Garçonete escrita por Nina0207


Capítulo 2
Capítulo 2 - Coincidências ou a bendita ironia?


Notas iniciais do capítulo

E os reviews galeris??
E sim, os capitulos são grandes hehe



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Acordei me remexendo em minha cama. Antigamente eu dividia essa cama com minha irmã, mas ela viajara com o namorado e não voltara desde então. Minha mãe? Vive com o marido dela, meu padrasto, a poucos quarteirões do meu apartamento. Sai de casa desde que ela apareceu com aquele homem, dizendo que ia se casar e o caralho a quatro! Estão juntos há quatro anos. Em um convivi com ele. O que me fez perceber que o inferno pode ser instalado em sua própria casa.

Eu estava com 16 anos quando sai da casa da minha mãe. Fui morar por um tempo com meu pai e minha irmã. Outro inferno. Ou eu aguentava o padrastotário, pegando no meu pé pelo meu comportamento, ou eu aguentava meu pai brigando diariamente com a minha irmã por causa do namorado roqueiro dela.

Teve um tempo que fui só eu e meu pai. Depois que Jamie fugiu com o namorado e engravidou, desde então, não temos noticias dela. Bom, meu pai não tem nem minha mãe, às vezes ela me liga pra dizer que esta tudo bem e que meu sobrinho é um pestinha, que puxou ao pai e que adora uma guitarra.

E ah! Já ia esquecendo, eu tenho um irmão também. Ele deve estar com uns 25 anos agora. Nós não nos falávamos muito quando éramos pequenos, ele sempre foi mais ligado ao meu pai, sempre ficava na cola dele e tal. Quando Jamie saiu de casa com o namorado rockeiro, meu irmão, Igor, também decidiu ir embora. Ele estava com 21 anos na época, trabalhava e estudava. Via-se longe das barras da minha mãe há tempos, só esperava uma oportunidade para sair de lá também. Então, com a Jamie sumindo, ele foi na onda.

Admito que até tínhamos uma ligação fraternal boa, ele conversava comigo, éramos ligados e tal mas, quando ele viu um jeito de sair dali, sem minha mãe e o novo marido, meu pai do jeito que estava, procurou logo me deixar pra trás e seguir com a vida dele. Digamos que eu fui a filha que sofreu com essa historia. Não tinha namorado pra fugir. Mesmo se tivesse não fugiria. Não era maior de idade pra viajar ou morar em outro lugar. O único lugar no momento aonde eu poderia ficar seria com meu pai.

Hoje, eu, com 20 anos na cara, moro sozinha num apartamento alugado, no qual luto pra pagar. É bem no centro de Nova Iorque, Manhattan. Não posso dizer que este apartamento é ruim, ele até que é bom. Mesmo estando acostumada com apartamentos grandes ele nem é tão pequeno.

Claro que, considerando que minha sala fica basicamente grudada no banheiro, ele é bom. É mais ou menos um loft. É ajeitadinho e meu quarto fica na parte superior, bem acima da cozinha - agora que dei um jeito de por fim no beliche que dividia com Jamie. Tem uma escada por onde eu subo.

E, bom, meu apErtamento - como eu o chamo, por ser apertadinho -, é bem a cara de uma menininha - apesar de eu não me considerar uma menininha -, com tudo florida. É alugado, então o que eu posso fazer se quem morava aqui antes era uma senhora que adorava flores? Nada, né?

Mas o lugar mais agradável dele mesmo é minha varanda. É por onde saem às escadas dele, mas, é confortável, na medida do possível ficar ali fora, olhando a lua e os carros passarem. Tirando, é claro, o prédio com aparência de velho.

Fui até minha linda e adorável varanda e me sentei ali com uma xícara de café na mão, balançando meus pés. No meu prédio moram três pessoas. Um casal de idosos no primeiro andar, que sempre quando eu os encontro me dão um pedaço do bolo que compram na padaria aqui perto. No segundo, uma quarentona que mal sai de casa e recebe suas coisas na porta. Uma quarentona em quarentena! Chique, não? Eu moro no terceiro e posso garantir que sou a mais normal de todos. Tudo bem que, para alguém com aparência de garota mimada, a minha personalidade e genialidade desconsideram tudo que possam falar de mim. Afinal, para uma garota com 20 anos, cabelos cacheados da cor de um chocolate derretido com certas mechas loiras que obtive depois de tanta praia – tá que meu cabelo me deixa às vezes parecendo um espantalho quando acordo -, de um corpo legal e cor de pele queimada de sol, levam a uma aparência de garota rica que tem tudo nas mãos. 

