Eu esperava aquela pessoa, que tomaria a caneca de chocolate quente entre as mãos delicadas, na mesa de sempre. Porque sem ele, meu dia não era o mesmo.

Eu já conhecia cada uma de suas ações.

Entrava na pequena cafetaria, abanava seu casaco para retirar a pouca neve que cobria seu casaco em uma fina camada. Depois observava o local, fechava os olhos deixando um sorriso pequeno transparecer e, por fim, se dirigia à sua mesa e pedia o costumeiro chocolate quente.

Eu também sabia exatamente o que acontecia depois de ele receber o chocolate quente.

Pegava a caneca entre os dedos longos e finos, fechava os olhos abrindo um sorriso sonhador, e sentia o cheiro da bebida. O que vinha a seguir era delicadamente cómico, porque, não importava quantas vezes acontecesse, ele repetia, num ato do mais puro e adorável clichê.

Ele levava a caneca à boca gordinha, sem perceber o que estava prestes a fazer, e então se queimava. Eu ria baixo, sabendo que em seguida arregalava os olhos e engasgava engraçadamente, olhando para os lados, vendo se alguém havia percebido. Então, por fim, ele suspirava e ficava tenso, dando tão pequenos goles cuidadosos, que até mesmo me deixavam na ansiedade do líquido finalmente acabar. Ele sempre demorava imenso.

Eu era apenas um homem sonhador, ou, um observador bobo. Eu somente apreciava, de esguelha, aquele ser que eu poderia considerar sublime, com ações tão previsíveis para mim, que já o apreciava há quase um ano. Era um demente encantado por ele, que unicamente desejava falar com ele, desejava que aqueles dentes infantis fossem mostrados para mim. Ouvir a voz que jamais tinha tido a oportunidade de amar, assim como já amava seus atos, seu jeitinho tímido e baralhado.

Era estúpida a forma de como eu nunca chegava perto dele, de como eu saía de casa pensando em falar com ele, me enchendo de uma coragem. Coragem essa que sumia assim que ele entrava na cafetaria, para continuar com aqueles feitos rotineiros, mas que nunca perdiam a graça.

Eu adorava a forma com que ele cruzava as pernas e ficava apenas vendo a neve cair, do lado de fora da cafetaria, com uma calma incomum.

E enquanto o observava de longe, eu ficava divagando, tentando adivinhar no que ele pensava. O que ele fazia da vida, suas preocupações, se é que ele as tinha. Já que ele sempre tinha aquele olhar calmo, aquele sorriso lindo demais para ser real.

Deus, eu poderia observá-lo o resto da minha vida… Poderia me contentar em vê-lo morder os lábios envergonhado, poderia me contentar em vê-lo beber aquele chocolate quente com cuidado obsessivo. Sem ao menos saber seu nome, ou sua idade. Porque aquilo era o que menos interessava.

Mesmo que ele nunca me visse, que nunca soubesse da minha existência, eu estaria feliz observando seus gestos cuidadosamente calculados, repetitivos, viciantes, e cada vez mais indispensáveis em minha vida.

Eu me contentaria em vê-lo de longe. Desejando a ele tudo de melhor.

Desejando que ele tivesse carinho, amizade, saúde, paz… e principalmente amor.

Sim, eu lhe desejo amor…