Aquilo Que Permanece escrita por Franiquito


Capítulo 1
Capítulo 1




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AQUILO QUE PERMANECE

O dia amanhecia aos poucos, e a claridade do sol iluminava o caminho que eu trilhava já fazia algum tempo.

De vez em quando, chutava uma pedrinha que encontrava. Eu tentava seguir em frente, mas a brincadeira não durava muito tempo... Eu não tinha muita coordenação com os pés, eu creio, esse tipo de joguinho nunca foi meu forte. E lá se ia a pedrinha, tombando da calçada para o asfalto, distanciando-se demais de mim. Não desviava um milímetro da linha imaginária que pisava. Dali a pouco eu encontraria uma nova pedrinha.

Mais uma vez, eu passara a noite em claro. A escuridão se tornara minha grande amiga nos últimos tempos. Sem grandes mistérios, eu apenas me sentia confortável durante a noite. Havia algo na calmaria da cidade adormecida que me transmitia paz e aconchego. Porém, minha cabeça andava cheia de pensamentos e eu simplesmente não suportara ficar parada dentro do quarto. Sempre fui uma pessoa que prefere o conforto da própria casa a agitação das ruas, mas havia momentos em que eu precisava sair, sentir o vento lacrimejando meus olhos e gelando a ponta do meu nariz. Eu precisava caminhar... Caminhar, caminhar sem rumo, sem ideia de para onde ir, aonde chegar, quem encontrar... Apenas uma perna depois da outra, o corpo preso à lei da inércia, em movimento constante e ininterrupto. Aquilo era magnífico! Aquela simples ação me fazia relaxar, pensar e repensar o que fosse. Trazia calma e também respostas.

Eu precisava de respostas que nunca obteria.

Ficava só com meus pensamentos, minhas hipóteses... Um ano inteiro havia se passado. Exatamente um ano. Sem querer, reencontrei os fatos após um ano inteiro... Um ano sem pensar mais profundamente sobre certas coisas, sem cogitar muito, sem procurar muito. E eis que aquilo todo simplesmente retornou e voltei a pensar sobre aquilo tudo... Não teria minhas respostas. Já não me preocupava tanto com elas, não fazia muita diferença. Mas ainda estava incomodada.

Um ano exato e eu não fazia ideia... Eu não conseguia sentir o peso desse ano. Na realidade, eu não sabia medir o peso de todo aquele tempo. Parecia não ter passado. Parecia que eu havia parado no espaço-tempo, que foi apenas um piscar de olhos para tudo mudar, para os eventos acontecerem, as pessoas partirem, as coisas acabarem. Como se ontem o mundo fosse um e hoje, subitamente, outro. O espaço de um respirar e já não estava mais lá. Tinha-se ido. Sumido. Como se tivesse evaporado diante de meus olhos.

Ao mesmo tempo, sempre sentia um peso no peito ao lembrar de tudo. Não exatamente um peso de tristeza ou de preocupação, apenas um peso. Algo – uma mão, uma força – que puxava meu peito para baixo. Como se a força da gravidade decidisse aumentar em dez vezes. E essa carga me dava a ideia de uma passagem de tempo extremamente longa. A sensação era de que o intervalo de um ano tinha durado metade de minha vida. Eu olhava para trás e as coisas estavam muito distantes, borradas, quase fora de foco. Não, eu não estava esquecendo de tudo ou deixando de me importar. Jamais poderia fazer tais coisas. Jamais. Mas tudo estava no passado, e esse passado parecia muito longe quando eu tentava alcançá-lo. Parecia inatingível, uma outra fase da vida, um outro momento, um outro mundo, eu ousaria dizer.

Eu queria tudo de volta. Cada pequena coisa. Porque todas as coisas foram arrancadas de seus devidos lugares e desde então tudo estava confuso. E eu estava perdida no espaço-tempo. eu estava caminhando durante a madrugada para tentar me encontrar novamente naquela situação. Para pôr alguma coisa no lugar.

Era isso. As coisas tinham sido tiradas de seus lugares à força, de maneira não natural ou humana. As coisas haviam sido tiradas de mim! E elas jamais voltariam, não como antes. Nada jamais seria como era antes.

Eu estava parada, de pé, em frente ao mesmo lugar de um ano atrás. Eu podia visualizá-lo direitinho. Fechei meus olhos por alguns instantes e pude rever as cenas do ano passado também com clareza. Ao reabrir os olhos, o lugar ainda estava lá, mas todas as pessoas haviam sumido. Todas elas. Mesmo as que não tinham desaparecido não estavam ali. A sensação de vazio e desolamento era terrível.

Eu tinha vontade de chorar.

Um ano inteiro se passara e muitas, muitas coisas haviam mudado. As pessoas mudaram, a situação mudou, o contexto, o sentimento, o lugar, tudo. Apenas uma continuava igual: a saudade.


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