Itálico: Lembranças.

– Bom dia Sra. Williams. – cumprimentou a mulher baixa com cabelos loiros adentrando o quarto da mais velha.

– Bom dia, querida. – respondeu a mais velha sem muita animação, mas com um sorriso no rosto. A mais jovem já acostumará com o jeito fechado da mais velha, mesmo estando cuidando dela há anos.

Rebeca Williams, era uma mulher de idade que se encontrava em um dos hospitais mais chiques do país, mesmo sendo uma mulher de idade era alta e bonita, era uma mulher simpática e atenciosa, mas ela não demonstrava isso a qualquer um! Por trás de seu sorriso sereno e seu olhar de ternura, ela escondia uma das tristezas e magoas doloridas que alguém poderia sentir.

Colocou a mão no peito e suspirou olhando para a enfermeira arrumando sua cama. Ajeitou-se na poltrona cor vinho e olhou para a janela, observando os carros em movimento na rua. Tinha saudade dos tempos em que não se encontravam tantos carros na rua, mas sim pessoas felizes e sorridentes com seus pares. Sentia saudade de seu par...

– A Senhora está com fome? – a enfermeira perguntou pousando a mão no ombro da mais velha. – Está pálida. Estou ficando preocupada com a Senhora!

– Por quê? – sorriu de olhos fechados, mas sem virar o rosto para a mais nova. – Já estou quase morrendo, que diferença faz?

– A Senhora é uma pessoa queria por mim. – abaixou um pouco e deu um beijo no rosto. – A Senhora está com uma tristeza estranha nos olhos. Mais do que o normal.

– É difícil. – comentou sem expressão.

– O que?

– A vida! – finalmente olhou a mais nova. – A vida pega peças em nós, você nem pode imaginar.

– Ela já pregou com a Senhora? – sentou-se no canto da cama, olhando a mulher com a expressão triste.

– Já! Mas para mim, apenas uma fez com que eu quisesse morrer. – segurou as lágrimas.

– O que houve? – perguntou mais por curiosidade do que por preocupação.

– Quando eu era mais nova do que você, eu conheci alguém... Nós nos conhecemos no ensino médio, eu tinha 14 e ele 15, eu era nova na escola, havia acabado de mudar de cidade; quando o vi pela primeira vez, não nos damos bem, mas de depois de certo tempo começou nossa amizade... Nós passávamos a maior parte do tempo juntos, não éramos melhores amigos, havia algo a mais; pelo menos para mim. Depois que saímos do ensino médio, tudo mudou...

“No verão, depois do Ensino médio, foi o nosso primeiro encontro. Conversávamos como sempre, não havia malicia nenhuma, até que nós nos beijamos no seu Mustang, ao som de Radiohead! Ele declarou a mim que me amava, e como eu também o amava confessei a ele. Foi o dia mais feliz da minha vida, nada poderia mudar meu amor por ele.

No meu aniversário de 18 anos, fizemos tatuagens iguais! Um coração só. Metade no meu braço e metade no dele. Meus pais ficaram umas feras, mas valeu a pena. Às vezes subíamos no telhado de sua casa e falamos sobre o nosso futuro como se soubéssemos o que iria acontecer...

Mas nunca planejei que um dia, eu perderia você!”

Rebeca sentiu as lágrimas derramarem em sua face e então parou de narrar. A enfermeira continuava ouvindo atenciosamente a historia da mais velha, ela não disse nenhuma palavra, nem mesmo quando Rebeca havia parado de contar. Apenas esperou a mais velha se acalmar.

A mulher de cabelos esbranquiçados limpou as lágrimas e continuou:

– Eu era June e ele era meu Johnny Cash. Nunca um sem o outro! – sorriu ao lembrar-se do sorriso do amado. A enfermeira sorriu involuntariamente. Não sabia o porquê estava sorrindo, apenas gostou de ver um sorriso tão verdadeiro nos lábios de Rebeca.

“Nós fizemos um pacto, nós nunca nos esqueceríamos de um do outro, nunca deixaríamos o outro triste ou magoado. Nunca deixaríamos o outro sozinho...

