Como se derrota um humano extremamente forte com cabeça de touro que praticamente vai fazer de tudo para tentar te matar? Nem mesmo todo o treinamento do mundo poderia nos defender, dependíamos de toda a sorte possível. No meu caso, ela nunca foi tão boa, então estava pensando em uma possível derrota.

A chave era um minúsculo borrão dourado, preso em um cordão de couro apertado no pescoço do monstro. Parecia incomodá-lo bastante, então não acho que iria nos favorecer com o humor do Minotauro. Mas se ele estivesse disposto a se livrar do cordão, eu não ia ter problemas em ajudar.

Tínhamos acabado de perder um de nossos tributos, não poderíamos nos dar ao luxo de outro acabar morrendo também. Fiz uma lista rápida em minha mente, remontando nossa equipe. Foxface estava escondida em algum canto próximo, possivelmente machucada. Cato estava por perto, correndo do monstro e ao mesmo tempo procurando um modo de atacá-lo. Tyson estava do nosso lado, lutando e fugindo da criatura, e Maysilee estava na mesma situação dos dois. E tinha eu, uma louca correndo, que mal conseguia pensar direito, atirando facas para trás, sem precisão alguma. "Não, eu tenho que me acalmar", eu pensava. Resolvo usar então uma técnica de concentração do Distrito 2. Respiro profundamente, deixando meu corpo se mexer por conta própria. Uma parte de minha mente se desliga, e começo a analisar a situação. Estávamos em vantagem, se você contasse em quantidade. Se o cercássemos, talvez o Minotauro se confundisse e a única pessoa com problema seria quem ele resolvesse atacar. Ele não parecia muito inteligente, e ganharíamos fácil. Não, não daria certo, e alguém morreria."Ligo" novamente minha mente, e penso no que fazer.

Percy!

Ele já enfrentou o Minotauro. Mas Bianca não estava presente quando isso aconteceu, então descarto a hipótese. Oque fazer então? Estávamos trancados na aldeia, e Percy estava no Elíseo. Se ao menos ele nos pudesse ajudar agora...

Penso um pouco e decido qual será meu próximo passo.Como o semideus dizia:

– Ok, hora das ideias loucas! - eu grito, correndo e pegando impulso.

– Clove? Oque você vai... - Cato diz, um segundo antes de eu pular contra o monstro e me segurar em seu pescoço, e este começa a se debater como louco. Graças aos deuses, consigo me manter presa à criatura, de modo que só preciso me preocupar com seus braços. Ele não segurava nenhuma arma, mas poderia me matar facilmente com suas própria e fortes mãos humanas. E eu estava certa quanto a ele não ser tão esperto, pois em vez de tentar me derrubar, ele gira o pescoço freneticamente, tentando ver oque era o peso preso a seu pescoço. Menos capacidade intelectual do que eu imaginava, mas ainda sim eu corria perigo. Tento alcançar o cordão com a chave, mas o fecho para abrí-lo está camuflado. Tento rompê-lo, mas é muito forte. Forte de mais para ser como o couro vindo do Distrito 10 que as vezes tínhamos oportunidade de ver. Eu só conseguiria pegar a chave se o monstro morresse.

–CLOVE, SAI DAÍ! - grita Cato, mas eu não cheguei tão longe pra desistir agora.

–QUE TAL ALGUMA AJUDA? NÃO SEI SE PERCEBEU, MAS EU ESTOU QUASE CAÍNDO!

Pois é, ideias loucas sempre me deixam mal. Na primeira vez, Bianca morreu dentro de um gigante defeituoso de aço. Na segunda, eu fico pendurada em um monstro com o triplo de seu tamanho, e se soltar é sinônimo de morte.

–CLOVE! CUIDADO! - grita Maysilee. Ela parece preocupada, mas ainda sim, se eu morrer ela tem mais chances de vencer. Não é muito confiável no momento, ela não é má, mas ao mesmo tempo não é idiota.

