–PRIMEIRO DIA DE AULA, PRIMEIRO DIA DE AULAA!- acordei com a Cams gritando enquanto pulava na minha cama.

–Porra, não dava pra me acordar com carinho na cabeça ou um beijo na bochecha, não?- perguntei brava.

–Claro que não! Não teria graça!- ela falou ainda pulando. Essa menina deve ser hiperativa, porque não tem condição!

–Me deixa dormir!- reclamei ainda com sono.

–Mas a gente tem aula daqui a pouco e eu já fiz o nosso café. To indo comer porque o Eleotério tá mugindo aqui- ela falou e saiu de cima da minha cama indo pra cozinha.

–Opa! A Emengarda também precisa ser alimentada!- falei e me levantei num pulo- o que você fez pra gente comer?

–Panquecas, waffles e cookies!- ela falou.

–Nu, que horas você acordou pra fazer isso tudo?- perguntei colocando uma panqueca no meu prato.

–Um pouco antes de você- ela falou entre as garfadas na panqueca- eu só fiz as panquecas, os waffles e os cookies já vieram congelados.

–Aaah, taa!

Terminamos de comer, quer dizer, eu terminei, porque além da Cams comer muito, ela come muito devagar. Mas ainda bem que ela já tinha trocado de roupa.

Entrei no closet e escolhi uma calça jeans, pra ser mais especifica, uma que me deixa com a bunda um pouco maior (sou traumatizada), uma blusa de rendinha listrada e uma sapatilha.

–Ana, a gente tem que fazer uma twitcam!- Kiwi falou do nada, enquanto calçava o vans dela.

–Nu, temos mesmo, tem mó tempão que a gente não faz uma!- concordei. É realmente muito engraçado quando nós fazemos uma.

–Lembra da nossa primeira twitcam, que a gente começou a fingir que tava tendo um AVC?- ela falou e nós começamos a rir muito e a fingir que estávamos tendo um AVC de novo! Sério, não tem pessoas mais retardadas que a gente!

Passamos a nossa maquiagem diária, pegamos o mapa do campus, os nossos horários, nossas mochilas e saímos correndo porque já estávamos atrasadas.

–Qual é o primeiro horário?- perguntei.

–Você tem uma chance pra adivinhar!

–Psicologia?- chutei.

–Acertou!- ela falou e nós rimos. Pra falar a verdade, eu nem sei porque. Ah é, lembrei, nós somos retardadas.

Graças á Deus a sala de psicologia não era muito longe do nosso dormitório, então chegamos no prédio no qual a sala ficava ainda com alguns minutos de antecedência.

–Será que o fessor já ta lá?- perguntei enquanto subíamos uma escada.

–Não sei, só acho que não vou conseguir controlar a minha vontade de apertar a bunda dele quando ele virar pra escrever no quadro!- Kiwi falou.

–É redondinha!- nós falamos juntas.

Entramos na sala e Cams apertou meu braço pra espantar o seu nervosismo. O professor ainda não estava lá, mas as cadeiras já estavam quase todas cheias.

Comecei a reparar nas pessoas: tinha o grupo das patricinhas, o grupo dos caras gatos (EPA!), o grupo dos excluídos...

–Olha lá o Danny e o John!- Cams falou apontando para os dois, que estavam no fundo da sala, longe de todos os grupos.

–Vamos dar um susto neles?- perguntei. É, a gente tem essa mania de assustar as pessoas.

–Animo!

Demos a volta por trás e gritamos quando chegamos atrás deles.

–BUUU!- gritamos muito alto, só que bem na hora, o professor tinha chegado na sala e todo mundo tinha calado a boca. Cadê. A. Porra. Da. Privada?

Todo mundo (inclusive o fessor gato, tesudo, gostoso, tudo de bom) começou a olhar pra gente com uma cara de: “vocês tão fazendo o quê? Fingindo que estão nos Monstros S.A?”. Menos os vadios do Danny e do John que estavam praticamente sem ar de tanto rir por causa do mico [N/Cams: mico é pouco, a gente pagou um babuíno!] [N/Ana: babuínos são legais, eles tem a bunda rosa!].

Ficamos ROXAS e nos sentamos nas duas mesas da frente das mesas dos meninos.

O professor, que se chamava Drake, se apresentou e começou a dar uma introdução à psicologia. E eu, como a boa aluna que eu sou ~joga o cabelo~ estava prestando atenção em tudo, até que a Cams me mandou um pedaço de papel escrito:

“O professor realmente é um pessegão!” Enfiei minha cara nos braços em uma tentativa de abafar o riso e ri tanto que não sei como não morri de falta de ar.

