Eu queria falar alguma coisa, mas não entendia a raiva de Katniss. Havíamos conseguido mantimentos, roupas e até remédios. Ela saiu da clareira, emburrada, levando somente seu arco e sua aljava com flechas. Rue tentou ir atrás, mas eu fiz que não com a cabeça. Naquele momento, ela precisava esfriar a cabeça. Talvez em cinco minutos, eu iria até lá.

                        Certo, passaram-se cinco minutos. E então dez. E então um canhão soou. Fiquei em pé com um pulo, acompanhado de Rue e Glimmer. Tirei minha espada da bainha e não hesitei nem um segundo antes de entrar na floresta e começar a procurar por Katniss.

                        Tudo que eu conseguia pensar é que não podia perder ela. Seria tudo minha culpa. Bom, um pouco culpa de Glimmer também. Comecei a procurar, mas não a encontrava em lugar nenhum. Algumas vezes ousava chamar seu nome, mas ela não respondia.

                        Meu coração começou a pesar no peito e o pânico me invadiu, mas eu não parei. Continuei seguindo por entre as árvores, com a espada na mão. Segui durante vinte minutos, até que algo começou a acontecer. Definitivamente, algo começou a acontecer.

                        O chão começou a tremer, mas eu sabia que não era um terremoto natural. Começou a tremer tanto, que árvores começaram a cair e eu tinha que fazer muito esforço para não seguir o mesmo destino. Tive que continuar correndo, desviando das árvores. Meu objetivo era voltar para Rue e Glimmer, mas o caminho foi interditado por uma arvore. Todas as vezes que eu tentava contornar a arvore, outra surgia.

                        Vi que teria que ir para a clareira. Todos os galhos desviavam de mim, provavelmente por conta de meu poder de Aquiles. Depois de cinco minutos, eu estava perto do rio. Para minha surpresa e alegria, Katniss estava perto da água. Não estava morta, mas também não estava nem um pouco bem. Uma arvore estava caída em cima de sua perna e ela fazia esforço para tirá-la, mas era muito grande.

                        Comecei a correr o mais rápido que pude, ignorando o tremor no chão. Quando um galho caiu bem perto do meu ombro, mas graças aos deuses foi desviado, me irritei. Meu pai era o deus dos terremotos. Não seria um simples idealizador que mudaria isso.

                        Fechei meus olhos e me concentrei na terra abaixo de mim. Podia sentir as engrenagens fazendo com que a terra tremesse. Aquilo era simplesmente errado. Minha fúria ajudou. Respirei fundo e ergui os braços. Quando os abaixei, a terra não estava mais tremendo. Sem o tremor, podia ouvir o choro angustiado de Katniss.

                        Corri até ela e, não sei como, levantei o tronco usando somente as minhas mãos. Sua perna estava coberta de sangue e estava com certeza quebrada. Tentei tocar, mas Katniss berrou de dor. Coloquei o dedo na boca dela e sussurrei:

- Silêncio.

                        Ajudei ela a passar o braço ao redor de meus ombros. Quando ela tentou ficar em pé, lágrimas rolaram por seu rosto e eu soube que isso não daria certo. Então fiz o que tinha de ser feito: coloquei ela no meu colo. Eu havia levantado um tronco, Katniss não era grande coisa. Seu arco estava no chão. Me agachei com ela no meu colo e ela pegou o arco do chão e a aljava cheia de flechas que estava do lado.

                        Toda a preocupação que eu havia sentido ao pensar que ela tinha morrido se passou. Eu era forte e rápido. Consegui começar a correr com ela, na direção da clareira.

                        Nenhum dos dois falou nada quando dois canhões sooaram.