Novamente Herói. escrita por cabeçadealgas


Capítulo 3
A colheita


Notas iniciais do capítulo

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Katniss parecia sem graça e algo me dizia que ela não era o tipo de garota que estava acostumada a dar em cima de garotos. Ela era realmente bonita, mas parecia fria por dentro, como se algo a prendesse. Ela abriu a boca como se fosse falar algo, mas eu a interrompi, dizendo:

– Bem, é errado porque... – eu hesitei, em dúvida se era o certo a falar. – Porque Gale gosta de você.

As sobrancelhas de Katniss se levantaram imediatamente. Ela soltou um risinho baixo e disse em tom brincalhão:

– Claro que sim.

Resolvi que não ia falar mais nada, tentando não me intrometer na vida de duas pessoas que eu havia acabado de conhecer. Dei um passo para frente e abracei Katniss, que me de tão surpresa não retribuiu, deixando os braços balançando ao lado do corpo.

– Vou entrar. – falei por fim.

Soltei-a e abri a porta de casa, fechando-a atrás de mim. Se é que se pode chamar aquilo de casa. Paredes cinza descascadas delimitavam a sala, onde um sofá de dois lugares se encontrava, totalmente imundo, em frente a uma pequena televisão. A cozinha era aberta para sala. Dentro existia apenas um fogão velho, uma geladeira mais velha ainda e uma bancada caindo aos pedaços. Outra porta levava até um quarto escuro, onde se encontravam uma cama, um pequeno armário de madeira, o único móvel que parecia conservado, e um espelho de corpo inteiro.

Gale, ou Katniss talvez, havia dito algo sobre uma colheita e sobre usar roupas bonitas. Aquilo não fazia realmente nenhum sentido, visto que colheitas normalmente sujam as pessoas de terra. Ignorando esse pensamento, abri a porta do armário.

Ali dentro encontravam-se algumas roupas, mas nenhuma parecia com a que eu estava usando. Enquanto as roupas que eu vestia eram com cores vivas ( a blusa era laranja ), as do meu armário eram basicamente todas cinzas, com exceção de uma.

A única roupa que fazia meu estilo era uma blusa verde com calça de linho branco. Pensei em vestir naquele momento, mas ao olhar para mim mesmo, percebi o quanto precisava de um banho.

Dentro do quarto, havia uma porta que antes eu não havia reparado. Ela era fraca, feita de pedaços de bambu amarrados por cordas frágeis. Passei pela porta e me encontrei em um “banheiro”. Não havia uma privada ou um chuveiro ou uma pia. Ali dentro havia uma “banheira” de madeira e cheia de água fria.

Era a única opção se eu quisesse tomar banho. Levantei as mãos em sinal de rendição e sussurrei:

– Certo, Hera, você me venceu.

Tirei minhas roupas e repirei fundo antes de entrar. Para minha surpresa, não senti o frio da água. A água imediatamente tornou-se escura com a terra que meu corpo trazia da floresta. Ao lado da banheira, havia uma esponja, que usei para me limpar, e um shampoo, que usei pouco, por medo de acabar.

Toda a dor que eu antes sentia por ter dormido no chão, sumiu ao entrar em contato com a água. Sabia que aquilo queria dizer alguma coisa, mas não conseguia me lembrar do que. Algo a ver com meu pai, isso eu sabia. Bom, ao menos eu tinha certeza que eu tinha um pai. Não sabia se naquela época ou na minha verdadeira época, mas tinha.

Assim que deixei a água e me sequei, foi como-se perdesse um pouco da vitalidade que eu havia ganhado, mas todas as dores e sujeiras haviam ido embora. Olhei para a banheira, que havia virado imunda, e sorri agradecido, como se fosse tudo uma obra dela.

Vesti as roupas, mas continuei usando a o sapato que antes eu usava e o cordão que antes eu não havia percebido. Eram seis contas. Toda vez que eu olhava, certa alegria se enchia dentro de mim. Lembranças que eu não conseguia alcançar, mas sentia ainda assim. Sabia que um dia voltaria a revê-las, era só uma questão de tempo.

Deviam ter passado quinze minutos, a colheita começava em cinco. Eu não tinha a mínima ideia de para onde ir, mas sai de casa assim mesmo. Percebi que não era o único. Ao redor da minha casa, várias pessoas saiam junto de mim. Famílias andavam juntos abraçados, todos parecendo realmente tristes e preocupadas. Estavam indo pra a mesma direção, então segui o fluxo.

