Yuri’s POV

Já faz algumas horas que eu não sei mais o que é sono. Estou aqui, me virando pra todos os lados. Sozinha. Quase nunca peço para Minho ir pra casa, mas hoje senti que precisava de espaço. Raramente me sinto do jeito que estou agora, confusa. Fecho os olhos e me lembro de Jessica. Eu realmente não a entendo. Por que teria feito aquilo? E por que daquele jeito? Acho que ela está me odiando agora. Você é tão burra, Yuri. Estragar uma amizade por causa de um capricho... Acha que todos são um bando de pervertidos que nem você e seu namorado?

Me levantei, cansada de brigar comigo mesma. Fui até a cozinha e tomei a única coisa que me faria dormir. Já faz um tempo desde que precisei de um desses. Voltei pra cama e esperei fazer efeito.

–Horas depois-

Nunca entendi porque acordo com dor de cabeça quando tomo essas coisas. Olhei pro relógio que marcava 10:09. Era mais um dia em que eu não teria aula pela manhã. Sem aulas, sem Jessica. Uma boa coisa a respeito dos comprimidos é que nunca consigo lembrar dos meus sonhos. Certamente ela estaria neles.

Tomei um banho e saí de casa totalmente sem rumo. Primeira vez que saía sem um destino, sem algo pra fazer. Andei por ruas completamente desconhecidas, apenas esperando que minha dor de cabeça cessasse. Olhei para os lados e por alguns segundos tive medo de estar perdida, até que avistei a biblioteca local. Eu estava no centro, não fui tão longe assim. Fiquei observando aquele edifício envelhecido por algum tempo até decidir entrar. De fato era um lugar bastante tranquilo, uma típica biblioteca. Estava praticamente vazia, um silêncio cortante. Caminhei pelos arredores, por entre as prateleiras de madeira, vez ou outra observando algum livro com capa ou título cativante.

Uma silhueta conhecida atraiu meus olhos, do outro lado da biblioteca onde ficavam as mesas. Estava sentada, tinha alguns livros a sua frente, mas não os lia, apenas os encarava. Senti um nó na garganta, a dor de cabeça já não me incomodava mais. Já fazia muito tempo, não sabia como começar uma conversa depois do tanto que aconteceu. Dei de ombros, eu estava me sentindo deslocada, precisava conversar com alguém. De fato ela era a pessoa perfeita agora, sempre foi.

- Hey. – Sentei em uma cadeira vaga ao seu lado. Me olhou por alguns segundos e então sorriu. Pude ver que estava surpresa.

– Unnie, o que faz aqui a essa hora? – Sorri internamente por ter me chamado de unnie. Apesar de tudo, continuava sendo a Yoongie de sempre.

– Eu que lhe pergunto isso, dona Im. É um dos últimos lugares em que eu esperaria te encontrar. – Pôs a mão na boca e riu contidamente.

– Eu sei, às vezes nem eu me reconheço. Agora faço parte do clube do livro. – Empilhou os quatro livros à sua frente. Passaram-se uns dois minutos de silêncio, Yoona concentrada em sua pilha e eu observando meus dedos. – Y-Yul?

– Dae? – Sorri com a quebra do silêncio.

– Eu posso te abraçar? – O olhar dela era o mesmo de anos atrás. Aquela perguntou me deu uma pequena nostalgia, mas ao mesmo tempo me alegrava.

– Você... Quer me dar um abraço porque acha que eu preciso de um agora ou por que realmente quer um? – Pigarreei.

– Aish, babo! Eu nem devia ter pedido permissão. – Envolveu minha cintura e escondeu o rosto em meu ombro. A apertei contra mim, me controlando pra não chorar. – Você não me respondeu por que está aqui. Não está no clube do livro pelo que eu saiba. – Riu contra meu pescoço, me fazendo rir também.

– Eu precisava pensar. – Parti o abraço e ajeitei seus cabelos.

– Parece triste, unnie. – Desviei o olhar. – Jessica? – Omona, é tão perceptível assim?!

– B-bwo? – Arregalei os olhos.

– Não sei... – Coçou a nuca. – Vocês são tão próximas, achei que ela fizesse alguma diferença pra você.

– Faz... Mais do que deveria. – Disse em um suspiro. Yoona sorriu.

