Better In Time escrita por Juliana Natelli


Capítulo 4
A Festa (Parte II)


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta e trazendo mais um capítulo! Bom, se alguém ler, seria legal que deixassem um reviewzinho, pelo menos pra saber o que estão achando!
Bjoooos!



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Arnold remexeu o colarinho, ainda sentindo calor. Foi quando ouviu alguém falando com ele e se sobressaltou, fazendo um movimento brusco em direção à sacada.

- Cuidado! – sentiu alguém o puxando para trás. Ergueu os olhos assustados para a pessoa que o ajudara.

Por um momento, Arnold não a reconheceu. Primeiramente, porque sua visão estava um tanto desfocada. Sabia que ter aceitado beber mais alguns drinks não lhe faria bem... Mas agora ele não tinha cabeça para lidar com o seu deslize. Teve que semicerrar os olhos para a imagem ficar mais nítida. Os olhos, ele conhecia aqueles olhos.

- He-Helga? É você? – perguntou. Só então notou o quão diferente a garota estava do habitual. Provavelmente seu pensamento era fruto do álcool em sua corrente sanguínea, porém, não podia deixar de pensar em como a loira estava elegante e, tinha que admitir, até mesmo sexy.

É, devia ser a bebida afetando seu cérebro.

- Mas é claro que sou eu, seu... – Helga conteve o impulso de ofendê-lo. Ela não precisava e nem queria, mas havia se tornado tão automático com os anos, que ainda era difícil se refrear. – Er... Sim, eu mesma.

Arnold piscou lentamente tentando assimilar a cena. Helga percebeu seu comportamento estranho, mas não comentou. Porém, ficou um pouco irritada que o garoto ainda a encarasse.

- O que é? – ela indagou, tentando conter a agressividade.

O loiro balançou a cabeça, como se aquilo fosse ajuda-lo a se restabelecer.

- N-nada, desculpe.

Aquele jeito educado e constrangido de falar de Arnold provocou um leve rubor na face de Helga, que ao sentir seu rosto esquentar, virou-se para a sacada, fingindo observar as luzes da noite.

- O que veio fazer aqui? – Helga questionou, ainda sem olha-lo diretamente. – Quando cheguei parecia que você estava morrendo de asfixia, ou sei lá...

Ele deu uma leve risada. A loira sentiu um rebuliço no estômago.

- Não, é que estava muito quente lá dentro. Eu precisava de um pouco de ar.

- Ah...

- E você?

Os olhos de Helga foram imediatamente direcionados a Arnold graças a sua pergunta. "Eu? Por que eu vim para cá? Oras, porque o vi e não pude me conter, e... Se concentre, Helga! Não pode dizer uma coisa dessas!"

- B-bom, estava meio cheio lá e eu detesto lugares lotados.

- Entendi...

"Ufa, essa foi por pouco..." ela pensou.

Arnold estava alcoolizado demais para notar o óbvio nervosismo da garota. Aliás, tão alcoolizado que estava perdendo totalmente o controle de sua língua e...

- Você dança, Helga?

- O QUÊ? – Helga quase chiou.

- É, dançar... Eu gosto dessa música que está tocando.

- N-não! Nem pensar! Como disse, lá está um caos e você vai pisar nos meus pés, ou...

- Vamos, Helga! Qual é? A gente já dançou antes, naquela vez quando tínhamos dez anos, não se lembra? Que você fingiu não estar enxergando.

- E acabei ensopada! Essa ideia é terrível, obviamente só podia ter sido pensada por um gênio como você.

Arnold revirou os olhos, cansado de discutir.

- Ok, mas eu vou entrar. Já tomei o ar que precisava – o garoto foi andando em direção à porta.

Quando ele a entreabria, Helga o impediu. Seu rosto mostrava menos arrependimento que realmente sentia, mas já era alguma coisa.

- Espere! – ela se aproximou.

Arnold a olhou, curioso.

- Er... – Helga iniciou. Aquele olhar do loiro apenas a preenchia com mais apreensibidade. Finalmente, o lado mais direto e insensível da garota prevaleceu e ela deu um grunhido de irritação. – Vamos logo com isso! – agarrou o pulso de Arnold e o arrastou para dentro com ela.

