4º dia - Comida – Quarto dia de compras.

Depois do meu lindo mico de cantar a música da Cuca na frente dos garotos e do controle remoto ambulante, eu penso que não poderia acontecer mais nada de ruim na minha vida. Mas é obvio que eu estava enganada!

Além de ter que sair por ai procurando coisas chatas em vez de ficar na escola tendo aula normal, estou na rua, na frente do meu apartamento esperando os dois idiotas resolverem aparecer para entrarmos... Essa frase ficou um tanto estranha.

Jogo-me na calçada e fico ali sentada olhando para o céu, enquanto aqueles dois idiotas não aparecem. Sabe, diário as coisas estão realmente estranhas na minha vida. Por que, primeiro eu estou fazendo compras. Segundo, estou tendo uma semana civilizada com Marcos o que é realmente confuso e bom ao mesmo tempo. Sou ótima em expressar meus sentimentos né? Terceiro, tem o Thiago. Não sei bem o que eu sinto por ele, mas quando estou em seu lado, é como se o mundo inteiro ficasse melhor. Argh! Que coisa mais anos 80 ou sei lá. Não, não estou apaixonada por ele, pois se eu estivesse cadê àquelas sensações que os livros nos mostra? Será tudo inventado? Acho que não. E quarto, eu não tenho par para o baile. Isso mesmo, menos de três dias para o baile e eu aqui, sem par.

- Amy? – Ouço chamarem meu nome. Olho para cima e é Marcos.

- Demorou hein! – Eu digo fazendo um movimento para ele sentar ai do meu lado.

- Desculpa. Estava resolvendo umas coisas! – Ele diz.

- Que coisas?

Alô curiosidade, tudo bem?

- Estava convidando uma menina para o baile! – Ele disse isso e eu não falei nada.

Não que eu esperasse que ele me convidasse para ir ao baile, ou qualquer coisa, mas eu não gostei da ideia dele ir com outra menina. Não que eu me importasse com isso, claro que não. Eu o odeio! Mas aquele dia parecia que ele ia me convidar. É Amy, você precisa ir a um psicólogo ver essas coisas. Porém, a minha curiosidade é maior e tem vontade própria e fez a pergunta antes deu notar: - Quem você convidou?

- Julieta! – Ele diz o que me deixa novamente sem fala.

A Julieta?

A Julieta? Sério mesmo? Aquela sonsa, falsa e palito com vestido? Aquela chata de plantão? Aquela que me ignora do nada? Aquela que nunca nos demos bem? Sério mesmo? Os dois se merecem mesmo! Claro, um par perfeito! Como se eu não tivesse pensando nisso antes, odeio os dois. Tomaram que sejam eternamente felizes!

- Você tá bem? – Ele pergunta.

- Nunca estive melhor! – Eu digo mostrando um tanto de raiva na minha voz. Nem me preocupei de esconder.

- Desculpe o atrasado Amy! Estava resolvendo umas coisas! – Thiago chega ofegante. Não pergunto o que é, dou as costas e mando-os entrarem se quiserem. Vejo que Thiago troca um olhar de mau humor com Marcos. Não era exatamente mau humor, mas como se ele tivesse culpando o Marcos por alguma coisa, este por sua vez revira os olhos e entramos no prédio.

- Phil! – Eu grito quando abro a porta.

- Na cozinha! – Ele grita de volta.

Mando os meninos irem para a cozinha enquanto eu vou para o meu quarto. Tinha que ver Bob. Fui até o meu quarto e não o achei. Não estava no quarto, varanda nem banheiro. Não estava também no quarto de minha mãe, muito menos no corredor e sala. Quando vou à cozinha, dou um grito que assusta todo mundo.

- Se machucou Amy? – Pergunta Thiago correndo em minha direção e me envolvendo em meus braços.

- Eu não, mas alguém vai se machucar feio agora! – Eu digo saindo do aperto de Thiago. – Eu não acredito que você foi capaz disso!

- O que eu fiz? – Pergunta Phil.

- Você ainda pergunta? – Eu falo apontando para o que estava na travessa em sua frente – Você matou Bob!

Com isso eu me derramo em lágrimas!

Meu Bob, meu querido, amado Bob. Se foi! E tudo culpa daquele cozinheiro de meia tigela. Vou denuncia-lo por intenção de matar para o IBAMA. Ele vai ser preso e eu irei rir. Mas nada disso vai trazer o meu Bob.

Marcos fica me olhando de longe. Thiago corre novamente em minha direção e me puxa perto do pato assado na travessa. Eu choro demais. Não consigo enxergar coisa alguma por que as lágrimas impedem!

