A de fora entrou. Olhou a seu redor e sentou-se , de frente à de dentro. Observaram-se por algum tempo, antes discretamente,mas apenas a discrição não dava um ponto de vista amplo o suficiente para admirarem cada detalhe uma da outra. Principalmente a de fora , que sentia um magnetismo enorme. Seus olhos , não adiantava desviá-los,eram obrigados a retornar para os sapatos,o cabelo,o nariz,os ombros, a boca fina... Sorriu um pouco desconcertada ao cruzar o olhar com a de dentro, não recebendo um sorriso , ou mesmo qualquer mudança de fisionomia da outra , virou-lhe a face , rubra de vergonha por tão tolo ato e postou-se a observar aleatóriamente os outros elementos do ambiente, mas não concentrava-se em nada específico , a situação tensificou-se quando sentiu-se observada, tentou segurar, mas o magnetismo misterioso que rege a curiosidade a fez voltar a face à aquela segunda que agora também a observava , tão abertamente quanto ela própria fizera.

O gesto fora tão abrupto que naqueles milésimos de segundo em que o tempo pára completamente, esboçaram ao mesmo tempo um sorriso magnífico que foi crescendo e cintilando em suas faces , reconhecendo o flagra e aceitando mutuamente a admiração da outra.

De repente , a um sinal inaudívl da consciência voltaram à realidade, a primeira ficou sem norte , a segunda , como que enfeitiçada,não lhe tirava os olhos grandes , castanhos e brilhosos.

O trem parou. As duas desceram na mesma estação , mas não houve nenhum adeus ou troca de olhares como num código secreta que só as duas conhecessem, nada, simplesmente a intimidade surgira do nada , durara por alguns minutos, talvez os cinco que existiam entre uma parada e outra e pronto : acabou-se, extinguiu-se na neblina da mente. A que era de fora não esqueceu-se daquele estranho encontro. Talvez também não a de dentro.