Ao chegarem à pista de dança, puderam ver que estava bem cheia. Os convidados estavam animados e sua energia era contagiante. Arnold estava um pouco zonzo, mas reconheceu vários rostos de colegas da escola, dentre eles Eugene que tentava fazer passos exagerados e que provavelmente haviam sido populares há umas três décadas. Sheena tentava desesperadamente o tirar de lá ("O seu braço ainda está engessado, Eugene! Está tentando se matar?" Ela usava todos os argumentos que tinha, embora fossem inúteis).

Aquela coragem incomum em Arnold o fazia querer se mexer no ritmo da batida. Normalmente, ele não faria uma coisa dessas, algo tão descontraído assim, pois sentia vergonha. Entretanto, o bom-senso o havia abandonado temporariamente.

Antes que Helga lhe dissesse qualquer coisa, ele já estava dançando. A garota não estava muito confiante, mas ao ver que uma menina de cabelos castanhos estava ganhando ânimo para dançar com Arnold, adquiriu a confiança que lhe faltava. Após um olhar nada simpático àquela morena, chegou mais perto do loiro, permitindo que seus braços e pernas se movessem levemente.

- Se mexe, Helga! Parece uma morta-viva.

- Como é!? – ela ergueu seu punho para ele.

Arnold levantou as mãos no alto em rendição.

- Tudo bem, não falo nada.

Apesar de fazer uma expressão de aborrecimento, Helga começou a se empenhar mais em seus movimentos depois do comentário de Arnold. Mais alguns minutos se passaram e, duas músicas e meia depois, a loira conseguira encontrar seu ritmo e dançava euforicamente, esquecendo-se completamente da ansiedade e dos demais. O garoto tinha esse poder de deixa-la confortável com algumas situações, mesmo que fosse difícil trocar muitas palavras com ele sem perder o controle no dia-a-dia.

- Viu só? – Arnold disse, sorrindo. Sua voz era abafada pelo som, mas Helga conseguia escuta-lo.

Ela revirou os olhos, recusando-se a dar o braço a torcer, porém, deixou um sorriso de lado escapar.

Sim, Arnold tinha que admitir, estava se divertindo. Certo, ainda era Helga, a garota que mais o detestava no mundo que dançava com ele. Mas uma coisa que sempre defendeu era que a mais nova Pataki podia ser legal e agradável quando queria. O problema era a pouca frequência com que ela tinha tal vontade.

Helga também estava gostando do momento. Em parte, porque era algo quase inédito. Não se recordava de muitas vezes em que os dois estavam simplesmente sendo eles mesmos, sem nada os forçando a interagir. Aquilo estava rolando naturalmente. Outra razão era que a proximidade entre eles era considerável, permitindo que Helga pudesse olhar bem de perto as feições do garoto pelo qual era apaixonada havia tanto tempo.

"Nós podíamos nos dar bem assim sempre..." ela sonhava acordada, imaginando os dois como amigos na escola, fazendo atividades juntos, saindo para lugares em toda a cidade e, é claro, o momento em que ela confessava seus sentimentos. Sua mente já podia projetar um Arnold loucamente apaixonado, dizendo o quanto era recíproco o que o próprio sentia, quando...

- Lila! – ele gritou e o coração de Helga despencou.

O olhar do garoto estava fixo em algo. Helga teve apenas que se virar ligeiramente para avistar a ruiva a alguns metros deles, encostada numa parede. Aquele sorrisinho insuportável no rosto da outra deixava a loira irada por tê-los interrompido.

- Com licença, Helga. Preciso fazer uma coisa.

E, sem "mas", Arnold começou a ir a caminho de Lila.

Era isso. Aquele momento tão incrível havia acabado de forma desastrosa. Ele basicamente preferia a companhia de uma garota que não era Helga. Sequer podia impedi-lo, não haveria o que dizer em protesto. Apenas o observava partindo, sentindo um formigamento nas pálpebras.

"Droga, droga, não ouse chorar!" Helga se repreendia. Mas era tão injusto! Ele estava com ela! Por que aquela maldita da Lila apareceu? Era tão difícil Helga ganhar alguma atenção de Arnold e logo quando havia conseguido, a Srta. Perfeição tinha que interromper com a sua simples presença. Ah mas como Helga a odiava naquele momento. E a odiou ainda mais quando sentiu a lágrima escorrendo pela bochecha.

- Porcaria! – praguejou, indo a procura de um banheiro.

x-x-x-x

A singela visão de Lila já o fez sentir um arrepio na espinha dorsal.

