But They Should escrita por Juhhjulevisck


Capítulo 1
Capítulo único




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 Stiles não era o tipo de garoto em que as pessoas prestavam atenção; não era extraordinariamente bonito, ou talentoso em algum esporte. Era apenas o nerd magrelo que andava sob a sombra do melhor amigo Scott.

Todos achavam isso. Todos. Desde os lobisomens até os caçadores. Mas tudo tem suas exceções, é claro. As pessoas não pensam da mesma maneira, o mundo seria extremamente entediante se o fizessem.

Eu pensava diferente. Eu sabia que por trás da aparência frágil e do sarcasmo afiado, havia um garoto astuto que faria o possível e o impossível para proteger aqueles com quem se importava. Não só porque tinha um bom coração; não acho que esse seja o fator principal que tornaria Stiles extraordinário. Particularmente, não acho que o coração conte muito. A questão é que ele era inteligente. Se não fosse a hiperatividade, aposto que ele seria brilhante.

Na realidade, ele me lembrava duma versão mais jovem de mim. Peter Hale, no auge dos dezesseis anos, era bastante semelhante ao “Stiles” Stilinski que eu via, através da máscara de sarcasmo na qual ele se escondia.

Eu sabia que Stiles era apenas inteligente.

Mas um dia, eu descobri que ele era perigoso.

-x-

O sol estava quase dando lugar à lua quando ouvi batidas impacientes na porta da minha amável casa que estava reduzida a ruínas. Instantaneamente senti um cheiro familiar. Não sabia dizer de quem era, até que atendi a porta e a figura inconfundível do garoto ao qual fui educado o suficiente para oferecer a mordida apareceu na minha frente.

— Stiles — falei surpreso e ligeiramente animado. — Que surpresa agradável.

Ouvi as batidas do coração do garoto aumentarem assim que ele me viu. Ele estava assustado, eu podia sentir o cheiro disso. Quase não consegui entender, mas então lembrei que eu quase o matei mais de uma vez.

— Não se assuste. Eu não vou tentar te matar.

— Isso é realmente gentil da sua parte. Devo esperar alguns cookies de presente também? — Lá estava ela. A marca registrada de Stiles. O sarcasmo, na sua mais pura forma.

— Posso saber o que o trouxe à minha amável residência?

— Onde está Derek? — Percebi que, apesar de lutar avidamente para não demonstrar qualquer forma de medo, ele ainda estava lá, o destruindo por dentro. Mesmo assim, eu sabia que, acontecesse o que acontecesse, Stiles jamais mostraria seu medo a ninguém. Do mesmo jeito que ele não mostrava o quão solitário ele estava.

— Não está aqui. Ele irá voltar logo, eu imagino. Entre. Você pode esperar aqui.

Stiles não fez nada a não ser me encarar. Um homem cego veria que ele estava avaliando cada possibilidade do que poderia acontecer se entrasse na casa. Afastei-me da porta e dei espaço ele. Apesar da clara relutância, ele o fez. Fechei a porta atrás de mim e observei enquanto Stiles olhava ao seu redor, inquieto.

— O que está fazendo aqui, Stiles?

— Eu quero falar com Derek. ­— ele respondeu simplesmente e se virou para mim.

— Alguma razão particular? Ou, você sabe, existe alguma coisa entre vocês e...

— Ah, não. Derek não faz o meu tipo. — Ali estava de novo. O sarcasmo.

— O que você quer com Derek, Stiles?

— Eu quero saber onde ele compra jaquetas de couro. Eu acho as dele bem estilosas, para ser bem honesto.

Eu gostava de Stiles. Ele era diferente, ele era especial. A começar pelo fato de que ele não só mentia descaradamente. Isso ele deixava para o amigo Scott. Ele simplesmente mentia com estilo.

— Ah, a propósito. Eu sinto muito por ter tentado te matar mais de uma vez. Aquilo foi rude.

Stiles, que até então estava indiferente à conversa, apenas respondendo a sentenças que, imagino eu, ele mal prestava atenção, mudou de atitude. Olhou para mim atentamente e franziu o cenho, e vi que naquele exato momento sua mente hiperativa estava trabalhando a mil, tentando descobrir de onde aquilo surgiu.

