Cato e eu seguimos Nico para ogigantesco e caótico palácio. Talvez fosse bonito, em épocas melhores, ou talvez tivesse sido projetado para ter essa aparência. Possuía todo esse olhar grego antigo bastante comum no Mundo Inferior, mas estava caindo aos pedaços. Paredes e colunas gregas de mármore enegrecido, com várias e notáveis rachaduras, portões de mogno presos com correntes quebradas e enferrujadas. Ao se abrirem, faziam um rangido alto e irritante. E para completar com chave de ouro, somos recebidos por quatro pacificadores esqueletos, segurando cacetetes de metal, e prontos para atacar. Mas não nos atacaram, nos empurraram "gentilmente" para o interior do local.

Eu olho para Cato, que estava tremendo e assustado. Em outro lugar, em outra situação, eu estaria zombando dele. Mas acredito que eu mesma me encontrava naquele estado. O único que, aparentemente, não está assustado é Nico. Talvez já estivesse acostumado com o palácio sombrio. Mas ele percorre os olhos por todo espaço que passamos, como se esperasse que alguém saísse de trás das sombras e nos atacasse. Ou, estava esperando que Hades aparecesse do nada, usando roupas chamativas da Capital e nos dando um susto enorme, e lógico, me fazendo cair no chão.

Claro que isso aconteceu.

Eles riam de mim, Nico e Hades, muito, e em excesso. Talvez não fosse por ser exatamente eu caindo, mas me senti um pouco ofendida. Sempre fui a mestra em tropeçar e cair, mas com o tempo, transformei essa estúpida habilidade em uma forma de vitória, principalmente em uma luta, fazendo a pessoa mais próxima ir junto. Funcionara com Katniss na arena. Na situação atual, a vítima era Cato, que me olhava indignado.

–Normalmente, é de se esperar que mortais se ajoelhem diante de mim, isso foi até certo exagero. - diz Hades, ainda rindo.

Eu levanto, limpo minhas roupas, e depois ajudo Cato a se levantar também. Fico imaginando qual deveria ser minha próxima reação, e decido fazer uma leve reverência.

– Eu vim apresentar minha equipe aos jogos, hm, Senhor Hades. Vão ser eu, esse aqui. - aponto para Cato.- A garota do Distrito 5 e o do 3.

Hades me analisa, intrigado. Olho para Nico, que sorri e acena positivamente com a cabeça.

–Escolha interessante, motivos especiais para isso?

Cutuco Cato com o cotovelo, e espero que ele fale alguma. E graças aos deuses, ele falou:

– Hm, não. Foi só estratégia.

–Ótima estratégia por sinal. Não sou deusa das estratégias, mas percebo quando alguém realmente quer a vitória, no caso, uma vitória justa e merecida. - diz uma voz ao longe. Uma mulher, parece típica da Capital, embora se mostre um pouco desconfortável com as roupas. Ela e Hades parecem cansados, mas ainda sim, poderosos e mortíferos. A mulher tem um vestido volumoso de uma cor laranja com glitter e rosa chamativo, com pequenas balanças douradas espalhadas pela roupa e pelo corpo, além de enormes cílios verdes, com um batom roxo. Pelas balanças, e pelo que me explicaram de mitologia, ela deve ser Nêmesis, a deusa da vingança, do equilíbrio e da justiça. Um elogio a nossa equipe, vindo dela, parecia ser um bom sinal. Eu não tinha feito uma burrice completa então. Meu olhar passa para Hades, que se parece muito com Caesar Flickerman. Tirando pelo ar sombrio, e a falta de cor nas roupas, que eram de um azul escuro, pouco chamativo para um cidadão da Capital, mas perfeito para um deus da morte, que talvez devesse se mostrar sombrio, como tudo no submundo.

– Hm, obrigada. - eu digo, e faço novamente uma pequena reverência, que é copiada por Cato e aprovada por Nêmesis. Com certeza é ela.

– Ah, foi uma pena terem morrido, estava torcendo pelo Distrito 2 esse ano. Espero que saibam oque fazer para não errar agora.- ela diz.

Ficamos em silêncio. Silêncio cruel, contínuo e comum para minha nova vida de morta, enquanto analiso as palavras da deusa. Cato, a salvação do momento, diz:

–Na verdade não, já podemos ir embora?

–Sim, podem. Nico, acompanhe-os. - fala Hades.

–Esperem, fiquem mais um pouco para podermos discutir suas estratégias. - diz Nêmesis.

–Deixe eles irem.

–Não, eles ficam.

– Pare de me contrariar Nêmesis, você está em meus domínios.

– Sim, mas só porque é melhor estar aqui do que na superfície!

Nico, que parece aflito, como se aquilo já tivesse acontecido antes, dirige eu e Cato para fora do palácio, quando o clima da discussão começa a esquentar. Confesso que fiquei um pouco desapontada, queria ver dois deuses brigando, mas parecia o correto a fazer. Saímos andando, calmamente, e nos despedimos de Nico. No meio do caminho de volta a nosso "lar", Cato começava a dar risada, que me contagia, ambos rindo como condenados.

–Do que estamos rindo exatamente Cato? - eu digo, em meio às risadas.

–Você viu a cara do garoto? E das roupas deles? E a discussão para ver se a gente ia ou ficava. Esse lugar é pra loucos!

Eu concordo com a cabeça, transformando o riso em apenas um sorriso. E o sorriso se transforma em uma careta, pois lembro que havia esquecido de perguntar detalhes sobre os tais jogos do Hades. Onde iríamos nos preparar? Como poderíamos eliminar os adversários se já estamos mortos? Quando ocorreriam? Penso em voltar, mas já é tarde. As equipes de outros jogos estão se aproximando.

–Fomos os primeiros.

–Em que?

–A apresentar nossa equipe.

– Claro, temos uma ótima líder.

Eu dou risada.

–Não é brincadeira Clove. - ele me diz sério.

– Ah, com certeza é. Eu, líder? Comigo na liderança seríamos os primeiros a morrer. Aliás, ninguém confia em mim.

–Eu confio.

Cato se aproxima. Cada vez mais. Fico imóvel e estupefata, enquanto ele faz nossos lábios se encontrarem, em um beijo calmo e suave. Depois ele se afasta, e fecha os olhos, como se esperasse que eu desse um soco ou coisa do tipo nele. Confia muito em mim...

–Você é completamente louco Cato, fica perfeito aqui. Mas nós vamos voltar para casa lembra? O Distrito 2?

Ele sorri, segura minha mão e me puxa para o prédio 74. "Está parecendo o Conquistador" eu penso. Não ia deixar isso acontecer. Não queria Cato como Peeta, e com certeza não queria me parecer com Katniss. Esse sentimento de amantes desafortunados não poderia acontecer conosco, não comigo, não com Cato. Embora, confesso que... gostei das últimas ações dele.