Durante o tempo em que estiveram juntos no esconderijo das bruxas, poucas foram as ocasiões em que os cinco manipuladores estiveram reunidos. Na maioria das vezes no máximo três se juntavam para cumprir alguma missão mais complicada ou para conversar, ocasionalmente até por acaso. O assunto daquele dia, contudo, exigia a presença de todos. Luna e Karin, as últimas a saber da notícia, se mostraram tão perplexas quanto os manipuladores da terra e do fogo quando foram avisados.
-Isso é impossível, ele estava morto! Como pode ter revivido assim? – Disse a sacerdotisa.
-Talvez seja algum tipo de bruxaria. Se agora o Elbio tem duas almas habitando o corpo, talvez exista alguma magia que permita reviver os mortos. – Comentou Karin, ansiosa por demonstrar o que estava aprendendo com as bruxas.
-Existe essa possibilidade, mas se for o caso eu tenho certeza de quem fez isso não é alguém confiável. – Mencionou Samantha.
-Os meios não importam agora, mas sim o fato de que existe uma chance de salvar William. Acho que devemos isso a ele, já que estaríamos todos mortos, não fosse pelo seu sacrifício.  – Disse Yasmin.
-Se considerar que o inimigo que ele está enfrentando é a Ordem da Rosa Branca, as chances de que ele bata as botas de vez são grandes. – Apontou Fernand.
-Eu pretendo partir ainda hoje para o campo de batalha, localizar William e trazê-lo para cá, nem que seja na base da porrada. Tenho certeza que a Madame Papillon poderá ajudá-lo a se recuperar. – Afirmou a ex-capitã, sem uma sombra de incerteza sequer no olhar. – Quem está comigo?
-Nem parece aquela garota cheia de dúvidas que eu conheci. E eu concordei em vir nessa jornada com você, vou segui-la onde for. – Falou a manipuladora da água, sorrindo.
-William é meu amigo, então é claro que não vou deixá-lo na mão. Além disso, eu sempre quis medir forças com aquele lado bisonho dele. – Foi a decisão do soldado da terra em meio a gargalhadas.
-Vai ser bom liberar um pouco do estresse que sinto com essas aulas puxadas o dia inteiro! Conta comigo, Yasmin! – Exclamou Karin.
Samantha ficou calada e logo todos estavam olhando para ela, esperando, um tanto ansiosos, para saber qual era sua opinião. A espera insuportável fez com que Yasmin quebrasse o silêncio.
-E quanto a você, Samantha?
-Precisa perguntar? – Respondeu ela sem mudar a expressão. – Quanto tempo até partirmos?

A sala de reuniões da Ordem da Rosa Branca tinha metade de seus lugares ocupados. Convocados pelo líder, Inferno, os integrantes que foram escalados para proteger o castelo, Vortex, Quartzo, Viper, Carbon e Scythe, não demoraram para responder.
-Alguém quer apostar comigo que algo deu muito errado? – Propôs Roger.
-Nossa posição na guerra permanece favorável, mas é evidente que eu não teria chamados todos se a situação estivesse completamente sob controle.
-Isso é importante. Trata-se de um problema que diz respeito a nós, algo que não estaria acontecendo se fôssemos mais competentes. – Apesar de dizer isso, no fundo o controlador dos portais estava contente. William poderia colaborar com seus planos novamente, mas seria necessário encontrar uma forma de deter sua fúria.
-Obrigado, Vortex. A verdade é que nossos aliados na fronteira estão sofrendo ataques de um manipulador que já combatemos antes. Aquele rapaz estranho que controla tanto o vento como relâmpagos negros.
-Aquele desgraçado? Ele não tinha morrido?! – Exclamou Vincent, batendo os punhos na mesa.
-Calma Carbon, parece até que você tem algo pessoal contra ele... – Comentou Scythe.
-Estou igualmente surpreso, meu amigo. Parece que ele está descontrolado e tem como objetivo matar todos os membros da nossa ordem. – Explicou Inferno.
-Maravilha, eu já estava enjoada de ficar aqui pegando mofo! Quando partimos para o campo de batalha? – Animou-se Viper.
-Sinto muito decepcioná-la, mas não vamos a lugar nenhum. Enviar suporte em números pequenos seria arriscado demais, considerando-se que o relatório disse que, em lutas individuais, Spectra e Electron quase foram mortos.
O líder fez uma pequena pausa antes de prosseguir.
-E contra inimigos tão astutos é perigoso deixar o castelo desguarnecido, isso pode muito bem ser uma isca para tirar nossa atenção. Portanto, o que eu quero lhes dizer é o seguinte: a partir de agora sejam ainda mais cautelosos.
-Mas e quanto aos outros? – Perguntou Carbon, preocupado com a segurança de seus aliados.
-Estamos falando de seis membros da Ordem da Rosa Branca contra um único inimigo. Vamos ter fé na capacidade deles de resolver esta situação. – Justificou Inferno.
-Além disso, Ent está com eles. Tenho certeza de que aquele moleque ainda vai receber uma lição inesquecível. – Debochou Priscilla aos risos.

-Essas ataduras incomodam pra caramba, não vejo a hora de tirá-las. – Reclamou Electron enquanto Spectra retirava os curativos de seu corpo.
-Quem deveria reclamar sou eu, que tenho que te ajudar já que seu corpo está todo detonado. Você é um tremendo inconsequente, sabia disso?
-E você por acaso fugiria se estivesse no meu lugar?
A controladora de névoa ficou em silêncio enquanto começava a enrolar novas ataduras no seu companheiro, que sorriu, satisfeito por deixá-la sem resposta. Como recompensa, ele recebeu um soco na nuca.
-Ai, cuidado! Eu quero estar em condições de lutar quanto William for avistado de novo.
-Se é esse o caso, então é bom se recuperar logo. O general nos convocou para uma reunião hoje mais cedo e decidiu que nossa prioridade é encontrar aquele garoto e pacificá-lo, de qualquer maneira. – Explicou a mulher.
-Mas e quanto ao exército inimigo?
-Agas teme que William possa interferir num momento crítico. Ele causa tanto caos e incerteza que seria loucura deixá-lo agir à vontade.
Com o término de sua incumbência, Camilla recolheu o conjunto de primeiros-socorros e se levantou. Porém, antes que ela desse muitos passos, Electron fez um último comentário.
-Espere, Spectra. O general disse que devemos pacificar o inimigo, mas eu duvido que sejamos capazes de contê-lo, mesmo que seja nocauteado.
-Você está certo, e é por isso que decidimos que quando ele for avistado novamente, atacaremos para matar.