– Você gosta dela, unnie. – Ri da afirmação. Não iria negar, não dá pra esconder esse tipo de coisa dessa shikshin. – E está confusa por causa do Minho. – Céus, essa menina me assusta às vezes.

– Adoro o fato de estar conversando comigo e respondendo por mim. – Ri.

– Eu te conheço, unnie. Não me subestime! – Cruzou os braços e inflou as bochechas.

– Desculpe te incomodar com essas coisas. – Olhei pra baixo, ela levantou meu queixo com os dedos.

– Você nunca me incomodou antes. Eu gosto de te ajudar, sinto sua falta, unnie... – Não sei por quanto tempo vou conseguir ficar sem chorar. Morder a língua não funciona pra mim, senhorita Jung.

– Ela me ensinou a segurar o choro. Mas acho que não funcionou muito bem... – Disse rindo enquanto ela limpava uma lágrima minha com o polegar.

– Você tem que falar com ela.

– N-não! Ela me odeia, se eu for falar com ela vou sair com um olho roxo. – Riu do meu desespero.

– Mas você precisa falar com ela. Onde está a Yuri que tomava decisões rápidas?

– É diferente, Yoongie...

– Não é. Seja honesta com o Minho e vá falar com ela antes que seja tarde demais. Não deixe ela ir embora que nem eu te deixei ir... – Suspirou. Ela tinha razão, apesar de não saber de toda a história. Se eu falasse pelo menos não correria o risco de perder a amizade de Jessica.

– Já te disse que você é um gênio? – Sorriu convencida.

– Eu sei disso. – Lhe dei um abraço apertado e me despedi. Isso não passaria de hoje.

Yuri’s POV off

– Aish, por que meus próprios conselhos nunca vão funcionar comigo? – Apoiou os braços na mesa e deitou a cabeça sob eles.

–---

Hyoyeon estava no refeitório, concentrada no livro dessa semana. Era algum tipo de romance policial, um pouco chato e repetitivo segundo a loira. Estava quase o terminando mesmo sem ter mostrado interesse na história. Massageou as têmporas com a ponta dos dedos para aliviar uma possível dor de cabeça que se aproximava. Marcou a página do livro e o fechou. Riu do nome do mesmo na capa. “A Farsa” de Christopher Reich. Descansou os cotovelos na mesa e apoiou o queixo nas mãos. Fechou os olhos por um breve momento e recordou-se do trecho de uma música que estava escutando no caminho pra faculdade.

– “Apado, apado... Gaseumi apahaedo.” – Aproveitou a solidão do refeitório para cantá-la. – “Nunmuri malhajanha, bonaeya handago. Oh my love, I... Can’t be with you, anirago haedo.”

– “Seulpeohal siganjocha…” – Hyoyeon virou-se rapidamente encontrando uma moça de cabelos curtos e azulados, com um sorriso tímido no rosto. – “... useumyeo sarajwo.”

– Oh, Annyeong Jiyoung! – Jiyoung curvou-se.

– Annyeong, unnie. Desculpe se te atrapalhei. É que... Eu também gosto dessa música. – Sorriu fazendo Hyoyeon sorrir também.

– Não, você não me atrapalhou. Só achei que estivesse sozinha. – Fez sinal para que a mais nova se sentasse ao seu lado. – Eu que tenho que te pedir desculpas pela minha voz desafinada.

– Não é verdade, unnie! Você tem uma voz muito bonita. – Hyoyeon sentiu suas bochechas esquentarem, desviou o olhar do sorriso de Jiyoung por um momento. – Unnie?

– S-sim?

– Eu não gostei desse livro. –A loira riu.

– Que bom, pensei que tivesse sido a única. – Jiyoung deu um risinho.

– A parte que você tá lendo é muito chata. – Apontou para o marcador. – Mas fica um pouco pior depois. – Disse divertida.

– Omo... Sempre tem como piorar. – Hyoyeon apoiou os braços na mesa e afundou a cabeça neles.

– A única parte boa é quando acaba. – Riram juntas.

– Você acha que eu consigo enganar a Seo se eu mentir que li todo? – Hyoyeon tinha um sorriso travesso no rosto.

– Quer praticar os seus dons de representação, unnie? – Jiyoung estreitou os olhos.