Ta, não tenho muito peito, mas minha cintura fina e meu quadril dispersam a atenção do meu busto. Olhos castanhos claros, mas nada do tipo que você chegaria e diria: “Nossa, seus olhos são dois cacaus!” NÃO! Não diria.

E, ah, sim! Tem um rapaz do quarto andar que, juro, eu não tenho a menor ideia de como ele seja, eu não o vejo nem no elevador vagabundo que esse prédio DIZ que tem. Por que é realmente horrível esse elevador. Já fiquei presa nele umas três vezes – que eu lembre. Na maioria das vezes sou obrigada a subir e descer de escada mesmo. Bem que eu gostaria de saber como ele é, mas, vai que a criatura é um psicopata incrustado que não sai de casa pra não cometer um homicídio? Aí eu largo de mão, caso ele seja bonito, e saio correndo mesmo!

Ah, esqueci-me de comentar: eu recebo visitas todas as noites.

Não! Não é do tipo que vocês estão pensando. Mais que mentes poluídas você tem hein? Carambolas!

Eu sou visitada por um gato!

Bem que eu queria que fosse outro tipo, mas é aqueles de quatro patas mesmo, pelos e bigodinho. Ele é todo branco e praticamente todo dia de manhã ele me faz uma visitinha. Notei que desde que lhe dei uma tigela de leite na primeira vez que ele apareceu ele não tem saído mais daqui.

Ok, eu meio que o adotei, mas, QUE GATO INTERESSEIRO HEIN?!

E mais uma coisa sobre mim. Eu adoro fotografias, sou apaixonada por qualquer tipo de fotografia. O modo como a câmera captura o movimento ou um gesto, isso faz com que eu pare no tempo, apenas com um clique. Meu sonho é comprar uma daquelas maquinas profissionais e sair fotografando tudo quanto é coisa. Mas tenho que me contentar com aquelas máquinas que compramos em lojas de conveniências. E tchau dinheiro suado em maquinas descartáveis e rolos de filmes! Mas eu gosto, então... Por isso e por outros motivos irrelevantes eu trabalho em qualquer coisa, como garçonete ou vendedora. É trabalhar para realizar um sonho. Ser fotografa.

Levantei-me da varanda e entrei em casa indo direto para o banho. Ainda tinha que dar um jeito nessa juba que graças a minha querida mãe (sintam a ironia), eu herdara. Eu gosto do meu cabelo, mas entendam, é difícil controlar um homem, imaginem um cabelo como o meu. Não que ele seja incontrolável, mas dependendo do bom humor dele eu tenho que enfrentar sérios obstáculos para mantê-lo aceitável ao meu dia-a-dia. Por essas e outras, eu acabo sendo obrigada a usar um boné. Mas até que uso por que gosto mesmo.

Assim que sai do banho, enrolada na toalha e a juba controlada fui me vestir. Teria que ir procurar outro trabalho, afinal fui despedida por motivos irrelevantes. Ora, eu não tive culpa se o cara era um jumento que teve a audácia de me perguntar como se faz um macarrão! Eu que não cozinho sei como faz! Pô!

Coloquei uma calça e uma regata, uma jaqueta por cima e uma rasteirinha. Peguei minha bolsa de sempre e quando ia sair ouço um “miau” perto da janela.

- Você chegou tarde dessa vez. - falei, pegando Colarinho no colo. É, eu pus o nome de Colarinho no bendito gato, confesso. Mas o que eu posso fazer se o bichano tem um cordão de pelos pretos em volta do pescoço. E até que o nome combinou com ele, vão dizer que não?

Ele soltou outro “miau” quando o pus em cima da bancada da cozinha. Fui até a geladeira e peguei o leite. Peguei a tigela que separei só para ele e coloquei o leite ali, o depositando à sua frente.

- Vê se da próxima vez vem mais cedo. Mais um pouco você não me pega em casa. – acariciei suas costas enquanto ele tomava todo o leite e fui até a janela. “Não é minha culpa se me fizeram atrasar” - imaginei o Colarinho responder levantando sobrancelhas imagináveis, muito suspeitas. Entreabri a janela um pouco para que ele pudesse sair depois. Fiquei olhando-o beber o leite e uma lampadazinha surgiu acima da minha cabeça. Fui ate meu quarto e peguei a câmera descartável. Ainda tinha um filme para ser usado. Parei em frente a Colarinho e posicionei-me em um ângulo que o pegasse perfeitamente, a luz e a maneira como ele bebia o leite e bati a foto. Guardei a câmera na bolsa, prendi meu cabelo num rabo de cavalo e sai de casa. De volta as ruas para procurar trabalho. 