"Eu já a esqueci, não tem nada demais..." ele tentava se convencer. Mas aquela sensação que invadira seu estômago lhe dizia o contrário. Meu Deus, Lila estava tão linda em sua blusa de renda branca e saia verde nos joelhos, que era impossível continuar dançando. Antes que pudesse raciocinar, já havia gritado seu nome. "Merda." Agora ela estava olhando para ele. Ah, pronto. Aquele sorriso era tudo que precisava como incentivo para se aproximar.

Deu uma desculpa qualquer a sua companhia atual e... Com quem ele estava dançando? Oh sim, Helga, e foi andando até a ruiva. Arnold estava certo de que por maior que fosse o sorriso estampado em Lila, o seu próprio era no mínimo duas vezes maior.

- Oi – ele balbuciou um cumprimento.

- Olá, Arnold! Que bom que veio.

O loiro deu uma risadinha nervosa, coçando a nuca.

- É, também é bom te ver por aqui.

- Então, estava dançando um pouco?

- Isso, eu estava sim, com a... – fez um sinal com a mão, olhando por cima do ombro em busca de Helga. Foi quando percebeu que ela não estava mais lá. – Bom, deixa pra lá – disse, sentindo-se meio bobo por apontar para o nada.

- Muito agitado aqui, não é? – ela comentou, analisando o espaço brevemente.

- Verdade, bastante – Arnold disse, sem nada melhor em mente.

Era tão estranho. Há anos que Arnold dizia a Gerald que não gostava mais de Lila daquela maneira, e o moreno sempre duvidou de sua palavra. Talvez seu amigo o conhecesse melhor do que ele mesmo. Mas é claro que sua condição meio instável do momento devia ter algo a ver com aquilo.

- Quer algo para beber? – ele ofereceu, pegando dois copos de um garçom que passava.

- Oh não, eu não bebo – acenou educadamente. – Mas se quiser, pode tomar, não me incomodo.

De fato, Arnold estava já virando um dos copos que segurava, mas com aquele comentário parou bruscamente. Acabou engasgando.

- I-imagina, eu também não bebo... Qu-quer dizer, eu bebi um pouco mais cedo, mas juro que não faço isso sempre! Na verdade, não sei como deixei o Gerald e o Stinky me persuadirem e... Por que estou com esses copos!?

Lila riu levemente.

- Arnold, tudo bem. Eu sei que você é um garoto direito. É que realmente não estou com sede alguma.

- Certo – ele corou ligeiramente.

- Sabe, não sou muito de participar de festas como essa. Mas às vezes é bom ir a algumas, para conhecer pessoas e conversar.

- É... – Arnold notou que a maior parte das pessoas encostadas nas paredes estava se beijando, mas tentou não se distrair. – Claro, conversar...

Por que ela tinha que estar tão bonita? Ele só queria se aproximar e poder tocar em seus cabelos, que pareciam tão macios. Sentir seu rosto. Seus lábios. Oh não, a coisa estava saindo de controle. Algo lhe dizia que devia se retirar imediatamente, antes que fizesse uma besteira. Porém, uma urgência dentro de si pedia exatamente pelo oposto.

- Lila, tem algo que eu queria te dizer.

Lila o olhou com toda a atenção.

- Eu...

Hora errada. O celular da ruiva começou a tocar. Ela o atendeu sem hesitação, deixando Arnold se amaldiçoando pelo que quase fez. Após uma chamada de não mais que vinte segundos, Lila deu um sorriso triste ao garoto.

- Desculpe-me, Arnold, mas meu pai já chegou para me buscar.

- Já? Mas é cedo...

- Tenho que ir ao abrigo de cães amanhã de manhã, então não posso dormir muito tarde. Bom, foi legal te ver. Até depois! – deu um aceno de despedida a Arnold e foi embora.

Rapidamente, os dois copos nas mãos do loiro foram esvaziados. Ele estava se sentindo péssimo. Seu estômago, também.

x-x-x-x

Helga não conseguia enxergar direito. Sua visão estava embaçando por causa das malditas lágrimas que ela não conseguia conter. Que droga, Arnold! Que droga, Lila! "Talvez os dois se mereçam, afinal." Pensou no auge de sua frustração.

Finalmente, a loira encontrou um banheiro. Sem tempo ou paciência, foi simplesmente entrando sem antes constatar se havia alguém ali. Erro infeliz aquele. Assim que pôs seus pés no piso frio de azulejos, Helga deparou-se com um casal que estava bastante à vontade.