Pessegão é uma gíria suuuper legal que as portuguesas de antigamente usavam pra falar que um cara era gato. Podem falar que vocês gostaram que eu sei! Aposto que só vão falar assim, agora!

Peguei minha caneta e escrevi no papel:

“Ele realmente é um pão britânico!” e agora foi a vez da Kiwi quase ter um infarto de tanto rir.

Pão, é uma gíria muuito velha, que as brasileiras usavam também pra falar que um cara era gato. E britânico eu não preciso explicar, né?

Recebi o bilhete de volta em alguns segundos.

“Pão? Tá mãos pra uma baguete!”. Dessa vez não consegui me controlar e soltei uma risada muito alta!

–Algum problema, senhorita Ana Luiza?- Drake me perguntou. Peraí, como ele sabe o meu nome?

–Não, senhor. Me desculpe- falei e ele continuou a dar aula.

Primeiro dia de aula e já estou passando uma má impressão pro profs. gato. Legal.

O Drake viaja tanto pra explicar os conceitos de psicologia, é tão fofo, mas confunde muuito. Tanto que só a Cams entendeu, porque ela viaja muito também e eles tem mais ou menos o mesmo tipo de raciocínio. Faz sentido, né?

Os três primeiros horários acabaram e fomos comer.

–Queimei meus neurônios nessa aula- falei.

–Eu não, entendi tudo que ele falou- Cams e Danny falaram. Ótimo, mais um pra minha coleção de amigos esquipáticos.

–Onde é a cantina?- perguntei.

–Aqui do lado, venham com a gente.

Os dois compraram folhado de frango, eu comprei um sanduiche de queijo e presunto no pão sírio e Cams comprou uma tortinha de frango com catupiry.

Catupiry é uma palavra legal, dá pra fazer um funk com ela: catu-tu-tu-piry, catu-tu-tu-piry, fic fic uá, fic fic uauá. Nuu, sou sinistra! Aposto que vai ficar em 1º lugar nas paradas internacionais! [N/Cams: claro que não, o meu funk do repolho já tá em primeiro lugar!].

–Ana! Tem uma aranha no seu cabelo!- Cams falou desesperada e eu surtei.

–Tira! Tira! Tiraaaaaaaa!

Olhei pra Cams que tava rachando junto com o Danny e o John. Bando de filhos de um grilo.

–Vaca! Porque fez isso?- falei e olhei pro meu sanduiche, que estava com uma mordida enorme- Ah, entendi!

–Gente, nós temos que ir, ainda temos mais 2 horários- John falou- Cams, vai terminando de comer no caminho.

É, ela realmente come MUITO devagar!

Chegamos na sala de aula e adivinha? Aula de química! Que lindo, a matéria que eu menos sei depois de matemática. Legal.

Sentamos nos nossos lugares e eu viajei a aula inteira.

Quando o sinal bateu eu e Cams fomos andando até o nosso quarto para eu trocar de roupa pra sair com o John.

–Aninha...- Cams me chamou e eu olhei pra ela em sinal de que ela podia continuar a falar- e se vocês dois ficarem? Ele já ta todo apaixonado, não vai querer te largar nunca mais!

–Relaxa, eu não vou ficar com ele. Eu realmente amo ele, mas como um amigo- disse- como que eu to?

–Linda- ela disse sorrindo.

–Como sempre- brinquei e nós rimos.

Bateram na porta:

–Vai lá, ele chegou- Kiwi disse e me empurrou contra a porta.

–Calma, eu to indo! Menina apressada!- ela riu alto com o meu comentário.

Abri a porta e me deparei com o John e... bem... ele tava LINDO! Estava usando uma blusa polo preta coladinha no corpo (ar?), uma calça jeans e um vans azul escuro. E ele estava segurando uma ROSA!

–Wow, você está linda!- ele exclamou com um sorriso tímido.

–Obrigada, você também tá muito bonito- e gato, cheiroso, gostoso, tira a camisa, mas preferi deixar essa parte entalada na garganta, e ele me entregou a rosa.

–Bem, vamos?

–Claro- eu disse entrelaçando meu braço no dele enquanto ele me levava à algum lugar.

Nós fomos para o terraço de um prédio antigo maravilhoso. Tinha o chão de mármore branco, vários vasos de flores e uma mesa arrumada pra duas pessoas, embaixo de uma espécie de arco que também estava todo decorado com flores.

–Você arrumou isso tudo só pra mim?- perguntei maravilhada, nenhum menino nunca tinha feito nada assim pra mim.

–Pra falar a verdade eu só trouxe a mesa, as cadeiras e a comida- ele falou sem graça- mas eu faria qualquer coisa por você.