Antes de ir procurar emprego, tinha que dar uma passadinha na casa da minha mãe. Era aniversário de casamento dela com meu padrastotário e ela havia me chamado para comemorar com eles. “É só uma simples cerimônia” - disse ela ao telefone semana passada. Não foi bem isso que eu soube que seria.

Assim que saltei do ônibus, me vi parada em frente à casa de minha mãe. Fui até ela e toquei a campainha. Uma senhora provavelmente no auge dos 70 e poucos anos atendeu a porta ainda rindo de algo que estivera falando antes.

- Posso ajudar?

- Ahn, pode sim. A senhora Meredith McCaugh se encontra? – perguntei como se fosse uma garota vendendo uns biscoitos.

- E quem quer falar com ela?

- Sou filha dela senhora, e quem é você? - perguntei. A cara da velha só faltava quebrar do tamanho da boca que ela escancarou. Tudo bem, eu sei que não sou de visitar minha mãe desse jeito, eu mal a via e também, não dava nada para vê-la. Era melhor para todos. Ela não me enche o saco e eu não tenho motivos para reclamar do marido dela.

- Entre, entre. Eu vou chamá-la. - resolveu ser prestativa a mulher. Entrei e fiquei ali, na porta, parada, esperando. Podia ouvir murmurinhos e risos vindos do fundo da casa. Realmente, uma simples cerimônia. Desde que casara com Ricardo, o padrastotário, minha mãe só tem desfrutado da vida que o homem dá a ela. Ele não é lá essas coisas, o homem é feio, mas até que se deu bem se falarmos de grana. Ele ganha uma boa quantia em dinheiro com as firmas que ele tem por ai. Digamos que ele mexe muito com as ações de megaempresas. Compra e vende as ações de empresas maiores que a dele, e ganha, é claro, um lucro nisso tudo. Um lucro que dá para manter uma casa reformada de quatro quartos, banheiro com hidro, e não vamos esquecer o carro zero na garagem. E bom, basicamente uns cinco empregados. Cozinheira inclusa hein, não se esqueçam.

Parece propaganda de casas luxuosas com famílias podres de rico e felizes, com seus filhos estudando numa boa faculdade e de bom caráter. O slogan perfeito seria: “Compre esta casa e ganhe um kit de como ser a família perfeita!“.

Porém, ninguém lê nas entrelinhas, que seria quase isso:

“Compre esta casa e ganhe um kit de como se livrar de seus filhos maconheiros, desempregados e que fodem com a sua vida!”.

Acho que minha mãe comprou esse kit. Tirando os maconheiros e trocando-o pela gravidez.

- Você veio! - ouvi minha mãe dizer enquanto me dava um de seus abraços de falsidade. Uma coisa que vi que minha mãe havia adquirido era a maneira como ela conseguia se parecer mais e mais com aquelas mulheres fúteis que só pensam em cabelo, unha e roupas, e não estão nem ai para os filhos ou como eles se viraram após saírem de casa. Caso no qual ela havia feito minha vida se tornar um inferno!

- É, to aqui, não to? - falei parada no mesmo lugar. Nem movi meus braços para abraça-la.

- Vamos, entre, quero te apresentar a algumas pessoas. - ela me puxou pelo braço, levando-me as pessoas que eu mais odiava na vida: dondocas que se aproveitaram de homens ricos e sem pinto, que só sabem foder com a vida alheia! Tirando minha irmã que fugiu se livrando da minha mãe, e meu irmão, que não sei bem o que ele está fazendo - mas deve ser bem melhor do que aturar isso aqui -, eles, ao menos, podem ser eles mesmos. De qualquer maneira estão felizes.

 - Queridos, quero lhes apresentar minha filha. - falou ela numa alegria irritante e falsa. E desde quando ela chama alguém de “Querido”?

- Meu deus! Merie, ela é igualzinha a você! - exclamou uma dondoca ruiva, de olhos verdes e brilhantes. Ela prendera o cabelo num coque alto e vestia um vestido de rendas verde claro, combinando perfeitamente com seus olhos. E Merie? Quem diabos é Merie? Mereço! Dei um sorriso amarelo, e estendi a mão para cumprimentá-la. - Emma, esta é Julie, uma amiga muito querida do clube.

- Que clube? - pergunto só para ela.

- Depois falamos disso. – responde, rindo para todos. Eu reviro o olho e continuo dando meu sorriso amarelo conforme ela vai me apresentando as pessoas. Seguimos pela fileira de mesas que havia sido disposta pelo jardim, que crescera desde a última vez que vim aqui. Até agora nada de Ricardo pra encher meu saco tão precioso. Descemos as escadas que nos separávamos da casa do vasto jardim que crescera.

- O que você fez aqui? Entrou em algum centro de multiplicação? Esse jardim cresceu!