Após um briga, ele saiu de casa, e voltou apenas no dia seguinte. Alguém disse que ele removeu sua tatuagem. Naquele momento me senti a pior pessoa do mundo, não sei o por que. Não o via há dias, então fui atrás dele. E, então o vi no centro da cidade, cantando blues com outra.

É hora de encarar... Eu não sou mais a sua musa.

Quando ele voltou para casa nós brigamos, e muito. Ele cuspiu na minha cara que não me amava mais, que não queria mais me ver, e então saiu pela porta da frente.

Chorei rios naquele momento, desejava que aquilo fosse apenas um sonho e que quando eu acordasse, ele estaria do meu lado me dando bom dia como sempre.

Após meses, um amigo me comunicou que ele havia sofrido um acidente de carro, não haviam achado o corpo, apenas os restos do carro, queimado.

Senti a pior dor que alguém poderia suportar. Queria morrer, queria ser queimada viva. Queria meu querido Jimmy de volta...

Anos depois, casei-me com outro homem, me senti culpada me deitando com outro que não fosse ele. Meu marido me dava jóias, animais e tudo mais. Mas todo aquele dinheiro não podia me comprar! Queria construir uma máquina do tempo, não podia substituí-lo com uns milhões de anéis. Apenas queria ele. Só ele. “

Rebeca terminou de contar observando os pés. A enfermeira soluçava. Ela levantou da cama e foi em direção a mais velha.

– Eu sinto muito... – lamentou-se. – Não sabia.

– Não precisa ficar assim querida. Eu já superei. – mentiu.

– Andy? – outra enfermeira adentou o quarto chamando à loira.

– Sim?

– Precisamos de ajuda no quarto 165. – estranhou os olhos vermelhos da mais baixa. – Espero você lá fora. – saiu do quarto.

– Você vai ficar bem? Quer que eu fique com você?

– Pode ir. – sorriu.

Andy saiu do quarto fungando. Rebeca virou o rosto olhando os carros mais uma vez.

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Rebeca encontrava-se deitada, dormindo, na cama do hospital. Estava perdida em seus sonhos, respirava fundo, o monitor cardíaco estava normal, até certo tempo. Rebeca abriu um pequeno sorriso ao mesmo tempo em que o monitor cardíaco parou de funcionar.

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– Jimmy? – chamei.

– Hm? – ele murmurou sem interesse.

– Você me ama? – levantei o corpo, sentando-me para observá-lo melhor. Nós dois estávamos deitados no teclado observando as estrelas.

– Que pergunta ridícula é essa? – franziu o cenho, fazendo-me rir.

– Responde! – revirei os olhos com a careta dele.

– É claro que sim, boba. – sorriu. – Você é a jóia mais precisa o que eu tenho. Você é o amor da minha vida.

– Eu te amo Jimmy. – sorri aproximando-me dele.

Ele se aproximou de mim e me beijou.

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Rebeca abriu os olhos e viu o céu escuro, cheio de estrelas. Levantou as mãos e estranhou. Suas mãos estavam lisas como se fossem novas.

– Rebeca? – ouviu aquela voz. A voz que sentia falta, a voz que a fez sorrir.

Ela levantou se corpo que estava deitado e o viu sentado sorrindo.

– J-Jimmy? – sentiu as lágrimas chegando.

– Senti sua falta. – ele sorriu mais ainda e ela começou a chorar, soluçava forte. Jimmy se aproximou dela e a abraçou. – Está tudo bem, meu amor.

– Eu... É um sonho?

– Não, isso é real. Você chegou para ficar comigo. Para sempre. – apertou mais o corpo esbelto da jovem.

– J-Jimmy. – soluçou.

– Eu te amo. – ele sussurrou em se ouvido.

Os dois ficaram abraçados por um longo tempo, aliás, pela eternidade. Em um dos momentos mais valiosos de Rebeca e Jimmy, em uma das lembranças mais significativas pelos dois. Os dois deitaram no telhado e observaram as estrelas, juntos novamente.

Esse era o céu em que Rebeca esperava encontrar, agora ela estava com quem ela realmente queria estar, com aquele que se foi.