–Oooooownn- falei sem conseguir me controlar (quebro até os meus próprios climas, que coisa impressionante!) e beijei sua bochecha vermelha, e ele deu uma risada muito gostosa.

–Vamos comer?- ele perguntou.

–Vamos- falei- o que temos pra comer?

Ele tirou a tampa da bandeja que estava encima da mesa e tinha um salmão e uma salada verde liinda em cada prato.

–Ai, que delicia!- falei com água na boca.

Já ia me sentar, mas John me impediu e puxou a cadeira pra mim com um sorriso lindo no rosto. Aaaah q lindo, vou morder ele. Mentira, deixa a função de morder as pessoas com a Victoria.

Por falar nisso, que saudade dela! Vou falar com a Cams pra gente ligar pra ela mais tarde!

Eu estava comendo distraidamente e quando acordei do meu “transe momentâneo” olhei pro John. Ele estava com um sorriso bobo e distraído, olhando fixamente pra mim.

–O que foi?- perguntei sorrindo, mas eu estava com muita vergonha, só não queria transparecer.

–Nada- ele disse ainda meio bobo- só estava pensando.

–Pensando em quê?

–Em você- ele disse e eu juro que senti o gosto do peixe que tava voltando. [N/Cams: vomitar não é uma coisa muito legal de se fazer em um primeiro encontro, Aninha] [N/Ana: kiwi não fala! E a culpa não foi minha,ele quer me matar!].

–E-e-eu n-não sei o que dizer- gaguejei e fiquei roxa igual uma berinjela.

–Não precisa dizer nada- ele disse se levantando e pegando na minha mão.

–John, eu...- tentei falar mas ele me interrompeu.

–Aninha, eu estou perdidamente apaixonado por você. Eu achei que você não ia aceitar sair comigo, mas na hora que você disse sim, eu...- falou chegando perto do meu rosto. Perto DEMAIS segundo o meu ponto de vista.

–Você...?- eu disse um pouco nervosa. Mentira, eu tava transbordando nervosismo até pela orelha.

–Eu me senti o bobo apaixonado mais feliz desse planeta- não apela, meu filho! Meu coração já é mole demais!

Os olhos azuis dele estavam brilhando e os seus lábios tão perto dos meus que dava pra sentir a sua respiração ofegante sobre a minha pele.

Quando a sua boca estava a alguns milímetros da minha, eu “acordei” do transe e desviei meu rosto, fazendo com que ele beijasse minha bochecha.

–D-de-desculpe- gaguejei envergonhada.

–Tudo bem, não que te forçar à nada- PÁRA DE SER TÃO PERFEITO! Porque ele não pode simplesmente me mandar tomar no cu?

Nós continuamos a comer em um silêncio meio constrangedor.

–Você ainda não me contou nada sobre a sua vida no Brasil- John disse, quebrando o silêncio.

–Não tem muita coisa pra falar, na verdade- disse- lá em casa moravam meus pais, eu, minha irmã mais nova e minhas duas cachorrinhas. Minhas melhores amigas são a Cams, a Victoria (que está estudando na Suíça), a Giulia (que está morando em Los Angeles e namora o Joe Jonas), a Carol, a Isa, a Malu e a Bells, que continuam no Brasil.

–Você deve ser muito querida- sorriu.

–Eu acho que sim. Sinto muito a falta de todos.- disse sorrindo- Agora me fale de você.

John disse que veio de uma família parcialmente grande: ele morava com os pais, suas duas irmãs mais novas e um irmãozinho. Me falou de sua cidade natal (Liverpool), de seus amigos, etc.

Ficamos conversando durante umas duas horas, até que eu recebi uma mensagem:

–Licença, só vou ler a mensagem rapidinho, pode ser a Cams.

–Fique à vontade.

Sorri, abri a mensagem e a li:

“Já estou com saudades, quando vamos nos ver de novo? Xx Harry”. Sorri involuntariamente.

Resolvi respondê-lo quando chegasse no quarto porque, poxa, eu estava em um encontro, né?

–Era só a Cams falando que ela já comprou mais chocolate pra mim já que ela tinha acabado com o meu- menti.

John, Harry ou Louis?

Cams POV:

A Ana acabou de sair pro encontro dela com o John. Ah, eles são tão fofos juntos, parecem até pipoquinhas com leite condensado e brócolis!

Por falar nisso, que fome! Quero sorvete!

Fui até a geladeira e comecei a procurar... pizza, cookie, waffle, hambúrguer, porta-retrato...

O que o porta-retrato tá fazendo no freezer? Esquece, não quero nem saber, o que importa é que não tem sorvete!

Peguei minha bolsa com a minha carteira e o celular e fui até armazayn (amo essa piada).