Dei um meio sorriso enquanto era observado. Bom, muito bom. Stiles começava a entrar no jogo que, naquele momento, eu estava começando a jogar.

— Eu não sou do tipo rancoroso, Peter. Ao contrário de você, aparentemente — ele respondeu, com clara intenção de me atingir. É óbvio. Stiles era inteligente, ele sabia que eu estava jogando.

— Não? Bem, imagine o seguinte — me aproximei dele até ficar a uma distância pequena o suficiente. Consegui sentir que as batidas do seu coração estavam ainda mais rápidas. Eu esperava que ele não sofresse um ataque na minha frente, porque, caso ele morresse, seria um enorme desperdício.

— Imagine que você está em casa. É uma noite tranquila, aparentemente. De certo ponto de vista, é uma noite deveras agradável. Seu pai conseguiu a noite livre e Scott decidiu dar um pouco de atenção ao melhor amigo ao invés de se encontrar secretamente com a namorada. Nada poderia ficar melhor. De repente, você sente um cheiro inconfundível de fumaça, e quando você vai ver o que aconteceu, é tarde demais. Sua casa está queimando e, na tentativa de fugir, você nota que a casa está trancada. Nem você, nem seu pai, e muito menos Scott sabem onde estão as chaves da casa.

“Então você começa a vê-los queimar. Na sua frente. E não tem reza, não tem milagre que pare os gritos e o som terrível e cortante da carne deles pegando fogo. Não importa o quanto você chore no mais completo desespero, tudo o que eles fazem é queimar mais e mais. E você não sabe como, mas escapa. E descobre, um tempo depois, que aquilo tudo foi arquitetado. Alguém queria que vocês morressem. O que você faria? Não se vingaria deles? Não faria o possível e o impossível para vê-los todos mortos?”

Stiles estava desesperado. O medo dele era quase palpável. Pela primeira vez, eu o vi completamente fragilizado. Todas as muralhas detrás das quais ele se escondia acabaram de ser derrubadas. Sua respiração estava ofegante, seus olhos estavam lacrimejando e o seu corpo inteiro tremia. E mesmo assim, ele continuava lutando contra tudo isso, tentava se recompor para não parecer fraco.

- Você faria, não faria, Stiles? Você iria se vingar da morte deles, mesmo que isso custasse outras vidas. – Ele estava à beira das lágrimas agora. Apenas ouvia o que eu dizia e não se esforçava muito para responder. Notei que ele fechou o punho, tão forte que os nós dos seus dedos ficaram brancos.

- Eu não sou psicótico – Stiles respondeu simplesmente. Eu sorri diante daquelas palavras. Realmente? Ele realmente achava que precisava ser psicótico para querer vingança. – Eu não mataria ninguém.

- Mentira! Eu consigo ouvir suas batidas cardíacas, Stiles, você está mentindo. Você mataria todos eles, um por um, até que não sobrasse mais ninguém para contar história. Não tente mentir para mim, você não consegue. Você pode não ser psicótico, mas você tem um armazém de raiva dentro desse coração. Eu sinto isso. Você não é muito diferente de mim.

Por um breve momento, vi que seu olhar assustado se transformara em algo mais. Em real e puro ódio, misturado com uma gigantesca fragilidade diante de algo com o qual nunca o confrontaram antes. Ali estava. Talvez pela primeira vez em toda sua vida, alguém conseguira ver o que estava além daquela máscara de sarcasmo que ele vestia todos os dias.

Afastei-me dele, o vi disparar para a porta e sequer prestei atenção na sua ida. Eu havia visto o verdadeiro poder dentro daquele menino; o poder de alguém que vivia nas sombras; o poder de alguém que não tinha força extraordinária ou era muito talentoso em algo, alguém que não tinha nada além da própria mente para mantê-lo vivo; o poder de alguém com uma mente quase brilhante, que havia sofrido dor o suficiente por uma vida inteira e que ainda assim lutava para sobreviver.

Stiles era muito mais que simplesmente um garoto machucado pela vida.

Stiles era um garoto que, apesar do próprio desconhecimento, era perigoso.

Os outros o ignoravam, o tratavam como uma espécie de peso morto; ninguém o temia.

Mas eles deveriam.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso. Essa é a minha primeira fic no fandom, espero que vocês gostem :)