Acordei bem cedo, coloquei meu computador para tocar Cazuza, estou me sentindo exagerada, amada e feliz hoje, então, vamos ouvir a lenda da musica.

O sol coloria o céu, 4:57 da manhã e eu pensando ser um pouco mais tarde, aposto que todos estão dormindo. A casa pairava silenciosamente, exceto pelo meu computador.

“E por você eu largo tudo, carreira, fama...”.

A cozinha estava arrumada, havia um bolo cortado em cima do fogão, peguei um pedaço grande dele e tomei um gole do achocolatado do Luke. Fui dar uma olhada no calendário da geladeira e tomei um susto. A minha festa de formatura é amanhã, como pude me esquecer disso? Com tantas coisas acontecendo, esqueci-me do grande dia, talvez não tão importante agora, mas eu preciso ir a essa festa, quem sabe ela me ajuda a pensar sobre as coisas.

Nos últimos meses tenho tido uma vida tão agitada, com viagens, Jonh e o medo que me acompanha todos os dias, que fugiu da minha rotina os meus amigos da escola, a formatura, a viagem com a turma. Eu me formei, passei com excelentes notas, o que eu sabia desde o começo que iria acontecer, nunca fui de estudar, mas sempre tirei notas que orgulhavam meus pais. O ultimo ano na escola foi o melhor, antes mesmo de acabar eu já sentia a nostalgia nas conversas com os professores, o sentimento de responsabilidade surgindo dentro de todos.

Mandei uma sms para o Carlos: “Me liga assim que acordar, como vai a formatura amanhã? Eu tinha esquecido! ME LIGA CAH”.

Luke apareceu na cozinha arrastando o lençol do Bob Esponja, sentou-se do meu lado e sorriu para mim, aquele sorriso que só ele consegue dar, tão inocente, mas tão cheio de segredos.

– Bom dia maninho. – Sorri para ele. – Dormiu bem?

– Dia. – Ele me olhou e o sorriso sumiu do seu rosto. – Jane.

– O que foi, Luke? – Levantei da cadeira e fiquei de joelhos na frente dele. – Pode me contar, eu guardo segredo. – Sorri.

– Fome. – Ele apontou para o bolo.

– Toma. – Dei um pedaço para ele e me sentei para terminar o meu. – Está uma delicia, hein?

Mas Luke não tocou no bolo, ele apenas o observou e cutucou com os dedos pequenos e frágeis. Uma lagrima caiu de seus olhos, me senti impotente, sem saber o que fazer ou o que dizer, apenas o abracei. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas Luke sabia.

– Lu, o que foi?

– Porque? – Ele disse num tom baixo.

– Porque, o que, Luke?

– Você.

– Eu, o que? – Suspirei. – Pode me contar o que eu fiz?

– Triste.

– Não, Luke. – Eu sorri e me levantei. – Eu estou bem! Na verdade, estou me sentindo mais feliz do que nunca. – O peguei no colo. – Quer ir fazer compras comigo, hoje? Tenho um vestido de formatura para escolher.

– Quero. – E ele sorriu novamente.

A música continuava no meu quarto.

“Eu protegi teu nome por amor, em um codinome Beija-Flor...”.

Meu celular vibrou, era a resposta do Carlos.

“Já comprei minha roupa, não posso sair com você hoje, eu sei que ia pedir isso... É que estou com alguns probleminhas em casa, te ligo mais tarde.”

Probleminhas?

“Ah sim, mas que tipo de probleminhas, sabe que podes me contar, Cah!”.

“Não, não posso, Jane.”

O que está acontecendo? O Carlos NUNCA falou assim comigo. Não vou deixar isso estragar o meu dia, mas quando chegar da rua ligarei para ele.

Minha mãe deu-me permissão para sair com o Luke e comprar meu vestido, o Jonh pediu para ir junto, mas prefiro fazer uma surpresa para ele e também porque sou muito chata comprando roupas, ele iria ficar logo estressado e dizer para eu comprar o primeiro que ver na frente.

O shopping estava vazio, pra minha sorte tinha acabado de abrir, a maioria das lojas ainda estavam fechadas, mas a que eu queria não. Comprei o vestido do casamento de uma tia minha aqui, esse lugar é o sonho de todo menina. Entrei com Luke de mãos dadas comigo, a vendedora já nos conhecia e sorriu.

– No que posso ajudar, Jane e Luke?

– Vim procurar um vestido para minha formatura. – Fui olhando os cabides a procura de algo. – Não quero nada muito colorido, vulgar e nem santinha demais. – Pisquei o olho para ela.

– Acho que temos uns perfeitos para você por aqui.

Andamos por quase toda a loja procurando esse vestido, achei uns bonitos, mas não combinaram com meu corpo, que não era um exemplo de perfeição. Meus seios são um pouco fartos e tenho as coxas um pouco grossas para o normal. Jonh disse que gosta dele assim, mas nunca acho que está bom o suficiente.

A vendedora me trouxe seis vestidos para experimentar. Coloquei Luke num banquinho em frente ao trocador e fui me vestir. O primeiro era vermelho, exagerado demais, deixava um decote enorme, o segundo era preto, mas bem básico, sem quase detalhes nenhum, o terceiro e quarto foram excluídos automaticamente pelo Luke. Ele disse: “feios.” Então, ta, né?

O quinto era o que eu podia chamar de perfeito. Não era muito curto, ficava acima do meu joelho, era preto, quase um tomara que caia, mas em cima tinha rendas pretas, delicadas, como um casaquinho. Rodado e com a abertura nas costas, até perto do fim das costas, eu o achei delicado e misterioso. Luke sorriu e disse: “Princesa”. Isso para mim era o suficiente para comprá-lo.

Saímos da loja com o vestido, pensei em comprar um sapato, mas isso eu iria conseguir de outro jeitinho, bem básico, um simples desejo e terei o mais perfeito de todos em meus pés. Sorri comigo mesmo, pensando na Cinderela.

Luke apontou para uma lanchonete e fomos comer alguma coisa, a minha barriga roncava de fome, compramos dois sanduiches naturais e sucos de manga. Acho que se eu engordar um pouco o vestido ira ficar apertado, então, vamos nos prevenir, porque amanhã promete ser demais.