Venha, aproxime-se mais. Injete logo em minhas veias a dor de saber que não mais me drogarei com seu cheiro, não verei suas pálpebras se fechando, suas pupilas dilatando. Não mais alucinarei com o gosto do nosso último beijo. A prazerosa overdose final.

Termine com a porção letal do sentimento que nos domina, para só então poder se afastar. Abandone-me em minha caótica reabilitação, veja-me pirar. Tentaremos não sofrer, o fim é iminente, e precisamos nos desintoxicar.

Será difícil, posso garantir. Tentarei roubar doses, podem recusar, me flagrar. Passarei dos limites, não pararei de berrar.

A recuperação parecerá impossível. Haverá amarras em meu corpo, isolada, serei sedada até que meus músculos cansem de retrair. Depois da abstinência, serei uma nova viciada, novas boas drogas, esquecerei de tudo e só pensarei em dormir.

Dormirei o sonho da realidade, aquele no qual você não poderá estar presente. Mas, ainda assim, sua lembrança perdurará, e após muito tempo, descobrirei que o tratamento não foi eficiente.