Cheguei lá e peguei o sorvete de flocos e não resisti; acabei pegando uma colher descartável e comecei a comer lá mesmo.

Estava indo pro caixa pagar (é bom pagar às vezes, né?) quando surgiu um ser na minha frente e quando eu vi, eu já estava no chão.

–Meu bebê!- gritei em português me referindo ao meu sorvete. Ele pode chamar dálmata, é um nome bonito pra um sorvete de flocos.

–Ai meu Deus, me desculpa! Você está bem?- me virei e vi o gato do Danny falando comigo.

Ô privada, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!

–Eu to sim, e você?- perguntei olhando pra blusa dele que estava coladinha por causa do sorvete.

Ele me ajudou a levantar:

–Também estou, só vou precisar trocar de blusa- ele falou rindo.

–Desculpa- pedi constrangida- deixa eu só ir pegar outro dálmata, quer dizer, sorvete de flocos.

Paguei pelo dálmata 2 e saí de lá junto com o tomate com ervilha. Nu, esse apelido ficou bom, porque o cabelo dele é vermelho e os olhos verdes. Sou muito gênia!

–Vai fazer alguma coisa agora?- ele perguntou enquanto caminhávamos na grama á caminho do dormitório.

–Não, e você?- perguntei tentando ao máximo parecer que eu não tinha nenhuma segunda intenção.

–Também não- ele falou. Me chama pra sair logo!- fica lá no meu quarto, ai a gente come o sorvete.

Uhul! Dálmata 2 e Danny, tem como ficar melhor?

–Claro, porque não?

Oh Josh, eu tenho um encontro com um ruivo! Comecei a dançar minha dançinha da alegria (macarena) discretamente, mas acho que ele percebeu, porque teve crise de riso! Que ótimo.

Chegamos no quarto dele, Danny abriu a porta fazendo uma reverência:

–Sinta-se à vontade, milady- ri alto com o comentário e entrei na brincadeira também.

–Agradeço-lhe muito aahm... milord?- e ele riu junto comigo.

–Pegue as colheres na cozinha enquanto eu vou trocar de blusa- LINDO VEM NI MIM! Brincadeira, não sou desse tipo.

Peguei as colheres e ele voltou do quarto, pegamos o sorvete e nos sentamos nos pufes. Conversamos sobre os mais diversos assuntos e sabe o que eu descobri? Ele é tão esquipático quanto eu e a Paçoca!

[N/Ana: acho que não hein? Mas pelo menos, não somos as únicas! Uhules ~le faz a dançinha da alegria~].

Mas serio, ele é muito esquipático, ele foi expulso de uma escola quando tinha 12 anos porque perguntou pro professor se o pum dele era baixo e fedido ou alto e fedido. Mas isso não vem ao caso, certo?

Danny dava umas encaradas nada discretas, mas eu nem me importei muito porque eu não estava muito diferente.

–Er, o que você acha da Aninha e do John?- ele perguntou.

–Por quê?

–Só pra saber, foi a primeira coisa que me veio à mente pra puxar assunto- ele disse e corou. Xeeentiii, vou morder esse ruivo!

–Eu até acho eles fofos juntos, mas a Aninha está em um conflito amoroso e bem... ela gosta do John, mas do mesmo modo que eu. Como um amigo.

–Ah, entendi- e um silencio tenso se formou entre nós.

Voltei a comer o dálmata, porque assim eu me distrairia um pouco. Não, espera, a frase não soou muito bem. Voltei a comer o SORVETE! Isso, sorvete.

Uns 5 minutos depois nesse silencio, olhei pro Danny e ele estava me encarando.

Sustentei seu olhar e ele levantou do pufe onde estava, e se sentou ao meu lado. Ele tirou o pote de sorvete que estava no meu colo, sorrindo e pegou uma das minhas mãos, colocando-a no lado do peito onde fica o coração (Camila filósofa). Estava batendo tão forte quanto o meu, ou até mais.

Uma de suas mãos foi até o meu pescoço puxando os meus cabelos de leve, e a outra mão desceu até a minha cintura colando nossos corpos.

Preciso dizer que eu fiquei arrepiada até a unha do dedão do pé? Não né?

Minha respiração ficava mais pesada à medida que ele aproximava seu rosto do meu. Ele me puxou mais contra o seu corpo e me beijou. Foi um beijo calmo, doce e delicado, como se ele estivesse com medo de me beijar, mas ao mesmo tempo precisasse do beijo. Porra, que beijo bom!!!

Eu estava lá, sonhando acordada enquanto o beijava quando a porta do quarto se abriu. E adivinha quem estava lá? Pois é.