quê?! Como?

- Pega aquela coisa preta no canto e arrasta pra uma das patas da aranha.

- Por favor, é só isso? Perdi horas de progresso em Starcraft por causa disso? – Eu ria enquanto ele reclamava indignado.

POV off

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Yuri’s POV

Será que eu vi direito? Não, não posso ter me enganado tão feio assim. Era ela, com certeza era ela. Não mudou nada, continua a mesma. É como se o tempo não tivesse passado pra ela. Queria não ter me abalado tanto por causa disso. Já passou, eu não devia estar tão frágil assim. Sinto que deixei tanta coisa mal resolvida no passado que agora me arrependo. Vê-la hoje me fez sentir envergonhada, um pouco triste comigo mesma.
Eu já estava me preparando pra isso de qualquer forma. Mais cedo ou mais tarde Jessica iria me apresentar pra Sooyoung. Cheguei a duvidar de que ela continuasse “cuidando” de Yoona. Realmente, elas não se desgrudam. Mesmo depois de tanto tempo parecia que eu ainda estava vendo aquelas duas crianças de sempre. Seria ridículo se eu dissesse que não sinto falta delas. Principalmente da Yoona, ela era meu veadinho. O olhar que ela me deu de certa forma me machucou, eu queria ter ido atrás das duas, mas acho que isso só iria piorar a situação. No fim era tudo minha culpa mesmo.

- Yul, cuidado! – Minho gritou do meu lado no banco do carona, só então me dei conta de que ainda estava dirigindo. Uma senhora passou pela faixa de pedestres me xingando.

- Ah, desculpa. Acho que me distraí. – Quanto tempo será que fiquei pensando?

- Não quer que eu dirija? Você não parece bem, amor. Você tá pálida. – Olhei no espelho retrovisor, parecia que eu tinha visto um fantasma. Normalmente eu fico assim quando me sinto triste, mas não queria falar disso pro Minho. Estávamos namorando há cinco meses, ele não me conhecia tão bem ainda, mesmo assim não queria preocupá-lo com coisas bobas.

- Eu tô bem, Min. Sério. – Selei nossos lábios em um beijo rápido para tranquilizá-lo.

- Tudo bem então, se você diz. – Disse sorrindo. O sinal abriu e segui o caminho de volta conversando com Minho para que não me distraísse de novo.