- “Quack” – Eu ouço. – “Quack, quack, quack?”;

- Bob? – Eu pergunto limpando algumas lágrimas. – Meu filho, vá para a luz e seja feliz. Tenha filhinhos e me espere, pois quando eu morrer iremos nos encontrar! – Eu digo olhando para o teto.

- “Quack, Quack!” – Ouço novamente.

Pena que eu não fiz aquele curso de linguagem de patos. Neste momento seria útil!

-Amy... – Disse Marcos.

- Não esta vendo que me estou comunicando com o meu ex-pato? – Eu digo isso e grito de dor, alguma coisa acaba de me morder. Não dou atenção, tenho que tentar entender o que ele diz. – Seu assassino! – eu digo olhando de volta para Phil que voltou a cozinhar. – Além de assassino, não tem coração!

- “Quack quack quack?” – Ouço novamente e sinto uma outra mordida na perna.

- Dá licença Bob, estou tentando falar com o Bob que acabou de morrer! – Eu digo e em seguida percebo que ali estava, meu lindo, maravilhoso pato estava ali vivinho da Silva, me mordendo para eu dar atenção nele.

Pego ele no colo e quase o esmago com o meu abraço. Ele derruba a cabecinha para o lado e me olha com aqueles olhinhos pretos com cara de pidão. Vou até o armário e pego biscoito e dou para ele.

Marcos e Thiago estão rindo de mim silenciosamente. Phil estava rindo também. – Achou mesmo que eu mataria esse pato ai? – Phil pergunta.

- Claro! – Eu digo.

- Com tanta porcaria que você dá para esse pato, tenho certeza que cozinhar ele não seria uma boa opção, as pessoas reclamariam que ele é ruim! – Disse Phil rindo.

Eu revirei os olhos e fui para a sala com Bob e um pacote de biscoito ver o filme favorito dele: “A Lagoa dos Patos”. Na verdade nem é filme, é um documentário. Antes eu digo: - Decidem ai o que vão querer para a festa!

5º Dia – Fantasias

Quinto dia e ultimo!

Isso mesmo! Até que enfim que é o ultimo! Amanhã iremos apenas arrumar tudo no ginásio quando os nossos coleguinhas, vulgo alunos de toda a escola estarão em suas casas, se arrumando para o baile de domingo. Visitando shoppings, ou livrarias e sorveteiras e terão um sábado lindo e maravilhoso sem a companhia de dois idiotas!

Mas voltando ao dia de hoje...

Hoje é dia de comprar nossas fantasias já que não teremos tempo para comprar amanhã ou domingo! Andamos até uma loja que vende apenas fantasias, chamada “Fantasias com Magia”, que nome mais... Ridículo né? O que, as fantasias têm poderes mágicos? Prometem trazer o homem amado em três dias? Acho que não hein!

O caso é que eu entrei na loja e me senti suja!

Por quê? Simples, a loja inteira era branca, limpa, ampla e não tinha quase nada dentro. Sabem aqueles gigantes salões brancos que as garotas fazem festas de 15 anos ou que sempre tem casamentos? Pois bem, essa loja era um salão daqueles só que totalmente branco. O chão era branco, a parede, as poltronas, a mesa, o provador tudo era branco.

- Entramos na loja certa? – Eu cochicho para Marcos, que confirma com a cabeça.

- Lord Brown... – Disse uma mulher com aparência velha, cabelos presos em coque, um vestido banco cheio de perolas. – Vous ici?

Aquela mulher falava em francês e eu não entendi nada! Thiago cumprimentou-a educadamente, dando-lhe dois beijinhos no rosto. Ele falou alguma coisa que eu não entendi muito bem e ela exclamou de felicidade.

- Madame Parker, queira me acompanhar por aqui, s'il vous plaît. – A mesma mulher que cumprimentou Thiago disse me arrastando para um dos provadores.

Lá dentro era tudo menos o que eu imaginava! O tal provador não era um simples provador, era a própria loja. Lá dentro havia todas as fantasias para garotas que poderia imaginar de todos os tamanhos, cores e modelos. A principio fiquei perdida, por que eu não saia para comprar roupas e quando saia era minha mãe que escolhia.

Ela começou a me mostrar varias fantasias e eu sempre dizia não. Sem muita escolha comecei a experimentar e quando dei por mim, a dona da loja me arrastou para fora com minha primeira fantasia. Quando sai me envergonhei na hora, pois os dois garotos estavam sentados em poltronas comendo e bebendo refrigerante enquanto eu estava ali, em cima de um “palco” desfilando a minha fantasia.

Eu no momento estava vestida com a da Bela do conto de fadas, mas eles fizeram não com a cabeça. Entrei novamente no provador e fui vestindo várias fantasias. Desde a da Tinkerbell até a mais ridícula como a da coelhinha da Playboy, o que foi estranho, por que o Thiago disse sim e Marcos disse não e começou a resmungar. Eu não estava me sentindo bem mesmo naquela roupa que nem cogitei a ideia de usa-la.