Tento alcançar o bolso interno de minha jaqueta, para alcançar uma faca. Assim que solto coloco, sinto uma dor latejante na cabeça, e uma ridícula imagem me vem a mente, uma garoto da Capital, com suas roupas extravagantes e uma taça na mão, sentado em uma cadeira brilhante, em contraste com seu cabelo azul marinho. Ele diz "Parece que a sorte não está ao favor desta tributo!", enquanto uma plateia invisível ri. Eu começo a dar tapas no ar, como se conseguisse atacar o garoto, e então percebo que estou quase me soltando do monstro. Horrorizada, me prendo novamente ao Minotauro, que ainda se debatia. Ele não consegue pensar direito. Nem eu estava conseguindo. Há algo errado conosco, algo extremamente errado. Querem uma luta sem armas. E mais uma vez, eu vejo que os deuses contra mim.

Cato corre em volta do Minotauro, confundindo-o. Tyson e Maysilee o copiam. Eu não faço nada, apenas me agarro à criatura, já que minhas facas não farão nada nele. Maldita hora em que eu dispensei a especialização em lutas com adagas. Maldita hora em que eu resolvi parar de treinar lutas corpo a corpo. Eu só tinha uma real habilidade, oque viesse depois era lucro. Não, não era verdade! Eu pertencia ao distrito 2, vivi e treinei para trazer orgulho ao meu distrito. Eu era, não, eu SOU uma carreirista!

Com esforço, eu me apoio 

de modo que um de meus braços fica livre. Tento ignorar a forte dor de cabeça que me atinge, enquanto pego uma das facas. Os outros param de correr, e o Minotauro também. É minha chance. Começo a cortar o cordão e sei que terei apenas alguns instantes, então me movimento o mais rápido possível, até o monstro voltar a se mexer. E quando isso acontece, o cordão está frágil o suficiente para ser rompido com as mãos. Largo a faca e puxo o pedaço de couro com uma das mãos, perdendo o equilíbrio e caindo com um forte estrondo no chão.

~.~.~.~

Acordo, e abro os olhos rapidamente. A imagem que vejo está piscando, como se meus olhos tivessem sido obrigados a ficar fechados por um bom tempo. Quando volto a enxergar normalmente, percebo vários rostos me observando. O primeiro que eu identifico é o de Foxface, com seus cabelos ruivos reconhecíveis em qualquer lugar. Logo depois eu vejo Maysilee e Cato. Eles sorriem. Levanto lentamente, e percebo que não estávamos na aldeia, estávamos em uma sala, parecida com a que fiquei antes de ir para a arena dos jogos.

– Onde estamos? - eu pergunto aos outros presentes.

– Esperando os outros tributos. - responde Maysilee.

Olho confusa para Cato, e este dá de ombros. Na sala há uma pequena TV, onde acompanhamos monstros ainda mais horríveis que o Minotauro. Imagino que sejam os outros portadores das chaves.

– Oque aconteceu exatamente? - eu pergunto novamente.

– Você caiu. - diz Foxface.

–Isso eu sei, eu estou perguntando como nós saímos, porque estamos aqui...E onde está Tyson?

– Nós saímos com a chave que você pegou. Assim que você caiu ficamos desesperados... Bem, uns mais que outros. - fala Maysilee, dando um olhar significativo para Cato. - Tyson mostrou o caminho para uma das portas e saímos, Cato carregou você.

Eu olho o chão, sentindo minhas bochechas queimarem contra minha vontade. Era vergonhoso de alguma forma, ficar dependendo de Cato para tudo. Eu tinha certeza que se ele não estivesse por perto, já estaria morta.

– Hm, depois o ciclope nos guiou pra cá e sumiu. Acho que agora vamos para a verdadeira arena, estamos esperando o resto dos tributos saírem da arena.- continuou Cato.

– Então esperamos...

–É, agora esperamos.