Sid e Nadine quase pularam com o susto, a loira ajeitando a alça do vestido e o moreno arrumando desajeitadamente os cabelos.

Helga os olhou com repulsa, mas não tinha como se preocupar com aqueles dois naquele momento.

- Saiam daqui! AGORA! – a garota Pataki gritou com todo o fôlego de seus pulmões.

- Tudo bem, já estamos indo... – Sid estava quase tremendo de medo.

- Mas Helga, por favor, não conte para ninguém. Você sabe, a Rhonda não aprovaria o Sid e... – Nadine tentava explicar.

- Não tô nem aí! Deem o fora – Helga apontou para a saída.

Sem mais protestos, o par sumiu e ela pôde trancar a porta. Agora, não havia ninguém para vê-la naquele estado lastimável.

Como ela queria poder odiá-lo... Só um pouquinho. Mas aquela tarefa era impossível. E isso apenas fazia o aperto no seu peito ser ainda maior.

Helga olhou seu reflexo no grande espelho daquele também imenso banheiro dos Lloyd. Ela estava um desastre. Seu cabelo, que havia sido todo preparado com um penteado, estava desmanchando, caindo em ondas sobre seus ombros. O vestido azul havia adquirido uma mancha logo abaixo do busto, a qual ela desconfiava ser de um daqueles salgadinhos frescurentos que Rhonda encomendara. E então, seus olhos. A maquiagem escorria deles e enegrecia sua pele pálida.

"Olhe, Helga! É isso que acontece por você não conseguir superar essa paixonite idiota de terceira série..." uma voz seca ecoava dentro de sua cabeça. Helga queria se convencer do contrário, mas a voz tinha um ponto válido. O seu sentimento por Arnold não a levava a lugar algum. Na verdade, às vezes até a privava de certas oportunidades. Entretanto, a loira não conseguia deixar de lado, era mais forte que ela.

De repente, alguém bateu na porta.

Helga inspirou fundo para mandar quem fosse embora, porém a pessoa falou mais rápido.

- Por favor... Não estou muito bem... Será que posso entrar?

Ela reconheceria aquela voz em qualquer lugar. A típica sensação engraçada no estômago voltava para Helga.

Realmente, era mais forte que ela.

A garota correu para a porta e a destrancou. Assim que a abriu, Arnold despencou em frente aos seus pés com uma aparência terrível. Ele ergueu os olhos para se deparar com a expressão chocada da loira.

- E aí, Helga? – ele balbuciou um cumprimento.

Vendo que não havia muito que fazer a não ser colocar o garoto para dentro, Helga o puxou pelos braços, postando-o próximo ao vaso sanitário. Mal ela fechou a porta e já pôde ouvir Arnold colocando suas tripas para fora. Preocupada, foi até o garoto debruçado no vaso.

Helga nunca pensou que o veria naquele estado. Era para ele ser o super responsável que não fazia nada de errado, beber até passar mal incluído na lista. Mas aí estava o seu tão idolatrado Arnold, expelindo tudo que tinha no estômago. Não era uma cena muito agradável.

- Você está bem? – ela perguntou mesmo sabendo a resposta, agachando levemente para tirar o cabelo do rosto do garoto. Helga pegou um pouco de papel higiênico e limpou o canto da boca de Arnold. Ele empurrou sua mão para longe de forma desengonçada.

- Pode ir, me deixe aqui... Eu sou um idiota.

Ela franziu o cenho.

- É mesmo. Andou se embebedando? Não parece o tipo de coisa que você faria... Talvez Gerald, mas você?

- Eles duvidaram de mim...

- Agora você é um fantoche influenciável, cabeça de bigorna? Estou comovida.

Arnold movia as mãos tentando dizer alguma coisa, mas não fazia sentido algum.

- E... Lila... Ela se foi...

Helga revirou os olhos.

- Lila, Lila, Lila... – fez uma careta digna de uma criança de cinco anos. – Você não pode ser tão estúpido a ponto de ter bebido para impressionar uma garota. Principalmente uma que é toda cheia do pudor e da moral.

- Não... Ela se foi... Estraguei tudo...

Arnold precisou vomitar novamente e Helga comprimiu as feições em desgosto.

- Meu Deus, você está um horror – ela disse e em seguida bufou, exasperada. Não podia deixa-lo ali, já estava envolvida demais. – Acho que vou ter que leva-lo até sua casa.


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