Depois de mais fantasias eu enfim tinha achado a perfeita! Todos concordaram e a mulher do vestido branco batia palmas quando entrei com a tal fantasia. Dei uma girada básica e todos da loja aplaudiram. Estava muito vermelha!

Depois disso pagamos e eu ainda ganhei uma rosa do Thiago a caminho da escola. Marcos não falou nada o resto do dia!

6º Dia – Buque de rosas

Um dia antes do baile e eu não tenho par.

Um dia antes do baile e eu não tenho par.

UM DIA ANTES DO BAILE E EU NÃO TENHO PAR.

Não me lembro da ultima vez que pirei por alguma coisa fútil como essa... Na verdade, está a minha primeira vez. Meu pai havia ligado para mim esta manhã e eu lhe contei que tinha fantasiada e tudo, mas nada de par, ele disse que se eu não arranjasse até a hora do baile ele poderia desenterrar o seu antigo terno e me levar para o baile, claro que eu disse que não precisava. Não bastava eu não ter par, ter que ir com o pai no baile seria muito terrível!

“Cadê os garotos?” – Pensei quando cheguei ao ginásio para começarmos a arrumar as coisas. Fiquei ali sozinha por uns bons dez minutos quando finalmente Thiago apareceu.

- Achei que eu teria que arrumar todas as coisas sozinhas! – Eu digo colocando minhas mãos na cintura.

- Eu não deixaria! – Thiago disse se aproximando de mim e beijando minha bochecha.

Depois disse começamos a organizar o que tínhamos que fazer primeiro. Thiago avisou que Marcos só chegaria depois do meio dia, pois estava resolvendo algumas coisas com seu primo, o D.J.

Começamos a arrumar as mesas pelo salão, as cadeiras e colocamos aboboras espalhados pelo local todo. Enchemos alguns balões, mas logo desistimos, eu e ele concordamos que seria melhor se contratássemos um decorador para arrumar para gente. Dez minutos depois, o tio de Thiago estava nos ajudando a arrumar o ginásio de uma forma muito melhor do que imaginávamos.

Quase perto do meio dia, eu pergunto ao Thiago: - Vai com quem ao baile?

- Primeiro me diga com quem vai. – Safado! Ele sabe enrolar as coisas.

- Eu não vou ir ao baile! – Eu digo. O que é meia verdade!

- Como assim? – Ele pergunta espantado.

- Agora é sua vez, eu já respondi!

- Eu ia convidar uma menina, mas ela disse que não vai ir ao baile. – Ele disse dando os ombros.

Olhei para ele e sorri. Sei lá por que eu fiz isso. Eu era a única ali daquela escola que não ia aquele maldito baile, e ele disse que iria me convidar! Fiquei feliz com isso!

- Por que não tenta convida-la? – Eu digo sem perceber.

- Ótima ideia! – Ele diz se dirigindo para a porta do ginásio. – Vou lá convida-la!

O QUE?

Aonde aquela benção de Deus vai ir? Ele não estava falando de mim? Quem é a outra doida que não vai ao baile? E por que ele não me convida? Ah! Tenho que aceitar o meu destino cruel. Não tenho par, não tenho namorado... Estou no ostracismo social, só pode!

- Senhorita Parker... – Alguém me chamou. Virei para o lado e vi que era Thiago, com um boque de rosas vermelhas gigantes na mão. – Gostaria de ir ao baile comigo?

Ele tá me convidando para o baile.

Ele tá com um buque de rosas na mão.

Ele tá na minha frente e meu coração está acelerado.

Ele tá bem na minha frente de joelhos com um boque de rosas me convidando para o baile.

- Sim! – Eu digo sem me dar conta no que estou fazendo. Quando percebo ele está me abraçando e beijando minha bochecha. – Quero ir ao baile contigo!

- Fiquei com medo de você não aceitar! – Thiago disse me entregando as rosas e passando sua mão pelo cabelo.

- Eu não aceitar? Só se eu tivesse louca! – Eu falo com um sorriso idiota no rosto.

- Bem, temos que preparar o resto dessas coisas! – O tio dele chega do nada ao nosso lado. – Mas antes, posso tirar uma foto? Acho tão fofo isso!

Eu e Thiago nos olhamos e fizemos um acordo em silêncio. Thiago me puxou pela cintura e eu fiz uma careta e pronto, uma linda foto de nós dois. Não sei o que significa isso, se é algo importante ou não. Não sei por que meu estomago está embrulhado ou por eu estar feliz com o simples fato deu ir à aula com ele. Eu não sei de mais nada!