- Vai me falar o que disse pra Amy, ou não?

- Provável que não – sorriu – Vai me deixar em paz, ou não?

- Você sabe que não – sorri de volta e bebi um gole do meu Frapuccino. Ir à Starbucks era um hábito meu (certo, talvez um vício), e Seth acabou se acostumando, já que sempre o levava comigo - Anda, diz logo.

O dia estava quente, mas, mesmo assim, o idiota do Miller não aceitou ficar na starbucks. Sério, qual é o problema dele? Ar-condicionado é um oasis no deserto, será que ele não entende isso?

- Talvez eu tenha explicado à ela que você é um cupido, e que está me forçando a conseguir uma namorada,

- Você fez o quê?! - parei e lhe dei um tapa.

Talvez eu tenha que te espancar.

- Claro que eu não disse isso - girou os olhos - Já tenha fama de maluco.

- Então o que falou pra ela? - joguei a mochila no chão e me sentei no meio fio, sendo seguida por Seth.

- Pedi desculpas, só isso - coninuei o encarando - O que?

- Não pediu outra chance?! - negou discretamente - Sua anta, agora você perdeu a garota!

Seth se afastou um pouco e suspirou.

- Desculpa, tá legal? Eu nunca fiz isso e você sabe.

- O que quer que eu diga? Seth, liga pra ela. Seth, dê chocolates. Seth, leve a garota ao cinema. Ah, e Seth, peça uma segunda chance!

Me encarou e abriu a boca, mas o interrompi.

- Ah, cale a boca! - terminei a bebida e coloquei o copo entre nós - E aí, quem é a próxima?

(...)

Segundo June, o colégio levava os alunos à uma reserva ambiental desde... sempre. Tanto que metade da turma não quis ir, apesar dos "apelos" do professor de Biologia. O sr. Turner insistia em dizer que era uma experiência única no nosso período escolar e que quem não fosse perderia um vídeo sobre "A Vida nos Polos" que June garantiu já ter visto, pelo menos, quatro vezes, já que sua mãe concordava com o professor a respeito da experiência única. Eu só queria saber o que um vídeo como esse teria a ver com a excursão à reserva ambiental.

- Pelo menos o guia é bonitinho, ou era - torceu o nariz e ajeitou a mochila nos ombros, chutando uma pedrinha no chão, jogando-a em uma poça d'água.

O tempo havia mudado. Na segunda o sol estava forte, na terça também. Na quarta o tempo fechou, mas ainda era abafado. Na quinta ventou tanto que até as líderes de torcida abriram mão daquilo que chamam de uniforme. Hoje, sexta, o diz está completamente chuvoso, fazendo o sr. Turner praguejar.

- A capa de chuva, Brown - o professor colocou uma embalagem pendurada na mochila de June, que já passava sem pegar.

Peguei a minha sem encará-lo e segui a garota com camisa dos Beatles pelo corredor do ônibus amarelo.

Depois de jogar minha mochila embaixo do banco, comecei a comer os salgadinhos de queijo fedidos que havia trazido. Eu não confiava no lanche que davam nessas reservas, na maioria das vezes era sanduíche natural. Eca.

- Cadê o Eric?

- Por que? - encarei-a maliciosamente, fazendo-a corar - Sabe o que eu acho? - engoli a bola de glúten que mastigava - Que você gosta dele...

- Eu não...

- ... e que ele gosta de você - enchi a mão novamente. Era viciante - Consigo ver isso, acredite.

- Ah, claro. Agora vai me dizer que é um cupido e sabe quando as pessoas estão apaixonadas? - girou os olhos.

A encarei como se disesse "É sério?" e parei de mastigar por alguns segundos.

- Certo, continuem assim - me virei para frente e fingi ignorá-la. Não deu muito certo, já que não consigo ficar calada - O Eric não vem?

Riu fraco.

- E a parte do "não vou falar com você já que não acredita que sou um cupido"?

- Eu não disse isso!

Me abaixei e apalpei o chão até minha mochila, pegando a lata de Diet Coke que estava na lateral.

- Ele vem, só não sei onde está - olhou pela janela - Professores lerdos.

Girei os olhos. A fila lá fora não era pequena, e Eric era um dos últimos, com sorte ficaria no nosso ônibus.

- Certo, crianças - eu tenho 15 anos, seu anta -, a chuva complicou um pouco nossos planos, mas ainda iremos a reserva. Daqui, no máximo, 40 minutos, estaremos deixando o colégio - sorriu.

Ótimo. O idiota do Turner começa com uma boa notícia, e depois acaba com meu dia, piorando a situação. Turner 1 x 0 Sky.

Deve estar se perguntando porque estou indo à reserva, já que não tenho vontade. Não, não é porque minha mãe é uma maluca - não que ela não seja - que me forçou a vir. Mas eu vim mesmo assim, e o motivo é simples: Emma Hardy.

- Sky, pare já de comer esta porcaria! - Turner apareceu do meu lado, me fazendo pular de susto.

Bufei e espremi o pacote, mostrando o dedo médio quando se virou.

O ônibus encheu aos poucos e logo - mentira - saímos. O caminho era monótono, com a mesma paisagem nublada durante todo o trajeto. Se quiser ver fotos ou ter acesso à informações únicas, acesse http://caminhoparaoinferno.com/

- June! - dei meu terceiro semi-grito em seu ouvido, fazendo-a acordar com os olhos arregalados.

- Eu não derrubei o cereal!

Segurei uma risada e apalpei o chao, o procura da minha mochila - que não estava ali.

Coloquei a cabeça entre as pernas para procurá-la e vi a mancha preta com bottons encostada na parede do fim do ônibus.

- Ah, merda.

Esperei todos saírem e peguei a mochila, que agora estava mais suja que o normal. Meu precioso botton do Green Day estava completamente arranhado, maravilha. Não podia ser o que aquele palhaço idiota me deu em frente à imobiliária?

Abri novamente o pacote de salgadinhos e saímos do ônibus, pisando diretamente em uma poça d'água. Qual é, o universo resolveu se voltar contra mim hoje?!

Olhei para todas as direções procurando pelo nosso grupo, sem nenhum sucesso. A abelha de rodas que chamavam de ônibus já havia ido embora, e meus salgadinhos estavam acabando.

- E agora? - June perguntou.

Inclinei a cabeça para o lado e encarei o nada, fazendo-a se focar em mim.

- Qual era a do cereal?