Caminhavam todos lentamente. Algumas crianças choravam, enquanto pais desolados tentavam as consolar. Ao longe avistei Katniss de mãos dadas com uma garotinha loira, de doze anos mais ou menos. As duas olharam para mim e sorriram. Fazendo força para passar no meio da multidão, cheguei ao lado delas.

Katniss vestia um vestido azul e o cabelo preso em uma trança no alto da cabeça. Ela estava linda, mas não parecia ela mesma. A garotinha olhou para mim com gigantes olhos azuis e falou:

– Você não parece nervoso, Percy.

– Prim, o deixe em paz. Sabe que ele se garante. – Katniss brincou. – Você não deveria estar tão nervosa, seu nome só está lá uma vez.

Prim. Então era esse o nome dela. Presumi que fosse irmã de Katniss.

– Minha sorte tem andado bastante ruim, Prim. Não acho que tenha como piorar. – falei, dando de ombros.

A garotinha sorriu. Ela era doce e delicada, realmente diferente da irmã. Ela esticou a mão e segurou a minha, ainda segurando a de Katniss. Posicionamos com Prim no meio, eu em um dos lados e Katniss do outro lado. Andamos nessa posição até uma praça, onde Katniss, Prim e eu nos separamos.

Katniss fez sinal com a cabeça para onde eu deveria ir, então me movi até lá. Enquanto caminhava, olhei para as duas. Katniss havia se ajoelhado, de forma que podia ficar frente à frente com Prim. Ela tirou uma mecha loira que caia no rosto de Prim e a posicionou atrás da orelha da garota. Deu um beijo em sua testa, depois levantou e caminhou até o seu lugar, junto das garotas de 16 anos.

Da onde eu estava, podia ver Gale duas fileiras na minha frente. Ele vestia roupas pretas e parecia nervoso. Seus braços balançavam ao seu lado e ele observava Katniss, tentando parecer discreto. Mesmo se ele estivesse a encarando, provavelmente não perceberia, porque ela mesma encarava Prim.

Uma mulher subiu ao palco que se posicionava à nossa frente. Ela usava ridículas roupas coloridas e seu cabelo era rosa. Mesmo de longe era possível ver o quão pálida ela havia se tornado, pelo excesso de maquiagem. O salto de seu sapato fez barulho quando ela caminhou até o meio do palco, onde se encontrava um microfone.

– Bem vindos, bem vindos. – a mulher falou com uma voz estridente.

Ela se virou quando um vídeo começou a passar em um dos telões que apareciam no palco. Fiz questão de prestar atenção, apesar de todos ao meu redor parecerem ignorar. Quando o vídeo acabou, tudo fazia sentido. Mais ou menos. Eu ainda não sabia aonde eu entrava na história, mas algo me dizia que não seria fácil.

Effie, a mulher no palco, sorriu como se aquilo fosse a coisa mais maravilhosa do mundo. Ela deu três tapinhas no microfone, pedindo atenção. No palco, em duas cadeiras ao lado dela, um homem que parecia bêbado e o prefeito sentavam-se.

– Primeiro as garotas. – Effie falou, caminhando até uma vasilha de vidro aonde os nomes se encontravam – E que a sorte esteja com vocês. – acrescentou. – PRIMROSE EVERDEEN. – ela anunciou com um sorriso.

O sobrenome era desconhecido para mim, mas o nome era semelhante a algo. Até que eu vi a escolhida, a menininha de tranças loiras andava tremendo até o palco, era Prim.

Quando ela ia subir ao palco, Katniss correu e se colocou na frente gritando:
– Eu me ofereço! Eu me ofereço como tributo!
Alguns pacificadores se puseram na frente de Katniss, que continuou os empurrando. Quando os pacificadores a soltaram, Katniss andou até o palco. Eu estava perplexo, mas percebi que Prim começava a correr a te a irmã, gritando:
– Não! Katniss! Katniss!
Pensei em ir até lá, mas Gale foi mais rápido. Ele segurou a garota, impedindo que essa fizesse alguma burrice. Ela esperneava e gritava, tentando chegar até a irmã. Gale a segurou contra seu corpo, tentando a acalmar.
– Prim, se acalme. Katniss sabe o que está fazendo... – ele dizia.
Effie disse algumas coisas para Katniss, mas não consegui prestar atenção. Eu estava confuso demais. Quando me dei conta, Effie estava gritando:

– E o tributo masculino desse ano é – disse enquanto desenrolava o papel- Perseu Jackson!
Certo, agora sim eu teria um grande problema. Perdido em uma epoca diferente, com pessoas que nunca vi antes e agora em um jogo de onde eu provavelmente não vou sair. 



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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui, beijos!