Do lado de fora do quartel, Fernand suspirou e coçou sua cabeça, pensativo. A situação não havia transcorrido como ele desejava, mas ao menos tinha a certeza de que não seriam deixados de lado. Mas havia um problema, que logo foi apontado por Luna.
-O que faremos com todo esse tempo que temos disponível?
-Se gastarmos tal tempo com futilidades é certo que seremos trucidados em combate. – Apontou Yasmin, preocupada que a força que haviam adquirido enfrentando a Rosa Branca fosse perdida.
-Isso é inaceitável. Sendo assim, o que faremos é muito simples. Vamos treinar diariamente enfrentando uns aos outros e assim aumentar ainda mais nossas forças.
As outras garotas acenaram afirmativamente a cabeça, mostrando que concordavam com o que Samantha havia dito. Fernand também acreditava ser isso o melhor a fazer, mas tinha algo a acrescentar.
-Eu concordo com você, Samantha, mas há algo que eu desejo fazer. Quero visitar minha família, que infelizmente não mora aqui em Himitsu.
-Não tem problema, já estamos acostumados a treinar durante as viagens. – Disse a bruxa.
-E você bem que poderia me ensinar algumas bruxarias, certo? – Falou uma esperançosa Karin.
-Que seja! Eu ensino sim, mas pare de me incomodar!
A manipuladora das trevas praticamente explodiu em raiva, logo Karin permaneceu calada. Não queria estragar o que havia demorado tanto tempo para conseguir.

A campanha militar de Empericia finalmente começou e suas tropas avançaram através do território de Chesord. Porém, como havia sido previsto por Agas, eles se detiveram diante do Corredor Uivante, a passagem entre dois desfiladeiros e também o local onde o Pyrath pretendia deter as forças inimigas.
Os soldados de Otrom montaram um enorme acampamento a cerca de um quilômetro do corredor e um grupo de batedores foi escalado para fazer uma análise da região. O general não pretendia tomar nenhuma decisão antes de possuir todas as informações de que necessitava.
Contudo, quem realmente colocava seus neurônios para trabalhar era Lince Walters, incessantemente pensando em diversos planos. Ainda assim, não conseguia decidir entre eles, pois o relatório dos batedores seria crucial e a demora o deixava cada vez mais nervoso.
-Que é isso, Lince? Suando sendo que nem sequer saímos do inverno?
Tamanha era a concentração de Walters que ele não percebeu que alguém havia invadido sua tenda: uma bruxa. Embora seu rosto estivesse coberto por um capuz, a voz era familiar demais para não ser reconhecida.
-Erika, o que veio fazer aqui?
-O que você espera que eu faça? O tédio neste lugar é terrível, só o que podemos fazer é aguardar.
-Tudo bem, eu entendo sua situação, mas agora eu estou ocupado demais.
-Ocupado com o quê? Até parece que você vai tomar uma decisão antes que o grupo de reconhecimento volte!
Erika tinha toda a razão e Lince sabia que negar suas palavras seria perda de tempo. Talvez não houvesse nada muito interessante a fazer no momento, mas pensar sem parar estava deixando-o louco. Quem sabe conversando com sua amiga o tempo passaria mais rápido.
-Muito bem. E o que você quer fazer que envolve a minha presença, Erika?
-O pessoal daqui é meio sem graça. Quem sabe você consegue me distrair um pouco?

Algumas horas depois, os batedores finalmente retornaram e repassaram as informações para Otrom. O general então solicitou que o Capitão Walters fosse chamado à sua tenda para discutir os detalhes. Lá, Lince descobriu as novidades que, infelizmente, não eram nada positivas.
-Eu pessoalmente não consigo acreditar que nossos homens tiveram que recuar todas as vezes que chegavam às partes mais altas desta região.
-Concordo que é humilhante, rapaz, mas estou contando com você para me auxiliar com um plano.
-É certo que tentar forçar a passagem entre os desfiladeiros seria um caminho para a morte certa, mas aparentemente o mesmo é verdade quanto a tentar enfrentá-los nas montanhas.
A mente de Walters trabalhava furiosamente, pois ela via na face do general o quanto ele estava descontente.
-Eu sei muito bem que temos que ser cautelosos pois eles possuem a vantagem, mas do jeito que você fala, garoto, faz parecer que não temos chance.
-Infelizmente não temos muito com o que trabalhar considerando que nossos batedores apenas encontraram soldados inimigos e uma nascente, general.
-Então não há outro jeito. Mesmo que isto resulte em vários sacrifícios, vamos atacá-los amanhã e tomar deles as montanhas.
Lince apoiou seus braços sobre uma mesa de madeira, pensando ainda mais fervorosamente. Não deseja colocar seus aliados numa situação tão arriscada, mas sabia que o general não recuaria. A visão das montanhas vermelhas de sangue Empericiano já o assombrava. Contudo, um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, ele havia pensado em algo, finalmente.
-Espere um momento, general. O senhor vai querer ouvir a ideia que acabo de ter!

Em seu laboratório, Gabriel continuava a realizar suas experiências. Naquele momento em particular, retirava sangue do corpo de William, preservado através das habilidades do alquimista.
-De acordo com o livro do Defteri, sangue humano se mistura com o extrato de ervas que preparei para formar um remédio.
D’Illusie monologava enquanto derramava o sangue recolhido dentro de um frasco com um líquido viscoso e esverdeado. Depois que a última gota caiu, ele ergueu seus olhos e observou o fundo daquele recinto, sentindo um calafrio na espinha na mesma hora. Havia uma figura obscura e difícil de discernir, mas com dois olhos amarelados reluzentes.
-“Mas que diabos é isso?”
O frasco diante do alquimista explodiu numa nuvem de fumaça e o fez tossir fortemente. Quando finalmente conseguiu enxergar novamente, Gabriel notou que já não havia nada no local onde antes estava a misteriosa figura.
-Será que estou vendo coisas?