- Faz anos que você não aparece aqui, não é? Eu sempre estou te convidando para nos visitar, mas você nunca aparece. Ricardo conseguiu uma boa venda nas ações, ganhou um bom dinheiro. Ampliamos o jardim, como eu queria.

- Hm. Legal. - foi a única coisa que consegui dizer. Parabéns pro Ricardo, não tenho nada a ver com isso. YEEH! Troféu Joinha pra ele! - E onde ele está?

- Já está chegando, foi buscar uma pessoa.

- Ah, sim. - chegamos perto de um chafariz, que eu juro que não tinha. Minha mãe me fitou e deu um sorriso de lado. Fiquei a observando, eu era mesmo parecida com ela. O mesmo cabelo castanho, mas sem as mechas; cacheado, mesmas feições e cor dos olhos, mas vi que meu nariz não tem nada a ver com o dela. São do meu pai.

- Espero que fique mais tempo desta vez. Sei que você não gosta daqui Em, mas por mim, fique. – isso me surpreendeu, ela nunca me pedira nada, ainda mais com esse tom.

- Eu vou tentar mãe.

- Obrigada. - ela sorriu de novo, aproximando-se de mim. Senti que queria me dar um abraço, mas, eu não conseguia. Minha apreensão de que vou sair magoada nessa sintonia que minha mãe quer de volta entre nós me diz que não devo ir tão rápido assim. Melhor ver no que vai dar essa aproximação toda, afinal, a traição dela com meu pai foi à gota que faltava para o casamento entre eles chegar ao fim. É, Ricardo é o adorável amante que meu pai viu minha mãe aos beijos. Por isso eu o odeio, por isso eu A odeio. Eu tento entende-la, mas vejo que não dá.

Eu, na verdade, nem sei o que estou fazendo aqui. Talvez seja o fato de não ter mais nada para fazer. Se tivesse meu emprego ainda, com certeza eu estaria lá, xingando e colocando pimenta em mais um prato. E com Benji me fitando com aqueles olhos verdes que esfolam meu coração. Tirei uma foto dele com uma maquina descartável, revelei o filme e coloquei sua foto presa no espelho do meu banheiro. Ele usava um chapéu e o estava ajeitando na hora que bati a foto.

Simplesmente lindo. 

Pode me ver consideravelmente afim de Benji, mas ele nunca olharia pra mim, ele está focado no emprego, na faculdade de culinária e, eu não vou atrapalhar admitindo meus sentimentos. Até porque ele não vai ficar aqui. Assim que Benji terminar a faculdade ele se mudará para a Itália. Onde a família mora. Irá abrir um restaurante lá e dará o mínimo de conforto que seus pais necessitam.

Minha mãe, vendo que havia chegado mais gente, deixou-me sozinha ali no chafariz e foi atender os recém-chegados. Vi um rapaz bonito de longe, cabelo preto espetado. Usava um uniforme de cozinheiro, eu já o vi antes, sei disso.

Fui até a mesa de comida, e ao parar frente a ela, o rapaz se virou e me encarou.

- Benji? O que você faz aqui? – exclamei, surpresa.

- Emma! Oi! O que você está fazendo aqui?

- Eu perguntei primeiro. - infantilidade, eu sei.

- Eu... Er.. O Menudo’s... Eu fui meio que contratado pra... Fazer a comida da cerimônia de renovação de casamento da sua mãe. - explicou ele, enrolado. Acho engraçado o modo como ele se enrola quando quer explicar algo, fica nervoso e gagueja.

Será que seria assim se quisesse admitir algo pra mim? - Sorri com esse pensamento.

- E porque você?

- Não sei bem, eu... Er... Sua mãe... Ela foi lá ao restaurante, até perguntou por você.

- Ângelo deve ter dito que tinha me despedido, não é? - perguntei, dando a volta na mesa de comida e parando da frente dele.

- Não, quer dizer... Disse.

- É eu imaginava. – apoiei-me na bancada e revirei os olhos. - Deve ser por isso que ela está me olhando com certa pena. - olhei para onde minha mãe conversava alegremente com uma mulher loira oxigenada. Então vi que Ricardo havia chegado e a abraçava com força, dando-lhe um beijo nos lábios. Lembrei-me que antes de se separarem meu pai tentava fazer isso, mas ela não deixava. Ao lado de Ricardo vi um homem bem vestido, cabelos pretos num topete moderno, sorriso bonito, que fazia seus olhos se juntarem.

Notei que aquele sorriso era muito parecido com o meu, que é parecido com o do meu pai. E notei também que aquele rapaz falando com a minha mãe era meu irmão, Igor. 


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