– Claro! Se quero ser uma boa atriz podia pelo menos treinar um pouco. – A mais nova riu contidamente.

– Eu posso te contar o livro, se quiser. – Disse brincando com os dedos.

– Oh, isso seria ótimo. – Jiyoung sorriu em resposta. – Jing?

– Dae?

– Não sabia que cantava. – A mais nova sacudiu a cabeça levemente.

– Mas eu não canto mesmo, unnie.

– Tem certeza? Eu senti muito preparo no seu timbre. – Jiyoung coçou a nuca.

– Bem... Eu cantava no coral quando era mais nova. Então de qualquer forma eu pratiquei um pouco sim. Mas acho que toco melhor do que canto! – Hyoyeon sorriu.

– Eu adoraria ver isso um dia.

– Posso te mostrar agora, unnie! Eu deixei meu violão na sala de música. – Disse animada.

– Que ótimo, vamos pra lá então. – Disse Hyoyeon levantando-se. Caminhavam lentamente lado a lado até a sala de música. Conversavam banalidades até avistarem um rosto conhecido.

– Noona!! – Hyoyeon deixou-se ser abraçada pelo rapaz moreno de cabelos curtos. Jiyoung suspirou olhando para baixo, a situação lhe deixava desconfortável. – Ah, Annyeong Jiyoung-ssi! – Curvou-se.

– O que faz aqui tão cedo, Onew?

– Ah, eu tive uma reunião com meu grupo de encenação. Aliás, vocês já começaram a se reunir também? – Perguntou o rapaz que tinha se juntado as duas no meio do caminho.

- Isso me lembra de que tenho que encontrar a Seo e a Yoona pra montar uma esquete. Você já tem um grupo, Jing?

– Sim, sim. Dara unnie me convidou.

– Oh, que pena. Meu grupo é tão pequeno. – Fez beicinho, fazendo Jiyoung sorrir.

– Se precisar de alguma coisa eu posso ajudar, noona. – Disse Onew quando percebeu que estava sobrando. Jiyoung apenas revirou os olhos disfarçadamente.

– Obrigada, Onew.

– Pode contar comigo também, unnie.

– Obrigada, Jing. – Hyoyeon sorriu para a mais nova e então franziu a testa. Achou estranho o comportamento dos dois, mas não quis tirar nenhuma conclusão precipitada.

– Para onde estão indo? – Perguntou notando o quanto já tinham se afastado do refeitório.

– Para a sala de músi... – Jiyoung parou de falar quando percebeu que Onew estaria junto. Sacudiu a cabeça de leve e tentou pensar em uma boa desculpa. Queria muito poder mostrar sua música para Hyoyeon, mas apenas para ela.

– Jiyoung? Tudo bem? – Hyoyeon estranhou seu comportamento.

– Ah, t-tudo sim, unnie. Mas eu tenho que ir agora. – Onew apenas observava com as sobrancelhas arqueadas.

– Por quê? O que houve?

– Não é nada, unnie. Apenas me lembrei de que eu tenho uma consulta médica depois do almoço. Eu sinto muito, vamos deixar pra outro dia. – Curvou-se rapidamente e deu meia volta.

– Não vai buscar seu violão? – Gritou enquanto a mais nova se afastava,

– Eu busco depois! – Hyoyeon suspirou.

– Estranho... – Disse Onew.

– É. Bom, já é quase meio dia. – Olhou para seu relógio de pulso e sorriu para o amigo.

– Vai almoçar aqui, noona?

– Eu adoraria, mas tenho pouco dinheiro.

– Eu pago seu almoço! – Sorriu animado.

– Oh, não é preciso, Onew. Eu não ficaria confortável.

– Ah... Tudo bem. Mas o que acha de eu pagar as entradas pra um cinema nesse fim de semana? Pra compensar o almoço de hoje? – Hyoyeon riu internamente do quanto o amigo podia ser indiscreto.

– Se é assim, não vejo problemas. – A loira riu contagiando o rapaz.

– Ok então! Tenha um bom almoço, noona. – Abraçou Hyoyeon depositando um beijo em sua testa logo depois. A loira corou aos poucos.

– O-obrigada. Você também. – Acenou para Onew ao longe e então seguiu seu caminho para casa. Era difícil de admitir, mas talvez Yoona estivesse mesmo certa.