Roses And Demons: Warbloom escrita por JulianVK


Capítulo 4
Proibição


Notas iniciais do capítulo

Já revisei metade do Roots of Rebellion. Claro, eu já deveria ter terminado, mas como estou postando toda semana não vejo necessidade de me apressar... *poker face*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/260301/chapter/4

A luz do dia adentrava pelas janelas desprovidas de qualquer cobertura. Aquele local amplo era feito do mesmo material que o restante do monastério: rocha. No centro havia uma mesa muito comprida de madeira maciça, com vários conjuntos de bancos de cada lado, formando duas linhas. Todas as bruxas já haviam feito o desjejum, logo somente uma pequena parte estava sendo utilizada por Lince e Gabriel, enquanto que Anya observava, em pé.
A atmosfera era confortável, até um tanto familiar para o capitão, acostumado com quartéis militares não muito diferentes. Gabriel, por outro lado, não estava nada contente. Teria que esperar um dia inteiro lá, longe de seu laboratório, tudo graças às tolices de uma bruxa velha e de um babaca convencido.
-Muito obrigado, a comida estava deliciosa. – Comentou Lince, após engolir um último pedaço de carne cozida.
-Bem melhor que aquelas coisas que você tentou me empurrar durante a viagem. – Lembrou Gabriel, num tom bastante seco.
Lince sentiu vontade de dizer ao alquimista que ele simplesmente ofereceu, não tentou fazê-lo comer à força, mas uma discussão destas seria uma perda de tempo para ambos os lados. Assim sendo, ele decidiu dirigir-se novamente à líder das bruxas.
-Eu não gosto de abusar da hospitalidade dos outros, há algo que eu possa fazer para ajudar durante o dia?
-Se realmente está disposto a nos auxiliar pode cortar um pouco de lenha. Siga na direção noroeste e logo vai encontrar algumas de minhas irmãs no bosque, elas devem ter algum machado sobrando.
-Excelente, farei isso agora mesmo.
A simples menção a trabalho braçal causava desconforto em Gabriel. Ele já estava preparado para recusar qualquer pedido de Anya para ajudar Lince, mas a bruxa ficou calada. Não fazia questão de obrigar seus hóspedes a trabalhar.
-Fique à vontade aqui, Gabriel. Peço licença, tenho que avisar a bruxa que enfrentará Lince para que esteja preparada.

Lince Walters esfregou a testa, limpando o suor. Segurava com sua mão esquerda um comprido machado e, ao seu lado, havia uma pilha de lenha cortada. Era um trabalho cansativo, mas ele se sentia bem por fazê-lo, pois era um homem que acreditava que para tudo que se recebe algo deve ser oferecido em troca. Não havia mais ninguém ao redor, as bruxas estavam espalhadas pelo bosque.
-Acho melhor eu levar isto aqui para a pilha, já deve estar quase na hora do almoço.
O militar colocou o machado sobre a lenha coletada e então ergueu tudo em seus braços, carregando até uma pilha com meio metro de altura onde as bruxas juntavam a madeira conforme a cortavam. Lince largou o que trazia lá e, enquanto se abaixava para recolher sua ferramenta, ouviu o som de grama sendo pisada. Alguém se aproximava.
Surgindo dentre as árvores vinha uma bruxa com o mesmo padrão de vestes de Anya, com uma única diferença: a faixa presa nas costas era da cor amarela. A garota não parecia ter mais que vinte anos e tinha cabelos loiros, divididos ao meio e descendo até a altura do peito. Seus olhos eram azulados e o capitão tinha a vaga impressão de que a conhecia.
-“Eu tenho certeza de que já a vi em algum lugar. Mas onde?” – Lince esforçava-se para lembrar, sem sucesso.
Ela logo percebeu que não estava sozinha, mas, diferente de Walters, reconheceu-o de imediato, deixando cair a lenha que trazia devido à surpresa. Boquiaberta, a bruxa mal conseguiu balbuciar.
-L-Lince...?
O capitão finalmente alcançou a memória que procurava. A moça estava um pouco diferente, mas agora que conseguia ver o rosto com clareza não tinha dúvidas. Walters a conhecia muito bem, embora não visse há alguns anos. Ela se chamava Erika.
-Erika Secrett...
A filha do rei, Jack Secrett.
Finalmente recuperando-se do susto, Erika recolheu a lenha que havia deixado cair e a jogou sobre a pilha. Em seguida, olhou reprovadora para Lince, como se questionasse o que diabos ele estava fazendo lá.
-Eu pensei que você estava estudando na Magna Academia, o que você faz aqui, Erika?
De acordo com o que ele sabia, a filha do rei havia deixado a capital para dedicar-se aos estudos. Pela lei de Empericia ela não poderia ser a sucessora do trono, direito este que cabia a seu irmão mais novo, mas ainda assim Jack Secrett desejava que sua filha fosse uma figura importante no reino.
-Como se alguém que sempre pôde seguir o caminho que desejou fosse entender...
A voz da princesa estava cheia de desgosto e rancor e Walter já imaginava o motivo.
-Não diga isso, Erika. Desde crianças nós sempre fomos amigos, você sabe que pode confiar em mim.
O silêncio foi a única resposto que Walters recebeu, mas ele não era tolo. Já havia compreendido as razões da bruxa.
-Você enganou seu pai e veio aqui porque foi rejeitada pelo exército, não é verdade?
Mais silêncio, contudo Lince sabia que estava no caminho certo.
-Não se preocupe, Erika, eu não vou contar nada quando voltar.
Finalmente, ela cedeu à insistência de seu antigo amigo e decidiu falar com sinceridade, revelando o que sentia.
-Você sabe que eu nunca fiz questão de ser rainha, mas sempre sonhei em ser uma oficial do exército. Mesmo que mulheres não pudessem fazer parte das forças militares de Empericia eu acreditava que meu pai abriria uma exceção para mim...
Lince sentia-se mal. De certa forma ele se apresentava diante de Erika como alguém que ela gostaria de ser, como se tivesse roubado o sonho da garota.
-Eu estava errada. Ele me proibiu terminantemente de realizar qualquer atividade militar, fui proibida até mesmo de me aproximar de um quartel. Meu pai fez de tudo para que eu esquecesse meu sonho.
O capitão sabia muito bem o quão teimosa era a princesa. Mesmo que não pudesse contrariar o rei diretamente, era certo que jamais deixaria de lado seus desejos. Porém, não imaginava que ela chegaria a tal ponto.
-Mesmo assim, estou contente. Eu aprendi muito sob a tutela da Senhora Anya e finalmente me tornei uma guerreira. Provavelmente é o mais perto que chegarei de realizar o meu sonho.
-Então é você a bruxa que eu terei de enfrentar hoje à noite...
-Exatamente, Lince. Eu também estou surpresa por saber que você será o adversário, mas isso não muda nada. Mesmo que na infância tenhamos sido amigos, eu vou acabar com você e provar que o meu treinamento aqui me tornou muito mais forte que qualquer soldado de Empericia.
-“Mas eu sou um capitão, não soldado...” – Pensou Lince, sabendo que irritaria Erika caso dissesse isso em voz alta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O encontro com Erika Secrett faz a determinação de Lince fraquejar.
Capítulo 105: No Limiar do Culpa
Em breve.