As cinzas tingiam os céus daquela manhã, assim como os gritos e acusações presentes nos lábios daqueles que assistiam a condenação. As lágrimas de uma família em especial, e daquele que mais parecia um invasor. O fogo, o cheiro de queimado, os gritos da jovem.

    Francis assistia à cena, e os próprios gritos se mesclaram com os daquela que ardia nas chamas.

     E ao se aproximar mais do palco de execução, Jeanne pode vislumbrar o rosto de Francis, em meio à tantos que a condenavam. Os gritos cessaram de imediato, e ela murmurou um “você veio”. A francesa, então, abrira um sorriso, fechando os olhos. E Francis permaneceu a gritar-lhe o nome. As lágrimas eram pesadas, as que rolavam por seu rosto. Ele queria que aquilo fosse apenas mais um pesadelo, e quando acordasse, estaria ao lado daquela que amou secretamente, desde o dia em que a vira, ajoelhada no palácio do Rei.

“Desde o dia que você apareceu
meu dia-a-dia maçante começou a brilhar”

     Compartilharam tantos momentos juntos. Tantas alegrias, tristezas, frustrações, e nunca um único beijo.

“Sentindo-se triste por desejar o impossível.”

     E agora Francis estava de joelhos à praça vazia, a fogueira apenas com um vestígio das chamas poderosas de momentos atrás. Olhava para a pequena presilha em suas mãos. Os olhos arregalados na descrença, o rosto convertido em uma expressão de pânico, dor. Por que Deus o estava castigando assim?

   Esse é o tabu para aqueles que se  apaixonam por mortais.

“Solidão e dor, pensei que podia lidar com isso.”

   O Sol havia lhe abandonado, assim como aquele sorriso singelo da menina, que jamais veria de novo.

   Francis sorriu de modo melancólico, ao reunir o que sobrara das cinzas. Nem tudo estava perdido.

“Eu escolhi um caminho imprevisivelmente doloroso e você veio me dar apoio.”

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    O vento batia no rosto de Francis, fazendo seus cabelos rodopiarem atrás de si. As cinzas estavam guardadas com cuidado nas mãos em forma de concha, e o francês aproxima-se da borda da ponte. Observa o rio Sena, que fluía delicadamente, sempre no mesmo ritmo, perfeito, suave, macio.

“Désolé, mon ange.”

“Non pude protegê-la.”

“Fui um inútil, mal conseguir fazer tal tarefa tão simples, proteger a pessoa que mais amei em toda a vida.”

   Bonnefoy proclamava aquelas palavras, em um sussurro baixo, para que apenas o vento o ouvisse. Ele abriu as mãos, deixando as cinzas flutuarem pelos céus, e serem carregadas para o leito mais profundo daquele rio, que a garota tanto amava.

  Logo seguiu a vez do loiro. Este subiu no batente da ponte, sentando-se ali, e balançando as pernas no ar. Aproveitou aquele último raio de Sol em sua face, sentindo o calor de estar vivo. Jeanne já não podia sentir. Os dedos da mão apertaram-se, sentindo falta dos de outro alguém ali.

Mas eles já não estavam mais lá.

  E com um sorriso no rosto, Francis pulara da ponte. O som da água quebrou o silêncio da região, assim como alguns pássaros que levantaram vôo.

“Eu sou apenas um prisioneiro do amor.”